Resumo

O presente estudo teve por objetivo avaliar os aspectos da balneabilidade do Recanto do Carleto, situado no município de Coronel Vivida ? PR. A balneabilidade é definida como a qualidade das águas destinada à recreação, ou seja, ao banho ou a outras práticas esportivas. O Conselho Nacional do Meio Ambiente determina os critérios para a classificação das águas destinadas à recreação, como próprias ou impróprias. Esta classificação é determinada pelo pH e pela densidade bacteriológica de Coliformes totais e Escherichia coli, microorganismos de fácil identificação e normalmente presente nos intestinos dos animais de sangue quente, cuja presença indica o grau de contaminação fecal da água. Para a avaliação da balneabilidade é necessária a realização de cinco análises durante cinco semanas consecutivas. Os valores determinados nas análises devem ser comparados com padrões pré-estabelecidos para obter as condições de balneabilidade. A técnica empregada para análise de Coliformes totais foi os Tubos Múltiplos, enquanto que para a detecção de Escherichia coli, utilizou-se o Substrato Cromogênico. O estudo revelou que a quantidade de microorganismos detectados nas análises está consideravelmente abaixo do limite máximo permitido, conseqüentemente, o balneário analisado é classificado como próprio, enquadrando-se na categoria muito boa.

Palavras-chave: Balneabilidade; Coliformes totais; Escherichia coli.


Introdução

Para a avaliação da balneabilidade, ou seja, da qualidade das águas destinadas à recreação, é necessário o estabelecimento de critérios objetivos que devem estar baseados em indicadores a serem monitorados. Seus valores devem ser confrontados com padrões pré-estabelecidos, padrões estes que expressam os requisitos de qualidade da água. Assim, pode-se identificar se as condições de balneabilidade em um determinado local são favoráveis ou não. As pesquisas de balneabilidade vão ao encontro desse objetivo, consistindo, basicamente, na avaliação da qualidade das águas destinadas ao banho, através de indicadores ambientais.
O parâmetro indicador básico para a classificação dos corpos d´água quanto sua balneabilidade, em termos sanitários, é determinado quase que exclusivamente pela quantidade de esgotos que a elas recebem, expressa pela quantidade de coliformes fecais.
A resolução nº 274/00 do Conselho Nacional do Meio Ambiente ? Conama, considera a necessidade de serem criados instrumentos para avaliar a evolução da qualidade da água de forma a assegurar as condições necessárias à recreação de contato primário, a saúde e bem estar humano, definindo as normas a serem seguidas para os programas de monitoramento da balneabilidade.
A análise de balneabilidade determina se a água está contaminada pelo esgoto doméstico, verificada através da contagem de microorganismos que podem colocar em risco a saúde de turistas e da população local. As águas contaminadas por esgoto doméstico expõem os banhistas a riscos de doenças, devido a presença de bactérias, vírus e protozoários, onde a possibilidade de ingerir quantidades consideráveis de água é conseqüência do contato direto e prolongado com estes corpos d´água.
As doenças relacionadas ao banho em águas contaminadas, em geral, não são graves. Os principais sintomas são enjôo, vômitos, dores de estômago, diarréia, dor de cabeça, febre e infecções nos olhos, ouvidos e garganta. Porém, doenças mais graves podem ocorrer em locais onde o nível de contaminação é elevado, como disenteria, hepatite, cólera e febre tifóide. Crianças, idosos e pessoas com baixa resistência imunológica são mais suscetíveis a desenvolver doenças ou infecções após o contato com águas contaminadas.
Com isso, é muito importante conhecer a qualidade da água para que se possa garantir a proteção da saúde da população. Estas áreas de recreação são visitadas por um número elevado de pessoas e constitui um dos pontos turísticos da região por suas belezas naturais. Esta pesquisa teve como objetivo geral a avaliação da balneabilidade do recanto do Carleto, localizado no município de Coronel Vivida, no estado do Paraná.


