Resumo: As trilhas nas unidades de conservação tornaram a principal atividade dos programas de educação e a interpretação ambiental. Os educadores têm incluído no plano da disciplina como atividades extracurriculares as visitas monitoradas aos Parques Naturais e Jardins Botânicos. Por isso, repensamos a educação ambiental realizada no Parque Municipal Nascentes do Mindu cujos sujeitos foram às escolas e as crianças ao seu entorno. Este relato de experiência, cujo método fora a pesquisa participante trouxe-nos uma reflexão sobre a concepção do conceito parque, água e igarapés de todos que participaram deste processo de aprendizagem.

 

Palavras-chave: trilhas, educação ambiental, Parque Nascentes do Mindu

 

 

Introdução

 

A educação ambiental no contexto das unidades de conservação, em particular nos Parques Naturais tornou-se um espaço de visitação de escolas, de acadêmicos e turistas, mas queremos conhecer como acontecem as visitas monitoradas das escolas. Por isso, o artigo retratará a experiência com as crianças que participaram das práticas de educação ambiental no Parque Municipal Nascentes do Mindu entre os anos de 2013 e 2014, na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas.

As crianças, os educadores e as educadoras ao visitaram o Parque Nascentes do Mindu conheceram uma parte do mundo das águas do próprio igarapé do mindu.

Guimarães (2004) ao descrever a educação ambiental crítica retratou um pouco da educação ambiental conservadora, conhecida por alguns educadores como educação bancária retrata por Paulo Freire. Quantas vezes, ao planejarmos campanhas, programas, palestras e oficinas procuramos responder: quem? Onde? Quando? Quanto será necessário para desenvolver esta atividade? Mas precisamos responder as perguntas de FREIRE (1996, p. 31) “em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra que estudo? Contra quem estudo?” É preciso atrelar estas perguntas ao cotidiano que, com certeza, descobriremos que por muito tempo permitimos fechar os nossos olhos para a realidade do mundo entre eu e os outros.

É primordial compreender que os problemas ambientais transcendem e interferem no modo de vida das comunidades afetando principalmente a pesca, as festas religiosas e outros recursos naturais.

Diante do exposto acima é proposta deste Plano desenvolver a educação ambiental dialógica, pautada nos princípios de Paulo Freire e Sato (1997) adotando como temas geradores: política, gestão, recursos naturais, impactos ambientais e as questões socioambientais.

A respeito da política iniciaremos com a própria política de educação ambiental. O nível federal apresenta a Política Nacional de Educação Ambiental criada pela Lei n° 9.795/ 1999, define os objetivos, diretrizes e fundamentos no contexto nacional. Descreve a educação ambiental formal e não-formal como responsabilidades do poder publico. Entendemos que confere ao poder publico municipal, ou seja, aos órgãos ambientais como a SEMMAS a educação ambiental não formal.

Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Art. 13.

A SEMMAS como presidente da Comissão Intersetorial da Educação Ambiental criada pelo Fórum de Municipal de Educação Ambiental, torna-se impreensendivel identificar as ações, projetos e programas de educação ambiental no âmbito não formal com a participação direta e indireta da SEMMAS.  )

Ainda na esfera nacional encontramos ações de educação ambiental voltada aos impactos ambientais, como por exemplo, a resolução CONAMA nº 02 que regulamenta os padrões de emissão de ruídos. Este instrumento jurídico legitima o Programa de Educação e Controle da Poluição Sonora envolvendo principalmente as ações de comunicação atingindo a sua coletividade. Consiste na orientação a respeito do uso dos sistemas sonoros e a punição as pessoas que não respeitam o seu cumprimento. O interessante que refere-se às atitudes individuais desconsiderando as questões coletivas.

