O QUE É O TEMPO II

De que tamanho é o tempo presente? Por que achamos que o presente é o momento que vivemos e temos, disso, uma sensação de largura, do comprimento do presente? O futuro, para nós, é algo que está a partir da próxima hora, ou até do próximo minuto, mas, a sensação do presente parece ir até o fim do dia. Por outro lado, o passado, para nós, está ali, a partir de ontem para trás.

Talvez fazemos essa separação entre futuro e passado porque as expressões amanhã e ontem são bem mais fortes do que a próxima hora e a hora passada. No meio disso, então, fica o hoje, o presente, do tamanho do dia todo.

Pelo fato de a consciência poder ir bem longe no passado, ganhamos uma espécie de inércia que usamos ao inverso, partindo do ponto presente e avançando, dando-nos, então, aquela sensação de comprimento do presente.

Mas, analisando bem, o presente é muito curto, praticamente inexistente. Veja a roda abaixo, girando no sentido das setas. Ela representa, aqui, a passagem do tempo, o verdadeiro “relógio”, em relação ao qual os demais relógios marcam o tempo. A roda abaixo não faz medidas, não é subdividida. É mais a base sobre a qual a consciência percebe o tempo. Percebe e projeta, pois, fora da consciência não existe tempo.

 
   

Vamos supor que o presente esteja no ponto A. Podemos dizer, então, que B ainda virá a ser presente e que C já foi presente. B vai se tornar passado, mas, do jeito que está o desenho, C virá de novo e, depois, B. É como ir para o passado (ou fazer o passado voltar).

Para resolver isso, em vez de criarmos uma roda que gira, criamos uma espiral que evolui:

Com isso, C ficou para trás e nunca voltará e B virá, ou melhor, passaremos por B (ou não!).

Esta representação é até melhor, pois a espiral pode ser considerada como a evolução de cada um. Enquanto a tua espiral estiver girando, você está vivo, passando (ou se conscientizando) por C, A, B, ...

Roda da vida ou espiral da vida?

A roda dilui presente, passado e futuro, juntos. A roda sempre girou, sem início e sem fim. A roda confirma a consciência. A espiral representa a própria consciência, marcando o “tempo” real.

Apesar da sensação de tempo desaparecer com o fim da consciência (morte ou espécie de morte), consigo perceber que a roda continua a girar. O que percebe isso é essa mesma consciência que pode perscrutar o passado (a extra consciência), onde tudo pode ser perpassado, apesar de congelado. Cada momento no passado está congelado. Posso ir lá, mas, não posso revivê-los ou interagir com eles.

Se a roda continua a girar, o futuro vai além de mim. Não posso perscrutá-lo porque ele ainda não é momento, não está congelado. Um futuro virá sem mim, com certeza, mas, como ele será? Ele será sem mim. Não consigo perscrutar meu futuro, claramente, enquanto vivo, mas, ao me imaginar morto, consigo ver claramente que a roda continua a girar e, de certa maneira, consigo perscrutar o futuro dos que permaneceram vivos, talvez não claramente, mas, como deveria ser o futuro daqueles que eu não influencio.

Tudo o que eu não influencio seguirá seu curso normal, ou seja, o futuro será consequência das influências que estão ocorrendo agora. Aquilo que eu influencio sofrerá alterações mais fortes, de certa maneira, seguindo um curso normal também.

Nota-se, claramente, que não há como existir um futuro pronto, pré-determinado. Cada um influencia alguma coisa, e todos influenciam tudo. Assim como pode-se dizer que uma plantinha tende a se tornar uma árvore frondosa, isso vai depender de cada momento dela, das influências que agirem, sejam contra ou a favor. O futuro nasce como uma árvore e uma pessoa nasce a cada momento. São esses momentos que ficam, depois, congelados no passado, sem retorno e sem uma reconvivência. São como tijolos assentados numa parede. Acima do último tijolo assentado, nada há.

A árvore que não teve ainda a última influência para ter frutos, não terá frutos.

Há duas maneiras teóricas de ir para o futuro: anular as influências ou dar um salto sobre as influências. Anular as influências que transformarão a plantinha numa árvore frondosa é o mesmo que arrancar a plantinha pela raiz. É o mesmo que eu morrer. Não haverá árvore frondosa no futuro; não existirei no futuro.

Influência não é apenas algo praticado por um agente. Ela é algo em si. Por exemplo, a influência que mantém uma montanha intocável. Se isso mudar, a montanha pode não ter um futuro.

Há apenas uma maneira de saltar sobre as influências: a velocidade das influências tem que ser acelerada de acordo com o comprimento do salto.

