Os tipos de instituições de capelania e sua importância para o desenvolvimento eficaz de suas ações e missões

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO HUMANA

Escola Superior de Capelania e Missões

Os tipos de instituições de capelania e sua importância para o desenvolvimento eficaz de suas ações e missões

*Aparecido da Cruz

Resumo

A proposta deste artigo é apresentar o serviço de capelania de forma a desvinculá-lo dos termos organização e escola de capelania; pois, de forma empírica, nota-se que há muito desconhecimento e confusão no campo prático por insipiência.  Neste sentido, foi abordada uma breve reflexão sobre a temática, reafirmando a sua importância, nos dias de hoje, em particular para o reconhecimento eficaz de suas ações e missões. Enfim, será apontada uma via de dialogo para que também possam ser evitadas distorções ou ainda incompreensões nesta vasta seara denominada capelania.

Palavras-chave: Assistência; capelania; capelão; escola; religião; serviço.

I – Introdução

O presente artigo além de contribuir para a produção científica tem por objetivo analisar as instituições de capelania sob um prisma das nomenclaturas institucionais, visando evitar discrepâncias e outros mal entendidos em sua práxis cotidiana, além de promover maior valorização das ações em cada uma de suas interfaces.

Como já o dissemos em trabalhos anteriores, a capelania é a ação responsável, junto às entidades, pelos cuidados bio psico sócio espirituais às pessoas que estão enfrentando privações e momentos difíceis. A capelania tem como missão colaborar com o ser humano integral, oferecendo oportunidades de autoconhecimento, crescimento interior, reflexão, desenvolvimento e aplicação de valores e princípios éticos e cristãos para o exercício saudável e pleno da cidadania.

Há no Brasil diversos tipos de capelania, como: ambiental, universitária, hospitalar, carcerária, fúnebre, esportiva, institucional, empresarial, intra eclesial, em desastres, musical etc. Todavia, não se deve confundir os tipos de capelania, com os tipos de instituições de capelania, esta ultima, alvo deste trabalho.

Já no segundo capitulo, abordamos as organizações de capelania, prosseguindo com escolas no breve terceiro capitulo, serviço de capelania no quarto capitulo e por ultimo um capitulo dedicado as ações comuns em todos os tipos de instituições de capelania seguido de uma breve conclusão.

Este trabalho se faz necessário, tendo em vista manter um padrão minimamente ético e eficiente nas atividades de capelania existentes atualmente no Brasil. Conclamando a todos para práticas mais responsáveis, coerentes, para acima dos títulos, mais humana e honesta.

O autor além de ser um capelão, com mais de 20 anos de serviço, também é autor do livro Capelania Policial, diversos artigos sobre o tema e professor da Escola Superior de Capelania e Missões - ESCAM. Motivos que despertam no autor a necessidade de contribuir com uma formação consistente, ética, moral, honesta e salubre.

Foram utilizadas como fontes de pesquisa, além do material citado nas referencias bibliográficas, a ampla vivência do autor junto a diversas instituições de capelania, bem como sua práxis acadêmica nos diversos momentos de discussão nos fóruns e atividades integradoras como o Fórum Brasileiro de Capelania - FOBRAC.

Por fim, este breve trabalho se organiza a partir das questões problema: Você sabe a diferença entre organização, escola e serviço de capelania? Compreende a importância da temática para o capelão?

II – As Organizações

São organizações de capelania, as ordens, os conselhos, as associações, os fóruns e outras instituições, cujo foco seja uma combinação de esforços individuais tendo por finalidade realizar propósitos coletivos. Por meio de uma organização torna-se possível perseguir e alcançar objetivos que seriam inatingíveis para uma única pessoa.

È conhecido ainda, que uma organização é formada pela soma de pessoas e o resultado da combinação de todos os seus talentos, para que de forma orientada seja consolidado o objetivo comum. No caso da capelania, as pessoas se unem em associações, ordens, conselhos e outros tipos de organizações para dar legitimidade a suas ações, visibilidade à missão do grupo e representação do coletivo, o que deve culminar com o sucesso da visão institucional proposta por todos e para todos.

Na atualidade há no Brasil, centenas de organizações de capelania, o que tem dois lados muito distintos, pois, se por um lado “aumenta” o numero de beneficiados pelas ações dessas organizações, por outro lado a forma multifacetada e anômala, de comportamentos individualistas, faz com que a unidade dessas mesmas organizações seja utópica para a maioria de seus próprios lideres.

III – As Escolas

É a veia acadêmica do segmento de capelania. São geralmente formadas por academias, cursos livres e também por igrejas e organizações. Também estão presentes em todo o Brasil de forma multifacetada e diversa, havendo opções para todos os gostos, condições financeiras, sonhos e aspirações.

Como não há uma regulação a respeito da formação em capelania, apenas de sua prática, há cursos nas mais diversas modalidades, estilos e carga horária, pois trata-se de curso livre e de oferta aberta a quem se interessar pelo tema. Convém ressaltar que para os cursos de pós graduação lato senso, os mesmos devem ser ofertados por instituições de ensino superior devidamente credenciadas pelo MEC.

IV – O Serviço de Capelania 

De acordo com o dicionário Adolfo Olinto, um serviço é um produto da atividade humana que satisfaz a uma necessidade, sem assumir a forma de um bem material. É entendido ainda como a ação ou efeito de servir, de dar de si algo em forma de trabalho ou ainda o exercício e desempenho de qualquer atividade.

