Em 2009 a indústria automobilística bateu recorde histórico de produção e venda, principalmente com a redução do IPI. As vendas chegaram a 3,2 milhões de unidades e cresceu 12,8% em relação a 2008. Em Brasília, em junho de 2009,  foram vendidas 10 mil unidades no mês. Sabe o que é esta quantidade de carros entrando no já combalido trânsito? Imagine os outros grandes centros?
Agora em 2010 a perspectiva é a mesma. Estima-se até crescimento em relação a 2009. Alavancado no crédito e na renda melhorando o povão vai as compras do carro novo. Ainda que com "spreads" criminosos de algumas financeiras, existem opções baratas e motiva o comprador. Zero de entrada e financiamento em até 80 meses eu já vi.
A economia agradece, a indústria automotiva é forte, sua força é boa para geração de emprego e renda e para o governo impostos, não se esqueçam que somos os campões do globo em tributos, nos veículos então, nem se fala.
Mas tudo isso tem um lado perverso. A sustentabilidade urbana fica comprometida, as cidades vão ficar entupidas.
Além do inconveniente dos congestionamentos e da perda de tempo de todos (lembre-se que tempo é dinheiro), ainda temos o problema sério da poluição, mais séio do que muitos imaginam. Não falo só do efeito estufa pelo CO2 do combustível, mas a poluição via material particulado e emissões.

Vejam os números do Brasil. Fonte: Denatran 2009-
 
Total de veículos:  58.506.136. As principais cidades:
  1. São Paulo: 6.105.954
  2. Belo Horizonte: 1.205.415
  3. Rio de Janeiro: 1.932.327
  4. Curitiba: 1.181.551
  5. Brasília: 1.138.005

Mais dados sobre o problema: Os principais poluentes emitidos por veículo.

  1. Partículas Totais em Suspensão (PTS)
  2. Partículas Inaláveis (PI)
  3. Fumaça
  4. Dióxido de Enxofre (SO2)
  5. Dióxido de Nitrogênio (NO2)
  6. Monóxido de Carbono (CO)
  7. Ozônio (O3)
  8. Principais impactos da poluição atmosférica por emissões veiculares:

    • Aparelho respiratório: bronquite, enfisema, asma e o cancropulmonar;
    • Plantas: atacam as folhas, estas caem, diminuem a fotossíntese, respiração e a transpiração. Crescimentos mais lentos, tornando-se menos resistentes ás doenças e aos parasitas;
    • Animais: contato com ao ar poluído como pela ingestão devegetais mais ou menos envenenados

    Olhem mais:

    • Segundo estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, baseado em parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), a chance de uma pessoa morrer de doença cardiorrespiratória nos 39 municípios da região é atualmente de 10,9%.
    • Sem as emissões veiculares, cairia para 2,4%.

    Nos atuais padrões,

    • O ar da região de São Paulo mata indiretamente, por ano, 7.187 pessoas a partir dos 40 anos (grupo de maior vulnerabilidade).
    • São 65% a mais que em 2004, ano da última pesquisa. As principais doenças agravadas são infarto, acidente vascular cerebral, pneumonia, asma e câncer de pulmão.
    • A poluição já mata mais do que a Aids e o trânsito juntos na cidade de São Paulo.
    • Paulo Saldiva, médico do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, afirma que uma única medida, a redução da liberação de enxofre pelo óleo diesel usado pelos veículos, pode evitar 150 mortes por ano - pouco menos que o número total de vítimas de Aids na cidade de São Paulo, que chegaram a 232 em 2007.
    • Segundo estudos, as doenças provocadas pela poluição, que vão de problemas respiratórios a enfartos, causam cerca de 9 mortes por dia na capital paulista.
    • Por ano, são cerca de 3,5 mil óbitos.
    • Na capital, o trânsito causou em todo o ano de 2007, 1.352 mortes de acordo com dados da secretaria municipal de Saúde.
    • Somados, no ano passado, a Aids e o trânsito mataram 1.624 pessoas na cidade.
    • Segundo estimativa do laboratório, a região metropolitana de São Paulo gasta por ano US$ 1,5 bilhão para tratar as doenças causadas pela poluição do ar.
    • Os gastos levam em conta custos de internação e tratamento por doenças causadas ou agravadas pela poluição e também a redução de cerca de um ano e meio da expectativa de vida da população economicamente ativa.
    • Além dos custos diretos, existem as perdas com os dias que os indivíduos internados deixaram de trabalhar, uma vez que os casos mais graves ocorreram na faixa etária entre 15 e 64 anos.
    • Há maior incidência dos efeitos nos meses de inverno, em decorrência da inversão térmica.

    A questão da mobilidade urbana e da sustentabilidade nas grandes cidades é mais séria do que imaginamos.
    O trem urbano "Metro" com todos os seus problemas de sustentabilidade econômica pode ser uma saída se computados os gastos com a saúde pública.
    Soluções? Vou dar algumas idéias:

    1. Rodizio de veículos como existe em São Paulo 
    2. Pedágio eletrônicos como existem em Tóquio e Londres, ou seja, área determinadas que carros não podem circular, e se os motoristas quiserem pagam caro para acesso a estas áreas.
    3. Melhorar o transporte urbano. Isso incentivaria muitas pessoas a usarem, como em New York.
    4. O metro, mesmo com problemas de sustentabilidade econômica e precisar de subsídios, pode ser mesmo a saída. O custo desta poluição e os problemas de saúde causados podem pesar definitivamente na conta favorável a implantação de metros.
    5. Consciência da população para uso racional dos veículos.
    6. Efetivação de políticas de sustentabilidade urbana com programas e ações concretas.

    Não podemos frear o desenvolvimento da indústria nem do mercado, mas ações em paralelo precisam ser tomadas para equilibrar os problemas gerados.
    A palavra mágica chama-se sustentabilidade urbana. A mobilidade urbana está relacionada a ela, mas as políticas que algumas cidades estão adotando têm foco mais abrangente. As grandes cidades nos países desenvolvidos têm uma atuação na questão da sustentabilidade urbana de forma focada e relevante. Aqui no Brasil faltam políticas mais sérias e eficientes. Ainda temos muito a fazer, enquanto isso gastamos bilhões e sofremos transtornos de toda natureza.