Celular: Impacto na sociedade Moçambicana 

Joana Matavele (*)

Síntese: Este artigo analisa os impactos negativos e positivos das tecnologias de informação, particularmente os telefones celulares, na vida da sociedade moçambicana: inicialmente, estuda como as tecnologias de informação têm vindo a marcar a vida da sociedade. Posteriormente, faz uma abordagem aos sistemas celulares, destacando as inovações ocorridas nesses aparelhos. Ainda faz menção às gerações e padrões de rede que actualmente se fazem mais frequentes no quotidiano. Finalmente, aborda as linhas de pensamento sobre o impacto dessas tecnologias no meio social.  

Introdução

Várias são as ideias sobre o impacto que as tecnologias de informação causam na sociedade. Por um lado, acredita-se que estas trazem impactos negativos, dado conteúdo das informações que ocorrem sobre elas.  Por outro lado, há os que acreditam que as tecnologias de informação são uma mais-valia, já que vêm facilitar o trabalho da humanidade. Outros encaram-na ainda como substitutas das actividades humanas, acreditando que estas são auto-suficientes e independentes. Não obstante, o impacto dessas tecnologias, especialmente dos telefones celulares, de alguma forma marcam a sociedade, quer seja pela positiva, quer seja pela negativa.

Porém, há que admitir que as tecnologias de informação são uma forca impulsionadora do desenvolvimento social, em virtude das necessidades frequentes de seu uso na economia, na educação, na política, no desporto, entre outras esferas sociais, nas quais os indivíduos estão inseridos.     

A Sociedade e a Tecnologia de Informação

A dinâmica social depende, em grande parte, das inovações tecnológicas ocorridas ao longo do processo histórico da humanidade, desde os tempos remotos até a época actual em que nos encontramos. Contudo, não é de se admirar que os modos de vida das sociedades actuais estejam voltados para as tecnologias de informação:

Todas as épocas têm as suas técnicas próprias que se afirmam como produto e também como factor de mudança social. Assim, os utensílios de pedra, o domínio do fogo e a linguagem constituem as tecnologias fundamentais que, para muitos autores, estão indissociavelmente ligadas ao desenvolvimento da espécie humana há muitos milhares de anos. Hoje em dia, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) representam uma força determinante do processo de mudança social, surgindo como a trave-mestra de um novo tipo de sociedade, a sociedade de informação. (Coelho apud Ponte, 2000:64-65). 

As tecnologias de informação tiveram sempre destaque no processo de desenvolvimento social, facilitando o trabalho da humanidade em varias vertentes. O telefone celular é um exemplo claro de uma das tecnologias que revolucionou as várias sociedades como a moçambicana e entre outras. É uma revolução trouxe consigo certos impactos, tanto positivos como negativos.

Essas transformações ocorridas no meio social, de alguma forma, marcaram profundamente a sociedade.

É possível inferir que as resistências ao uso das tecnologias de informação por parte de                                                                                               um certo extracto social resultam do possíveis traumas que as revoluções tecnológicas possam ter trazido para esse grupo social. Entretanto a dinâmica social foi sempre acompanhada pela tecnológica, pelo que houve uma necessidade de se adaptar ao novo estilo de vida social, sob pena de ficar-se relegado à exclusão social. 

Uma das características fundamentais das tecnologias de informação, que reflecte bem a sua importância actual, consiste no facto de um único meio electrónico de comunicação suportar todo o tipo de informação possível, nomeadamente texto, imagens, áudio e vídeo (Sousa, 1999:11). Hoje os telefones celulares são capazes de tudo isso e muito mais. Sendo assim, a comunicação, para além de necessidade, passou a ser um privilégio de todos e luxo para algumas camadas sociais de classe média e média-alta na nossa sociedade (moçambicana).   

Sistemas Celulares

Os telefones celulares são dispositivos electrónicos que servem, acima de tudo, para estabelecer a comunicação interpessoal, quer num mesmo contexto social, quer em contextos sociais diferentes.

“Os telefones celulares de hoje não servem apenas para comunicação de voz – eles se tornam plataformas portáteis para a transmissão digital de dados, são algo de auto-emprego de alguns cidadãos, servem como fonte de emprego. Porque  Muitos são capazes de navegar na Web, baixar músicas, jogos e vídeos; e transmitir fotos, e-mail e mensagens de texto curtas” (Laudon & Laudon, 2007: 190).

Face às transformações sofridas nos sistemas celulares, podemos inferir que caminhamos a passos largos rumo à sociedade de informação:

“O temo sociedade de informação exprime a ideia de uma nova fase no desenvolvimento histórico das chamadas “sociedades avançadas”, sendo que algumas das mais significativas mudanças ocorridas na sociedade do século xx as inerentes às relacionadas com ou resultantes das tecnologias de informação” (Lyon apud Sousa, 1999:12).     

