SGANZERLLA, Sergio
Mestrando do programa de pós-graduação em educação
Universidade Federal da Bahia
Disciplina Educação, Sociedade e Praxis Pedagógica
Professores Maria Cecília de Paula Silva e Miguel Angel Borges
[email protected]

Resumo

O artigo faz uma reflexão sobre a Educação e a produção cultural através da Comunicação, na percepção de como os meios de Comunicação e a Tecnologia tem uma forte interface na formação crítica do cidadão, sendo a implantação das Rádios WEB com a utilização de Softwares Livres nas escolas um desses instrumentos. Analisa a produção cultural dos alunos com o trabalho em Rádio WEB proporciona um aprendizado capaz de modificar os elementos formadores da criticidade, transformando-os em cidadãos com posições firmes e sólidas. Reflete o conceito do tempo e como ele transforma a comunicação na WEB, traçando uma relação com o homem e sua existência, reconhecendo que a tecnologia digital fornece uma informação onde não há uma linearidade, adaptando-a a seu favor. Pondera que a educação, dentro da rádio WEB, utilizando Softwares Livres transforma-se em um espaço aberto, rompendo com toda a hierarquização do saber dentro de uma escola, implantando ecossistemas educativos e criativos. E conclui que a utilização das novas tecnologias pela escola exige trabalho diferenciado atendendo, assim, as demandas da educação cidadã de uma nova consciência da sociedade.

Palavras-chave: Rádio WEB, Software Livre, Educação, Cidadania, e Produção Cultural.

Abstract:

The article makes a reflection on the education and cultural production through the Communication, the perception of how the media and technology has a strong interface in the formation of the critical citizen, and the deployment of web radios with the use of Free Software in schools a these instruments. Examines the cultural production of students with work in Radio WEB provides a learning able to modify the elements of criticality trainers, turning them into citizens with positions firm and solid. Reflects the concept of time and how it transforms communication on the web, making a relationship with the man and his existence, recognizing that digital technology provides an information where there is no linearity, adapting it to their benefit. Considering that education, in the radio net, using Free Software is transformed into an open space, breaking with the whole hierarchy of knowledge within a school, and implementing creative educational ecosystems. He concludes that the use of new technologies required by the school work differently because, well, the demands of citizenship education for a new consciousness of society.

Keywords: Web Radio, Free Software, Education, Citizenship, and Cultural Production.

As Rádios WEB nas Escolas...

A tecnologia está cada vez mais inserida no cotidiano das pessoas e não pode ser dissociada da educação na formação do cidadão. Cada vez mais é pertinente a necessidade da instituição escolar intervir nesse processo tornando-se parceira do avanço tecnológico, já instalado na sociedade.

As Escolas, dificilmente abrem espaços de resposta à necessidade de ideais fortes, à grande emotividade, e ao sentimento de participação que os jovens vivenciam como necessidade. A introdução de Rádios WEB nas Escolas, com a aplicação de Softwares Livres, para desenvolver atividades de Arte-Educação, Comunicação e Tecnologia se transforma em um movimento de idéias entre os jovens, de conhecimento tecnológico e de facilidade de comunicação das escolas e dos professores.
Segundo Pretto (1996) o não acompanhamento das mudanças educacionais com a introdução das tecnologias na educação, causa uma paralisação no tempo, sem com isso, enriquecer-se pedagogicamente, deixando de construir com sua escola novas idéias juntamente com novos recursos didáticos tecnológicos, proporcionando aos alunos, professores e comunidade o gosto pela aventura de novos conhecimentos.

Com a abertura e a oportunidade de construir na educação uma nova proposta pedagógica de comunicação, torna-se mais fácil o engajamento tecnológico nos estabelecimentos de ensino, porque é na escola que também aprendemos a lidar com situações da vida cotidiana.

Todavia, se tivermos na escola a oportunidade de termos por perto uma estrutura dinâmica e modernizada que atenda às necessidades para uma melhor comunicação, boa parte das dificuldades de ensino e aprendizagem e qualificação para utilização dos novos meios tecnológicos, poderiam ser facilmente sanadas, pois os indivíduos sairiam da escola com uma qualificação melhor e mais bem preparada para enfrentar as novas problemáticas sociais e culturais que se instalaram ao longo dos anos. Por isso, considera-se importante que a escola tome iniciativa de inserir em sua proposta escolar experiências tecnológicas digitais e de comunicação, como a implantação de Rádios WEB utilizando Softwares Livres em seus computadores, que permitam ao corpo docente e discente da instituição, o processo pelo gosto, pela ação do fazer e conhecer novas informações construindo, desta forma, os seus conhecimentos.

