Rio Madeira – Cheia de 2014

Conheço o Acre, o Purus e o Iquiry, mas não conheço a ti,
Na verdade nos conhecemos de passagem quando cruzei de balsa as tuas águas turvas, rumo a Porto Velho. Pareceu-me um encontro prazeroso
Pelo menos pra mim
Posto que pra ti, até hoje não sei... 
Parecestes-me resignado...
Se estiverdes magoado com a nossa relação, releva.
Sempre critiquei os invasores das tuas margens
E a ganância desmedida dos exploradores das riquezas do teu leito
Mas devo dizer-te que nada justifica tanta agressividade da tua parte
Essa tua reação desmedida... 
Invadindo espaços que não são teus...
Milhares de pessoas sofrem e choram porque delas tu levastes tudo
Resultado de vidas e mais vidas de trabalho e dedicação, de forma decente,
Muitos dos teus vizinhos nasceram e moram no mesmo local há mais de cinquenta anos
E nunca te viram assim...
Alguns estão perdendo até os empregos que possibilitaria suas vidas reconstruir
As coisas materiais tu já arrancastes deles, mas, por favor, eu clamo:
Não leves deles também a dignidade,
Posto que, grudado nela, tu levarás junto as suas vontades de viver...
Logo tu, que sempre fostes rio de vida!...
Ainda que eu não tenha tanta intimidade contigo,
Eu te peço, de joelhos até, se preciso for: Darmo-nos uma trégua,
Para que milhares de irmãos possam retomar o CURSO NORMAL DE SUAS VIDAS
E tu, Rio de Vida, retome o teu, 
Levando por água abaixo todas as mágoas e os ressentimentos que já não nos interessam mais
Que Deus nos ouça e medie a nossa relação...