No caso da capelania o serviço é uma assistência bio psico sócio e espiritual, franqueado ou oferecido por uma instituição, como direito constitucional liquido e certo aos privados de liberdade, seja por oficio, profissão, problemas relacionados a saúde ou internação compulsória por desvios da legalidade.

V – O comum

Mas afinal, o que há em comum entre os tipos de instituições de capelania?

O mais comum deve ser o propósito, no entanto existem outros quesitos que são comuns a todas as instituições de capelania, um deles, suas ações.

As ações mais comuns nas instituições de capelania são:

1. Pontuais – Mobilizações com tempo ou prazo determinado;
2. Cotidianas – Ações habituais, diárias. Temos como exemplo o “DDS – Dialogo Diário da Salvação” e o “Minuto com Deus”, muito utilizados em ações nos quartéis, empresas e entre equipes profissionais. Pode ser comparado a um mini devocional;
3. Especificas – Ações exclusivas ou únicas. Exemplo: Datas comemorativas, grandes eventos, convites institucionais, dentre outros;
4. Emergenciais – Ações em desastres, grandes acidentes etc.;
5. Promocionais – Ações utilizadas para divulgar o trabalho institucional da capelania, captar recursos e promover ações vocacionais. Podem ser realizados em feiras, mostras, seminários, igrejas etc.;
6. Vocacionais – Ações de incentivo ou amplificação que visam identificar chamados, tendências naturais ao serviço de capelania e descobrir possíveis disponibilidades para o ministério de intercessão pela instituição. Afinal! Não há qualquer movimento ou ação cristã sem uma boa retaguarda de oração.  
7. Educacionais – Ações que visam preparar, capacitar, especializar e desenvolver pessoas para as ações globais de capelania. Podem ser desenvolvidas a grupos internos e externos a instituição. No caso do serviço de capelania, as ações educacionais podem estar restritas a publicações acadêmicas e capacitações internas.

VI - Conclusão

O serviço de capelania pode ser prestado por organizações ou pessoas físicas, desde que autorizadas para tal fim. Não tem como finalidade ministrar cursos,  não tem interesse por qualquer vantagem pecuniária, atende a públicos variados, não mantém associados, pode ser substituído a critério da instituição ou ainda prestado por colaboradores, servidores próprios ou voluntários. 

Devido a gama de organizações que ministram cursos e atendem determinados públicos é muito comum haver confusão sobre o que seja organização, escola e serviço de capelania. Nossa proposta neste pequeno artigo foi a de contribuir para que a classificação por tipo de instituição seja importante para o reconhecimento de cada segmento como parte integrante de um todo ainda em construção.

O presente artigo traz também em seu interior uma identificação muito pouco debatida, o serviço, o que em alguns casos gera distorções desnecessárias sobre o foco de cada um dos tipos aqui apresentados. Quando, porém, sabemos, por exemplo, que o serviço de capelania de uma organização não precisa seguir determinados modelos vistos em algumas escolas e organizações, aprendemos que nem todo quadro de serviço de capelania precisa ser composto por vários capelães, ficando a critério da instituição, manter ou não um quadro temporário, efetivo ou esporádico.

No case da Capelania Força Tarefa Brasileira, por exemplo, além da especificidade da capelania, não há um corpo de capelães, mas um capelão em serviço da Força Tarefa Brasileira, que não é escola, nem organização de capelania. O mesmo acontece na Capelania da Escola de Comando, onde o serviço de capelania é realizado por um capelão.

Notem que grifamos a palavra serviço, para que se entenda a diferença de um serviço de capelania, diferente das escolas e organizações. Pois o maior prejuízo em não conhecer estas particularidades, não está apenas na nomenclatura, mas na forma como se olham tais ações. Pois em um mundo de “concorrências ministeriais”, algumas instituições tentam fechar as portas para os serviços de capelania por desconhecimento, ciúmes, reserva de mercado ou requerimento de exclusividade.  

Cumpre ainda ressaltar, que este autor além de não ter nenhuma pretensão de minimizar ou esgotar um assunto tão vasto, procurou em linguagem simples e objetiva levar informação de qualidade a todos os nobres e abnegados capelães e interessados pelo assunto.

Como em outras ocasiões, o autor se vale do surgimento de necessidades na seara, para abrir a porta de investigação mais profunda, com a finalidade de jamais deixar de aprender e participar da ativa construção do conhecimento.

VII – Referencias

     Capelania em Situação de Eventos Adversos. Capelania Força Tarefa Brasileira, Guarulhos, SP, 2018.

     CRUZ, Aparecido. Capelania Atividade Pastoralista ao alcance de todos, 2018. Disponível em https://www.webartigos.com/artigos/capelania-atividade-pastoralista-ao-alcance-de-todos/157462

     CRUZ, Aparecido. Curso Capelania Policial e Global. São Paulo: Capelania Policial 3i, 2018.

DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque; Mini Dicionário Aurélio Escolar Século XXI . Nova Fronteira, SP, 2002.

Mini Dicionário Adolfo Olinto da Língua Portuguesa. Editora Moderna: SP, 2000

SERVIÇO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Servi%C3%A7o&oldid=59302466>. Acesso em: 9 set. 2020.

 

*Aparecido da Cruz é capelão da Capelania Policial 3i, capelão chefe do serviço de capelania da Força Tarefa Brasileira, capelão do serviço de capelania da Escola de Comando, diretor da Escola Superior de Capelania e Missões – ESCAM e autor do Livro Capelania Policial – Assistência Religiosa aos Profissionais de Segurança Pública.