Este processo causa um crescimento e amadurecimento, fazendo com que as ações transformem-se cada vez mais, em mudanças concretas na nossa sociedade. Para isso é necessário que educadores, alunos, dirigentes, professores, conscientes de seus relativos papéis, possam tecer, através do debate, da reflexão e produção coletiva de saberes, da ética e da estética, ampliar suas malhas, conclamando desejos e ações da sociedade em geral e dos poderes públicos em torno de objetivos e metas transformadoras de nossa sociedade, gerando transições sociais, educacionais e tecnológicas.



Produção Cultural...

A mídia e os jovens geram, através das décadas, movimentos favoráveis a discussões de temas por todo o mundo, e os conteúdos dessas discussões atualizam, a cada novo meio surgido, o rádio e a internet. Platão advertia preocupadamente, contra os perigos de histórias de monstros contadas por velhas amas às crianças e jovens dos quais cuidavam, e também, ou também em Rousseau, que temia os livros, como agentes de atrofiação dos impulsos naturais dos jovens, em suas doutrinas chatas e enfadonhas.

No Brasil, hoje, já é muito expressiva a produção no campo da relação comunicação e juventude, principalmente em uma linha crítica e/ou voltada à educação para as mídias em Rádio WEB.

A produção cultural dos alunos com o trabalho em Rádio WEB proporciona um aprendizado capaz de modificar os elementos formadores da criticidade, transformando-os em cidadãos com posições firmes e sólidas. Segundo Gilka Girardello (2006), o entendimento da criança e do jovem como agente da cultura e como sujeito social...

[...] está na base de um movimento crítico que, a partir da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança em 1989, vem pensando também os direitos da criança nos campos da educação e da comunicação. Esse movimento afirma que as crianças e jovens têm direito à Provisão (a oferta de informação e de produtos culturais diversificados e de qualidade); à Proteção (contra produtos nocivos ao seu desenvolvimento); e à Participação (o direito de poderem também produzir cultura de modo pleno) (GIRARDELLO, 2006, p.01).

O aluno, produtor de informação e cultura, entremeado com a utilização de mídias contemporâneas, encontra-se no centro nervoso de suas inquietações, e coloca-o como gerador de idéias, de conceitos que irão ser transmitidos a outros jovens e a outras pessoas. O veículo midiático, como a Rádio WEB, proporciona esta linguagem e ato, os jovens criam materiais que simbolizam seus questionamentos, suas conclusões e conduz a uma interação com a vida de forma mais direta. A evolução tecnológica trouxe uma maior interação entre as pessoas, e proporciona, de forma rápida, um maior entendimento do processo de aprendizagem.

Através destas mudanças tecnológicas e culturais, acrescenta-se a introdução de interação entre os conceitos que os jovens estudam, transfigurando o cenário das comunicações da última década. Esse conceito associa-se ao conceito de imaginação, que claramente insere-se, ou procura se inserir, em um plano, mais complexo, filosófico, para muito além da técnica ou do mercado, usualmente associados a ele.

A jornalista Ana Arruda em um artigo publicado no Jornal do Brasil na década de 70 afirmava que "a criança de hoje sabe de tudo pela televisão, toma conhecimento de tudo o que se passa no mundo".

Girardello (2006), acrescenta e declara:

Afirmações deste tipo estão em moda. E não são totalmente falsas. O fato é que a informação nunca esteve, tecnicamente, tão ao alcance de todos. A criança, através dela, entrou no mundo dos adultos. Acabou definitivamente a velha história de "isto não é conversa para criança; saia da sala, menino. (GIRARDELLO, 2006, p.03).

