Reflexões sobre a (des)motivação no ensino-aprendizagem  de inglês no Ensino Médio em escola pública

 Adriana Bueno dos Santos Menegelli

RESUMO

O presente artigo tem o escopo oferecer uma reflexão entre teoria e prática no que se refere a (des)motivação do ensino-aprendizagem de inglês no ensino médio, em escola pública, buscando melhor compreensão da fenômenos que levam  nossos alunos ao fracasso ou sucesso e implicações futuras.

PALAVRAS-CHAVE: motivação, discente, docente, ensino-aprendizagem

Objetivo

Por meio de pesquisa bibliográfica e minha experiência junto aos alunos da rede pública buscar possíveis respostas para a (dês)motivação para o aprendizado de Inglês e, também, apresentar estratégias que possam propiciar a motivação para a aprendizagem dessa língua.

Introdução

              Sou licenciada em Letras (Português, Inglês e Espanhol) desde o ano de 2000. Já lecionei em escola de idiomas, escolas técnicas, públicas e privadas. Resido na cidade de Taquaritinga onde há 08 (oito) anos  atuo como professora indeterminada no Centro Paula Souza.

              Há 09(nove) anos sou professora titular de  cargo de Inglês  em uma escola pública estadual de onde advém minha inquietação ao observar, enquanto professora  de Ensino Médio, a falta de interesse e motivação  diante do ensino-aprendizagem da referida língua .

                Por várias vezes quando estava ministrando aula, percebi alguns alunos usando o celular, fones de ouvido, conversando, etc.    Quanto a conversa, para  DUBET, 1997, p.225 “ Os alunos são adolescentes completamente tomados pelos seus problemas de adolescentes [...] hostis aos professores. “

               Já sobre  ao uso do celular e fones de ouvido em sala de aula recordo  claramente o que Adorno (2003), em suas reflexões sobre Educação após Auschwitz, ressalta, em seu texto,  a questão da”‘consciência coisificada”. Para ele, alguns seres humanos chegaram a tal ponto de frieza em todas suas relações, ao preferirem a companhia das máquinas em detrimento dos seres humanos e equipararem os próprios seres humanos a coisas.

              Isso quando os educandos não estão quebrando carteiras, praticando atos de vandalismo dentro da escola. Durante seu texto, Adorno demonstra entender que só alguém emancipado, esclarecido e fazendo uso racional de suas faculdades, poderá não promover a barbárie.

              No caso do ensino do Inglês, assim como qualquer outra disciplina, necessita ter uma constante motivação intrínseca e extrínseca dos alunos. Atividades motivadoras  em sala de aula para que o ensino da língua inglesa seja mais valorizado.

 

Desenvolvimento

              Sabemos que à falta de motivação dos alunos trazem  consequências que  interferem diretamente na construção do conhecimento , além de ser frustrante para o professor perceber que seus objetivos não foram alcançados.

              Sobre a questão da motivação ou falta de motivação para aprender Inglês ou qualquer disciplina podemos nos basear nos estudos de  BONAMINO, 2010, p.491 que segundo  Coleman afirma que “se o capital humano possuído pelos pais não é complementado pelo capital social enraizado nas relações familiares, o capital humano dos pais torna-se irrelevante para o crescimento educacional dos filhos” . Neste caso destaca-se a importância do estímulo familiar não só ao acesso aos bens culturais como no acompanhamento e incentivo aos estudos.

              Já na sala de aula, para   DUBET, 1997, p.224 “Realmente a relação escolar é a priori desregulada”, cada vez que adentramos a sala de aula  temos que re-estabelecer as regras, reconsquistar os alunos, reinteressar, quase um jogo de sedução.Isso é cansativo, porém necessário.

              Muitas vezes temos a impressão tudo pareça ser pensado para um aluno que não existe e com isso, enquanto professores,  acabamos assumindo vários papéis.

              Quanto ao trabalho dos professores  segundo Tardif é caracterizado:

“ 1) pela obrigação dos professores de fazerem mais com menos recursos,2) por uma diminuição do tempo gasto com os alunos, 3) pela diversificação de seus papéis (professores, psicólogos, policiais, pais, motivadores, entre outros), 4) pela obrigação do trabalho coletivo e da participação na vida escolar, 5) pela gestão cada vez mais pesada de alunos do ensino público em dificuldade, 6) finalmente, por exigências crescentes das autoridades políticas e públicas face aos professores que devem se comportar como trabalhadores da indústria, ou seja, agir como uma mão de obra flexível, eficiente e barata.” (TARDIF, 2013, p. 556)

 

              Contudo, o professor tem o desafio de trabalhar a partir da heterogeneidade de experiências e interesses dos alunos, visando adaptar o seu planejamento de acordo com sua realidade de maneira motivadora a incorporar  diferentes níveis de conhecimento e ampliar as oportunidades de enriquecimento como foco de uma autonomia comunicativa para o aluno.

