Gilson Silva de Lima

O mundo é mesmo muito complexo. As ideias para virar sonhos existem todo um processo burocrático e muito dificultoso. Dificuldade que aumenta ainda mais quando entra em campo o fator competitividade. E outros meios discriminatórios, críticos e julgadores. É com essa visão anterior que inicio a seguinte reflexão: porque não damos o devido valor às coisas que estão ao nosso redor? Ou seja, as oportunidades que aparecem em nossas vidas?

Comecei a meditar sobre esse assunto desde um ocorrido em minha vida. Sempre me questionei muito do imenso obstáculo que é sobreviver da escrita em tempos digitais. Ser um escritor em tempos atuais não é tarefa fácil. Pensando nisso outro dia, pesquisei sobre concursos literários. Na esperança de encontrar um que pudesse ser gratuito. Passei horas e horas à frente da tela do computador e nada de encontrar.

Finalmente, depois de uma árdua pesquisa, encontrei alguns concursos de literatura nacionais com inscrições gratuitas, porém, o autor se selecionado fosse, estaria obrigado a adquirir certa quantidade de livros da antologia por um preço x. Então, resolvi ir mais longe à busca por concursos totalmente grátis. Sem nenhuma despesa para o candidato participante. Depois de algum tempo a mais, finalmente havia encontrado o que tanto eu procurava.

O único problema, é que não era no Brasil. Todos eram em países estrangeiros. E constava no regulamento dos concursos, tudo que de fato eu queria. Inscrição e publicação das obras selecionadas grátis. Porém, me deparei com outro impedimento, o custo do frete era muito alto. As editoras não iriam cobrir as despesas postais. Esse requisito teria que ser bancado pelo autor selecionado. Mais uma vez pensei: nossa como o trem é difícil! Bota difícil nisso!

Vou partir para outro tipo de pesquisa. Agora vou procurar sobre prêmios literários. E realmente fui. Horas e mais horas de novo pesquisando pra chegar à mesma conclusão anterior: de qualquer jeito, eu sou obrigado a pagar por alguma coisa. É aquele velho ditado: “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.” Diante da situação, fiquei naquele dia um pouco triste, indignado, revoltado e indiferente. Resumindo: sentindo-me um monte de coisa que posso denominar de baixa estima ou motivação.

Toda vez que eu pensava: pra mim ser um escritor reconhecido, eu tenho que desembolsar dinheiro pra publicar uma obra em alguma antologia em algum lugar. Já pensou ter que pagar para trabalhar! Já basta o tédio de escrever que é uma dor de cabeça danada! Imensamente insatisfeito com a situação daquele momento, resolvi abandonar a caneta por alguns dias. Fui fazer outra coisa da vida. Porém, passados alguns meses.

Saiu um edital de convocação para um concurso de literatura em uma cidade próxima a que eu resido. Aproximadamente uns 50 km. O edital falava sobre inscrição, publicação e despesas postais, tudo grátis. Um concurso do jeito que eu havia procurado alguns meses atrás. Mas, eu estava na época tão cheio de ódio, que me lembro de ter pensado: eu não vou participar não, quando procurei não achei, também não quero mais. E não participei. Entretanto, o duro não foi não ter participado.

A pedrada que me machucou bastante depois, foi saber que não houve quase ninguém escrito na categoria que eu pretendia me inscrever. Pra ser um escritor sincero, só cinco pessoas se inscreveram para o gênero conto. Fiquei com um ódio de mim tão grande naquele momento. Porém, depois a enorme tristeza tomou conta da minha alma. E por alguns dias o arrependimento que não parava de me perturbar intensamente.

Perturbou-me tanto que foi capaz de me fazer refletir muito sobre o ocorrido. Foi quando percebi o outro lado da moeda. Percebi o que antes eu não conseguia ver. Que eu queria ganhar algum concurso ou prêmio literário como forma de reconhecimento pelo trabalho da escrita que desenvolvo ao longo dos anos. Queria! Que profissional não gostaria de ganhar um concurso ou prêmio na sua área de atuação? Isso colocaria qualquer um pra cima.

Seria uma grande injeção de animo e alegria. O problema é que eu queria isso naquele tempo de qualquer jeito. Tanto, que não observei o outro lado. Se eu tive a maior luta para encontrar o que eu procurava, imagina os idealizadores do projeto do concurso! Que problemas, que dificuldades, barreiras e obstáculos eles tiveram que atravessar e pular para tornar aquele sonho realidade? O mínimo que eu poderia ter feito, era participado. Independente de ganhar ou não.

Seria uma forma de respeito e reconhecimento ao trabalho dos organizadores do concurso. Mas, infelizmente meu egocentrismo me cegou através do ódio e não permitiu que eu pudesse ver e dá valor as coisas ao meu redor. E quando me refiro ao meu redor, não me refiro só ao concurso, mais, também as pessoas que me dão valor e a minha família entre outras metas que eu tinha na vida.

Felizmente, por meio do arrependimento e da dor, aprendi a dá mais valor as oportunidades e a vida como um todo. Passei a enxergar ainda mais que as ideias para virar sonhos têm todo um caminho estreito e cheio de espinhos. Por isso, o conselho que deixo é: estejamos sempre atentos e humildes, porque uma hora a oportunidade irá chegar. Ela sempre chega. Ou cedo ou mais tarde. Mas, sempre chega.