Em outro contraponto destacaremos a respeito dos recursos naturais, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação decretado através da Lei No 9.985/ 2000. No contexto regional a Lei Complementar Nº. 53 de junho de 2007 cria o Sistema Estadual de Unidades de Conservação no Amazonas propondo os programas de Educação Ambiental em unidades de conservação envolvendo as comunidades ao seu entorno, os conselhos e aos seus gestores. A educação ambiental na área da conservação da natureza é tida como a construção de políticas que regulem o uso sustentável dos recursos naturais.

Associado a esta temática destacamos as questões socioambientais, pois se referem às táticas das comunidades tradicionais[1], os movimentos sociais sobre uso dos recursos naturais. As políticas de meio ambiente necessitam considerar durante a sua construção e execução os demais instrumentos jurídicos que legitimam o direito e seus deveres quanto às formas de ordenamento e uso dos recursos naturais em sua coletividade.

Ambas as temáticas exigem dos educadores ambientais um envolvimento que coaduna com o dialogo de saberes desafiado por Paulo Freire (1996) com os grupos e o movimento social. Entre os direcionamentos expostos na própria Política Estadual de Educação Ambiental regulamentada através da Lei nº 3.222, de 02 de janeiro de 2008 está a educação ambiental pautada na mobilização social:

Art. 37. Entende-se por Educação Ambiental e Mobilização Social os processos de participação coletiva e permanente na busca da construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas para a preservação e conservação do meio ambiente, bem de natureza difusa, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

 O processo de construção desta educação ambiental acontece entre os movimentos sociais no qual exige dos mesmos o envolvimento na construção de ações pautadas na educação popular buscando executar as ações propostas das Conferencias Municipais com a participação dos representantes da sociedade civil de maneira democrática e justa.

Anterior a Política Estadual encontramos a educação ambiental no município de Manaus regulamentada a partir da Lei 605/2000 que institui o Código Ambiental. O capítulo XII que institui a educação ambiental descreve a sua definição, objetivos e fundamentos no âmbito da educação formal, não-formal e informal. 

Observamos que a metade do caminho na construção da identidade da educação ambiental em Manaus está pautada principalmente em princípios políticos. Por isso, acreditamos na necessidade da participação da sociedade civil por meio dos encontros e fóruns na execução das propostas da III Conferencia Municipal de Meio Ambiente. A construção deste Plano de Ação de Educação Ambiental será tecido por meio dos seguintes eixos: Políticas Públicas e Gestão, os Encontros com as comunidades, o Programa de educação e interpretação ambiental em unidades de conservação e os Estudos socioambientais.

Neste artigo que trataremos a respeito dos primeiros relatos de experiências em especifico dos programas de educação e interpretação ambiental nas unidades de conservação em Manaus. Propusemos inicialmente promover ações de EA com as comunidades e demais grupos no entorno destes espaços. Buscando sempre contextualizar a região respeitando as suas características culturais, sociais, ambientais e econômicas. Proporcionar o diálogo de saberes, com esses atores que estão envolvidos diretamente com a proteção, preservação e conservação dos recursos naturais.

Iniciamos nossa experiência com as escolas situadas ao entorno do Igarapé do Mindu do “Projeto Salve o Mindu”. Iniciamos as visitas monitoradas no Parque Municipal Nascente do Mindu implantando o Plano de Ação de educação e interpretação ambiental ao entorno do Parque Nascentes do Mindu.

Nesta perspectiva foram realizadas as trilhas interpretativas com a finalidade de informar e orientar aos educandos os aspectos históricos, geográficos e ambientais do Parque.

2. Metodologia

As trilhas interpretativas consistem em criar e adaptar formas de conhecimento construído com a participação da comunidade, professores e alunos. Assim, adotaremos como metodologia a pesquisa participante (Brandão, 2005), os educadores, educandos, gestores e técnicos estão envolvidos diretamente nesta experiência. Essa metodologia, permite que todos estejam participando diretamente, intervindo, observando e construindo juntamente com os sujeitos. Por isso, entendemos que todos estamos envolvidos diretamente na constituição da identidade da educação ambiental nas unidades de conservação. Para que isso ocorra foram realizados quatro momentos.

