Resumo:

Este trabalho visa resgatar a memória da antiga cidade de São João Marcos, sua história e tradições culturais. Revelar a situação dramática vivida por seus habitantes durante o período da implantação da represa de Ribeirão das Lajes, e mostrar também que o progresso pode andar em consonância com a questão ambiental e também com a preservação do patrimônio cultural; e deixar claro que a vida das pessoas vale muito mais do que qualquer interesse econômico, político e a ganância das grandes corporações. Este artigo visa também uma ponderação sobre considerar quão importante é a proteção e conservação de um patrimônio cultural e nacional, cuja mesma pode ser associada ao processo da construção de um Estado, de uma memória ou identidade nacional ou local, que ajuda a externar a direção na qual uma determinada sociedade se projetou, que tipo de integração realizou esta sociedade e qual o grau de interdependência, de conflitos e situações pontuais que a leitura deste patrimônio nos ajudou a entender neste complexo processo de formação de uma determinada sociedade. Tem como finalidade também,  destacar a preservação ambiental da Bacia do Guandu, mostrando assim a correlação de todos os fatores conjugados à preservação deste patrimônio cultural.

Palavras chaves: Patrimônio Cultural, São João Marcos, Ribeirão das Lajes, conservação, bacia hidrográfica;

INTRODUÇÃO

O patrimônio cultural em sua dimensão tanto material, bem como imaterial, representado pelas manifestações culturais, pelos usos e costumes de um povo, pela comida, pelos modos de criar, de fazer e de viver, foi por muito tempo esquecido, não sendo objeto da tutela estatal. Em vista disso, pode-se dizer que estas noções envolvem as questões tanto do passado, bem como do futuro da humanidade, envolve também o entendimento na formação de uma nação através da leitura do patrimônio cultural de determinada nação, a materialização da história desta nação, e assim, preservar a continuidade do tempo percorrido, mas ao mesmo tempo possibilitando a conservação de algo de sumo importância para a História de determinado povo ou nação. Em virtude da referida preocupação com esta conservação mencionada, em 2008 o Instituto Light, mantido pela empresa LIGHT S.A, que tem como função a preservação histórica e cultural da região da antiga cidade de São João Marcos, bem como o desenvolvimento do turismo local, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro, desenvolveu através da lei de incentivo à cultura, e também com o suporte de inúmeras instituições, o projeto de construção do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, que fora oficialmente inaugurado 09 de junho de 2011, que tem como objetivo preservar a História do Vale do Café, com uma característica ímpar de museu a céu aberto. Este Parque está localizado no município de Rio Claro, no qual se procura resgatar a memória da antiga cidade de São João Marcos, como sua história e tradições culturais, sendo que este Parque depois de inaugurado promovera inúmeros eventos culturais, tanto que é digno de nota que no mês de seu aniversário fora contabilizado mais de 50.000(cinquenta mil) visitantes, dentro deste número, mais de 15.000(quinze mil) estudantes de escolas públicas. Não obstante, apesar de todo esse glamour, a história deste local revela uma situação dramática vivida por seus habitantes durante quase um século, logo, analisando a História pouco conhecida desta cidade e da referida represa, nos ajuda a escrutinar até que ponto o progresso pode andar em consonância com a preservação do meio ambiente, bem como do patrimônio cultural e também, quanto vale a vida das pessoas em detrimento do desenvolvimento econômico e ganância das grandes corporações. Para que possamos fazer um quadro mental do que fora falado anteriormente é imperativo entender o processo Histórico desta cidade e da represa de Ribeirão das Lages.

O INÍCIO

A cidade de São Marcos, que era uma das maiores cidades fluminense do século 19, era conhecida como Vila de São João Príncipe. As entradas e bandeiras durante o fim do século 17 possibilitaram a construção de uma estrada real para que os paulistas pudessem enviar, com segurança, o imposto da realeza sobre o ouro que era extraído para o Rio de Janeiro. Desta feita, pode-se dizer que Olga de Sá(2010) enfatiza como uma região que a foi a principal na produção de café quando este produto estava em alta no mercado mundial, onde o município de São João Marcos ganhara destaque chegando a ter, como seu ilustre morador, o homem mais rico do Brasil, que foi convidado por Pedro I a participar na proclamação da independência brasileira. Esse artigo trata da inundação desta cidade para a construção da Hidrelétrica de Ribeirão das Lajes, sua área de extensão e como a cidade que foi inundada para dar lugar a represa, tem sua representatividade histórica, destacando também a construção desta represa coma associação a Estação de Tratamento do Guandu (ETAGuandu), que esta região se tornara a mais rica do país e também do mundo porque São João Marcos, além da posição geográfica estratégica, era um dos principais núcleos produtivos, pois produzia ao ano aproximadamente dois milhões de arroba de café. Já no fim do século 19 esta cidade chegou a comportar cerca de 20.000(vinte mil habitantes, além de possuir teatros, escolas públicas; e com um poder aquisitivo considerado, que proporcionara a capacidade de muitas famílias contratarem professores estrangeiros para seus filhos. Uma infraestrutura de dar inveja às cidades postulantes da época com suas fábricas, bibliotecas, profissionais de nobre estirpe e artistas renomados de ópera. O mais interessante neste contexto é o progresso relacionado às estradas de rodagem porque nesta região foi construída a primeira estrada de rodagem do Brasil que tinha 40 km de extensão e foi construída em 1865, possibilitando assim se tornar um ponto de parada entre o Rio e São Paulo, no qual Imperador, nobres, e depois até mesmo pessoas de destaque no período republicano utilizavam esta parada, em especial na Fazenda Olaria. Sendo que o objetivo desta estrada era promover a manutenção deste progresso econômico, fazendo com que o café escoasse das fazendas do Vale do Paraíba para o Porto de Mangaratiba. É válido destacar que essa proeminência era tão destacada que é relatado que o fazendeiro Comendador Joaquim José Breves, que era oriundo daquela região, fora considerado o homem mais rico do Brasil, porque relatara-se que ele possuía aproximadamente 6.000 escravos registrados e especulara-se que ele era proprietário de quase o dobro escravos sem registro. É importante mencionar também que Joaquim Breves foi integrante da Guarda de Honra de D.Pedro I e esteve presente na proclamação da independência do Brasil, e que além dele esta cidade teve como moradores os mais proeminentes e poderosos fazendeiros. Logo , destacando sobre este assunto, Pasin(1993) declarou o seguinte: [...]