O papel da filosofia na educação e formação humana.

Irzair Ciro Correa[1]

Orientador: Prof. Dr José Carlos Leite.[2]

Muito se tem dito sobre a importância da filosofia como componente curricular da educação básica, mais precisamente no ensino médio das escolas brasileiras. Diz-se que a filosofia é importante para a formação de uma consciência crítica, diz que seu ensino é indispensável para incutir valores morais nos alunos e diz-se também que ela é uma ferramenta indispensável para o exercício da cidadania. Talvez sirva para ambas as coisas, mas com certeza não é para isso ou somente para isso que a filosofia como uma construção do pensamento racional se destina.

Neste trabalho parto do principio de que a filosofia, antes de qualquer coisa, tem o seu valor em si mesmo, mas sua importância para educação será defendida levando em consideração três pontos, a saber:

1. A filosofia como condição de possibilidade para experiência do pensamento com base nos textos “ensinar filosofia” e “resposta a questão o que é o esclarecimento” ambos de Kant;

2. A filosofia como um componente curricular peculiar, pois para seu ensino aprendizagem utiliza a via do conceito, e para fundamentar cito Deleuze;

3. e sua importância como um componente curricular indispensável para formação humana integral, nenhum ser humano estaria completo se abrisse mão de conhecimentos essenciais sobre si mesmo.

1. “Sapere aude” é sentença lapidar pronunciada por Kant em se opúsculo publicado em 1776 em um jornal alemão em resposta a uma pergunta inquietante da época: o que é o esclarecimento? “Sapere aude” quer dizer ousa pensar por si próprio, ou seja, fazendo uso do seu próprio entendimento. De acordo com Kant os homens estão mergulhados na menoridade das quais eles próprios são culpados devido a dois fatores principais: falta de resolução e coragem de fazer do entendimento sem a direção de outra pessoa e inércia e covardia. É tão cômodo se manter sob tutela que a maioria dos homens mesmo depois que a natureza os libertou da minoridade se mantêm de bom grado sob direção de outrem. Ainda de acordo com Kant é comum os homem afirmarem que se

Possuo um livro que faz as vezes de meu entendimento; um guru espiritual, que faz às vezes de minha consciência; um médico, que decide por mim a dieta etc.; assim não preciso eu mesmo dispender nenhum esforço. Não preciso necessariamente pensar, se posso apenas pagar; outros se incumbirão por mim desta aborrecida ocupação..”[3]

Sobre o fato dos homens se recurarem a pensar por si mesmo a gravidade chega a tal ponto que Kant afirma que uma revolução pode produzir a queda do despotismo e mudar a forma de governo, mas dificilmente ocorrerá uma revolução que promoverá uma reforma no modo de pensar.

Kant entendia que é algo natural e até desejável que os imaturos segundo a natureza não pense por si mesmo para evitar o que ele chama de “tagarelice precoce dos jovens” e a arrogância, em sua opinião mais difícil de sanar do que a ignorância, porque quando não sabe, sempre é possível aprender, mas quando se aprende errado ou acha que sabe o que realmente não se sabe, ou não se sabe como deveria saber é difícil consertar.

Não se espera que o homem comece a pensar como que num passe de mágica, há um caminho que para percorrer para acessar a experiência do pensamento. É a partir experiência de cada homem que se deve começar, partir do vivido, daquilo que comum. A experiência do pensamento filosófico deve partir do senso, mas não deve permanecer nele, é imperativo que avance primeiro em direção a juízos intuitivos e destes aos conceitos que são formados pela razão. Esse é caminho da experiência do pensamento preconizado por Kant que afirma peremptoriamente que não se deve ensinar pensamentos, mas sim ensinar a pensar e que o homem que aprende a pensar conforme o estatuto da razão filosófica sempre ganha alguma coisa com esse ensino, tornando-se mais exercitado e atinado, se isso  não acontecer perante a escola, com certeza se dá para a vida. A filosofia possibilita a experiência do pensamento devido ao seu método peculiar denominado zetético, ou seja, investigante. Então retomo a frase lapidar inicial e digo com Kant “sapere aude”, pois, a filosofia proporciona as condições de possibilidade para a experiência do pensamento.

2. A filosofia tem um método peculiar denominado investigante e diferente das demais disciplinas ela utiliza a via dos conceitos para tentar acessar uma determinada verdade ou refletir sobre algum problema. Convém explicitar que Deleuze entende que há três potencias do pensamento. É possível ao homem formatar o seu mundo através de três maneiras diferentes utilizando-se da ciência, da arte e da filosofia.