Para eu ir para 2014 em 1 segundo, tudo que deve acontecer até lá deverá acontecer em 1s. Posso nem chegar lá, pois uma influência pode ter me matado numa parte desse futuro. Eu teria que pular (anular) as influências que agem sobre mim, ou pelo menos algumas delas. A de meu envelhecimento, certamente não poderei pular, pois é deixar de existir.

Eu poderia me lembrar ou não desse 1s. Se eu não me lembrar, é a mesma coisa que perder a consciência agora e só recuperá-la em 2014. Se eu me lembrar, é a mesma coisa que ter vivido esses três anos que faltam. A velocidade das lembranças é constante. Não há como discorrer uma lembrança completa a uma velocidade maior do que ela ocorreu. Isso só é possível quando se “pinça” apenas fragmentos dela, de uma maneira análoga à transformação de uma música analógica em sua versão digital. Os momentos que faltaram serão como perdas de consciência naqueles instantes.

Então, não tem como eu saber se fui para o futuro. Mas, outra pessoa pode saber que eu realmente fui? Não, não pode, pois, da mesma maneira que tenho meus momentos, essa pessoa, e qualquer outra, tem os mesmos tipos de momentos, o que significa que as lembranças dela seguirão o mesmo padrão que as minhas.

São os calendários, relógios e lembranças picadas do passado que nos fazem quase que ver algo que chamamos de tempo. Esses “dispositivos” criam quadros nos quais nossa consciência coloca fatos (ou pedaços de fatos) e com isso é que quase conseguimos enxergar aquilo que chamamos de tempo. Vendo o passado, acabamos transportando quadros vazios para um momento que virá, desejando, assim, ver o que chamamos de tempo futuro. Com isso, então, estendemos os quadros ao infinito passado e, também, ao infinito futuro, criando, assim, uma entidade contínua (sem começo e sem fim) que chamamos de tempo.

Os fatos são picotados, colocados em quadros da lembrança porque é impossível cada um lembrar-se de cada segundo passado de sua vida, ou seja, não conseguimos lembrar de cada um dos nossos presentes passados.

Os partidários da Teoria do Big Bang têm certa razão quando dizem que o tempo começou com o big bang, que antes não havia o tempo. Tem certa razão porque o tempo nasceu na consciência, através da sensação do espaço físico e do espaço psíquico, contrapondo-se ao vazio e ao nada. Coisas difíceis de serem compreendidas pela maioria das consciências.

Essa entidade contínua, que chamamos de tempo, não existe, em absoluto. A sensação de continuidade é dada pela consciência que percebe as seguintes entidades descontínuas (uma em relação à outra, em termos de definição):

Espaço - Onde se pode colocar alguma coisa dentro, mesmo essa coisa que chamamos de tempo. O espaço pode ser infinito.

Nada - Onde não se pode colocar qualquer coisa, nem mesmo isso que chamamos de tempo. O nada não é finito e nem infinito.

Universo - Onde tem, no mínimo, energia. Menos que energia é o nada (não-espaço) ou é o vazio (espaço).

Matéria - Energia condensada. Esta expressão, condensada, significa impenetrabilidade por entidades que tem a mesma vibração energética, pois, há muitas outras entidades que atravessam a matéria como se a mesma não existisse.

Mente - Espaço onde está alojada a consciência. A consciência define o espaço mental, mas não o ocupa inteiramente. O espaço mental é infinito, pois, a sensação de tempo nasce aí e pode ir ao infinito, para sempre.

Tempo Contínuo - É um atributo da mente, visualizado no espaço físico ou no espaço psíquico. Note que, mesmo sendo um atributo da mente, o tempo não é uma ilusão, assim como o sentido do EU não é uma ilusão.

Cada um tem seu próprio sentido do EU e, com ele, seu próprio sentido de tempo. Esse sentido de tempo que uma pessoa tem pode concordar com o meu sentido de tempo ou não. Isso vai depender de variações que ocorrem com o EU de cada um.

Em outras palavras, o tempo é uma entidade relativa, derivada do espaço.

Relógios (ou coisas semelhantes - como o giro do planeta Terra, pulsos eletromagnéticos, etc.) não marcam tempo, pois são cíclicos. Para que haja continuidade, é necessário que aqueles ciclos sejam contados: 6 ciclos de 12 horas perfazem 3 dias.

A consciência não é cíclica, mas, até onde sabemos, ela tem um início. O que tem início é menor que o infinito. A sensação de tempo que ela nos dá, sugere que ela pode não ter um fim. Se ela não tiver um começo, também não tem um fim. Tendo ou não tendo um começo no espaço mental, e não tendo um fim, ela, eventualmente, pode ocupar todo o espaço mental. Isso, mais uma vez, sugere, que é a consciência que define o espaço mental, a mente.

Brasilio – Dezembro/2011.