A nova era que se aproxima, era da sociedade de informação, acredita-se, será uma era de grandes inovações tecnológicas, mas também uma era muito turbulenta. Esta previsão surge em conformidade com as situações observadas no quotidiano, da era em que vivemos actualmente, onde o uso das tecnologias de informação, como por exemplo o telemóvel, de certa substituem as actividades humanas e colocam o homem numa situação de comodismo e, acima de tudo, o tornam sedentário. É notória uma certa dependência de alguns indivíduos  em relação a telemóvel. É notório que na nossa sociedade o telefone celular um objecto indispensável, porque facilita na comunicação, serve para registar os acontecimentos diarios (agenda), serve como auto emprego para alguns, em suma é algo que facilita o desenvolvimento. Mas também tras muitas desvantagens, o uso excessivo, a dependencia total do objecto.

Entretanto, o uso de telemóveis no nossa sociedade moçambicana tem trazido muitas vantagens no que refere ao desenvolvimento da sociedade.   

Determinismo Tecnológico versus Determinismo Social

Vários autores assumem uma posição teórica determinista, no que toca aos reflexos das tecnologias de informação, apresentando duas posições distintas (Sousa, 1999):

  1. Uma posição de determinismo tecnológico, que parte do principio de que a tecnologia tem uma “vida própria”, capaz de moldar a nossa existência social. Deste modo, o desenvolvimento tecnológico impõe uma constante revolução na estrutura da sociedade, fazendo com que indivíduos e empresas direccionem os seus esforços em relação às novas vertentes tecnológicas que surgem no dia-a-dia, sendo a tecnologia considerada então como força impulsionadora do desenvolvimento da sociedade.
  2.  Uma posição de determinismo social, segundo a qual a utilização das novas tecnologias é determinada pelo próprio modo de produção capitalista, sendo estas usadas para aumentar o controlo sobre as pessoas (nomeadamente os trabalhadores) e aumentar o poder dos detentores dos meios de produção. 

Fazendo uma analogia da situação actual no contexto moçambicano, parece encontrar-se um fundamento na posição do determinismo social, referente ao uso de telefone celular como um modo de controlar as acções de empresas e singulares através das redes de telefonia móvel, apesar do radicalismo dessa posição em relação aos modos de produção capitalista.

Dai que a inscrição dos números de telemóveis  pode ser entendida como uma forma de aumentar esse controlo sobre as entidades acima citadas. Partindo do principio que ao conectamo-nos a uma operadora de telefone celular, automaticamente estamos inscritos nela, surge uma indagação: haverá necessidade de estarmos inscritos duas vezes numa mesma operadora? Essa e outras questões carecem de respostas coerentes e satisfatórias para os utentes das diversas redes de telefonia móvel em vigor no nosso país.

Por outro lado, à luz do determinismo tecnológico, seria inegável assunção das tecnologias de informação como forças motrizes para o desenvolvimento da sociedade, já que vários são os exemplos das vantagens que estas podem trazer para o nosso quotidiano. Só para citar alguns exemplos, como já havia sido referenciado antes, o telemóvel hoje não servem apenas para telefonar, mas também para enviar e-mails, fotos, vídeos, para navegar na internet, fazer negocio, pequenas emprezas foram criadas na base de telemoveis entre outras funções.  

“Os celulares permitem que milhares de pessoas se comuniquem e acessem a Internet na África e em países onde o serviço de Internet ou de telefonia convencional é caro ou não esta disponível” (Laudon & Laudon, 2007: 190).

Portanto, pode-se concluir que os telefones celulares, como tecnologias de informação influentes, contribuem para a mudança e para o desenvolvimento dos “modus vivendi” de uma determinada sociedade e moçambique não fica de fora. Porém, já que a realidade social é muito subjectiva, o impacto dessa mudança irá variar em função da experiência que cada individuo ou grupo social adquirire no quotidiano. Dai que não se deve julgar a aderência ou não à essa tecnologia, em virtude da idealização que cada um constrói e, em função das convicções pessoais ou colectivas.      

(*) Joana Matavele é professora do Departamento de Ciências de Educação e Psicologia, Faculdade de Ciências Pedagógicas e Psicológicas na Universitária Pedagógica, Delegação de Quelimane, Moçambique.

Bibliografia

LAUDON, Kenneth C, & LAUDON, Jane P., Sistemas de Informacao Gerenciais, 7ªed., São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2007, p.190.   

PONTE João Pedro da, In: Tecnologias de Informação e Comunicação na Formação de Professores: que desafios?, 2000,pp.64-65. 

SOUSA, Sérgio, Recursos Humanos & Tecnologias de Informação, Lisboa, FCA, 1999, PP.11-15.