A ciência se constitui como uma tentativa de dominar a natureza que consiste na observação, formulação de uma hipótese, experimentação, generalização e elaboração de teorias. Mas a ciência enquanto a potencia do pensamento produz funções. Por exemplo: quando definimos a velocidade em função do tempo e do espaço, um objeto é mais veloz que o outro quando percorre o mesmo espaço em menor tempo.

Criar arte é uma característica distintiva do homem e sua marca enquanto ser que transcende o mero existir tendo em vista apenas o que é ditado pelo instinto. A arte é a potência criadora, que vai além dos itens básicos constituinte de todas as espécies que é: nascer, nutrir, reproduzir segundo a espécie e fatalmente morrer.

É comum às plantas nascerem, nutrirem via fotossíntese, crescerem tortas ou longilíneas reproduzirem segundo sua espécie lançando sementes e depois de algum tempo definharem e morrerem. O mesmo ocorre com os animais ditos irracionais.

Mas o homem marca sua passagem pelo meio em que habita criando algo que vai além do plano imanente e material. Uma música, uma pintura, um poema, escultura ou obra carrega a capacidade de registrar, de fixar e marcar a existência do homem deixando algo como legado a posteridade. Os que contemplam posteriormente esses feitos humanos têm sentimentos e percepções sobre tal obra, de forma que a arte produz afetos,cada um tem sua própria percepção perante uma obra de arte senso afetada por ela á sua maneira.

Como potência criadora a arte e a ciência são importantes, mas fazer não é ciência nem filosofia, recorrer aos métodos científicos não possibilita acessar as possibilidades das artes nem garante o domínio do campo filosófico que tem suas peculiaridades.

Em nenhuma outra parte, exceto através de conceitos filosóficos e por isso Deleuze já afirmava que a filosofia “é a arte de inventar, de criar, de fabricar conceitos”. A filosofia tem características próprias obviamente, distintas das artes e das ciências, ela é eminentemente reflexiva e discursiva e trata dos mais variados assuntos que só poderá ser bem analisada através do aporte dos conceitos filosóficos.

O homem enquanto ser racional lida com questões que se recusam a calar e qualquer um que não se recuse a pensar são inquietados por elas, algumas são inevitáveis por que vem de fora e nos aflige, mas outras são irreprimíveis porque estão dentro de nós e nos constrange. Questões acerca do certo e do errado, justo e injusto, acerca do belo, do ser entre outras. Não obstante Gramsci afirmar que “todo homem é filosofo, na medida em que de maneira mais menos intensa e duradoura ele pensa sobre os problemas da vida”, acredito que na maioria das vezes não é o bastante para dar conta das inquietações que nos acometem. É preciso lançar mão dos conceitos.

E filosofia é um pensamento conceitual. De acordo com Gallo sintetizando Foucault a filosofia é uma busca da sabedoria entendendo o conhecimento como algo que vem,  mas também é um trabalho de cada um sobre si mesmo, um modo de construir a própria vida.

Dessa forma quando Heráclito consolidou o conceito de devir afirmando que tudo flui e é característica do ser essa constante passagem de uma coisa ao seu contrário, de sorte que “ninguém banha duas vezes no mesmo rio” ele estava dando uma forma única de interpretação acerca de um assunto lançando mão da filosofia como potencia do pensamento. Heráclito entendia o fluxo, o devir como um estatuto do Ser, de alguém que estava em constante mudança, tal qual o dia sucede, o inverno dá lugar ao verão, após frio vem o calor, tempestade e calmaria, via no jovem de hoje o ancião decrépito de amanhã, no aluno o mestre em potência e assim sucessivamente, uma alternância contínua, ininterrupta, interminável, inexorável.

O devir pode ser encontrado em outros filósofos, mas Heráclito já esta consagrado pela tradição filosófica como o filosofo que diz que “ninguém banha duas vezes no mesmo rio” que os contrários se sucedem e mutuamente se complementam de forma que há uma “harmonia dos contrários” de sorte que mesmo quando dois exércitos peleiam no campo de batalha é porque estão em harmonia e concordaram em lutar. Não podemos tirar-lhe o crédito porque ainda se diz entre nós que “quando um não quer dois não brigam”.

