1 Introdução

Levando em consideração o surgimento de tecnologias móveis, em relação ao sua evolução e aprimoramento, no contexto de desenvolvimento e construção de interface, ainda é necessário que haja avanços nessa área para daltônicos (SANTANA, 2017), pois no dias de hoje as pessoas não só acompanham o crescimento tecnológico como também usufruem de todas as suas vantagens (VIEIRA;  ALCÂNTARA, 2011), tendo uma maior gama de serviços a disposição, seja para entretenimento ou comunicação. Porém, uma parte da população não consegue desenvolver uma  forma de interação que seja satisfatória e agradável, em relação ao uso de aplicativos mobiles.Pois apesar das tecnologias embarcadas, nesses aparelhos, apresentarem uma evolução constante (FLORENTIN et al., 2018) facilitando a inclusão e a acessibilidade, os aplicativos deixam muito a desejar em relação a pessoas daltônicas, já que dependendo da disposição das cores utilizadas pode se revelar um problema ao acessar algum aplicativo, causando o uso incorreto do mesmo, podendo gerar um descontentamento do usuário (GARCIA et al.,2013). Sendo alguns desses problemas em relação a interface, a priorização ou o uso exclusivo de cores para transmitir informação (VILLON, 2019) como, por exemplo, validar determinados processos, representar algum retorno do sistema, corrigir, enfatizar trechos de um texto e dizer os limites de caracteres de uma mensagem com uma determinada cor, o contraste entre cores de fundo e fonte, usar tons para diferenciar aspectos da interface e etc. O que pode ocasionar em transtorno para cerca de 10% da população brasileira que sofrem com daltonismo (IBGE, 2005). Atualmente poucos resultados abordam soluções para o problema (RODRIGUES, 2017), e ao realizar uma busca na literatura sobre o assunto encontram-se descrições sobre o que é daltonismo e algumas dicas sobre como melhorar a interface, fazendo-a ficar mais acessível. Porém, não é disponibilizado um guia ou ferramentas que possam corresponder de forma satisfatória às necessidades das pessoas daltônicas ou aos desenvolvedores que irão construir a aplicação.Desse modo, tem-se como objetivo geral realizar um mapeamento sistemático sobre a literatura disponível, que discorra sobre as boas práticas no quesito de usabilidade para a criação de interface mais acessíveis para portadores de daltonismo. E, como objetivo específico, busca-se elaborar um documento que possa ser utilizado no futuro, para nortear outros profissionais com técnicas e recursos recomendados. Diante disso, faz-se necessário abordar as definições sobre daltonismo, design de interface e acessibilidade. Isso permitirá que haja um embasamento teórico sobre o artigo e o desenvolvimento do mapeamento sistemático. Além disso, será investigado as abordagens já utilizadas, tendo como fundamentação teórica os artigos que abordam o daltonismo, design de interface e acessibilidade.

2 Fundamentação Teórica

Para dar continuidade a discussão será apresentada as subseções contendo as informações relevantes para o artigo em questão, a partir das temáticas: daltonismo, IHC e acessibilidade.

2.1 Daltonismo. 

Quando a luz incide sobre o ambiente ela é refletida, e essa luz que se propaga em diferentes comprimentos de onda (ANDRADE et al., 2019), chega aos nossos olhos sendo recebida por duas células: cones e bastonetes. Nas células cones, especializadas em identificar as cores, existe a proteína conhecida como fotopsina, proteína responsável por converter a luz em sinais elétricos, que será enviada ao cérebro interpretando-a e devolvendo-a como uma visão cromática (FONTANELLA et al., 2014). Entretanto, algumas pessoas sofrem com discromatopsia - um distúrbio que dificulta a diferenciação e reconhecimento das cores. Esse distúrbio também é chamado de daltonismo, um sinônimo popular que surgiu por causa do John Dalton que foi o primeiro a estudar o assunto(HRUBA,2018).A discromatopsia pode ser uma condição genética de característica hereditária (CASARIN, 2015). Uma mutação no cromossomo X que faz com que haja deficiência ou ausência dos cones (célula responsável pela a identificação das cores), também podendo ser adquirida através de doenças neurológicas ou lesões na células de visão (BRUNA, 2017). Estima-se que na população as discromatopsia congênitas acometam 6% a 10% dos homens e 0,4% a 0,7% das mulheres (FONTANELLA et al., 2014), prejudicando a habilidade de enxergar cores normalmente e os incapacitando-os de distingui-las.Para facilitar o processo de identificação de cores e assimilação da informação, o design de interface, que é o recurso que conduz a interação entre o produto e o usuário, pode ser utilizado. Essa interface é “tudo aquilo que o usuário entra em contato, seja de forma física, perceptiva ou conceitual” (GARCIA, 2016, p.1), permitindo que ocorra a ação entre o usufruidor e o artefato.

