O nascimento de uma poesia...

Brincar de escrever virou mania, pouco me lixando para as classes gramaticais, com as quais sempre briguei na escola. Nunca permiti que uma dúvida gramatical matasse a inspiração. Gosto de cenas de rua, de gente que pergunta pouco, de piadas de boteco, de conversa de gente assim como eu, que mesmo não se conhecendo direito enfrenta o mundo, e vai se descobrindo, espalhando pelos caminhos marcas de sonhos e títulos de poesias inacabadas.

Andarilho urbano esquadrejei os quatro cantos da minha cidade, e a enamorei, puxando conversa com quem me olhava sorrindo.

Dia cedinho, costumava caminhar pela beiradinha da estrada de Sena Madureira, na contramão, para enxergar os carros de frente, pensando assim diminuir o risco de atropelamento.  Como presente de natal ganhei do Estado um belíssimo parque urbano, o Tucumã, mesmo nome do conjunto onde moro. As caminhadas então ficaram mais prazerosas e mais seguras.  A suave brisa matinal afrouxava o riso entusiasmando cumprimentos, mas nenhum dos cumprimentos experimentados igualava-se ao cumprimento daquele senhor catador de latinhas. Ele ziguezagueava varrendo rapidamente o percurso. Encontrava-nos geralmente no mesmo trecho, entre o Tucumã e as Zonas do Distrito Industrial. Voluntariamente tornei-me um de seus auxiliares. Numa das manhãs, percebi o velho parado à beira da trilha conversando sozinho...  Mais próximo dele, testemunhei que aquele velho catador de latinhas conversava com passarinhos...

Não sei por que, mas naquela hora me deu uma inveja danada daquele homem...