SUPERAÇÃO DE TRAUMAS PSICOLÓGICOS, CONSENSO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
Por Henrique Lima (www.henriquelima.com.br)

O psicólogo Júlio Peres, doutor em neurociências e comportamento e especialista em superação de traumas, em entrevista à revista Psique (edição 140), indica algumas ferramentas que a psicologia clínica utiliza para ajudar pacientes vítimas do diversos tipos de traumas psicológicos (abusos sexuais, mortes, violências, acidentes, traições, enfermidades etc.). Fiquei extremamente satisfeito em observar que a psicologia clínica, ou pelo menos uma parte dela, vale-se de procedimentos que são igualmente utilizados por igrejas cristãs em  seminários, cursos, encontros e outros momentos que são voltados para o que chamamos de “cura interior”.

Obviamente que nas igrejas há viés religioso, porém ambas as ferramentas – psicológica e religiosa – que buscam ajudar as pessoas vítimas de traumas estão fundadas em princípios semelhantes. Vejamos os pontos que mais me chamaram atenção na entrevista e no que se assemelha ao que se faz no âmbito eclesiástico:

1.    Falar a respeito do que ocorreu é o começo do tratamento, verbalizar, expressar, “colocar para fora”, abordando não apenas o episódio traumático mas também os sentimentos ruins que o acompanham é tido como fundamental. É contraindicado o silêncio. Do ponto de vista religioso podemos pensar na oração espontânea em que abrimos nosso coração perante o Criador e falamos a ele sobre tudo o que nos tem causado sofrimento, com se costuma dizer, “jogar aos pés da cruz” todo fardo;

2.    Procurar “ressignificar a dor; buscando um sentido maior para o que aconteceu e/ou uma aliança de aprendizado”. Isso tem a ver com um dos princípios da emuná (fé) segundo o qual para tudo que ocorre há uma mensagem divina, ou, nas palavras do Rabino R. S. Arush, “... a firme crença de que em tudo o que sucede ao homem há uma mensagem relacionada a sua finalidade, a sua conexão com o Criador” (No Jardim da Fé. Rabino R. S. Arush. Pág. 101).

3.    Liberação de perdão através de “um estado ampliado de consciência e a quebra do ciclo traumático através do perdão” ... “porque se liberta do sofrimento, libertando também o outro que a fez sofrer”. Para mim essa foi a mais interessante mensagem do referenciado psicólogo, Doutor Julio Peres, porque no meio religioso o perdão é a atitude chave para cura e libertação tanto do ofendido como do ofensor, havendo uma infinidade de referências bíblicas para a necessidade de perdoar, inclusive na oração modelo.

Referido pesquisador acrescenta que o tempo para superação dos traumas varia para cada pessoa, mas indica que em média em oito meses é de se esperar um resgate da qualidade de vida, porém deixa bem claro que, para alguns, poucos meses podem ser suficientes, enquanto outros necessitam anos. A resiliência de cada um frente a situações traumáticas também é muito variável e até mesmo quem é bastante “forte” diante de determinados acontecimentos pode não ser frente a outros, ou seja, a resiliência não é um pacote fechado.

Sempre que vejo os resultados da pesquisa científica se aproximando das verdades bíblicas, encho-me de alegria e de esperança numa sociedade mais justa e verdadeiramente preocupada com o bem estar das pessoas. É o que se chama de a “boa ciência”, que é toda aquela que converge com os fundamentos do Reino de Deus.