2.2 IHC.

O processo de design é um tanto criativo quanto á solução de problemas (FLORENTIN et al., 2018). Ele é dividido em etapas, sendo necessário a busca por informação para criar a solução adequada para o contexto. Segundo Florentin et al. (2018), esse processo pode ser extremamente complexo e ser dividido nas seguintes etapas: análise de problemas, geração de alternativas, avaliação de alternativas, realização de solução, cada qual importante no processo e se entrelaçando com avanços e retrocessos.Para facilitar esse processo, existe a área de estudo conhecido como “Interação Humano-Computador” que além de pesquisar sobre o design em sistemas computacionais, visa a interação entre o usuário e o sistema (HRUBA, 2018). O IHC objetiva em compreender, analisar, projetar e desenvolver interfaces que facilitam o uso de tecnologias computacionais, objetivando construir e desenvolver sistemas seguros e funcionais para o processo de interação. O IHC surgiu por volta do ano de 1986 e engloba técnicas e conhecimento de outras áreas (GARCIA et al., 2013), áreas como linguística, semiótica, processo centrado no utilizador, design inclusivo, WCAG e ergonomia, para desenvolver a interface que será utilizada.

2.3 Acessibilidade

Atualmente, na nossa sociedade, tem-se discutido muito sobre acessibilidade iniciando um debate sobre como oferecer melhores condições para a inclusão de todas as pessoas. Segundo Andrade et al. (2019), independente de suas necessidades especiais de forma autônoma e plena, essas pessoas necessitam ter melhores possibilidades e chance de viver.Porém, para entendermos mais sobre o assunto considera-se a acessibilidade, definida por Garcia et al. (2013), como a capacidade de qualquer usuário utilizar qualquer um objeto sem que haja obstáculo dificultando ou estabelecendo limites sobre o seu uso. De modo que ele seja capaz de agir sobre a interface através de um dispositivo de entrada, e possa receber o resultado através do dispositivo de saída.Entretanto, no contexto de desenvolvimento mobile, a acessibilidade se mostra como um grande desafio tanto para o usuário quanto para o desenvolvedor, pois apesar de as tecnologias móveis avançarem a passos largos e serem assimiladas rapidamente, tornando-se mais adaptativas e proporcionando uma maior inclusão. Com isso, de acordo com Florentin et al. (2018), a maioria dos dispositivos e aplicativos continuam inacessíveis para pessoas com deficiência dificultando sua integração no meio digital como um todo.A maioria dos daltônicos conseguem ter uma vida normal, com uma rotina satisfatória. Contudo, existe um obstáculo em relação ao uso de aplicativos, que muitas vezes são de difícil entendimento ou de interação.

Objetivos gerais e específicos 

Neste trabalho a proposta é fazer uma análise documental das normas propostas pela W3C; NBR 9241-11, que discorre sobre a usabilidade; e realizar um mapeamento sistemático de trabalhos acadêmicos contidos nas base de dados indexada no Google Scholar, bem como no Portal de Periódicos Capes e, além disso, analisar os apps e protótipos já produzidos.Após uma análise de todos os trabalhos selecionados, foi realizado um estudo considerando os elementos fundamentais para pessoas daltônicas. O que possibilitou a elaboração de um conjunto de diretrizes que possa oferecer um guia de boas práticas para os desenvolvedores. Para avaliar as diretrizes, será desenvolvido um aplicativo/protótipo segundo os elementos dispostos. Este passará por uma avaliação qualitativa com pessoas daltónicas, médicos especialista e designers. Por fim, foi realizada uma análise dos resultados para avaliar as diretrizes propostas.