Contemporâneo de Heráclito e provavelmente compartilhava das mesmas angústias do seu tempo Parmênides concordava com ele até certo ponto sobre o devir. Mas felizmente foi além e conferiu um novo estatuto ao Ser. Mesmo entendendo que as mudanças são inevitáveis, Parmênides fixou ontologicamente o Ser ao afirmar que “o que é, é. Pois como algo que não é pode vir a ser, como algo que é, pode deixar de sê-lo. Assim Parmênides dá crédito a Heráclito, mas afirma que não obstante as mudanças há algo que permanece tal como era conferindo uma identidade ás coisas. Então mesmo mudando, a criança vira adolescente, que chega ser jovem, depois adulto, depois senil permanece nele um substrato que preserva sua identidade enquanto tal. De fato as pessoas mudam, mas por conta de um estatuto ontológico, permanecem as mesmas.

Está constituído aqui um problema filosófico que, indubitavelmente, só será possível refletirmos sobre isso de maneira minimamente satisfatória se lançar mão da via do conceito de outra forma acredito que qualquer tentativa de entender essa aporia falece.

E o que fazer então para entender o “cogito ergo sum” cartesiano se não através da via do conceito. O que dizer então da “dúvida metódica” onde Descartes estabelece os parâmetros para chegar ao conhecimento verdadeiro não apenas na especulação filosófica, mas também na pesquisa cientifica. Se não for através dos conceitos como entender a crítica kantiana que subverte o papel da razão que vai de juiz a ré. De entidade julgadora a ré em tribunal onde a razão julga e está posta para ser julgada. Há que se apropriar dos conceitos.

A própria ideia de Deleuze de que a filosofia é arte de fabricar conceitos, é um conceito que se tem para chegarmos a experiência do pensamento. Por se constituir em uma forma peculiar de saber e dotado de suas especificidades a filosofia se constitui como um importante componente curricular na educação oferecida no ensino médio. Ressaltando que o ensino médio é um momento privilegiado da formação visto que é nesse momento somente nesse, que o estudante tem acesso a uma vasta gama de disciplina, na universidade, se for o caso ele deve optar por esta aquela ciência e o foco se fecha.

A arte como possibilidade criadora é uma potência do pensamento que produz afetos, a ciência como força sistematizadora da natureza produza funções, mas a filosofia como potencia do pensamento e como condição de possibilidade para a experiência do pensamento produz e lança não dos conceitos para o exercício da reflexão.

 

3.

A filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual.

Frase atribuída a Benito Mussolini.

 

A filosofia é uma prática discursiva que tem a vida por objeto, a razão por meio e a felicidade por fim.

André Comte-Sponville.

 

Considero necessário para entender a palavra Formação explicitar que há dois termos tradicionais que indicam de maneira especifica o que isso vem a ser. O termo alemão Bildung e conceito grego da Paideia.  Bildung de acordo com Abbagnano em sei verbete sobre o assunto diz que

No sentido específico que esta palavra assume em filosofia e em pedagogia, em relação com o termo alemão correspondente, indica o processo de educação ou de civilização, que se expressa nas duas significações de cultura,entendida como educação e como sistema de valores simbólicos.

No outro sentido a formação só pode ser entendida in totumse recorrermos a Jaeger e sua magnífica obra “Paideia e formação do homem grego” que para definir o conceito supracitado, também em última instância, não deixa de ser germânico tendo que Jaeger é de Loberich na região da Renânia-Westphália e desenvolveu suas pesquisas sobre o assunto no contexto alemão. Mas dada a abrangência que o termo assume na obra indicaremos apenas a suma que é

a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento" (cit. in Jaeger, 1995: 147).

Kant enfatiza no inicio de sua Pedagogia que o homem é um único animal que precisa ser educado e que o homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz.  A educação exerce um ponto central na formação do homem. Simone de Beauvoir diz que “ninguém nasce mulher, se torna mulher” e Savater corrobora afirmando que “nascemos humanos, mas isso não basta, temos que chegar a sê-lo”. Ambos apontam para ideia de que os seres humanos devem se constituir de alguma maneira para tomar forma, ou seja, deverão ser formados por algum processo que lhe é externo. E a filosofia tem parte substancial nesse processo haja vista que é um conhecimento do homem sobre o homem, sujeito e objeto da pesquisa.

Ainda que Mussolini escarneça e diga que a filosofia não serve absolutamente para nada, que nem boa nem má, tomaremos aqui outro ponto de vista sobre a importância da filosofia como elemento formador do ser humano citando Marilena Chauí acerca da utilidade da filosofia:

Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum, for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos, for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política, for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos, for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. (CHAUÍ, 2003, p. 24).