Balneabilidade

Para atender a Política Nacional do Meio Ambiente regulada pela Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, tendo por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2000) formulou a resolução nº 20 de 18 de junho de 1986 e resolução nº 274 de 29 de novembro de 2000 que definem balneabilidade como as condições das águas doces, salobras e salinas destinadas à recreação de contato primário.
Aguiar e Scharf (2003, p. 82), por sua vez, conceituam balneabilidade como a qualidade das águas doces ou salinas destinadas ao banho ou a outras práticas esportivas.
Balneabilidade consiste, assim, num termo utilizado para definir a qualidade das águas destinadas à recreação de contato primário (CETESB, 2008).
De acordo com a Resolução Conama nº 357, de 17 de março de 2005, a recreação de contato primário é definida como o contato direto e prolongado com a água (tais como natação, mergulho, esqui-aquático) na qual a possibilidade do banhista ingerir água é elevada. Já a recreação de contato secundário refere-se àquela associada a atividades em que o contato com a água é esporádico ou acidental e a possibilidade de ingerir água é pequena, como na pesca e na navegação, como iatismo. Mota (1995, p.2) ressalta que no primeiro tipo de recreação há um maior risco de transmissão de doenças ao homem, caso o líquido contenha elevados teores de impurezas.
A recreação é definida por Derísio (2000, p.17) como a atividade que apresenta significado social e econômico cada vez maior, que propiciam tempo de lazer ao homem de hoje. Von Sperling (2003, p.2) cita a recreação como um dos usos mais nobres do ambiente aquático e um dos menos lembrados no nosso país. Destaca que, juntamente com o abastecimento, este é o uso mais antigo da água.
A qualidade da água destinada à recreação vem sendo estudada desde a década de 70. De acordo com Nemetz (2004, p.34), na década de 70, o Conselho da União Européia definiu diretrizes relativas à qualidade da águas continentais superficiais destinadas ao banho. A partir destas diretrizes foram estabelecidas normas de qualidade das águas em alguns países da comunidade, como Reino Unido, Espanha e Portugal, visando a vigilância das águas balneares. No Brasil, os pioneiros no monitoramento que avaliam a qualidade da água nos balneários foram os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, através de programas geridos pelos respectivos órgãos ambientais estaduais, iniciados na década de 70.
No âmbito internacional, a Organização Mundial de Saúde (OMS), propôs normas internacionais sobre o uso de águas recreacionais e saúde, na forma de diretrizes. De acordo com OMS (1998), o primeiro volume dessa produção trata das diretrizes para águas doces e marinhas, abordando aspectos relacionados à poluição fecal e qualidade da água, microorganismos presentes na água, aspectos estéticos, avaliação, entre outros. Além dessas diretrizes, houve a produção de um guia prático, descrevendo principais características e formas de abordagem para o monitoramento e avaliação de ambientes aquáticos recreacionais, com o objetivo auxiliar países em desenvolvimento na criação de seus códigos nacionais e promover harmonia internacional.
Diversos são os fatores que contribuem para a contaminação das águas, como a presença de cursos da água afluindo diretamente nos rios, a inexistência de sistema de coleta e disposição de efluentes domésticos gerados nas proximidades, aumento da população durante as férias e feriados prolongados e ocorrência de chuvas.
De acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA-MT, 2006, p.15), as chuvas são responsáveis por uma das principais causas de deterioração da qualidade das águas, sendo que esgotos e lixos são carreados para os rios, produzindo assim, um aumento considerável na densidade de bactérias nessas águas.
O tratamento de esgoto no estado do Paraná, segundo a Sanepar (2008, p.10), possui o maior índice do Brasil, com 92% da população paranaense.
Outro fator que contribui para a contaminação das águas, principalmente aquelas relacionadas com a recreação, ocorre devido ao aumento da população em determinadas épocas.