 No primeiro momento o Gestor do Parque explanou o histórico e o objetivo da criação da Unidade de Conservação do mesmo abordando também os aspectos sociais que antecederam sua criação. Retratando a importância dos aspectos hídricos do igarapé do Mindu apontando de onde sua fonte nasce e por onde o igarapé percorre por vários bairros da Cidade de Manaus. A informação se deu por meio do mapa mostrando o recurso hídrico do Mindu.

Posteriormente, os educandos iniciaram as trilhas explanando no caminho os conceitos de educação ambiental e mostrando a diversidade de espécies de árvores e a importância que esta tem em compor o ambiente. Na chegada as nascentes os mesmos em pares apreciam a água limpa resultando em uma experiência única para os educadores e educandos.

No terceiro e último momento acontece o retorno da trilha sendo realizado uma atividade lúdica em roda para maior interação do grupo e são feitas perguntas como por exemplo, o que conseguiram detectar na caminhada da trilha.

Finalizando a atividade os educandos e educadores foram convidados a desenharem em grupos nas cartolinas o que observaram na sua visita ao mesmo tempo em que são provocados à reflexão sobre que ações os mesmos desejam que o Parque ofereça para a sua comunidade. Referida atividade propicia a contextualização da região respeitando as suas características sociais, geográficas e ambientais resultando assim em um diálogo de saberes com esses atores que estiveram envolvidos na constituição desta unidade de conservação.

Conforme proposto pelo SNCU e SEUC, cada unidade de conservação possui um programa de interpretação ambiental, cuja finalidade esta em transmitir informações da bioregião (ecológicas, históricas, geográficas).

Neste caso, nos propomos a realizar uma educação ambiental dialógica a partir da concepção das comunidades interpretativas aonde os educandos e educadores puderam trocar vivências, conceitos e saberes construídos no decorrer da visita monitorada ao Parque.

Dessa forma referida atividade proporcionou a interação da coletividade aonde pôde ser retratado de forma conjunta o conhecimento da fauna e da flora da biorregião contextualizados nos mapas interpretativos.

           Segundo Avanzi e Malagodi (2005) as comunidades interpretativas auxiliam na construção da educação ambiental, pautada na realidade de vida das pessoas que compõe uma determinada localidade. Assim sendo, começamos a descrever com os educandos e educadores os conhecimentos a respeito da biodiversidade, cultura e arte da região.

          Essas primeiras iniciativas nos ajudarão juntamente com as comunidades ao entorno do Parque a construção do programa de educação e interpretação ambiental.

 

Os primeiros resultados a partir da interpretação e educação ambiental

A construção do plano de educação e interpretação ambiental foi iniciada com as 10 escolas do entorno do Parque que fazem parte do Projeto Salve o Mindu. Os educandos e os educadores ao término da trilha interpretativa estiveram participando da roda de conversas e os mapeamentos interpretativos.

A constituição e trajetória dos educandos e educadores, foi interpretada por estes mapas que trouxeram um olhar mais regionalista. Neste caso, após a trilha todos que estavam envolvidos começaram a descrever o lugar. Durante as atividades em grupo, todos começaram a desenhar e a relatar um pouco mais sobre a nossa diversidade. As palmeiras, foram arvores que compuseram o cenário dos mapas o que resultou em trazerem a sua identidade amazônica.

Os educandos relataram que trouxeram o buritizeiro, açaí e outras palmeiras, devido a diversidade no lugar. Estiveram associando a relação da própria nascente com a presença dessas espécies de palmeiras. Durante as conversar ao termino desta atividades foram comentados os valores e as formas de usos dos frutos destas palmeira. Nesse processo começamos a vivenciar uma educação ambiental mais biorregionalista (Sato, 2004).