Quanto ao professor, Cabrito destaca :

“A verdade é que o êxito do professor depende não só dele, das capacidades que consegue mobilizar (comunicação, criatividade, desafio, empatia etc.), mas também, e muito naturalmente, do contexto em que se insere.[...]Afinal,um aluno aprende melhor ou pior consoante se identifica ou não com o professor, seja pela semelhança das linguagens utilizadas pelo professor e por ele e os seus pais, pela forma de se vestir, pelos interesses musicais ou outros manifestados por um e outros.”(CABRITO, 2009 ,p.185)

              Não há um método milagroso, mas existem materiais que podem auxiliar o trabalho se aliado ao saber-fazer do professor. Quando se percebe que os alunos não encontram razões para aprender , motivar passa a ser um trabalho de “encantar” desafiar e isso pode ser conseguido a partir da observação da realidade de cada aluno, com estudo e uso de metodologias diferenciadas.

 

Considerações finais

               Ainda que não existam alunos, professores e instituição perfeitos, que tenhamos  fatores que consideramos como problemas ao bom andamento do processo ensino-aprendizagem, não podemos negar que precisamos estabelecer metas, metodologias , procedimentos a fim de encontrarmos soluções, mesmo que parciais para as inquietações que nos afligem enquanto educadores.

              Assim, é nosso papel como docentes, juntamente com o apoio de materiais didáticos, recursos tecnológicos e boas ideias, tentar mudar essa situação e tornar o ensino mais interessante  e eficaz na vida de cada aluno proporcionando meios para que a interação da língua não seja só como um conjunto de regras , mas sim práticas discursivas  efetivas. Os alunos precisam sentir aplicabilidade da língua para se interessarem em aprender a mesma. Atividades de dramatização, jogos, músicas, filmes, séries,  se bem direcionadas,têm bons resultados  no que diz respeito a motivação dos educandos.

              Analisar os acontecimentos e os referenciais teóricos me permitiram compreender  angústias, tensões, conflitos e dificuldades enfrentadas no cotidiano da sala de aula e que, muitas vezes, nos fazem sentir desvalorizados, frustrados e que também me constituem, não apenas enquanto pesquisadora, mas como professora em serviço de língua inglesa. Segundo as palavras de Bueno :

“Se nosso passado e nosso presente dependeram de nossas práticas educativas, seguramente nosso futuro também dependerá delas e não parece razoável deixar tal futuro à mercê de acasos ou da mera repetição irrefletida da nossa experiência pessoal.”( BUENO,2014, p.18)

              Destaco ainda  a importância do aumento de pesquisas nesta área como contribuição para a reflexão e possíveis mudanças no processo de ensino-aprendizagem, pois nota-se que é conhecendo todo esse contexto que se pode promover um ensino motivador que contemple as expectativas dos alunos e os objetivos do professor.

Referências

ADORNO, Theodor W, (2003). “Educação após Auschwitz”. In: Educação e Emancipação. 3ª Ed. São Paulo: Paz e Terra. Tradução de Wolfgang Leo Maar p. 119-138.

BONAMINO, AliciaALVES, FátimaFRANCO, Creso  and  CAZELLI, SibeleOs efeitos das diferentes formas de capital no desempenho escolar: um estudo à luz de Bourdieu e de Coleman. Rev. Bras. Educ. [online]. 2010, vol.15, n.45, pp.487-499. ISSN 1413-2478.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782010000300007.

BUENO, J. G. S.; MUNAKATA, K.; CHIOZZINI, D. F.(Org.). A escola como objeto de estudo: escola, desigualdades, diversidades. Araraquara: Junqueira&Marin, 2014.

CABRITO, Belmiro GilAvaliar a qualidade em educação: avaliar o quê?Avaliar como? Avaliar para quê? . Cad. CEDES [online]. 2009, vol.29, n.78, pp.178-200. ISSN 0101-3262.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32622009000200003.

DUBET, F. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor. Revista Brasileira de Educação, n. 5-6, mai-dez19

TARDIF, MauriceA profissionalização do ensino passados trinta anos:dois passos para a frente, três para trás . Educ. Soc. [online]. 2013, vol.34, n.123, pp.551-571. ISSN 0101-7330. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302013000200013.