A empresa não reconhece você. Seus esforços são superiores ao de outros. Seus pares não lhe dão oportunidade... Pare de se queixar! Mude o que pode ser mudado!

As reclamações são constantes e, pior, são comuns em muitas empresas.

E tais reclamações não são sexistas ou preconceituosas de forma alguma: ocorrem em empresas nacionais e multinacionais, vem de mulheres e homens, de cargos variados na hierarquia. Em resumo, todos reclamam.

Mas se analisarmos bem, a reclamação generalizada faz pouco ou nenhum sentido.


Quando vestimos uma roupa que não nos serve, que fica apertada ou larga demais, nos sentimos incomodados. O que fazemos? Trocamos.

Quando nosso carro começa a visitar mais o mecânico do que nossa garagem, o que fazemos? Trocamos.


Por que, então, quando não nos sentimos confortáveis em nossa posição profissional, nós simplesmente nos sentamos e reclamamos?

Não, isto não é um manual nem uma forma de incitar a troca de emprego, ao contrário.

Se olharmos a nossa volta, em outras empresas, cidades, estados ou países, todos reclamam em um momento ou outro, com ou sem razão, com mais ou menos efetividade, mas é geral.

O fato é que há dois grupos de pessoas que reclamam. O primeiro grupo é formado por pessoas que possuem potencial para mudar as coisas, que tem ou o poder ou a inteligência para se tornar agente de mudança. O segundo grupo é das pessoas que não tem esse poder.


O primeiro grupo reclama, mas faz os maiores esforços por alterar o status quo, apresenta soluções, questiona, incomoda e, na maior parte das vezes, se vê obrigado a mudar. Esse grupo sabe que deve tentar e, quando não obtém a resposta positiva, ele troca de emprego.

Já o segundo grupo reclama, se debate no mesmo lugar e, vendo que não há resposta, pesa o conforto e estabilidade contra o desafio de mudar e então se vê obrigado a ficar, aceitar. Mas continuará a reclamar.

Tenho encontrado os dois grupos com frequência. Em resumo, perdi a convivência com bons amigos e profissionais que faziam parte do primeiro grupo e também perdi a convivência com bons amigos e profissionais que faziam parte do segundo grupo. Os primeiros, porque se foram; os outros, porque ficaram no mesmo lugar de onde eu me fui.


Precisamos deixar a ingenuidade de lado. Há alguns mitos que encontrei em minha carreira que foram, um a um, caindo. Veja alguns deles, a solução que proponho e o que fazer se não der certo...


Problema: A empresa vai mudar

Não é verdade. Para a empresa mudar, ela precisa realmente querer. E por querer, entendo que a alta direção deve estar incomodada com a posição ou então deve ter tomado um baque razoável do mercado.

Processos e cultura enraizados não se mudam de um dia para o outro. Vícios são difíceis de largar, tanto quanto cargos e salários que motivam a continuidade e não a mudança, a melhoria contínua. 

Não se iluda: a empresa não vai mudar.

Solução: Mude o que puder à sua volta.

É possível mudar muita coisa, em uma área limitada à sua volta. Por experiência afirmo que é possível mudar um departamento inteiro e muito das relações inter-departamentais. E muitas vezes isso é o suficiente para deixar tranquilo o mais inquieto dos profissionais.

Se não der certo: Mude!

Se nada der certo, se as mudanças não forem possíveis ou suficientes, mude você. Simplesmente saia pela porta da frente, sem frescuras, sem reclamar, sem fazer alarde. Apenas saia. A relação do profissional que você é com a empresa da forma que se apresenta pode não ser saudável para ambos e, com o tempo, irá se degradar muito, podendo gerar conflitos e grandes problemas.


Problema: Não ganho para isso.

Não é verdade. Você ganha exatamente o que a empresa pretende pagar para qualquer um que executar as tarefas que pedem para você executar. Somente você acha que não ganha o suficiente, não a empresa. É um problema unilateral, e assim deve ser tratado.

Não se iluda: a empresa não vai mudar.

Solução: Mude suas atitudes: faça por merecer.

Trabalhe muito, demonstre sua contribuição, encontre formas de evidenciar os progressos e o seu real valor. Você terá então a oportunidade de requerer algo a mais. Provavelmente os benefícios virão, talvez acompanhados de alguma responsabilidade extra.

Se não der certo: Mude!

Você deve analisar se conseguiu, efetivamente, demonstrar o quanto vale o profissional em você. Se não conseguiu, verifique se não é um defeito seu, que precisa ser solucionado. Se não for, então mude você. Apenas saia. A relação entre ganho e contribuição deve estar equilibrada dentro de você. Se não estiver, ou você começará a contribuir menos, o que para a empresa parecerá uma falha, ou então a empresa se tornará cada vez mais crente de que você não vale o que ela paga, o que para você será mais torturante.


Problema: Não sou reconhecido.

