Quem desiste do próximo desiste de si próprio
Por Alexandre Aschenbach | 01/10/2009 | CrescimentoTodos nós já passamos por alguma situação em que erramos e precisamos
nos retratar, seja pedindo desculpas, seja mudando de atitude, seja
procurando outra forma de fazer as coisas para, simplesmente, não
cometer o mesmo erro.
E muitas vezes fomos julgados por cometer
erros. Mas pior que isso é que fomos julgados, rotulados e condenados.
Que direito alguém tem sobre nós para nos julgar e depois não nos dar
direito de resgatar nosso erro?
Como fazer, então, para que
entendam que nós podemos mudar, que estamos nos retratando? Para isso
não tenho resposta, mas... e quando nós percebemos que alguém que nós
julgamos, condenamos e rotulamos está melhorando?
E quando, por
qualquer motivo, algo que nos parece ruim em alguém simplesmente
desaparece? E quando alguém dá sinais de mudança, de melhora? O que nós
fazemos?
Nós não achamos correto que nos julguem, nos condenem,
não nos dêem oportunidade de melhora. É, portanto, muita hipocrisia de
nossa parte se simplesmente julgarmos, condenarmos e não procurarmos os
sinais de melhora no outro.
O funcionário que normalmente causa
problemas passou uma semana sem causar nenhum; uma pessoa que vive
reclamando repentinamente deixa de reclamar; o colega que sempre faz
críticas negativas de uma hora para outra deixa de fazê-las... essas
pessoas podem estar melhorando. Ou não?
É no mínimo nossa
obrigação, sob pena de sermos condenados pela própria hipocrisia, abrir
espaço, apoiar, oferecer alguma forma para que essas pessoas continuem
seu caminho e melhorem.
Não quero dizer com isso que não devemos
nos proteger dessas pessoas, que não devemos levar em conta o que foram
e fizeram até o momento. Sim, devemos, pois já foram no passado pessoas
pouco confiáveis, mas elas não podem melhorar?
Entendo! Nós podemos, elas não? Podemos errar e nos redimir, e os outros?
Nós
não gostamos de ser julgados, mas julgamos. Não gostamos de ser
condenados, mas condenamos. Que lógica é essa? De onde vem isso?
Todos
nós já fizemos xixi na cama, mas por um acaso algum pai ou mãe colocou
a fralda novamente no filho e desistiu, deixando-o de fralda para o
resto da vida? Não, eles sempre perseveraram e, por fim, nós não
fazemos xixi na cama há algum tempo, não é verdade?
Mas essa não foi uma vitória só sua não é somente graças a você que a cama fica seca a noite toda.
Quantas
vezes nós cometemos um erro e ninguém nos perguntou se estávamos com
algum problema, ou se podiam ajudar? Quantas vezes alguém estendeu a
mão?
De que situação gostamos mais, o que é mais fácil de nos
ajudar na mudança, nos ajudar a crescer: quando só nos elogiam pelos
nossos acertos, quando só nos criticam pelos nossos erros ou quando nos
ignoram?
Será que conhecemos a real dimensão e importância da
mudança na vida de alguém? Independente de sua crença você com certeza
conhece a parábola do Filho Pródigo. Também lembra que em outro artigo
citei uma frase que a cada dia me parece mais importante: “Não se julga
ninguém pela queda, mas sim pela forma como se levanta.”
Nós
sabemos que o esforço de qualquer um para voltar à tona, para
levantar-se após uma queda é muito maior do que o esforço daquele que
já está na superfície, daquele que já está em pé. E se sabemos é porque
já caímos, porque já afundamos vez ou outra.
E quando precisamos
levantar, como foi? Alguém nos estendeu a mão? Se estendeu, sabemos do
valor, da importância daquela mão nos ajudando a ficar em pé. Caso
contrário, também sabemos da falta que a mão amiga fez naquele momento.
E
se sabemos pelo prazer ou pela dor, pela presença ou pela falta, então
nos tornamos responsáveis por garantir que aquele que agora tenta se
levantar seja bem recebido em sua jornada, que haja espaço para seu
crescimento, que erga a cabeça como nós fizemos um dia (e talvez
precisemos fazer novamente).
É nossa responsabilidade
incentivar. Seja através de um gesto, de uma palavra ou da mudança de
atitude é importante motivar, não desmotivar. Ele precisa sentir que
vale a pena mudar, melhorar.
Reunimos-nos para criticar o
presidente, o síndico do prédio, o chefe, o parente, enfim, todos. Mas
quando qualquer um anteriormente criticado toma uma atitude correta,
quando demonstra querer mudar, nós ainda assim olhamos e criticamos.
Por não acreditar, ignoramos, e fazemos como São Tomé.
Claro que
nossa experiência de vida, o passado e as atitudes que certas pessoas
tiveram, a forma como elas se apresentaram faz com que desacreditemos,
não tenhamos tanta segurança e certeza da mudança. Mas se lembrarmos
dos momentos em que nós tivemos dificuldade, em que não tivemos
credibilidade para levantar, em que não nos ofereceram uma mão amiga,
acabaremos por estender a mão, por dar apoio para que o outro possa
melhorar.
É importante mostrar a quem tenta mudar que vale sim a pena. E isso só acreditando para provar.
Se
assim não agirmos, estamos pedindo para que os outros também, no
momento em que errarmos, desacreditem de nós; estamos pedindo para
sermos deixados de lado no primeiro erro; estamos pedindo, implorando,
para que as pessoas hajam da mesma forma conosco.
Se não
perdoamos ou tentamos perdoar, se não buscamos o que há de melhor no
outro, se não procuramos o menor indício de melhora, estamos desistindo
do outro e, por conseqüência, pedindo que façam o mesmo conosco, ou
seja, que desistam de nós. Indiretamente estamos desistindo de nós
mesmos.
Eu não vou desistir de mim mesmo. Eu acredito que ainda
vou errar muito, que tenho muito a aprender, muito a melhorar, e que
vou sim precisar que acreditem, que confiem em mim quando eu precisar
mudar de rumo, quando eu precisar me retratar. Eu acredito que mereço
apoio para levantar após minhas quedas, desde que a minha melhora seja
sincera, desde que eu me esforce por isso, desde que eu não caia
repetidamente pelo mesmo motivo indefinidamente.
A minha mudança de atitude tem que ser valorizada, pois atitude é algo que aprendemos durante a vida, e não é fácil mudar.
Eu
quero que minhas desculpas sejam aceitas, eu quero ser realmente
perdoado. E só há uma forma de obter isso: perdoando, permitindo o erro
e dando possibilidade para que os outros também mudem, melhorem e se
levantem.
Eu não vou desistir de mim e gostaria que você não
desistisse de mim, para que ninguém desista de você, para que você não
desista de si próprio.
Se não sou capaz de entender, de perdoar,
de estimular o crescimento dos outros, então não é meu direito exigir
isso. Se eu não acredito em ninguém, ninguém acreditará em mim. Por
isso quando desisto de alguém, desisto um pouquinho mais de mim mesmo.
E
você, de quantas pessoas você já desistiu? De quantas pessoas você não
aceitou as desculpas? Quantas pessoas você não permitiu e aceitou a
mudança? Quantas vezes, enfim, já desistiu de si próprio? E quanto
ainda pretende desistir?