Com o aumento da população durante os períodos de férias e feriados prolongados, os sistemas de coleta de esgotos existentes não são suficientes para afastar os despejos, que terminam por ser lançados em galerias de águas pluviais, córregos ou praias, o que prejudica as condições de balneabilidade. (FEMA-SC, 2003)

Para Derísio (2000, p.22) caso as águas destinadas à recreação e lazer sejam poluídas por resíduos domésticos e/ou industriais, podem promover inconvenientes para fins de práticas desportivas e recreativas, implicando na contaminação por bactérias, vírus e infecções parasitárias, além de incômodos à população devido a maus odores e aspectos estéticos indesejáveis. O autor cita ainda que a melhor forma de representar o estado de segurança para os usos recreativos da água é através da presença ou não de organismos patogênicos.
A quantificação da qualidade das águas destinadas à recreação deve ser estabelecida com o uso de critérios objetivos, através de um parâmetro biologicamente mensurável. Assim, baseados em indicadores a serem monitorados, seus valores devem ser confrontados com padrões pré-estabelecidos.


Legislação

As resoluções do Conama nº 20, de 18 de junho de 1986, e nº 274, de 29 de novembro de 2000, definem normas a serem seguidas para os programas de monitoramento da balneabilidade, assim como os critérios para a classificação das águas destinadas à recreação de contato primário.
As pesquisas de balneabilidade têm por objetivo analisar as águas de cada balneário, determinando se estas se encontram próprias ou impróprias para o banho, conforme as densidades de coliformes fecais ou Escherichia coli ou Enterococos, em Número Mais Provável (NMP), resultantes de análises feitas em cinco amostragens consecutivas.
Dentro da categoria Própria, os critérios bacteriológicos estabelecidos por essa resolução subdividem as águas nas seguintes categorias:
? Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25 enterococos por 100 mililitros;
? Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50 enterococos por 100 mililitros;
? Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo 1000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mililitros.

Será, por outro lado, considerada Imprópria, nas seguintes condições:
? Não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias;
? Valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli ou 400 Enterococos por 100 mililitros;
? Incidência elevada ou anormal, na Região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias;
? Presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação;
? pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais;
? Floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem riscos à saúde humana;
? Outros fatores que contra-indiquem, temporária ou permanentemente, o exercício da recreação de contato primário.
A Resolução nº 274/00 trouxe modificações referentes aos indicadores, em relação à Resolução nº 20/86. Na resolução antiga, fala-se em coliformes fecais e coliformes totais. Na resolução recente, fala-se em coliformes fecais termotolerantes, Escherichia coli e enterococos. De acordo com o Art. nº 2, § 3, da resolução nº 274/00, os padrões referentes aos enterococos aplicam-se, somente, às águas marinhas.
As Tabelas 1 e 2 mostram estas informações acima descritas de forma resumida.

TABELA 1 ? DESCRIÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES PRÓPRIA E IMPRÓPRIA.
Classificação Própria e Imprópria


Classificação Percentagem das amostras
analisadas Limites
Coliformes fecais
(NMP/100 ml) Escherichia coli
(NMP/100 ml)
PRÓPRIA
Inferior ao valor indicado em 80% das últimas cinco amostras 1000 800
IMPRÓPRIA Superior ao valor indicado em 20% das últimas 5 amostras 1000 800
Superior ao valor indicado na última amostra 2500 2000
Fonte: Brasil (2000). Resolução Conama nº 274, de 29.11.2000, Art. 2º.
TABELA 2 ? CATEGORIAS DA CLASSIFICAÇÃO PRÓPRIA.

Limites de Coliformes Fecais por 100 ml (por categoria)



Categoria


Percentagem das amostras
analisadas

Limites

Coliformes fecais
(NMP/100 ml) Escherichia coli
(NMP/100 ml)

Excelente



Valor máximo em 80% das últimas cinco amostras

250
200

Muito Boa

500
400

Satisfatória

1000
800
Fonte: Brasil (2000). Resolução Conama nº 274, de 29.11.2000, Art. 2º.