 Outro ponto de vista porque tomaremos partido de André Comte-Sponville citado em epigrafe e sintetiza a importância da filosofia para o ser humano, nos constituímos humanos também filosofando. E um conhecimento que aborda uma vasta gama de assuntos e debate, reflete, argumenta e problematiza sobre ele utilizando ferramentas conceituais e metodológicas das mais ricas e dinâmicas não pode ser desprezado sob pena de uma formação deficiente e incompleta. De forma alguma se deve abrir mão do conhecimento cientifico, pois conforme Severino

Mas, de per si, os conhecimentos científicos não podem expressar uma razão para nossas escolhas existenciais, para formarmos nossa escala valorativa, para nos sensibilizar à dignidade da vida humana. É preciso recorrer à modalidade do conhecimento filosófico que é onde desenvolvemos nossa visão mais abrangente do sentido das coisas e da vida, que nos permite buscar, com a devida distância crítica, a significação de nossa existência e o lugar de cada coisa nela. (SEVERINO 2002, p. 187).

Ao passo que acessar a experiência do pensamento tendo como ferramenta o conhecimento filosófico nos dá outra dimensão de relacionar com o mundo, pois

(...) em toda a gama de sensibilidades que a constituem: a inteligência (que é percepção de conceitos), a consciência ética (que é sensibilidade aos valores morais), a consciência estética (que é sensibilidade aos valores estéticos, de modo geral), a consciência social (que é sensibilidade aos valores políticos, ou seja, às relações de convivência na sociedade). É toda esta esfera do exercício da dimensão subjetiva da pessoa que nos torna efetivamente humanos. (SEVERINO, 2002, p. 185).

 

E não vislumbro outra disciplina capaz de lidar com a gama de prisma e perspectivas que se apresenta para o ser o humano resolver.

Desde os primórdios do tempo a educação e a formação humana é uma preocupação que angustia o ser humano, sejam gregos, alemães ou nós. E a filosofia tem, através de conceitos, do seu caráter reflexivo, de sua postura argumentativa, de sua capacidade problematizadora muito a contribuir para a educação do homem em seu aspecto formal e em sua formação para a vida enquanto cidadãos éticos e conscientes de direitos e deveres.

Referências.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. trad. Alfredo Bosi. São Paulo, Martins Fontes, 2003

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003.

JAEGER, Werner. Paideia. A formação do homem grego. Trad. Artur M. Pereira. São Paulo, Marins Fontes, 1994.

KANT, I. Ensinar a filosofar. KANT, I. Lógica. 3ª. Ed. tradução de Gottlob Benjamin Jãsche de Guido Antônio de Almeida. — Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 2003. (Biblioteca Tempo Universitário ; 93. Série Estudos alemães). Tradução de : Immanuel Kants Logik cin Handbuch zu orlesungen. - ISBN 85-282-0037-X

KANT, I. Sobre a pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.

 

KANT, I. Resposta à pergunta: que é Esclarecimento? In: Textos seletos.Ed. bilíngue. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 100-1167; KANT, I. Resposta à pergunta: que é Esclarecimento? Tradução de Luiz Paulo Rouanet. Brasília: Casa das Musas, 2008. In Antologia de Textos Filosóficos / Jairo Marçal,

organizador. – Curitiba: SEED – Pr., 2009.

 

LORIERI, Marco Antonio. A Filosofia como elemento formador do humano. In Filosofia e ensinar filosofia / Organizadores Marcelo Carvalho, José Benedito de Almeida Junior, Pedro Gontijo. São Paulo : ANPOF, 2015.

 

SEVERINO, Antônio Joaquim. A busca do sentido da formação humana. Educação e Pesquisa. São Paulo: FEUSP, set/dez 2006, v. 32, n. 3. p. 619-634.

__________________ A filosofia na formação do jovem e a ressignificação de sua experiência existencial. In: KOHAN, Walter (org). Ensino de Filosofia: perspectivas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002, p. 183-194.

 

 

[1] Professor efetivo na rede pública estadual atuando no ensino médio. Aluno do programa de pós-graduação MESTRADO PROF FILO UFMT/UFPR

[2] Professor titular do Departamento de filosofia UFMT

 

[3] KANT, I. Resposta à pergunta: que é Esclarecimento? In: Textos seletos.Ed. bilíngue. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 100-1167; KANT, I. Resposta à pergunta: que é Esclarecimento? Tradução de Luiz Paulo Rouanet. Brasília: Casa das Musas, 2008.