1. INTRODUÇÃO

 

Como produtor e exportador de commodities, o Brasil obteve proeminência e notável liderança mundial em produtos como cacau, borracha e café. Atualmente o Brasil detém presença marcante na exportação de suco concentrado de laranja. A indústria, em décadas de esforço e tecnologia, eficiência e cobertura agressiva de novos mercados, colocou este setor em uma posição de liderança mundial incontestada. Sem considerar os Estados Unidos, o Brasil é responsável por cerca de 80% do comércio internacional desse produto. Levando-se em consideração os EUA, segundo maior produtor e primeiro consumidor mundial, o Brasil ainda participa com 53% do suco de laranja consumido no mundo, expressão que provavelmente jamais teve com outro produto de sua pauta de exportação, com exceção do café entre os séculos XIX e XX (Nehmi Filho, 2002).

Para Malavasi et al. (1994), a cultura dos citros depara-se com várias pragas que atacam os diferentes estágios da planta. Uma dessas pragas são as moscas-das-frutas da família Tephritidae cuja punctura feita pela fêmea adulta e o desenvolvimento da larva no interior da laranja causam perdas variáveis, dependendo do estágio de maturação, cultivar e região geográfica. As plantações de citros da Espanha, Israel e da Flórida são continuamente manejadas com diferentes técnicas para o controle químico tradicional até a liberação inundativa de parasitóides. As moscas-das-frutas representam o fator fitossanitário mais importante na comercialização entre países de frutas frescas em todo o mundo. A exportação de frutas cítricas frescas enfrentarem dois problemas principais: o cancro cítrico e as moscas-das-frutas (dentre elas a mosca negra dos citros).

A produção brasileira se distribui de forma desigual entre os estados. O Estado de São Paulo é o maior produtor brasileiro com uma área plantada de 609.400 ha e uma produtividade de 23,8 ton/ha. No Estado do Pará, a área plantada com laranjeiras é da ordem de 15.000 hectares, com uma produção de 276 mil toneladas de frutos, correspondendo a um valor de produção em torno de R$ 17.017.000,00 colocando o Pará como o sexto produtor nacional e o primeiro da Região Norte (Agrianual, 2003). Os municípios de Capitão Poço, Garrafão do Norte, Santarém e São Francisco do Pará são responsáveis por 70% da produção paraense. A estimativa da safra 2002/03 de laranja do Estado do Pará é de aproximadamente 280 mil toneladas, sendo que mais de 90% é exportada principalmente para o Estado de São Paulo e nordeste brasileiro, gerando direta e indiretamente cerca de 10.000 empregos. Este montante corresponde à cerca de 2,5% do PIB paraense (Oeiras, 2002).

            Essa extraordinária riqueza está sendo ameaçada pelos altos custos dos insumos e pela rápida propagação de doenças e pragas que elevam o custo de produção (Agrianual, 2003). Entre as pragas que mais preocupam os citricultores no Pará, citam-se: o ácaro-dafalsa-ferrugem (Phyllocoptruta oleivora), a cochonilha-de-placas (Orthezia praelonga) e minadora-dos-citros (Phyllocnistis citrella). No controle das pragas gasta-se cerca de 40% do custo de produção da laranja no Estado do Pará. (Oeiras, 2002). De acordo com o Fundo de Defesa da Citricultura (FUNDECITRUS), essas pragas são responsáveis pelos altos custos de implantação e manutenção dos pomares cítricos, bem como eventuais prejuízos decorrentes da perda de colheitas e mercados, interdição de pomares e erradicação de plantas. Estima-se que os pomares tenham sido reduzidos em aproximadamente 23 milhões de árvores para dar espaço a culturas mais rentáveis (Nehmi Filho et al., 2002).

            Foi neste contexto que, no início de 2001, foi acrescida uma preocupação, a detecção da mosca negra dos citros, Aleurocanthus woglumi Asbhy (HemÍptera: Aleyrodidae) no estado do Pará, na cidade de Belém e municípios vizinhos. A. woglumi é uma praga originária da Ásia que ataca de forma especial os citros. Foi descoberta no ocidente em 1913 na Jamaica, tendo se espalhado para diversas regiões do globo e pode provocar danos potenciais de até 80%. Além disso, relatam-se mais de 300 espécies vegetais como seus hospedeiros (Oliveira et al., 1999), a bananeira, o mamoeiro, além do mangostãozeiro, fruteiras bastante importantes para a sócio-economia amazônica e paraense.

            A mosca negra dos citros é considerada uma praga quarentenária A2, tendo sido detectada no Brasil pela primeira vez em maio/2001, na cidade de Belém, estado do Pará. Pelo fato de ser considerada praga quarentenária A2, sua ocorrência implica em restrições ao comércio e trânsito de diversos produtos de importância econômica para o estado. Acrescenta-se a isso a sua rápida dispersão nas condições de Amazônia tropical úmida.

Para implementar um manejo racional para a mosca negra dos citros, é necessário determinar a distribuição espacial e construir um plano confiável de amostragem que permita estimar a densidade populacional, e seu dano, e com base nele, tomar uma decisão sobre uma medida visando controlar a praga e reduzir o custo de produção. Órgãos governamentais de pesquisa e extensão têm procurado introduzir programas de manejo para a mosca negra dos citros, que se baseiam em métodos de amostragem convencionais, onde o número ou tamanho da amostra é fixo, os quais exigem muito tempo para a tomada de decisão. Por isso, às vezes, a tomada de decisão de controlar ou não a praga é feita de forma empírica. A conseqüência dessa atitude resulta no uso indevido de produtos químicos, por decisões precipitadas, que oneram o custo de produção, promovendo o desequilíbrio do agroecossistema, tornando às pragas mais resistentes aos agroquímicos e outros efeitos colaterais.

Numerosos estudos de distribuição espacial de insetos têm sido realizados. Essas pesquisas são importantes para entender a biologia das espécies de insetos em diferentes condições de meio ambiente e a mudança de comportamento que ocorre durante seus estágios de desenvolvimentos. O conhecimento da distribuição espacial de populações de insetos é essencial para o desenvolvimento de planos de amostragens, com a finalidade de implantação do manejo integrado de pragas.