Políticos falsos, falsos dilemas

Por Celso Fernandes | 28/01/2010 | Política

Segundo o Presidente do PT, Ricardo Berzoini, a oposição “quer se opor às legítimas manifestações de nossa pré-candidata, mas escorrega na aprovação do governo que Lula lidera e Dilma coordena, e o povo brasileiro aprova”. Esse seria o dilema tucano.

Naturalmente, o Sr. Berzoini sabe o que é um dilema: o estar à frente de duas alternativas mutuamente exclusivas. Portanto, o PSDB – descontrolado, na sua opinião – está se defrontando com a alternativa de se opor ou de não se opor, tendo em vista a imensa popularidade de NOSSOPRESIDENTE.

Um pouco de reflexão.

Na Teoria dos Jogos existe um dilema famoso – o dilema do prisioneiro.

Copiando da Wikipédia, para ganhar concisão, a situação poderia ser assim resumida:

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro.O pomo da discórdia, nesse caso, seria o PAC I, deixando de lado outras querelas menores quanto à legitimidade dos títulos de mestre ou doutor da candidata oficial. O que farão os contendores PT e PSDB? Há de se fazer uma ou outra adaptação para seguir o modelo, mas a questão tem um certo sabor. O que farão, pois, os contendores?

Confiam no “cúmplice” – falar em cúmplice em se tratando dos mais importantes partidos, pode ser um exagero, mas é bom lembrar que, queiram ou não, ambos sairam da mesma costela (esquerda) do corpo político –, e permanecem negando o crime ou seja, admitem que não conseguem se ater à verdade nos seus pronunciamentos, mesmo correndo o risco de serem colocados numa situação ainda pior, ou confessam que seus discursos contém exageros, e esperam ser “libertados”, apesar de que, se “os outros” fizerem o mesmo – confessando sua incompetência –, ambos ficarão numa situação pior do que se permanecessem calados? A discussão é interessante, mas para nossa situação já dissemos o suficiente.

Apesar da troca de insultos, na qual sobraram afagos como: “mentirosa” e “babaca”, não estamos falando de suspeitos, embora haja no curriculo de ambos os partidos (PT e PSDB) uma quantidade apreciável de atos diante dos quais os puristas poderiam, até deveriam, ficar escandalizados – não só os puristas, aliás.

Como na política – num determinado nível – ensina NOSSOPRESIDENTE, há chutes no peito, concordado com o quase-sogro de Oscar Wilde, o marquês de Queensberry, autor das regras do boxe moderno, que proibia golpes abaixo da linha da cintura, a troca de impropérios pode acontecer – sempre que os demonizados “outros” partirem para a ignorância.

É possível usar sarcasmos baratos: antes de acelerar o crescimento, é preciso ele existir, mas não é o caso de partir para esse tipo de finas ironias... Com ventos favoráveis, enchendo as velas do governo e com o bom-senso de não partir para rupturas extravagentes, houve e haverá crescimento. Não se discute, portanto, o “o quê”, e sim, o “como”. Qualquer que seja o candidato que as urnas ungiem, não é de se esperar mudanças drásticas. Isso é válido aqui e alhures. Nenhum partido com pretensão de seriedade, pois é nisso que estamos falando, colocará como objetivo aumento da desgraça social, o abandono de politicas sociais ou a ruína do sistema de saúde. Resta saber o famoso “como”.

Colecionar projetos pré-existentes e juntá-los a propostas meritórias dará sempre um bom plano. Seja ele PAC, PEC, PIC, POC, PUC. O importante é realizá-lo.

Se O PSDB negar as realizações em bloco e o PT admitir a incompetência, a corrupção, o aparelhamento etc., voltando ao caso acima, a candidata Dilma perde. Se o PSDB admitir tudo que a propaganda oficial divulga, Serra, ou o candidato da oposição – já que até agora, não sabemos ao certo qual é – é varrido do tabuleiro, para tomar emprestado uma fórmula empregada pelos protagonistas de um esporte menos violento – aparentemente – o xadrez.

Ocorre que, salvo informações até agora ocultas, o PAC não é a coleção de sucessos que se alardeia nem tampouco um filho retardado da mãe do PAC. Algo já foi feito, apesar de haver, inaugurações de obras virtuais ou atrasos atribuídos a causas outras que a própria incompetência. É tão humano pensar assim, atribuindo as causas do malogro a “forças ocultas”, ou não?

No entanto, nenhum dos contendores quer admitir isso, sujeitando-se a pena mínima do caso teórico exposto acima. A pena mínima seria expor ambos os candidatos à apreciação de eleitores aos quais não terão sido contadas mentiras.

De parte a parte, contudo, preferem a posição hostil, o que viria, em tese, deixá-las sujeitas a uma penalidade intermediária, infelizmente improvável no caso real, ou seja, a eliminação de ambos da rodada 2010.

Isso lembra a lógica da corrida armamentista, na qual os adversários, por desconfiança mútua aumentam seus arsenais, ao invés de promover o desarmamento, chegando ao absurdo já conhecido.

Então, Candide, isso é política?

Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas` e ´O Desmonte de Vênus` (Ed. Totalidade. Nas livrarias Cultura, Siciliano e ´Pega Sonho``: Rua Martinico Prado, 372 – Higienópolis – SP – Tel.: (11) 3668-2107)| E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br