A discussão entre compreensão e imaginação refere-se, centralmente na premissa de Vigostki (1998), de que a imaginação não se opõe ao conhecimento da realidade, mas afirma que "a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável, do pensamento realista". A jornalista Ana Arruda (s/d.) explica Vigostki:

As idéias do psicólogo russo contribuem também para uma concepção emancipatória do papel do afastamento da realidade que se dá na brincadeira imaginativa, inclusive aquela estimulada pela ficção literária ou midiática. Para ele, "as possibilidades de agir com liberdade que surgem na consciência do homem estão intimamente ligadas à imaginação" (ARRUDA, s/d., p.33).

Apresenta-se aí uma crítica à visão da essência da infância, a idéia da existência de uma essência do ser criança, que não dependa das relações sociais e culturais que estão ao seu redor. Essa crítica alimenta-se, também, de como a compreensão da atividade de escutar rádio, por exemplo, tenham consistência de produções de múltiplos significados, nas mediações culturais que as rodeiam.

As relações entre linguagem e interação social nos jovens, compreendem a intertextualidade midiática no qual se dá em boa parte das experiências culturais dos jovens no tempo em que estes atuam. Este tempo, em que as experiências vivenciais fornecem um aprendizado de suas culturas e proporcionam assim a construção de conhecimentos, fornecem também um aprendizado entre homem e existência como ser criativo, cultural e dinâmico.


A WEB no seu tempo...

Elias (1998) afirma que todo o indivíduo, por maior que seja sua contribuição criadora, constrói a partir de um patrimônio de saber já adquirido, o qual ele contribui para aumentar, o que não é diferente no que diz respeito ao conhecimento do tempo. O conceito de tempo não nos leva a uma cópia de um caminho com um objetivo existente nem de uma forma de experiência comum a humanidade e anterior a qualquer contato com o mundo.

O autor mostra que a classificação do tempo como marcação de datas e determinações, não se concebe a partir de uma forma representativa que supostamente divide o mundo e classifica em sujeito e objeto.

Ela repousa, simultaneamente, em processos físicos não importando que sejam moldados pelos homens ou independentes deles e em observações capazes de abarcar, de reunir numa síntese conceitual aquilo que se apresenta numa sucessão, e não como um conjunto. Não são o homem e a natureza, no sentido de dois dados separados, que constituem a representação cardinal exigida para compreendermos o tempo, mas sim os homens no âmago da natureza. (ELIAS, 1998, p.12)

Se pensarmos complexamente o tempo, é necessário traçar uma relação com o homem e sua existência, sendo importante reconhecer que a tecnologia digital fornece uma informação onde não há uma linearidade do tempo. Considera a humanidade, dentro do tempo individual e coletivo, construído por ela própria, ampliando todos os conhecimentos que adquire e adaptando a tecnologia a seu favor.

Refletindo sobre o rádio o que se tem a considerar não são as emissoras WEB ou a informação que será levada ao ar, mas a convivência do processo dentro da escola com um contexto de redes, que estabelece uma nova relação com o tempo das informações que se transformam em conhecimentos disponibilizados na rede.

Quando dialogamos com as mudanças oferecidas pela tecnologia, a educação transforma o suporte e adapta conteúdos, busca a segmentação, deixando de lado somente o entretenimento e assumem novos conhecimentos. Mas qual tem sido o tempo da educação no rádio WEB?

Do ponto de vista de Cunha (2004), atualmente os suportes digitais atualizam permanentemente a educação, a informação, e consequentemente o conteúdo em rede, podendo transmitir tudo em tempo real, mantendo todo o conteúdo transformador e construtor de conhecimentos, gerando um local de expressão, participativo e de difusão de idéias.

"O tempo e espaço assim deixam de ser barreira, pois é possível ouvir uma rádio na WEB de qualquer lugar do planeta, no momento em que mais interessar." (CUNHA, 2004, p.12)

A expressão se manifesta...

A educação dentro da rádio WEB, utilizando Softwares Livres, transforma-se em um espaço dialógico e aberto e rompe toda a hierarquização do saber dentro de uma escola, implantando ecossistemas educativos e criativos.

Segundo Hermans (2004) o diálogo se relaciona intimamente com o espaço. O que pode ser entendido como troca de informações entre posições em espaços imaginários ou reais é um diálogo. Quando o diálogo acontece entre ele próprio e o sujeito, só terá lugar quando imaginado em um espaço no qual os diferentes participantes se posicionam em relação uns aos outros.

