O PAPEL DO PROFESSOR NA APRENDIZAGEM

Liane Göcthel[1]

Maria Helena de Souza Machado[2]

RESUMO: este artigo apresenta elementos importantes para a reflexão sobre o papel do professor na aprendizagem dos alunos. Neste sentido, o texto discute como deve acontecer na prática o trabalho docente, num caráter mediador, que oportunizará a construção do conhecimento.

Palavras- chave: professor; aprendizagem; prática e aluno.

 

INTRODUÇÃO

 

A ação docente exige reflexão e comprometimento em todo tempo, para a efetiva aprendizagem dos sujeitos, desde que o professor toma o conhecimento de que turma irá trabalhar no respectivo ano letivo, até o momento em que sua prática se torna real dentro da sala de aula, em sua intervenção e acompanhamento dos alunos. O papel do professor é o de mediador do processo de aprendizagem, aquele que junto com o aluno constrói o conhecimento, e não de uma enciclopédia ambulante, que tem todo o conhecimento e passa informações para os educandos, como se fossem tábulas rasas, onde informações desconexas são registradas; sem provocá-los a serem mais participativos e críticos. A prática do educador diante do processo de aprendizagem, esta fundada em uma teoria que justifica seu trabalho e a aprendizagem, ou não, dos sujeitos.

 

O papel do educador

Há muitas décadas, o trabalho docente sempre foi compreendido como o de transmissor do conhecimento. O professor tinha todo o saber e tinha que “passar” toda informação e conhecimento para os alunos, sem conhecer sua realidade, sem ter uma relação dialógica com eles, sem considerar os níveis de desenvolvimento da criança, entre outros elementos.

O mundo está em constante mudança. Embora muitos ainda pensem na figura do professor como alguém que transmite conhecimento, que sabe “tudo”, o trabalho docente tem sido alvo de reflexão permanente.

 A prática docente não pode ser mais encarada como a mera reprodução de informações e transmissão de conhecimento. Nada disto! O trabalho do professor implica primeiramente, em conhecer a realidade de seus sujeitos, em estabelecer uma relação de confiança, amor, respeito e diálogo. Ele deverá construir um ambiente prazeroso para a aprendizagem e não um lugar de opressão e medo, fugindo do estilo de educação conservadora. Pois, nesse modelo autoritário, as crianças acomodam-se nas classes enfileiradas umas atrás das outras, sem falar ou levantar do lugar, só quem pode falar é o professor. Sobre isto FREIRE (1987, p.44) afirma: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. A aprendizagem acontece no diálogo, nas atividades práticas, na problematização e reflexão, portanto, não acontece numa turma silenciosa, onde só quem tem direito de fala é o professor.

O trabalho docente que pretende formar alunos críticos, reflexivos, participativos e autônomos, conforme os objetivos do ensino fundamental, previstos na LDB 9394/96, necessita que, o professor conheça os conteúdos a serem trabalhados, trazendo significação para os estudantes.

Segundo FREIRE (1987):

A educação como prática da liberdade, ao contrário naquela que é prática da dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente dos homens. (p. 40)

Sendo assim, o trabalho do educador num caráter emancipatório e não de dominação busca estabelecer uma relação com a realidade concreta dos alunos. A leitura de mundo dos sujeitos é considerada na hora do planejamento, para que assim os conteúdos trabalhados na sala de aula não estejam distantes da realidade dos estudantes. Ainda, é importante que o educador conheça e respeite as fases do desenvolvimento do aluno, entendendo que cada criança tem o seu tempo e ritmo no processo de aprendizagem. De acordo com PIAGET (1970) apud CAETANO (2010) o ser humano possui níveis de desenvolvimento cognitivo. Esses níveis de desenvolvimento têm caráter de graduação sucessiva e integrada, ou seja, tem uma sequência, um estágio anterior esta ligado ao estágio seguinte, podendo ocorrer uma diferença de ritmo em cada criança. Neste sentido, o trabalho do educador deve estar voltado para uma prática mediadora que propõe a construção do conhecimento e não a memorização e reprodução de informações.

A autonomia do professor dentro da sua sala de aula é um fator extremamente importante para que sua ação-prática seja realmente mediadora. O educador que tem autonomia dentro da sala tem a oportunidade de escolher como será sua práxis: autoritária, conservadora, com uma rotina maçante, como uma grande parte de professores, ou uma mediadora, construtivista, que busca metodologias e estratégias que contribuirão para uma rotina prazerosa, que traz significação para os estudantes e deixa boas lembranças para a vida toda.

