Que a loucura teve muitos filhos todos sabem entre eles os preferidos são, o poeta, o mentiroso e o insano, mas a loucura também teve outras crianças, algumas com hábitos bastante esquisitos...

Entre elas, talvez os professores sejam os que melhores representam estas esquisitices, o pai loucura nunca entendeu porque seu pequeno projeto de professor fosse tão curioso e não conseguisse entender que pedra é feita de pau, que água vinha das estrelas e dentro do coração nasce uma flor vinda da luz do sol...

Seu pequeno rebento sempre duvidava... E curioso como ele só, tinha explicação para tudo, porque a evolução é... E por aí ia. A mãe loucura tentava lhe dizer que o vento tinha coração e levava o pensamento da gente embora se não prestássemos atenção...

Nesta época ele sempre ficava só, pois o irmão poeta estava muito ocupado conversando com as estrelas, o mentiroso, este nunca se sabia se estava aqui ou acolá, sempre que podia lhe deixava uma pulga atrás da orelha só para ver o leitor de enciclopédia ficar horas procurando a resposta que não existia...

O pai loucura certa vez convidou os filhos para descerem o rio em um barquinho de papel, enquanto contava como os bichos conversavam com as plantas... O poeta ficava encantado com a sapiência do pai, o insano viajava com ele, e o mentiroso ocupava-se contando um segredo de estado para a mãe. E o projeto de sabe tudo, não concordava com nada...

O tempo foi passando e o adolescente sabichão dava sermões sobre a verdade darwiniana, o conhecimento científico, o Freud disse... Haja chatice, todos corriam dele. E não é que na escola era o único que entendia o professor! Mas um dia, quando já estava crescido e formado docente, o agora doutor sabe tudo, teve que aprender uma nova lição.

O pai e a mãe loucura resolveram fazer uma construção, chamaram o filho sabido.

Filho nós queremos fazer uma construção e precisamos da sua ajuda.

O que querem construir, perguntou o filho.

Queremos construir uma ruína...

Não é possível construir ruína, pois isto é uma desconstrução, argumentou o prendado professor.

Não interessa, queremos que você construa nossa ruína.

Comovido e sabedor que não poderia resolver o problema dos pais, ele tentou desconversar, mas como não deu certo, propôs:

Certo, e onde vou encontrar alguém para construir uma ruína?

Vá até o deserto, sem comida nem água, e fiquem sete luas e sete sóis sozinho, depois vá até a floresta e fique mais sete noites e sete dias, o construtor de ruína vai aparecer para você...

O esmerado professor pensou em protestar, mas, comovido com a situação dos pais e curioso como só ele é, resolveu atender ao pedido dos pais.

E lá se foi ele, o docente dedicado, ficar sozinho no deserto, sofreu bastante, mas aguentou, depois foi para a floresta e o tempo não passava, para se distrair começou a ouvir a água correndo no rio, via a chuva e brincava com seus pingos, ouvia o uivo do vento e o barulho dos animais, ele aos poucos conseguia sentir a floresta, e como ela estava viva...

E os dias foram passando, depois do sétimo dia, o filho retorna, sem encontrar o construtor de ruína, então lamentou ao pai louco, desculpa, não consegui encontrá-lo.

O velho louco perguntou: filho você viu o que no deserto?

Quase nada, só calor e frio à noite, alguns animais peçonhentos e muitas estrelas no céu...

E o que sentiu?

Um grande vazio, solidão e medo.

E na floresta o que viu?

Vi muitos animais, árvores, rios, chuva, vento, etc.

E o que sentiu?

O jovem docente parou e pensou, pensou, pensou

E abriu um enorme sorriso

Pai, eu senti uma pedra feita de pau, senti a água caindo das estrelas, senti nascer uma flor no coração vindo com a manhã, senti o vento falar comigo e os bichos conversarem com as plantas...

Agora entendeu:

Conversar com estrelas, viajar em pé de vento, guiar nuvens, não é atos de insanidade e sim um caminho para a felicidade... O vento, meu filho, tem coração e leva o pensamento embora quando não prestamos atenção...

A vida é o que você quer que ela seja, seja louco ou são, seja com amor ou com dor, seja o que for, a vida somente é, você escolhe se vai guiar nuvens os seguir os ventos, colher as flores ou plantar os frutos, sorrir ou chorar, e não há livros para lhe mostrar como sentir, nem como amar...

 

 

Indajaia Carlos Pires (1) Graduado em História; Professor na Rede Particular de Ensino na cidade de Campo Grande.

Adriana Peres De Barros (2) Graduada em Pedagogia; Especialista em Educação Infantil e Alfabetização e Assistente de Desenvolvimento Educacional na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

Jane Gomes de Castro (3) Graduada em Pedagogia e Ciências Biológicas; Especialista em Ecoturismo e Educação Ambiental e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.