Não é verdade. Para a estrutura ou visão da empresa, você tem tudo o que precisa para continuar em frente e motivado. Você provavelmente está procurando um reconhecimento para o qual a empresa não tem ferramentas para oferecer.

Solução: Mude, tente uma abordagem direta: peça o reconhecimento.

Se a coisa está feia o suficiente para a falta de reconhecimento ser um problema no seu relacionamento diário com seu trabalho, vá em frente e peça o reconhecimento que deseja. Seja um aumento salarial, uma promoção, menção no quadro de funcionário do mês, seja lá o que for, peça. Explique, justifique.

Se não der certo: Mude!

Ouça o que lhe dirão de volta, ouça a resposta, entenda a resposta, absorva a resposta. Repetitivo? Não, é preciso entender exatamente a visão da empresa em relação ao reconhecimento que você julga merecer.

E se a explicação não convencer ou você continuar pensando que não é reconhecido, então mude você. Apenas saia. Quando não nos sentimos reconhecidos nos desmotivamos e a desmotivação é um mal que corrói o dia a dia. A tendência é não ter mais sucesso e, aí sim, deixar de ser merecedor.


Problema: Todos tem, menos eu.

Não é verdade. Na visão da empresa as divisões estão corretas, equilibradas para atingir os fins necessários. É você que provavelmente está enxergando a grama do vizinho mais verde.

Solução: Mude, deixe de se esconder: evidencie a necessidade.

Apresente os motivos pelos quais precisa de algo, evidencie as melhorias que podem ocorrer se você obtiver o mesmo que acredita que os outros possuem. Por favor, apenas não estabeleça comparações, pois você terá muito que explicar.

Não esqueça de deixar claro o que será feito, qual será o resultado do uso do benefício ou ferramenta que lhe falta. Pedir sem dizer para que ou pedir sem perspectiva de ganho após receber é como pedir que se faça um investimento sem retorno, ou com retorno incerto. Dê motivos.

Se não der certo: Mude!

Quando a necessidade é real, seu trabalho e desempenho podem ser afetados. Apenas saia. Em algum momento a falta de ferramentas pode se transformar em problemas de rendimento e, logo, se tornará motivo para problemas. Você será o culpado.


Problema: Não tenho autonomia.

Não é verdade. Você tem toda a autonomia que a empresa pretende que você tenha. Se você quer mais autonomia você pode invadir outras áreas de responsabilidade ou, ainda, causar problemas.

Solução: Mude, deixe de atuar sozinho: aventure-se em parcerias.

Trabalhe em conjunto com outros, atuando em parceria com outras áreas de responsabilidade, ampliando sua visão e sua área de atuação, ganhando com isso um pouco mais de visibilidade, responsabilidade e, por consequencia, autonomia.

Se não der certo: Mude!

A autonomia está ligada a responsabilidade e divisões dentro da organização. Quando se deseja mais autonomia, outras áreas podem se movimentar, além do que, se você conseguir essa autonomia, ela não virá em troca de algo que você já tem como responsabilidade, ela será adicionada. Por fim você terminará com as responsabilidades que tem e mais algumas. Ou então terminará porque não foi capaz de responder à altura. Apenas saia (de preferência antes de evidenciar sua incompetência). Neste caso, lembre-se da lição no futuro.


E assim outras reclamações podem ser analisadas de várias formas. Outras soluções podem ser propostas, outras visões colocadas, porém eu creio que uma coisa é fato: se não der certo, mude!

Se prepare sempre para mudar por vontade própria, mas também se prepare para a mudança que vem do exterior. Se estiver sempre preparado, terá mais facilidade, mais desprendimento. Mas essa já é outra história.


E por falar em história, segue uma história que é contada há tempos e que desconheço a origem (se alguém souber, eu agradeço):

“Era uma vez um pássaro que não gostava de migrar para o sul no inverno. Então, num certo ano, resolveu que não viajaria.

Chegado o tempo de partir, todos os demais se despediram, ficando ele sozinho.

Com o passar dos dias, a temperatura caindo, percebeu que realmente seria impossível ficar e se preparou para viajar. Sua decisão, entretanto, fora tardia: começou a voar e, após algum tempo, viu que suas asas congelavam e seu esforço não seria o bastante para continuar. Foi perdendo altura, perdendo altura... até cair num pátio.

Pensava ser seu último suspiro quando uma vaca… enche o pássaro de bosta.

Indignado, pensou: vou morrer e, ainda por cima, cheio de cocô. Notou, porém, que a cagada quentinha lhe aquecia, o que foi lhe devolvendo à vida.

Cantou de felicidade, cada vez mais alto.

Um grande gato que passava por perto ouviu o seu cantar, futucou o monte de bosta e… comeu o pássaro.“

Moral da história:

1. Assuma suas responsabilidades, isso diminui a probabilidade de você cair na merda.

2. Nem sempre quem te põe na merda é seu inimigo;

3. Nem sempre quem te tira da merda é seu amigo;

4. Se você está quente e confortável, mesmo que seja na merda, mantenha o bico fechado, porque quem está na merda não canta.