Metodologia

Caracterização do local da pesquisa

O balneário Recanto do Carleto é uma ilha situada no Rio Chopim, que faz divisa com o município de Coronel Vivida e Honório Serpa. O acesso ao balneário dá-se pelo município de Coronel Vivida, localizado, aproximadamente, a 420Km de Curitiba.
O Rio Chopin, analisado neste trabalho, é o maior rio da região, muito utilizado para atividade de recreação sendo o principal rio afluente da margem esquerda do rio Iguaçu.
O clima da região é Subtropical Úmido Mesotérmico, verões quentes com tendência de concentração das chuvas (temperatura média superior a 22° C), invernos com geadas pouco freqüentes (temperatura média inferior a 18° C), sem estação seca definida.
A bacia do rio Chopim localiza-se na parte sudoeste do estado do Paraná, entre os paralelos 25º30? e 26º40? de latitude Sul e meridianos 51º30? e 53º20? de longitude Oeste. Esta bacia possui um comprimento de 147Km e uma área de drenagem de 7500Km2 desenvolve-se basicamente no sentido sudeste-noroeste. (COPEL, 2001, p.42)
De acordo com a Copel (2001, p.42) o rio Chopim e seus afluentes situam-se inteiramente sobre a Bacia Sedimentar do Paraná. A sua foz está localizada a aproximadamente 290 km da confluência do rio Iguaçu com rio Paraná, no reservatório da Usina Hidrelétrica Salto Caxias e cerca de 10 km a jusante da barragem de Salto Osório. As nascentes do rio Chopim estão localizadas em altitudes que superam os 1.200 m. A extensão total do curso principal do rio é da ordem de 450 km. Da nascente do rio até em torno do km 209 a inclinação do leito é de aproximadamente 2,9 m/km, e desde este ponto até a foz a inclinação é aproximadamente 1,1 m/km. O rio Chopim corre sobre basaltos e rochas similares, mostrando uma geomorfologia simples. Extremamente rico em corredeiras e cachoeiras, apresenta uma sucessão de rápidos saltos e uma conformação sinuosa, cheio de voltas e cotovelos, sempre se mantendo dentro de um vale.
De acordo com a Copel (2001, p.43), os principais usos da água da bacia do Rio Chopin são abastecimento público, piscicultura e abastecimento industrial Observa-se que o uso da água para abastecimento público corresponde 53,9% do volume diário outorgado consumido na bacia, seguido do uso para piscicultura. Os demais usos existentes (agricultura, pecuária, comércio) representam menos de 0,1% do volume diário de água outorgado.
De acordo com o proprietário do balneário, a ilha possui uma área de 28.054 m2. A incidência de público é maior nos períodos de verão, chegando, aproximadamente, a 150 pessoas por dia, nos fins de semanas e feriados.
Como citado anteriormente, a balneabilidade é determinada quase que exclusivamente pela quantidade de esgotos que afluem no corpo d?água. Os municípios localizados a montante do balneário estudado, cujos dejetos, tratados ou não, são eliminados no Rio Chopim, são os municípios de Honório Serpa, Clevelândia e Palmas. Os demais municípios, que fazem fronteira com o Rio Chopim, como Mangueirinha e Coronel Domingo Soares, utilizam o Rio Iguaçu para disposição final dos dejetos. De acordo com a Sanepar (2008, p.11), o município de Honório Serpa não possui rede de esgoto, Clevelândia possui a rede de esgoto atendida em 65,93% da população, enquanto que o município de Palmas possui 53,84%. Todos estes municípios são 100% abastecidos com água tratada.

