Porque posso, devo e é bom. 

Minha vida me convocou exigindo que eu estivesse presente nas mudanças que ela pretendia fazer e não aceitava recusa. Pensei comigo, minhas meias verdades estão por ser reveladas, libertadas talvez. O aviso era de que o que realmente importava estava sufocando minha vida e ela me avisava. A mensagem que recebi  clara e direta dizia que eu não estava prestando atenção, que havia perdido o foco, o interesse por mim por minha antes tão saudável e  agradável companhia. Havia ignorado deixado de lado sutilezas, desejos e prazeres  me acomodado numa busca por segurança onde sentir não era opção. De tudo o que acomodei o que mais ocupou espaço foi o medo de “desejar” me sentir feliz novamente. Foi tarefa delicada evitar as inúmeras possibilidades de me revelar de ouvir a minha própria voz, expondo meus pensamentos. As pessoas passavam por mim e eu não as via. Podia sim ver a cor dos seus olhos e rapidamente desviar os meus para não ficar tentada a ler o que eles poderiam dizer. Foi um longo e solitário período. Mas, somos como somos. E assim, minha vida me sacudiu de repente do nada. Aliás, como tudo o que é grande importante ,muitas vezes surge do nada e chega chegando se revelando e dizendo ei, estou aqui, nunca fui embora. Você me afastou. Convocada, acuada, mas de certa forma, não surpresa, abri um sorriso e os braços para acolher tudo o que me estava sendo oferecido. Bom, tentei ignorar, não devia, não queria. Mas lá estava você. Silencioso, numa foto e sem que dissesse uma única palavra colocou abaixo minha defesa tão bem construída -  eu achava. Foi perturbador perceber e sentir as emoções que haviam sido cuidadosamente camufladas e que rapidamente se ergueram e aceitaram a convocação que eu inexplicavelmente aceitei. Escrevi e enviei a mensagem sem disfarces, confiando que o Universo a compreenderia e você também. Essa foi a segunda decisão mais difícil da minha vida. Ainda sinto o coração desordenado, suas batidas meio enlouquecidas ao apertar a tecla “enviar”.

Porque a minha vida me convocou me convenceu, sei disso agora. E eu a quero de volta e quero que ela me aceite e me permita continuar. O medo não exerce mais sua presença. Que você não tenha levado a minha paixão o meu amor. Quero ainda mergulhar bem fundo até as areias brancas no fundo do mar azul, deixar  o sol  me encantar e me aquecer, ouvir Vivaldi , usar batom para seduzir, caminhar ouvindo música e dançar quando ela me provocar calafrios e fizer meu corpo se mexer no ritmo contagiante. Quero sentar sob a janela da minha sala saboreando uma taça de vinho tinto, olhando as estrelas, as mesmas que estarão iluminando os lírios do seu jardim. Quero o prazer que as ondas do mar me provocam,  me levando ao infinito onde o sonho dure mais do que uma tarde de outono tropical numa praia qualquer. Quero que as pequenas lembranças que ficaram do suave e furtivo toque de sua mão no meu rosto permaneçam me encantando. Acredito que o tempo não existe, que a vida me convocou porque posso, devo, é bom que eu seja quem sou como sou uma mulher que recebeu um chamado vindo talvez das estrelas para lembrar-me que não estou só, nunca mais, ainda não. Quando a vida nos chama ela é ferozmente convincente, eu sei, eu acredito. Jane Cotts - junho 2013