A ação do professor reflete o tipo de embasamento, teoria que utiliza como suporte para seu cotidiano, para seu planejamento, para determinar o sucesso ou fracasso dos educandos. BECKER (1992) aponta três tipos de teorias adotadas no processo ensino aprendizagem: a pedagogia diretiva, a não diretiva e a relacional. O professor que se apoia na pedagogia diretiva, percebe o aluno na construção do conhecimento, como uma folha em branco, uma tábula rasa onde é inserido o conhecimento a partir das experiências com o meio físico ou social (empirismo). Nesta concepção o aluno vem para a escola sem saber nada e o professor o detentor do saber, ou seja, aquele que sabe tudo transmite o conhecimento para os alunos. O professor fala e o aluno escuta sem interromper. Neste caso não há oportunidade para o diálogo, para a curiosidade e para a crítica, o professor decide e o aluno obedece. Neste caso o planejamento não é flexível.  Na pedagogia-não diretiva o professor intervém o mínimo possível no processo. Pois esta pedagogia apoia-se no inatismo, que percebe o sujeito como alguém que já traz um conhecimento desde o seu nascimento (bagagem hereditária) e que apenas precisa organizá-lo, pois aprende por si mesmo. O professor nesta concepção não é o centro, o detentor do saber, ele é apenas um auxiliador do aluno, não há intervenção pedagógica. O aluno decide o que quer fazer e ou aprender. Parece não haver um planejamento organizado. Já a pedagogia relacional embasa-se no construtivismo. Esta teoria aponta que a construção do conhecimento se dá através da interação do sujeito com sua realidade e com outros sujeitos. O professor e aluno aprendem juntos. Existe oportunidade para a curiosidade, diálogo e participação. A proposta de trabalho considera a realidade dos sujeitos, seus interesses e contribui para uma educação transformadora.

A educação para ser democrática e participativa precisa ter comprometimento, vínculo e profundo respeito para com os sujeitos envolvidos neste processo. Quando se fala em comprometimento com uma educação democrática e emancipatória, que oportunize ao aluno ser um sujeito crítico e democrático, logo surgem muitas desculpas para não se agir e mudar a história da educação num âmbito geral. A responsabilidade sempre é delegada para outro e nunca é repensada.  Mas, o professor é um responsável direto para uma educação democrática e mediadora. De acordo com a atividade de pesquisa e conversa com professores, percebe-se que a responsabilidade é jogada para cima da família, da sociedade, do aluno, e poucas vezes, é apontada como responsabilidade real do professor. É mais cômodo colocar a culpa na família, na realidade, na mantenedora, nos materiais disponíveis do que se pensar: será que é a rotina desconexa da realidade dos alunos ou um planejamento sem intenções claras, inflexível apoiado em teorias que tornam a educação mecanicista sem sentido para os educandos?

A educação democrática inicia-se dentro da sala de aula, na prática diária, no planejamento em cada ação dos educadores. Apenas repensar, encher-se de novas ideias não transforma a realidade e não faz com que a educação seja mais participativa. A transformação vem a partir da reflexão e ação prática de cada educador e de cada escola. O professor pode experimentar esta prática desde o momento que toma conhecimento de que turma vai atender. Ele poderá buscar conhecer seus alunos, os sujeitos do entorno escolar, realizando pesquisa, aproximando-se mais. Ainda buscando ter uma rotina organizada, um planejamento adequado à realidade de sua turma, utilizando recursos disponíveis, material concreto, jogos, explorando o lúdico para mediar no processo de construção do conhecimento, organizando a sala de aula para que o espaço permita a interação dos alunos, a coletividade e a troca de saberes. E não simplesmente como detectado nas conversas com professores de escolas parceiras que, apenas verificam o plano de estudos entregue pela supervisora e se dedicam a trabalhar repetidamente os conteúdos elencados, sem sentido nenhum, sem considerar os conhecimentos prévios dos alunos. Sem permitir o diálogo, e trabalhos em grupos porque uns copiam dos outros e vira uma grande bagunça.  Também reservam um dia especial para cobrar, classificar os alunos com uma avaliação: se sabem ou não sabem. Este tipo de ação não desenvolve uma educação democrática, ao contrário, institui uma educação bancária, opressora e excludente, como a sociedade de hoje, que se deseja modificar com urgência.

Uma forma de o professor ampliar a reflexão e a prática, no sentido emancipatório e mediador, se dá primeiramente, na sua auto avaliação: quem eu sou, o que estou fazendo está contribuindo significativamente para meus alunos, eles estão construindo o conhecimento, estou respeitando meus alunos, eles estão mais críticos e participativos, só eu sei ou eles têm muito para ensinar? Quando ele abandona a avaliação mecanicista, classificatória e/ou autoritária e passa a utilizar uma avaliação mais reflexiva, diagnóstica e participativa, ou seja, que passa a fazer parte do processo e não ser uma ação isolada no processo de ensino/aprendizagem.