3 O Processo do Mapeamento Sistemático

Com o objetivo de mapear e identificar quais aspectos são mais debatidos e pesquisados foi decidido realizar um mapeamento da literatura, seguindo um modelo baseado em Petersen (2011). Segundo esse autor, o processo de mapeamento é um estudo rigoroso baseado em métodos sistemáticos de verificação da literatura, ao qual esses estudos se diferenciam das Revisões Sistemáticas.

3.1 Construção de questões de pesquisa

Para o processo de estruturação da pesquisa foi empregado os critérios de PICO, uma abordagem utilizada na formulação de questões. A partir do uso dessa abordagem foi possível compor as perguntas em quatro tópicos: população, intervenção, comparação e resultados, apresentados no quadro a seguir.

3.2 Processo de busca

Para o processo de busca foi aplicado uma string de busca, construída de acordo com os principais termos identificados com o método PICO. Assim, foram realizados testes com os termos daltonismo, Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICS), IHC, interface e tecnologia. Durante o processo observou-se que as pesquisas referentes a usabilidade e acessibilidade de tecnologias TDICs para portadores de daltonismo é muito recente tendo o ano de 2016 como início.O processo de identificação dos artigos relevantes foi iniciado após a definição dos termos de pesquisa, e a busca foi realizada utilizando a base de dados indexada do google scholar. Para afunilar a quantidade de artigos utilizado, foi considerado usar alguns determinados filtros: (1) publicações voltada para área de IHC; (2) portadores de daltonismo; (3) desenvolvimento de software, web ou app; (4) estudos produzidos entre o ano de 2016 e 2019, sendo esse o período de maior relevância com um número maior de artigos produzidos e; (5) dissertações, artigos e estudos em Língua Portuguesa.Em seguida, ao obter as dissertações, realizou-se a verificação das potenciais teses, excluindo-se os trabalhos duplicados ou vedados para o público. Logo, os trabalhos aprovados foram direcionados para o processo de inclusão e exclusão no qual ocorreu a criação de critérios para tal.

3.3 Critérios de Inclusão e Exclusão

Para a selecionar os estudos mais relevantes foi criado os Critérios de Inclusão (CI) e os Critérios de Exclusão (CE). Assim, foi incluído no mapeamento somente os artigos que satisfazem os seguintes critérios de inclusão:CI1: artigo que discute ou abordar algo sobre usabilidade e daltonismo;CI2: apresenta alguma tecnologia TDICs;CI3: cria ou indica alguma solução voltada para o usuário;CI4: cria ou indica alguma solução para o desenvolvedor.E para os critérios de exclusão foi excluído os estudos que:CE1: não apresenta solução para o problema;CE2: não aborda os termos acessibilidade e usabilidade.

3.4 Classificação e Seleção de estudos

A atividade de seleção foi conduzida em dois estágios: no primeiro verificava-se o resumo do artigo e as palavras-chaves, além de outros metadados relevantes para o estudo. Quando relevante, os estudos eram selecionados para a leitura completa. Em seguida, no segundo estágio, era feita uma leitura completa do texto de cada estudo, decidindo se deveria ser incluído ou excluído do mapeamento. Após isso, foi conduzido a atividade de classificação, que consistiu na escolha de 8 artigos para a realização de análise de dados. 

4 Análise de dados 

Para satisfazer os objetivos deste estudo e responder as questões da pesquisa iniciamos uma coleta de dados, agrupando-os em um quadro contendo os nomes dos autores, nomes dos artigos, ferramentas, ideias ou técnicas implementadas para a facilitar a obtenção da informação, para portadores de daltonismo e/ou que oferecem conforto visual para daltônicos (Quadro 3).

5 Resultados e Discussões 

Nessa seção trataremos da extração de informação do tópico anterior e tentaremos responder às questões utilizando o método PICO. Cada uma das questões serão transformadas em subseções, as quais poderão ser melhor aprofundadas.

