EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A TEORIA DE GAIA

                                           Risolete Nunes de Oliveira Araújo¹

   ¹Mestranda do Programa de Pós-Gradução em Direito Ambiental e Políticas Pública – UNIFAP.

A educação ambiental efetivou-se como preocupação no âmbito da educação há mais ou menos três décadas. Segundo Grün (2007), a emergência da crise ambiental como uma preocupação específica da educação foi precedida de uma certa  ecologização das sociedades. Esse fator começou no momento em que o meio ambiente deixou de ser um assunto exclusivo de amantes da natureza e se tornou um assunto de toda sociedade civil.

No ano de 1972, o tema da sobrevivência da humanidade entra oficialmente em cena na primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em Estocolmo. Nesse momento a Educação Ambiental ganha status de assunto oficial e emergente que precisava ser discutido pelos organismos internacionais.

E segundo a recomendação  de número 96 da declaração de Estocolmo, nas palavras de Grün (2007), a educação ambiental tem uma importância estratégica na busca pela qualidade de vida.

No ano de 1975, a Unesco promove em Belgrado, ex-Iugoslávia o “The Belgrado Workshop on Environmental Education”. Nesse evento, são formulados alguns princípios básicos para um programa de educação ambiental. No toar de Estocolmo, realiza-se em 1977, a Conferência Intergovernamental sobre educação ambiental, em Tibilisi na Georgia. Esta Conferência reitera os princípios  discutidos em Estocolmo e formula estratégia em nível internacional e local. A Conferência de Tibilisi vem sendo apontada como um dos eventos mais decisivos nos rumos da educação ambiental. Pois descreveu o cenário que nós últimos decênios, o homem, utilizando o poder de transformar o meio ambiente, modificou rapidamente o equilíbrio da natureza.

Em 1992 o Brasil entra na rota das Conferências Internacionais, a Conferência aqui realizada  ficou conhecida como  Rio-92. Na avaliação de Guimarães (2005), a partir desta Conferência a expressão Educação Ambiental se massificou, mas seu significado era pouco claro entre os educadores.

Para Loureiro (2008), entre as várias maneiras de definição para Educação Ambiental, esta destaca-se por ser uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.

Dessa forma, para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em que vivemos a Educação Ambiental, por definição, é elemento estratégico na formação de ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza.

Diante desse contexto cabe compreender essa relação estrita do homem com o ambiente no qual está inserido. Então se faz oportuno uma compreensão de como se organiza a vida no planeta. Daí a importância da teoria de Gaia para a educação ambiental, levar o indivíduo a compreender e a respeitar as diversas formas de vida em equilíbrio no planeta. Percebendo que também faz parte dessa lógica, que o homem está inserido em Gaia.

É oportuno esclarecer o que originou a teoria de Gaia, essa teoria foi desenvolvida pelo cientista inglês James Lovelok no ano de 1979, e fortalecida pelos estudos da bióloga e cientista Lynn Margulis. Essa teoria recebeu o nome de Gaia, porque na mitologia grega, Gaia era a deusa da terra e mãe de todos os seres viventes.

De inicio Carvalho (2001), expõe que a Teoria de Gaia ocupa posição singular na Filosofia Ambiental, uma vez que ela combina o tradicional cartesianismo da ciência ambiental com os elementos da visão holística. A teoria de Gaia fornece fundamento tanto aos antropocentristas quanto aos ecocentristas, no sentido de explorar uma agenda comum. O eminente autor prossegue, afirmando que o fundamento dessa teoria é que a espécie humana, assim como as outras espécies desempenha um papel de um órgão vital na geofisiologia de um super organismo.

Segundo Carvalho (2011), na visão da  teoria de Gaia, estamos diante de uma terra viva, com um super-sistema auto-regulador e auto-organizador, formados de componentes físicos, químicos e biológico, impelido pela luz do Sol, no qual o clima e a composição química se mantêm em equilíbrio homeostático por longos períodos, até uma contradição interna ou força exterior que provoque um abalo que leve a uma nova situação de desequilíbrio, e esta de forma autônoma buscaria o equilíbrio.

É evidente que a humanidade depende de Gaia para sua subsistência, da mesma forma que um feto depende de sua mãe. Contudo na visão de Carvalho (2011) a recíproca não é verdadeira, dado que, se fosse varrida da face da terra, apenas às espécies domésticas seriam afetadas e algumas poderiam desaparecer, mas a maioria seria beneficiada. Para Carvalho essa analogia montra que a humanidade e Gaia não constituem duas entidades distintas, pelo contrário, a primeira faz parte da segunda.

A Teoria de Gaia descreve a humanidade como um componente de um super organismo, numa assimetria interdependência mutualística. Com base nessa consideração, a humanidade seria um sujeito de direito, portador  de direitos naturais e obrigações éticas com a manutenção da integridade e saúde de Gaia.

Na concepção de James Lovelock e Lynn Margulis, a vida e o meio ambiente interagem num processo evolutivo indivisível e único, não se separam, ou seja, não é apenas o organismo que se adapta ao meio ambiente, mas porque a vida assim as proporciona e as conserva. Gaia está viva, é o maior organismo vivo do sistema solar, participa do Universo, e cada ser humano faz parte dela, e  esta é sensível às perturbações humanas e busca um novo ponto de equilíbrio.

Segundo Carvalho (2011), igual a toda mudança de paradigma que ocorreu na história da ciência, a teoria de Gaia encontrou obstáculos no meio cientifico. Entretanto, essa teoria tem o mérito de oferecer uma explicação plausível para muitos fenômenos observados nas ciências naturais (geologia, climatologia, fisiologia, ecologia, geoquímica, geofísica e disciplinas relacionadas), razão pela qual este trabalho pretendeu relacionar essa importante teoria a educação ambiental.

A educação ambiental tem a premissa de levar um novo olhar para as questões ambientais, que o homem tenha consciência de sua participação ética para salvaguardar o planeta para as gerações que inda estão por vir.

A espécie humana aumentou o número de indivíduos e sua biomassa  em tal extensão, que suas ações de consumir, excretar, respirar, dirigir automóveis e viajar de avião afetam as outras espécies e os ecossistemas locais e regionais e, consequentemente, o ecossistema global. A espécie humana é a única capaz de destruir Gaia. Hoje, a comunidade de Gaia depende da humanidade. Pela sua capacidade de pensamento, pode-se dizer que a espécie humana é a consciência de Gaia. Na concepção de Carvalho (2011), esta faculdade confere ao homem o dever de mitigar as conseqüências catastróficas previstas pelo curso atual de ação humana, uma vez que a solução da crise ambiental depende das escolhas e decisões certas tomadas, hoje, pela população e pelos governos.

É certo que, para enfrentar a crise ambiental, o homem terá de usar todos os instrumentos e recursos possíveis, e a educação ambiental, então, tem o dever de responder a este quadro, educando os cidadãos para respeito ao meio ambiente.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Edson Ferreira. Meio Ambiente e Direitos Humanos. 2°ed. Curitiba: Juruá, 2011.

FORTE, Sérgio Henrique Arruda Cavalcante. Manual de elaboração de tese, dissertação e monografia. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2004.

GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 11° ed. São Paulo: Papirus Editora, 2007.

LOUREIRO, Carlos Federico. Sociedade e Meio: a educação ambiental em debate. 7°ed. São Paulo Cortez, 2012.