ESCOLA DE GUERRA NAVAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS MARÍTIMOS
SALOMÃO MELQUIADES LUNA
RESENHA DO LIVRO SOBRE O TEMPO
DE NORBERT ELIAS
DISCIPLINA PPGEM GO-1
TRABALHO II
Rio de Janeiro
2014

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1 OBRA
“Sobre o Tempo”, do sociólogo Norbert Elias, publicado originalmente sob o título Über die Zeit, em 1984. A edição brasileira se deu em 1998 e foi publicada por Jorge Zahar Editor Ltda. Com 168 páginas, é um livro indicado para estudantes de Filosofia e Sociologia.
2 CREDENCIAIS DO AUTOR
Norbert Elias nasceu em Breslau em 1897. Sociólogo de destaque no século XX, formou-se pelas Universidades de Breslau e Heidelberg.
Lecionou Sociologia na Universidade de Leicester, no período de 1945 a 1962. Foi Professor visitante em universidades na Alemanha, Holanda e Gana. Faleceu em 1990, em Amsterdam.
Outras obras do autor: O processo civilizador (2 vols.); A sociedade dos indivíduos; Mozart: sociologia de um gênio; Os alemães; Sobre o tempo; Os estabelecidos e os outsiders; Norbert Elias por ele mesmo; A solidão dos moribundos; A sociedade de corte; A peregrinação de Watteu à Ilha do Amor e Escritos e ensaios.
3 DIGESTO
Na obra “Sobre o tempo”, Norbert Elias descreve o tempo como algo que não se pode tocar, ver, ouvir, nem mesmo sentir o gosto e o cheiro. Algo não perceptível aos sentidos, utilizado enquanto meio de orientação para os homens inseridos numa sucessão de processos físicos e sociais.
Nas sociedades primitivas, os fenômenos naturais formavam um tempo físico/natural, e orientavam as atividades sociais, que eram determinadas pelas necessidades coletivas e contribuíam para a organização do “tempo”. O tempo era determinado passivamente, não sendo sua determinação experimentada e nem refletida.
Aponta-se, então, o "processo civilizador" que acabou impondo aos indivíduos um número maior de atividades e encadeamento das mesmas, quanto mais ampla e interdependente for a ação humana, maior será sua dependência do tempo. Esses fatores exigiram um denominador comum que regulasse tais relações – o "tempo".
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O tempo é elemento imprescindível na coordenação e integração das relações sociais. Na modernidade, com crescente urbanização e comercialização, o número de atividades a serem sincronizadas é cada vez maior e complexo.
Geralmente, configurações e medições do tempo são padronizadas e uniformes, para a organização das rotinas diárias. Medições do tempo permitem ao homem uma regularidade e previsibilidade diante da vida, movimento e atividade.
Segundo Elias, relógios são invenções humanas incorporadas no mundo simbólico do homem como forma de orientação e integração de aspectos físicos, biológicos, sociais e subjetivos. Os relógios são invenções humanas e não uma existência natural. Em um mundo sem homens e seres vivos, não haveria tempo, relógios e calendários.
Os calendários são de períodos primitivos, nos quais sacerdotes e espirituosos saíam a proclamar o aparecimento de uma nova lua, anunciando o início de um novo mês. Diferentes dos usados antigamente, os calendários atuais são globais com a divisão do tempo em semanas, meses, anos, séculos, dias de trabalho, dias de descanso, feriados, datas comemorativas, quatro estações e fases da lua. Essas formas de medição do tempo trouxeram previsibilidade e padronização diante de irreversibilidade de nosso mundo.
Na perspectiva de Elias o homem é construtor do tempo, um não se compreende sem o outro. Quando se resgata historicamente o tempo, o homem pode repensar sua vida e transformá-la à medida que é sujeito do processo de construção da própria história e também do tempo.
Pelo fato de o ser humano não nascer com um sentido temporal pronto, organizações temporais devem que ser aprendidas juntamente com outros aspectos culturais. A "aprendizagem do tempo" numa sociedade industrializada requer anos para se desenvolver, para que o sujeito decifre o complexo sistema simbólico temporal que regula a vida social. Esse sistema, também influencia nosso modo de olhar diante da realidade.