Também acontece quando o professor percebe que sua rotina não deve ser algo cansativo e ou desmotivador. A rotina da sala de aula necessita ser um momento de construção prazerosa e significativa do conhecimento com intenções claras, pensando no desenvolvimento como um todo do sujeito. Segundo DA SILVA (2015):

Embora o processo de construção do conhecimento seja do próprio sujeito, ele acontece a partir da interação com o ambiente. E sendo a escola um espaço planejado para a promoção da aprendizagem, é tarefa dos professores e demais profissionais empenhar-se na oferta de um ambiente e de uma proposta que permitam às crianças um processo promotor da autonomia intelectual, social e afetiva. Neste sentido, a escola precisa então preocupar-se em promover uma diversidade de experiências que favoreçam o desenvolvimento global dos alunos. (p.1).

Ainda segundo DA SILVA (2015), a organização da rotina e do planejamento diário apresentando atividades permanentes, coletivas, individuais, sequenciadas e de sistematização beneficia o processo de ensino aprendizagem, isto é, intensificam este processo.

A avaliação é um instrumento de intervenção na construção do conhecimento que norteia as ações do professor diariamente em sua sala de aula. E ainda oportuniza um momento de sistematização e consolidação.

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias (LIBANEO, 1994, p.195).

Porém, para isto acontecer, o educador precisa desprender-se de uma prática diretiva, onde ele é o centro, o detentor do saber e trazer para dentro de sua sala de aula uma prática mais relacional, onde os interesses dos alunos são levados em conta e os conteúdos são significativos para eles. E não uma prática não diretiva, onde não há intervenção do professor, a mediação é deixada de lado.

"O confronto que se passa na sala de aula não se passa entre alguém que sabe um conteúdo (o professor) e alguém que não sabe (o aluno), mas entre pessoas e o próprio conteúdo, na busca de sua apropriação." (CHAUÍ, 1980, in: WACHOWICZ, 1991, p. 42, apud HOFFMANN, 1991).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfim, para uma educação transformadora igualitária e desafiadora, é necessária uma ação prática dentro da sala de aula, onde o material concreto é parte integrante das ações docentes, os conteúdos são pensados e trabalhos de forma mais significativa para os sujeitos.  O fato é que, para acontecer uma educação com caráter democrático e emancipatório, o educador precisará mudar sua forma de trabalhar dentro da sala de aula. O papel do professor precisará ser de um mediador. Alguém que está disposto a intervir na construção do conhecimento de seus alunos. Evidentemente, aquele que respeita o sujeito e sua realidade, suas particularidades. Um educador que constrói o conhecimento junto com os alunos, e que favorece a troca de ideias entre eles. Que utiliza a avaliação como um instrumento para o diagnóstico no seu dia a dia, de todas as atividades planejadas e pensadas para sua rotina, que indicam os avanços de cada sujeito, as necessidades onde se pede um olhar mais atento para a intervenção e as potencialidades de cada sujeito.


 

Referências:

BARBOSA, Maria Rita Leal da Silveira; MARTINS, Angélica Pinho Rocha.

AVALIAÇÃO: Uma prática constante no processo de ensino e aprendizagem, 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n°9394/96. Brasília, DF, 1996. – 5ª edição.

BECKER, Fernando. Modelos Pedagógicos e modelos epistemológicos. Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/2833033/modelos-pedagogicos-e-modelos-epistemologicos/5

CAETANO, Maria. 2010. A Epistemologia genética de Jean Piaget in Boletim Online do Instituto de pedagogia.  Disponível em: http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1797:a-epistemologia-genetica-de-jean-piaget&catid=46:na-midia&Itemid=97 – acesso em 07/02/2014).

DA SILVA, Rogéria Novo. Rotina escolar: potencializando o processo de aprendizagem e de ensino, AVA março 2015.

DELVAL, Juan. Aprender investigando. Tradução de Fernando Becker e Tania Beatriz Iwaszko Marques. In: BECKER, Fernando; MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre: Mediação, 2007, p. 115-128.

FREIRE, Paulo. 1987. Pedagogia do oprimido. 17ª. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, p. 39- 40.

FREIRE, Paulo. 1996. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35 ed. São Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura).

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora: Uma Relação Dialógica na Construção do Conhecimento, 1991.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortez Editora: São Paulo, Coleção Magistério 2°Grau Série Formando Professor, 1994.

 

VASCONCELLOS, Celso dos S. Metodologia Dialética em Sala de Aula. In: Revista de Educação AEC. Brasília: abril de 1992 (n. 83).



[1] Estudante do 8º semestre do curso de Pedagogia- UFPEL

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[2] Estudante do 8º semestre do curso de Pedagogia – UFPEL

[email protected]