UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

Dalvaneide Medeiros Cavalcante       

UM OLHAR VOLTADO À ANTROPOLOGIA INFANTIL

Brincadeiras em foco

 

MOSSORÓ/ RN

DEZEMBRO DE 2018

 

 

RESUMO

O presente trabalho apresenta reflexões sobre estudos antropológicos sobre a infância, especificamente nas décadas de 1920 e 30, feitos por antropólogos norte-americanos, especialmente os de Margaret Mead, sobre a criança americana ligados à escola de cultura e personalidade, tendo a preocupação em entender o significado de ser criança e adolescente em outras realidades socioculturais. Refletindo-se sobre a evolução de uma sócioantrologia da escola com um olhar renovado sobre a infância, buscando-se destacar a importância da brincadeira no desenvolvimento social e cultural da criança. Metodologicamente realizamos uma pesquisa bibliográfica através dos estudos de Júlie Delalande, Clarice Cohn, Moreno, Kishimoto, Sampaio, entre outros.

Palavras-chave: Antropologia, infância, brincadeira. aprendizagem.

 

INTRODUÇÃO

 

Este trabalho aborda alguns estudos antropológicos voltados para a criança, com objetivo de entender o significado de ser criança em diferentes realidades socioculturais. Fazendo uma relação entre o que é cultural, o que é particular e o que é natural do comportamento humano.

Além disso, trazemos algumas reflexões sobre a evolução de uma sócioantrologia da escola com um olhar renovado sobre a infância, no qual observou-se uma mudança do ambiente escolar, a partir de novas concepções surgidas sobre o conceito de infância, as quais consideravam a criança como um ser social.

Destacamos também o papel da brincadeira como algo fundamental para o processo de desenvolvimento da criança, entendendo que esse recurso pode ser usadocomo facilitador da aprendizagem.

 

 

BREVE RELATO HISTÓRICO

 

Nos dias passados houve estudos antropológicos sobre a criança, especificamente nas décadas de 1920 e 30. Estudos feitos por antropólogos norte-americanos ligados à escola de cultura e personalidade, especialmente os de Margaret Mead, se preocupavam em entender o significado de ser criança e adolescenteem outras realidades socioculturais.

Na época, a sociedade norte-americana, como um contraponto, passou a fazer comparações da cultura com aquilo que é transmitido entre gerações e absorvido pelos membros da sociedade.Sendo assim, faz-se relação entre o que é propriamente cultural, o que é particular e o que é natural no comportamento humano.

Desse modo, a partir dos trabalhos da antropóloga americana citadaacima, através de seus estudos comparativos, tomando como particularidade o sistema educativo americano e o de Nova Guiné (1930), a atenção é voltada a relação entre cultura epersonalidade. E foi através de sua pesquisa, que suas comparações se contrapõem ao que Jean Piaget, psicólogo da época, afirmavasobre a criança e seu desenvolvimento por fases sucessivas através de critérios psicomotores.

 

 

 

A ANTROPOLOGIA ATRAVÉS DA BRINCADEIRA

 

 Julie Delalande (2008), propõe algumas reflexões sobre a evolução de uma socioantrologia da escola com um olhar renovado sobre a infância, tanto no saber simples, como nos conhecimentos científicos.Ela deixa claro que a antropologia se alimenta de reflexões do passado e atuais disciplinas vizinhas, como: psicologia e sociologia, para pensar aescola. Nesse período, observa-se uma mudança do ambiente escolar, a partir de novas concepções surgidas sobre o conceito de infância, as quais consideravam a criança como um ser social.

       Para Julie Delalande apud Emile Durkheim (1963,1966,2000), “um dos pais da sociologia francesa, a escola é um lugar que possibilita uma socialização metódica das crianças que ainda não estão maduras para a vida social.” Sendo assim, éna escola que o brincar é ampliado através do recreio, onde as crianças desenvolvem suas habilidades motoras, como também a afetividade durante as interações com seus pares.                                                                                                                                                                                                            

Nos anos de 1970, houve uma evolução do olhar sobre a escola. Na França, tanto a história da escola (Prost, 1981) como a sociologia da Família(Desingly, 2004), mostram como passamos de 1970 a 1990, de um modo de relação autoritária para uma relação compreensiva aberta ao diálogo.As disciplinas como Psicologia e os trabalhos de puericultura, permitiram um avanço das mentalidades e das práticas, onde a criança passou de um sujeito domado a ser uma interlocutora, assim sendo, Clarice Cohn, (1971) afirma:

 

 

E, por isso, permitem que se veja as crianças de uma maneira inteiramente nova. Ao contrário de seres incompletos treinando para a vida adulta encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo competência e formando sua personalidade social, passa ater um papel ativo, na definição de sua própria condição.

 

 

Segundo a autora citada, é através desse treinamento para a vida que observamos as etapas das brincadeiras,verificamos a importância para o desenvolvimento da criança, nos aspectos físicos, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo.