Em nossa sociedade, a vida do homem se mede com exata pontualidade. Uma escala social temporal que mede a idade (tenho doze anos, você tem dez), o indivíduo a aprende e a integra como elemento social, na imagem de si mesmo e dos demais. Esta subordinação de medidas temporais não somente serve como comunicação sobre quantidades distintas, se não que alcança seu pleno sentido como abreviação simbólica comunicável de diferenças e transformações humanas conhecidas no biológico, psicológico e social.
A consciência, emoções e subjetividade são afetadas, da mesma forma, pelo modo como cada sociedade estrutura seu tempo. O impacto da organização do tempo sobre relações humanas varia de época para época. Nos dias de hoje, a impressão que se tem é que sem o
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tempo para coordenar as atividades, não há como realizá-las; com o tempo para organizá-las, vive-se correndo contra o relógio. As exigências temporais demandam ritmos acelerados. Ter uma sociedade que respeite diferentes temporalidades é uma utopia.
A consciência temporal está tão enraizada nas pessoas da sociedade moderna que, esta individuação da regulação social do tempo demonstra as expressões de um processo civilizador. A constante preocupação com tempo, a consciência da passagem do tempo, a brevidade das relações, juntamente com uma vida em que tudo depende de horários, mostra uma dependência cada vez maior de um tempo que parece passar cada vez mais rápido.
É praticamente impossível conhecer uma determinada cultura, sem analisar as redes de relações construídas entre indivíduos e a organização do tempo. A forma como cada cultura organiza o tempo, revela aspectos fundamentais da organização dessa sociedade. A onipresente consciência do tempo dos membros de sociedades relativamente complexas e urbanizadas é parte integrante de seu modelo social e de sua personalidade.
Além disso, o tempo tem sido tratado como algo misterioso, enigmático e sobrenatural; algo que fosse necessário desvendar, para ser compreendido. O caráter enigmático do tempo é proveniente da complexidade das relações humanas. Da convivência humana resulta algo que os homens não entendem – o "tempo", que se apresenta como enigmático e misterioso.
O mistério pode ser proveniente da desvinculação entre símbolos que representam o tempo e os significados históricos dos mesmos. Calendários e relógios foram construídos a partir das observações do complexo movimento dos astros, mas o porquê das origens dessas configurações é raramente lembrado. Por isso, quando construções são tratadas como coisas alheias ao homem, cria-se a ilusão de que possam existir por si mesmas.
Na sociedade industrial um novo modelo de tempo surge e pauta nossa subjetividade, a coerção. Com a disciplina do tempo presente desde a constituição da identidade, a modernidade produz um tempo representado pela velocidade de relógios, calendários e horários, ostentando na sociedade as propriedades que fomentam coerções que o sujeito se impõe. A pressão dessas é relativamente pouco apreendida, medida e equilibrada, porém, onipresente e inevitável.
Com o "processo civilizador", a coerção externa transformou-se em coerção auto-imposta e o tempo passou a impor seu domínio externamente e, principalmente, internamente.
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4 CONCLUSÕES DO AUTOR
Norbert Elias finaliza esta obra entendendo o tempo com algo que faz parte do conhecimento humano como um todo. O tempo denomina as atividades, organiza o acontecer, regula a vida cotidiana e um número expressivo de ações, por isso é apontado como uma das grandes construções da humanidade.
5 METODOLOGIA DO AUTOR
Elias contrapõe linhas filosóficas, naturalistas e históricas, abordando o tempo de um modo particular. Para ele O tempo não existe em si, é um símbolo social resultante de um processo longo de aprendizagem.
O autor utiliza uma proposta teórico-metodológica que contribui para a questão do tempo nas ciências sociais. Institui uma analogia entre o desenvolvimento da sociedade e o aumento e interdependência de atividades exigidas no cotidiano dos indivíduos, desencadeando a sensação de tempo escasso. O tempo mostra a rede de configurações sociais na qual o mundo está inserido e se converte, nos dias atuais, de coerção externa em coerção auto-imposta.
6 QUADRO DE REFERÊNCIA DO AUTOR
Nesta obra, Norbert Elias explora o assunto Tempo ao longo da história da humanidade, por meio da narrativa das experiências adquiridas pelas comunidades, no intuito de “medir” o tempo.
O autor convida o leitor a refletir e compreender a existência do tempo e de nossa humanidade.