Por Que o Monopólio das Especiarias Gerava Segredos Comerciais? Que fatos Deram Origem ao Autor de Mapas Profissional? Por Que os Soberanos da Península Ibérica Não Queriam Divulgar as Descobertas do Novo Mundo?

 

O Infante D. Henrique – o Navegador – fez de tudo para preservar um monopólio comercial com as descobertas das costas da África, o que significava ocultar onde ficavam os lugares descobertos por ele, e como chegar lá. Quando D. Manuel I (rei de Portugal) estruturou seu plano de monopólio da pimenta, ele ordenou que todas as informações relacionadas a navegação fossem mantidas secretas. 

Essa política não era fácil de impor, pois os 3 reis portugueses dependiam dos estrangeiros como Américo Vespúcio para lhes fazerem as descobertas. Em 1481 as cortes portuguesas requereram a D. João II que proibisse estrangeiros de se instalarem no país, porque eles roubavam os segredos a respeito da África e das “ilhas”. No entanto, poucos anos depois Colombo fez a sua viagem para ajudar os Portugueses a construir o seu forte na Guiné. 

Contudo, a conspiração de silêncio portuguesa foi eficaz durante algum tempo, pois até meados do século XVI outros países que procuravam informações sobre o comércio marítimo português para a Ásia, tiveram de se contentar com fragmentos de escritores antigos. A despeito dessa política, vários mapas da Ásia chegavam lentamente ao resto da Europa. 

Os Espanhóis guardavam suas cartas oficiais num cofre com duas fechaduras e duas chaves e, receando que os mapas fossem deturpados, o Governo criou uma carta-mestra supervisionada por uma comissão dos pilotos mais competentes. 

O receio de estimular competidores domésticos impediu nações de aproveitarem todos os benefícios das aventuras patrocinadas pelos seus governos. Fora de Espanha e Portugal os relatos das viagens de Américo Vespúcio foram os mais impressos dos de todas as viagens ao Novo Mundo nos 35 anos que se seguiram à primeira viagem de Cristóvão Colombo para ocidente. 

Sessenta edições de Vespúcio apareceram na Europa em latim e outras línguas em ascensão, mas não apareceu nenhuma edição na Espanha e Portugal. Este fato dá a impressão de que os soberanos da Península Ibérica não queriam ameaçar seus monopólios governamentais, despertando o interesse de concorrentes até entre o seu próprio povo. 

Mas, assim como o segredo gera monopólio, o monopólio também gera segredo e um paralelo curioso ocorreu do outro lado da terra. Depois dos feitos de navegação do eunuco Cheng Ho, que levou navios chineses a todo Oriente em 1433, o império recolheu-se dentro de si mesmo e proibiu novas expedições. Em 1480, outro eunuco chinês desejou efetuar uma expedição marítima, mas os altos funcionários do Ministério da Guerra destruíram os registros anteriores para impedirem de efetuar a viagem proibida. 

Apesar de se tratar de um feito de orgulho nacional, o registro original da viagem de Sir Francis Drake à volta do Mundo (1577 /18580) desapareceu de forma estranha. Parece ter sido decretado um embargo a outros relatos da grande viagem, pois de que outro modo explicar que tão grande aventura não tenha sido contada durante mais de uma década? 

O segredo gerava problemas de recrutamento de tripulantes como de manutenção do moral em longas viagens. Capitães que procuravam novas tripulações para navegarem em águas inexploradas procediam com cautela para não assustarem os homens e, depois, no mar, receavam que os fatos perigosos instigassem a amotinação. 

Os impérios em expansão contraíram a obsessão de guardar segredo e, no Império Romano, por exemplo, os mapas do Mundo se destinavam ao Governo exclusivamente e era crime um cidadão possuir algum. Talvez isso nos ajude a compreender por que não chegaram até nós nenhum dos mapas originais de Ptolomeu. 

O segredo das potências navegadoras na idade dos descobrimentos se tornou a base de extravagantes reivindicações. Historiadores portugueses, decididos a insinuar que viajantes portugueses “descobriram” realmente a América antes dos espanhóis, argumentaram que tais viagens não teriam sido registradas. 

A derrota da política do segredo viria de um quadrante inesperado e não seriam espiões ou traidores que a derrotariam, mas sim uma nova tecnologia que gerou uma nova espécie de mercadoria. Depois do advento da imprensa o conhecimento geográfico passou a ser acondicionado e lucrativamente vendido. 

Claro que existia um comércio de cartas marítimas que alguns transformaram em modo de vida. Vários mapas copiados à mão adquiriram uma forma que satisfazia os navegantes do Mediterrâneo e os autores de cartas de navegação geriam prósperas empresas. Mas, o monopólio originou um mercado negro que oferecia obra desleixada e falsificações que diziam ser “originais roubadas”. 

À medida que o tráfego marítimo para a Ásia se tornou mais competitivo, foram surgindo novas recompensas para fragmentos de informações geográficas, como pistas para lugares secretos de abastecimento de água, portos seguros ou caminhos mais curtos. 

Empresas privadas elaboraram seus próprios atlas secretos e, a Companhia das Índias Holandesas, por exemplo, contratou os melhores cartógrafos e fez uns 180 mapas, cartas e esboços revelando as melhores rotas à volta da África para a Índia, para a China e ao Japão. De forma geral, as cartas governamentais oficiais só eram colocadas ao alcance do público quando o que continham já se tornara do conhecimento comum. 

A redescoberta da “Geografia” de Ptolomeu e os mapas encontrados com os manuscritos bizantinos deram origem ao autor de mapas profissional e, enquanto as cartas satisfaziam as necessidades dos marinheiros, os mapas tinham um objetivo muito mais importante. Além de decorativos, ajudavam os estudiosos, os sacerdotes e os mercadores a orientar-se no mundo inteiro. 

A profissão dos autores de mapas não tinha qualquer base no Trívio ou Quadrívio medievais e agora Ptolomeu fornecia-lhes um texto para tornarem seu trabalho sério e respeitável. Ptolomeu compreendeu e retratou o mundo todo e, além disso, ele abriu o caminho para a cartografia matemática. E, uma vez marcado o Mundo por latitudes e longitudes, todos os lugares podiam ser situados num esquema que todo o Mundo podia utilizar. 

A Bíblia de Gutenberg saiu do prelo em 1454 e, não obstante a clerical desconfiança de qualquer versão da Sagrada Escritura feita numa máquina, recebeu o apoio principal da Igreja. Em 1480, encontravam-se tipografias em 111 cidades da Europa e em 1500 seu número já era de 238. Essas impressoras ofereciam livros que não se encontravam em igrejas como os clássicos antigos de Aristóteles, Plutarco, Cícero. César e, quando foi possível adquirir essas obras no mercado, surgiu um novo incentivo para as pessoas aprenderem a ler.

Que sorte a “Geografia” de Ptolomeu existir! Tinha tudo quanto necessário para fazer um belo livro e um produto vendável, e ao mesmo tempo divulgava a versão autêntica do planeta. Antes mesmo de 1501 as impressoras produziram 7 edições da Geografia de Ptolomeu e, no século seguinte, havia pelo menos 33. O nome de Ptolomeu no rosto tornava um livro respeitável, do mesmo modo que mais tarde aconteceu com o de Webster em relação aos dicionários americanos. 

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