Amostragem e coleta de dados

A Resolução Conama nº 274/00 recomenda que a amostragem deve ser efetuada em local que apresentar a isóbata de um metro e onde houver maior concentração de banhistas. Como o balneário possui águas profundas no principal local utilizado para banho, levou-se em consideração o local de maior utilização pelos banhistas.
As amostras de água foram coletadas em recipiente de vidro de 250mL, a aproximadamente 1 metro de profundidade. A amostragem foi realizada durante 5 semanas, de Agosto a Setembro de 2008, no período da manhã. O ponto de coleta foi selecionado de acordo com o local de maior utilização pelos banhistas (Figura 04), conforme recomendado no Art. 5º, parágrafo único, da Resolução Conama nº 274/00.
A travessia do rio, para chegar ao local de coleta, foi feita com um pequeno barco. Este trabalho é realizado pelo proprietário para levar os visitantes ao balneário.
As amostras de água destinadas à análise de pH foram coletadas separadamente, em recipiente de plástico ou de vidro.
Após a coleta, as amostras foram armazenadas em caixa térmica com gelo e transportada imediatamente para o laboratório de análise. As datas das amostragens e informações estão sintetizadas na Tabela 3. As informações referentes à chuva levam em consideração o período de 24 horas anterior à coleta das amostras.


TABELA 3 ? INFORMAÇÕES SOBRE A COLETA DAS AMOSTRAS
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5
Data 12/08 19/08 26/08 02/09 09/09
Hora 12:00 11:00 11:10 12:15 11:35
Chuva Intensa Ausente Ausente Moderada Ausente


A Resolução Conama nº 274/00, em seu artigo 7º, estabelece que as técnicas utilizadas para a análise das águas devem ser aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial ? INMETRO ou, na ausência destas, no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater-APHA-AWWA-WPCF, última edição (BRASIL, 2000).
O laboratório responsável pelas análises foi o Laboratório de Qualidade Agroindustrial - LAQUA, situado na UTFPR ? campus de Pato Branco.
Para a detecção de Coliformes totais foi utilizada a técnica dos Tubos Múltiplos, enquanto que a detecção de Escherichia coli foi procedida através do Substrado Cromogênico. O pH foi medido com phgômetro.


Resultados e discussão

As águas naturais têm uma fonte de acidez, que é o gás carbônico, o qual, dissolvido na água, produz o ácido carbônico, que é um ácido fraco. O gás carbônico provém do ar atmosférico, ou da atividade respiratória sob a água. As águas também possuem uma fonte de alcalinidade, que são os carbonatos, principalmente o carbonato de cálcio. Assim, quanto mais calcário houver, maior será a capacidade de água de neutralizar a acidez. Como cita Branco (1972 p.38) um rio nunca será demasiadamente ácido nem alcalino, pois o ácido carbônico é um ácido fraco e os carbonatos também são álcalis fracos. Os rios que percorrem terrenos ácidos, ou seja, sem calcários, tendem a ser mais ácidos que os que percorrem terrenos alcalinos.
De acordo com CETESB (1978, p. 213) "As águas naturais em geral, têm pH compreendendo entre 4,0 e 9,0 e, na maioria das vezes são ligeiramente alcalinas". Como observado nas análises de pH, indicados na Tabela 4, os resultados indicam uma ligeira alcalinidade.
Os valores de pH variaram de 7,52 a 7,72, valores próximos da neutralidade. A Resolução Conama nº 274/00 estabelece que o limite de pH esteja entre 6 e 9, com isso, os valores obtidos estão dentro dos limites para classificação própria da balneabilidade, quanto ao pH.

TABELA 4 ? RESULTADO DO PH
Amostra 1
12/08/08 Amostra 2
19/08/08 Amostra 3
26/08/08 Amostra 4
02/09/08 Amostra 5
09/09/08
pH 7,52 7,72 7,60 7,71 7,52


Os resultados de Coliformes totais e Escherichia coli estão apresentados na Tabela 5.