 A educação ambiental biorregionalista (Sato, 2004, Grun, ) incorporam todos os aspectos culturais, sociais e ambientais. As comunidades, escolas e outros visitantes ao estarem nos parques municipais começam a interagir diretamente com as propostas de educação, interpretação e na própria proteção destas unidades de conservação.

Na área urbana estas áreas protegidas tornam-se grandes e esplendorosos laboratórios naturais, sociais e culturais para os educandos, educadores, pesquisadores e graduandos.

           Nessa primeira atividade identificamos as contribuições dos moradores, educadores e educandos que residem no entorno do Parque Nascente do Mindu. De acordo com os relatos obtidos pelos educadores e educadoras foi possível observar os aspectos sociais e ambientais que o parque oferece as comunidades ao seu entorno. Conforme expressos nas sugestões, como assim exposto pelos professores:

 

“Faço parte da comunidade há dezesseis anos, durante esse tempo, passamos por muitas dificuldades, água, asfalto, coleta de lixo, etc.

Mas muitas coisas já melhoraram como a energia, o lixo está sendo coletado, a água ainda alguns moradores usam o poço artesiano, ainda há pessoas que queimam o lixo doméstico no quintal.

Acredito que, se continuarem a fazer as palestras, atividade de reciclagem com a comunidade, a limpeza, queimadas, vão deixar de existir ou diminuir bastante.

O passeio de hoje me fez lembrar, quando aqui cheguei, pois também descia para lavar roupas e louças no igarapé, mas hoje, minha experiência, palestras, e muitos cursos que já fui, pude ver que nós como ser humanos deixamos o meio ambiente sem proteção.

Trabalho com reciclagem, pet, caixa de leite e muito mais produtos, e vejo que poderemos ajudar as pessoas que estão desempregadas a ganhar o seu próprio sustento.

       

            No decorrer do trabalho realizado no Parque Nascente do Mindu vários aspectos sociais puderam ser observados durante dois dias de caminhada na comunidade Areal do Mindu. A composição do cenário de moradias da área onde está localizado o Parque Nascente do Mindu foi advinda de uma invasão e por isso apresenta toda a sorte de questões sociais e ambientais para serem sanadas a médio e longo prazo. Outras problemáticas estão presentes ao entorno do Parque como os problemas com a coleta de lixo, com o abastecimento de água, o asfalto das ruas, evasão escolar, drogas e segurança.

                Observamos que em parte esses problemas acontecem devido à falta de manutenção do cerceamento do Parque é notório o livre acesso pelos moradores na área protegida. Conforme os Sistemas de Unidades de Conservação estadual e federal, os parques são unidades de proteção integral:

“com objetivo básico da preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas cientificas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza ecológica”. (SEUC, Artigo 11, 2007)

                Outro fato relatado por servidores do Parque, que aos finais de semana e feriados os moradores levam água das nascentes, retiram cachos de açaí, bacaba e buriti. Ainda próximo a nascente a área é utilizada para rituais afrodescentes, os moradores usam a área como balneários, fazem fogo e o deixam seus resíduos tais como, garrafas, latas, sabão, roupas, pratos e outros utensílios.

                Nestas primeiras experiências encontramos educandos e educandores dispostos em realizar uma educação ambiental pautada na realidade. A proposta começa a ser aceita e está presente nos trabalhos, nas falas e nos gestos ao termino da atividade. E começamos a acreditar que uma nova identidade da educação ambiental está sendo modificada.

               

Bibliografia

Freire, P. Educação como prática de liberdade. 22. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

Carvalho, I. C. M. e Grun, M. Hermenêutica e educação ambiental. Ferraro Junior (Org). Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília. MMA. Diretoria de Educação Ambiental, 2005.

LESSA, Sérgio. A Ontologia de Lukács. Maceió: Edufal, 1997.



 [1]Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro DE 2007, Política Nacional De Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Política de Populações tradicionais

Resolução 03/2008 do CEMAAM, que regulamenta o Autobastecimento madeireiro florestal no Estado do Amazonas.