O Software Livre diz respeito à liberdade de todos os usuários de copiar, estudar, executar e modificar e até de aperfeiçoar o software. O Software Livre é um sistema aberto para a criação, fornecendo aos usuários possibilidades de unir a arte de fazer áudio com os mais diferentes acessórios.

A construção dos saberes, dentro da Rádio WEB, com a utilização do Software Livre são de forma coletiva, construindo assim o diálogo como parte fundamental do processo criativo.

Segundo Faiga Ostrower (1983) a natureza criativa do homem...

[...] se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se desenvolve e uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores da vida. No indivíduo confrontam-se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura. Assim, uma das idéias básicas do presente livro é considerar os processos criativos na interligação dos dois níveis de existência humana: o nível individual e o nível cultural. (OSTROWER, 1983).

O conhecimento e a tecnologia dialogam e proporcionam aos alunos, professores e comunidade oportunidades de reflexão e de novos conhecimentos.

Ao reconhecermos o sistema comunicativo dentro da escola, em seu ambiente, leva-se em consideração que a educação formal pense na comunicação. A partir daí, a rádio WEB passa a ser decisiva na criação de vínculos e na aprendizagem escolar.

É através da WEB, um espaço virtual que se apresenta, fazendo com que se pense de forma abstrata, a princípio, possibilitando a afloração da criatividade nos meios escolares, que o processo de construção se apresenta único e dialético.

A Rádio WEB contribui para uma formação mais dinâmica e totalmente atualizada, intermediada em um processo construtivo, gestor participativo com todos os envolvidos, alunos, professores e comunidade.

A escola passa a ser um pólo mediador, reflexivo, que motiva e torna possível a expressão.


Continuando...

A utilização das novas tecnologias pela escola e pelo professor em uma atividade pedagógica exige um trabalho e preparo diferenciado do que de costume, pois as estratégias de ensino-aprendizagem precisam atender as demandas da educação cidadã de uma nova consciência da sociedade.

Sabe-se que este processo sofrerá mudanças devido à utilização desses instrumentos midiáticos, com a utilização de Softwares Livres em Rádios WEB, gerando uma nova visão na educação, na comunicação e na tecnologia, pois a utilização desses meios proporcionará novos olhares pedagógicos na educação.

Sendo assim, o professor precisa, junto com a escola e comunidade, interagir no processo escolar para que possa descobrir novos processos de ensino através da comunicação e tecnologias, construindo novas estratégias a serem desenvolvidas na escola durante a execução de atividades em sala de aula, pois a apropriação do conhecimento, não tende a acontecer de forma espontânea mesmo usando os meios tecnológicos, sendo necessário o trabalho de orientação e intervenção do professor.

O uso de Softwares Livres representa na escola um princípio de colaboração, liberdade e de desenvolvimento de novas estratégias pedagógicas e cidadãs, caríssimos à escola, aos educadores e a comunidade, possibilitando o desenvolvimento de idéias e práticas pedagógicas novas.

Referências

ARRUDA, Ana. Artigo "Jornal para Crianças ou Jornalismo Infantil?". In Cadernos de Jornalismo e Comunicação, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 39, pp. 33-36, s/d.

CUNHA, M. O Tempo do Radiojornalismo. A Reflexão em um Contexto Digital. Estudos em Jornalismo e Mídia, Vol. I Nº 1 - 1º Semestre de 2004.

ELIAS, N. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998

OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação, 3. Ed. Petrópolis: Vozes, 1983. 196 p.

GIRARDELLO, Gilka. Artigo: A produção cultural para crianças no ensino de graduação em Comunicação, Publicado no site RioMidia em Julho, 2006.

HERMANS, H. (2004). Disponível em <http://ometablogue.blogspot.com/2006/04/estrutura-narrativa-do-self-dialgico-e.html> Acesso em 17/03/09.

PRETTO, N. D. L. Uma escola sem / com futuro, Campinas, SP: Papiros 1996, (Coleção Magistério: Formulação e trabalho pedagógico).

VYGOTSKY, L. S., LURIA, A. R. & LEONTIEV, A. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Trad. M. P. Vilalobos. São Paulo, Ícone ? Editora da Universidade de São Paulo, 1988