TABELA 5 ? RESULTADO DA ANÁLISE DE COLIFORMES FECAIS E ESCHERICHIA COLI.
Limite máximo* Amostra 1
12/08/08 Amostra 2
19/08/08 Amostra 3
26/08/08 Amostra 4
02/09/08 Amostra 5
09/09/08
Coliformes fecais NMP/100mL 1000 136,51 448,1 70,75 379,66 45,05
Escherichia coli NMP/100mL 800 >23,0 >23,0 16,1 16,1 16,1
Balneabilidade Própria Própria Própria Própria Própria
* Para classificação própria
O limite de Coliformes fecais, para classificação própria de balneabilidade, é de 1000 para 100mL, e o limite de Escherichia coli é de 800 para 100mL, em 80% das amostras. Como se pode observar, a maior quantidade de coliformes totais detectada foi na amostra 2, sendo muito inferior ao limite máximo permitido, assim como o valor de Escherichia coli, detectado na mesma amostra. Como os valores obtidos situam-se abaixo do limite máximo estabelecido, o balneário analisado possui classificação própria para balneabilidade.
Observa-se que as amostras 2 e 4 possuem os maiores valores de Coliformes fecais, assim como o pH. Isto se deve, provavelmente, às intensas chuvas ocasionadas, à montante, na época da coleta, mas nada que comprometa significativamente a balneabilidade. As chuvas ocorridas no local, em dia de coleta da amostra, não indicaram significativamente um aumento nas quantidades de microorganismos, pois na amostra 2 não houve precipitação.
Com a classificação própria, é possível determinar sua categoria, como excelente, muito boa ou satisfatória, determinada pelos valores máximos obtidos em 80% das amostras, de acordo com a Resolução Conama 274/00. Estas informações encontram-se na Tabela 6.

TABELA 6 ? CATEGORIA DE QUALIDADE
Limite máximo* Amostra 1
12/08/08 Amostra 2
19/08/08 Amostra 3
26/08/08 Amostra 4
02/09/08 Amostra 5
09/09/08
Coliformes fecais NMP/100mL 250 136,51 448,1 70,75 379,66 45,05
Escherichia coli NMP/100mL 200 >23,0 >23,0 16,1 16,1 16,1
Categoria Excelente Muito Boa Excelente Muito Boa Excelente
* Para categoria excelente

Através destas informações é possível verificar que as águas do balneário Recando do Carleto, destinadas à balneabilidade, é de qualidade muito boa. Pequenas criações de gado existentes à montante do balneário, ou mesmo na área residencial do proprietário, podem ter contribuído para a variação nas quantidades de microorganismos. Mas, em geral, estudos realizados anteriormente indicaram que as águas do Rio Chopim são de boa qualidade.
De acordo com a Avaliação de Impacto Ambiental, realizado pela Copel, a qualidade das águas do rio Chopim foram consideradas moderadamente comprometida ou boa qualidade. Para isso, foram avaliados os seguintes parâmetros como Oxigênio dissolvido; Coliformes fecais, pH; demanda bioquímica de oxigênio; nitrogênio total; fósforo total; turbidez; sólidos totais. Também não foram detectadas substâncias tóxicas como metais e agrotóxicos (COPEL, 2001, p.45).


Conclusão

O estudo da balneabilidade é um poderoso instrumento na prevenção de doenças originadas através do contrato primário com a água, principalmente em atividades de recreação, além de ser um importante indicador ambiental, pois aponta um impacto ambiental, com conseqüências significativas para a saúde humana.
Os valores de pH das amostras aproximam-se do neutro, sendo levemente alcalinos. As análises microbiológicas realizadas, assim como o pH, indicam que o balneário Recanto do Carleto é próprio para banho cuja categoria é muito boa. Os índices de Coliformes totais e Escherichia coli ficaram muito abaixo do limite máximo estabelecido pela Resolução Conama nº 274/00, mesmo em épocas de chuvas intensas. Isto é um indicativo da boa qualidade do rio que banha o local estudado e da baixa poluição proveniente das cidades da região.
Apesar da boa qualidade da água, o local estudado ainda não dispõe de dispositivos para informar os usuários da qualidade e/ou riscos que podem eventualmente enfrentar ao utilizar o balneário. Embora haja instrumentos e políticas para a manutenção da qualidade da água, seu monitoramento e fiscalização, que são indispensáveis, é necessário que isso faça parte do grupo de ações que tanto a prefeitura quanto o estado deveriam se ater.


Bibliografia

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Autor: Ben Hur Heckmann
Licenciado em Química, especialista em gestão ambiental de municípios e acadêmico do curso de bacharelado em Química industrial.