5.1 Em quais contextos são aplicados as diretrizes coletadas

É preciso definir o que é contexto e como será utilizado dentro desse estudo. Para fins de pesquisa, considera-se a inclusão digital e as interfaces acessíveis. Porém, cada artigo tende a abordar o assunto de forma única, oferecendo diferentes resoluções e havendo pontos de interseção entre eles.Sendo assim, o foco recai, das diferentes resoluções desenvolvidas, em duas delas: (1) adaptar uma interface existente ou (2) criar uma que seja mais inteligível para portadores de daltonismo. Ambas as propostas apresentam o uso de tecnologias visando a obtenção de resultados satisfatórios, mas com métodos diferentes. Na primeira resolução tem-se a ideia de utilizar de frameworks que mudem as cores do site ou aplicações que modifiquem aspectos de apps como tons e cores.Já na segunda, temos o uso de tecnologias assistivas para auxiliar na criação de apps e sites, além de determinadas práticas e princípios que facilitam o desenvolvimento dos mesmos.

5.2 Quais as metodologias mais utilizadas

A maioria desses estudos podem ser divididos em desenvolvimento de tecnologias ou revisões sistemáticas, a partir de bases multidisciplinares que focam em duas ou mais áreas como ergonometria, acessibilidade, princípios do w3c e Interação Humano-Computador (IHC).

5.3 Quais os tipos de estudos mais investigados na área Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação aplicados a pessoas com daltonismo

Das amostras selecionadas, como fontes de pesquisa para o desenvolvimento desse artigo, foi verificado que as áreas de estudo voltadas para esse tópico são revisões de estudos, criação de interface ou aplicações dedicadas à portadores de daltonismo e/ou desenvolvedores front-end, e também sobre o uso de técnicas e conhecimentos do IHC e usabilidade.

5.4 Quais são as principais tecnologias aplicadas em TDICs voltadas para pessoas com daltonismo

Uma das tecnologias utilizadas é a legenda colorAdd desenvolvido por Miguel Neiva. Não é orientada para ser usada para TDICS, mas pode ser adaptada e aplicada a elas. ColorAdd é um sistema de identificação, sendo um código gráfico, sustentado em conceitos universais de interpretação, tendo como ponto de partida as cores primárias e seus desdobramento que permitem que os daltónicos as identifique.Outra tecnologia aplicada são as extensões de navegadores, que permitem ao portador de daltonismo modificar as cores de uma página web deixando-a mais fácil de interagir. Já a tecnologia assistiva é um termo utilizado para identificar todo o arsenal de Recursos e Serviços, dispositivos, técnicas e processos que podem prover assistência e reabilitação, contribuindo para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e promover independência e inclusão.

5.5 Como são empregue as tecnologias TDICs voltadas para pessoas com daltonismo 

ColorAdd: para cada cor foi adicionado um símbolo geométrico que pode ser visto na figura abaixo.Esses diferentes símbolos são usados para representar as cores primárias e suas variações.Extensões de navegadores: são pequenos módulos de software que adicionam alguns serviços ou modificam a interface para o usuário. Uma dessa extensão é a clarovisão, desenvolvido para o navegador Mozilla Firefox que converte a página web possibilitando o usufruto da mesma por portadores de daltonismo.Color universal design: é um tipo de design desenvolvido para que a informação seja transmitida de forma mais acessível para pessoas, principalmente as que têm dificuldade em enxergar cores.

6 Ameaças à Validade

Por somente ter sido baseado em estudos na Língua Portuguesa, existe a possibilidade de que estudos relevantes em outras línguas não tenham sido incluídos. O processo de seleção e classificação desenvolvido pode ser uma ameaça a validade, como também o processo de inclusão e exclusão, pois ocorreram após a escolha dos artigos.

7 Considerações Finais

O presente estudo tem como intenção direcionar os futuros profissionais a considerarem a importância de incluir em seus projetos técnicas e ferramentas, que possam atender as necessidades de pessoas daltônicas.Isso foi alcançado ao realizar uma análise profunda e detalhada de todos os trabalhos e dissertações sobre o tema daltonismo e TDICS. Sendo possível atingir o objetivo dessa pesquisa, tanto no mapeamento como na elaboração de um documento que possa projetar experiência encantadora que seja capaz de ser aplicada tanto para a criação quanto para modificar às interfaces de aparelhos TDICS que satisfaça o usuário.Assim trazendo uma possível resolução para o tema abordado neste trabalho, além de ampliar a discussão acerca do assunto.