       No cotidiano escolar, faz-se necessário propor atividades que envolvam brincadeiras, para que a criança possa de fato desenvolver sua imaginação, seu pensamento, sua corporeidade, sua afetividade e capacidade de se relacionar com o outro. Assim podemrealizar seus sonhos, extravasar seus medos, confrontar seus limites, imitar o mundo adulto, dando-lhes novos significados. (Rosana de Paula Ribeiro PMI, Cleide Vitor Mussini Batista UEL, APUD Ferronato e Batista (2013).

Nesse sentido, percebemos que o brincar deve ser utilizado como mecanismo pedagógico na Educação, visto que beneficia a formação social da criança, para que ela possa no futuro realizar o seu papel na sociedade como adulto.

         Para Moreno (2008), as crianças produzem culturas, sobretudo quando destacam pela imaginação a curiosidade, o movimento e o desejo de aprender, aliados à sua forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar. Corroborando com esse pensamento, Kishimoto destaca que:

 

 

Brinquedos e brincadeiras são formas privilegiadas de desenvolvimento e apropriação do conhecimento pela criança, portanto são instrumentos indispensáveis da prática pedagógica e componente relevante de propostas curriculares. (KISHIMOTO, 1999, p.11)

 

 

Vale destacar que durante o brincar, as crianças podem se tornar autores das práticas sociais, a partir das interações vão construindo regras de convivência e de participação nas brincadeiras.

De acordo com Borba (2006), a brincadeira é um fenômeno cultural, uma vez que se constitui num conjunto de conhecimentos, sentidos e significados construídos pelos sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem. Sendo assim, destaca que “a brincadeira é lugar de construção de culturas fundado nas interações sociais entre as crianças” (Borba, 2006, p. 41)

Torna-se necessário também destacar a importância de ampliar as possibilidades do uso da ludicidade no contexto escolar, por meio da exploração de jogos e interação nas brincadeiras, ficando assim, cienteque ambos são fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Além disso, brincar de forma espontânea também promove benefícios para as crianças, “é tambémfundamental destinarmos um tempo para as crianças brincarem livremente, interagindo umas com as outras, bem como, com os objetos.” (Aguiar, 2010, p.16).

Sabemos da importância da brincadeira entre as crianças, em grupos, para a promoção da socialização, mas é válido que a criança tenha um tempo sozinha. Portanto, para Sampaio (2009, p.76), “a criança não deve brincar sempre sozinha e, também, não deve brincar sempre dependendo de alguém, deve haver um equilíbrio”.

É fato que a criança, durante o seu processo de desenvolvimento, necessita de momentos de brincadeiras, inclusive em casa, visto que esses momentos lúdicos favorecem a aprendizagem, dessa forma, a família possui um papel fundamental como acrescenta Sampaio (2009):

 

 

A base se dá na família, e é por meio dela que o brincar pode se tornar algo com bastante significado, onde as crianças podem aprender de forma lúdica, através dos primeiros estímulos em casa, através dos contatos com livros compatíveis com sua idade (com páginas de plásticos ou capa dura, que impossibilitem rasgar). (Sampaio,2009, p.76).

 

 

            Portanto, a família deve valorizar os momentos de brincadeiras, pois vemos que nesses momentos as crianças podem desenvolver diversas habilidades, como imaginação, criatividade, entre outras. Além disso, fortalece os vínculos afetivos entre a criança e seus familiares.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

           

Após o presente estudo ficou evidente a importância da brincadeira para o processo ensino-aprendizagem, por ser um recurso pedagógico valioso que favorece o desenvolvimento cognitivo da criança, facilitando a construção do conhecimento significativo. Este trabalho requer um maior aprofundamento, mas espera-se que contribua para que todos os envolvidos no processo ensino aprendizagem conscientizem-se da importância que as brincadeiras representam na vida educacional e também pessoal das crianças.

Percebemos assim que os momentos de brincadeiras, tanto no ambiente escolar quanto no familiar, são de fundamental importância para o desenvolvimento da criança, uma vez que esses momentos lúdicos favorecem a aprendizagem significativa.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, A. M. O. O lúdico e a construção do conhecimento: umaproposta pedagógica construtivista. Prefeitura Municipal de Monte Mor, Departamento de Educação, 1992.

BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de crianças de seis anos de idade. 2. ed. Brasília, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional Para a Educação infantil. Brasília, vol. 1, 1998.

BRIDGET SOMEKH E CATHY LEWIN (orgs.). Teoria e Método de Pesquisa social. Ed. Vozes. Petrópolis, RJ.

COHN, Clarice.Antropologia Da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed.2005.

SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de aprendizagem, a psicopedagogia narelação sujeito, família e escola. Rio de Janeiro: Wak Ed.2009.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo, o brinquedo, brincadeira e a educação.São Paulo: Cortez, 1999.

 

*Aluna do mestrado em ciências da educação