O presente trabalho relata sobre a experiência de uma estagiária em Psicologia Escolar que acompanhou por um ano uma criança de 7 anos com diagnóstico de Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) numa escola de privada da cidade de Sobral. O manejo no acompanhamento do trabalho com uma criança com tal diagnóstico na escola demanda uma disponibilidade para mediações e para a criação de intervenções focalizadas. As intervenções costumam ter por objetivo trabalhar algumas habilidades sociais a fim de diminuir dificuldades ou potencializar as habilidades da criança. O jogo é um meio de importante acesso para a criação de intervenções, o que, nesse acompanhamento foi de grande importância. Se utilizou um jogo chamado Clash Royale para trabalhar as habilidades desta criança com TDAH.

1. Introdução

O presente trabalho configura-se como um relato de experiência a partir de um estágio em psicologia escolar realizado numa escola privada no município de Sobral objetivando descrever a experiência com um aluno de 7 anos, regularmente matriculado no segundo ano do ensino fundamental e diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). As principais características do Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade é a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Com isso pode-se definir o TDAH como sendo um problema que afeta determinadas áreas do cérebro responsáveis em controlar o comportamento inibitório. Devido a esse prejuízo, as crianças e adolescentes com o Transtorno tendem a apresentar traços maiores de hiperatividade e impulsividade. Desse modo o autocontrole é indispensável para se trabalhar o equilíbrio. Muitas questões pedagógicas podem ser trabalhadas através dos jogos, dentre elas podemos destacar: o processo de alfabetização (leitura e escrita); noções básicas de matemática (formas geométricas básicas, adição, subtração, multiplicação e divisão), atividades de vida diária, construção de rotinas, treino de habilidades sociais, treino e discriminação de sentimentos dentre outros. A introdução de jogos e novas tecnologias pode promover um maior nível de autonomia, preparando e ajudando os alunos a se integrarem melhor ao seu meio sociocultural. “Além do exercício das habilidades cognitivas, o uso de jogos no contexto escolar possibilita o exercício de habilidades emocionais e sociais, uma vez que seu uso favorece a interação social e a colaboração mútua” (RAMOS, D. K et al, 2017, p. 02). A criança com TDAH apresenta dificuldades perante o convívio social, pois geralmente esse transtorno é confundido com outros comportamentos próprios da idade, o que acaba comprometendo a integridade das relações sociais. A criança acompanhada é uma criança que apresenta grande dificuldade no controle das emoções, em lidar com frustrações e a conseguir seguir a rotina escolar. Durante seu percurso no início do ensino fundamental I, o 1º ano, foi trabalhado outra intervenção para auxiliar em suas dificuldades. A intervenção era uma ficha comportamental que continha as atividades diárias da rotina escolar, onde o mesmo deveria preencher as etapas com êxito para que ao final da manhã recebesse um prêmio. Ao iniciar no 2º ano do fundamental I foi necessário adaptar essa ficha que foi reconstruída com o tema “colecionador de estrelas” onde a cada atividade produzida de forma positiva ele recebe uma estrela feliz. As atividades se dividiam em: realização da agenda, explicação das atividades, tarefas, recreio, cuidar dos colegas e cuidar da professora. Esse conjunto de atividades era cobrado diariamente e a cada dia exitoso ele tinha o direito de escolher uma premiação de gosto pessoal para realizar no final da aula. Ao final da semana o mesmo deveria ter preenchido todos os dias de forma exitosa para que ganhasse uma medalha e uma premiação da família. Com o passar do primeiro semestre foi possível perceber a perda de motivação e interesse pela intervenção e a criança não conseguia de forma alguma perceber os ganhos sociais, portanto, se focava somente nas premiações, o que por muitas vezes trazia conflitos durante a escolha já que a mesma possuía dificuldades em lidar com frustração. Pensando nisso, encontrei na adaptação de um famoso jogo de celular um meio de treinar habilidades sociais do aluno citado anteriormente pois para além do diagnóstico de hiperatividade, a criança tem dificuldade em seguir as regras da escola, apresentando também inabilidade social em alguns momentos. O jogo que serviu de inspiração para a intervenção é o Clash Royale. O jogo permite duelar com jogadores do mundo todo e tem como finalidade derrotar torres de reis em batalhas, utilizando as cartas dos personagens do jogo. A cada batalha vencida o jogador acumula coroas que em determinada quantidade permitem abrir baús com prêmios de cartas, ouro e gemas além de evoluir e poder ter acesso a outra arena. O jogador se classifica através do nível do rei para pular para a próxima arena. Além das batalhas é permitido ao jogador duelar e jogar batalhas de treinamento. A intervenção pensada, no entanto, foi pensada e adaptada para trabalhar algumas habilidades comportamentais dentro da rotina escolar, sendo estas: coragem, cooperação, responsabilidade, respeito e amizade. Assim como no jogo Clash Royale, foi elaborado arenas de duelo, cartas e baús para a premiação. Além disso, são utilizados como material de apoio ficha de acompanhamento para estagiária, cartas com personagens, folha de arena e mapa geral contendo as próximas etapas do jogo. A proposta utilizada é que se ao final da manhã o jogador, no caso a criança, completar com êxito as atividades, ganha uma carta representando uma das cinco habilidades trabalhadas. Ao final da semana quando ele obtém no mínimo três cartas ele consegue completar a arena para então abrir o “baú mágico” e ganhar o “prêmio” da semana. O “prêmio” sempre é uma atividade interessante para o garoto, que possibilite sua interação com a família e com os amigos, como por exemplo uma manhã na piscina ou um passeio no parque. Ao final de cada ciclo, é marcado no mapa de arenas a arena finalizada na semana e o jogador passará para a próxima na semana seguinte. A criança acompanhada tem grande afinidade pelo jogo real e o projeto de intervenção foi articulado de forma a facilitar a aplicação, buscando sempre estimular a criança para que se mantenha interessada na proposta e consequentemente tem uma rotina escolar mais prazerosa. [...]