O Que Era a “Teoria dos Antípodas”? Por Que Muitos Não Aceitavam Uma Terra Esférica? O Que Significava o Sistema de “Grelha” Idealizado Pelos Gregos?

 

As clássicas teorias dos antípodas ([1]) descreviam uma intransponível zona que rodeava o equador e que nos separava de uma [1]) descreviam uma intransponível zona que rodeava o equador e que nos separava de uma região habitada do outro lado do globo e, consequentemente, isso suscitou sérias dúvidas na mente cristã quanto à esfericidade da Terra. Os que viviam na parte de baixo dessa zona não podiam ser da raça de Adão ou incluídos como redimidos pela morte de Cristo.

Se uma pessoa acreditava que a Arca de Noé fora parar no Monte Ararat a norte do equador, então não havia maneira de criaturas vivas terem chegado a um antípoda. Para evitar possibilidades heréticas, os cristãos preferiam acreditar que não podia haver antípodas, ou mesmo, se necessário, acreditarem que a Terra não era esférica. Os geógrafos da antiguidade não tinham se preocupado com tais problemas. 

Mas nenhum cristão podia encarar a possibilidade de existirem homens que não descendessem de Adão. A crença em antípodas tornou-se mais uma das acusações comuns contra os candidatos à fogueira. Alguns conciliadores tentaram aceitar uma Terra esférica por razões geográficas, embora continuassem a negar – por razões teológicas – a existência de habitantes antípodas. Mas, o seu número não se multiplicou. 

Geógrafos cristãos encontraram um tesouro de recursos nas antigas fantasias e, desdenhando a ciência pagã que era considerada ameaça à fé cristã, os seus preconceitos não incluíam os mitos pagãos. Estes eram tão numerosos e tão contraditórios que satisfaziam aos mais dogmáticos objetivos cristãos. Apesar de temerem os cálculos muito aproximados da realidade de Erastóstenes, Hiparco e Ptolomeu, adornavam alegremente seus piedosos mapas que tinham Jerusalém como centro. 

 

Enquanto uma Terra esférica era a base da cartografia grega, uma Terra plana era a dos Chineses. Na altura em que Ptolomeu fizera seu o trabalho no Ocidente, cartógrafos chineses criaram técnicas de grelhas de mapas e uma rica tradição de cartografia do Mundo, a qual cresceu sem o amnésico interregno que atormentou o Ocidente.

Os Gregos também tinham elaborado seu sistema de grelha por meio de linhas de latitude e longitude tão facilmente traçadas à volta de uma esfera. Mas, como era muito difícil projetar uma superfície esférica numa folha plana, na prática o sistema de grelha helênico (de latitude e longitude) não era diferente do que teria sido se eles tivessem concebido a superfície da Terra como sendo plana. 

Visto o sistema de grelha helênico ter nascido dos requisitos de uma forma esférica, a grelha retangular chinesa – que tornou possível toda a sua cartografia – deve ter tido outras origens completamente diferentes. Quais? Na consulta aos antigos registros encontramos referências a mapas e a seus usos. 

A China era simultaneamente a criatura e o criador de uma imensa burocracia que tinha de conhecer as características de suas extensas regiões. E, quando o imperador Zhou viajava pelo seu reino, o geógrafo real ia a seu lado, explicando-lhe a topografia e os produtos característicos de cada parte do país.

No apogeu da cartografia religiosa na Europa, os Chineses avançaram firme no sentido da cartografia quantitativa. Antes mesmo de Ptolomeu ter feito o seu trabalho em Alexandria, um pioneiro chinês já tinha projetado uma rede de coordenadas acerca do céu e da Terra e calculado na base dela. Passados dois séculos, o Ptolomeu chinês – Pei Xiu – aplicou essas técnicas para fazer um mapa da China. 

No prefácio de seu atlas, Pei Xiu deu instruções para se fazer um mapa na escala devida, com grelhas retangulares: _ “Se traçarmos um mapa sem as divisões graduadas, não existiria maneiras de distinguir entre o que é perto ou longe. Assim, mesmo que existam grandes obstáculos como altas montanhas ou grandes lagos, tudo pode ser tomado em consideração e determinado. Quando o princípio da grelha retangular é devidamente aplicado, então o reto e o curvo, o próximo e o distante não podem ocultar-nos nada da sua forma”.

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([1]) Quem, em relação a outra pessoa, vive do outro lado da Terra. Habitante de um lugar, no mundo, diametralmente oposto a outro: o japonês é antípoda do brasileiro.