Ariely Stefany Pereira da Silva[1]

Cirley Neto Santos[2]

Fabiana Alves de Andrade[3]

Josilene Cristina de Jesus Aguiar[4]

Lurdes Maciak Bertoletti.[5]

Marlene de Almeida Leite[6]

Noemi Denardin Ferreira[7]

Simone Barbosa Fernandes[8]

Abdias do Nascimento, nasceu em 14 de março de 1914 na cidade de Franca (São Paulo) e faleceu em 23 de maio de 2011 na cidade do Rio de Janeiro. Abdias foi um ícone referencial reconhecido internacionalmente e nacionalmente, por sua luta contra a descriminação, o racismo e a reconhecimento dos direitos civis e humanos da população afro descendentes, por parte dos governantes brasileiros nos parâmetros da Lei, sem distinção alguma em relação aos demais grupos sociais. Também, fundou em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), foi político (Senador e Deputado), Professor Universitário, Escritor, atuou como Ator, se destacou como Artista Plástico, Teatrólogo, Militar, Economista, entre muitos outros fatores que o tornou conhecido  como um dos principais defensores dos direitos da cultura africana dentro e fora do Brasil.

Buscando melhor compreender como a questão do "embranquecimento racial", é que tomamos o capítulo IX do livro: Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado, como base teórica para análise do tema em debate. O Capítulo em destaque,  trás em suas entrelinhas a questão do embranquecimento cultural ou  simplesmente clareamento racial, uma ideologia criada na tentativa de explicar o grande número de afro descendestes no Brasil. Diante esses questionamentos, se cria o termo "democracia racial", que não se passou de uma tentativa de ofuscar e classificar o racismo brasileiro.

Desta forma, Nascimento (1978, p.93), descreve que: “A história não oficial do Brasil registra o longo e antigo genocídio que se vem perpetrando contra o afro-brasileiro /Monstruosa máquina ironicamente designada "democracia racial" que só concede aos negros um único "privilégio": aquele de se tornarem brancos, por dentro e por fora”.

Diante isso, podemos entender "democracia racial" como sendo a representação ideal para classificar o racismo estilo brasileiro: não tão evidente como o racismo dos Estados Unidos e nem legalizado qual o apartheid (sistema político-segregacionista) da África do Sul, mas eficazmente institucionalizado nos níveis oficiais de governo assim como difundido no meio, político, econômico, social, psicológico e cultural da sociedade do país.

Em consonância a isso a classe dominante, como:o governo, as leis, o capital, as forças armadas, a polícia -Possui como aliadas: a imprensa, a produção literária, o sistema educativo e a mídia em geral, que são poderosos instrumentos utilizadas para controle social e cultural. Lembrando, que todas essas ferramentas estão a serviço dos interesses das classes no poder e são usados para destruir o negro como pessoa, e como criador e condutor de uma cultura própria.

Fato este, que contribuíram para com o fortalecimento da ideia que o negro é selvagem e inferior aos demais grupos sociais, ao enaltecimento das virtudes, da mistura de sangue como tentativa de erradicação da “mancha negra”, da operatividade do “sincretismo” religioso; à abolição legal da questão negra através da Lei de Segurança Nacional e da omissão censitária- deixando claro a manipulação desses recursos e meios de comunicação.

A palavra - chave desse predomínio da brancura, e do capitalismo que lhe é peculiar, responde a termos degenerativos como: miscigenação, aculturação e assimilação. Entretanto, é obvio que por trás de toda essa face hipotética, a convicção voltada a subalternidade  da população africana e seus descendentes, continua intocável. Sobre esse aspecto, Nascimento (1978, p. 94), cita que: “(...) O processo de assimilação ou/ e aculturação não se relaciona apenas à concessão aos negros, individualmente, de status social, mas restringe sua mobilidade vertical na sociedade como um grupo; invade o negro e o mulato até à intimidade mesma do ser negro e do seu modo de auto-avaliar-se”.

Assim, percebe-se, que a compreensão cultural é tão real e ativa, que todo legado dos povos africanos subsiste numa esfera de invariáveis conflitos com os as classes dominantes, criados justamente para denegar suas corporações e princípios, aniquilar ou degenerar suas organizações e princípios. Nesta perspectiva, é que tanto as oposições teóricas como as oposições práticas, têm levado os afro-descendentes a se resguardarem no sentido de não se declararem como dignos, valorosos e reconhecidos como membros inerentes presentes na sociedade e cultura brasileira.

Diante isto, se as instituições de ensino são utilizadas para promover o autocontrole organizacional e a marginalização cultural. Então porque em todos as categorias da educação brasileira- rudimentar, periférica e universitária – os conteúdos das disciplinas lecionadas, não trás em suas entrelinhas os ensinamentos referentes a valorização e reconhecimento referente a cultura afro-descendentes. Nesta ótica, para Nascimento (1978, p. 95):

“Se consciência é memória e futuro, quando e onde está a memória africana. parte inalienável da consciência brasileira? Onde e quando a história da África, o desenvolvimento de suas culturas e civilizações, as características do seu povo, foram ou são ensinadas nas escolas brasileiras? Quando há alguma referência ao africano ou negro,é no sentido do afastamento e da alienação da identidade negra”.

Nesta perspectiva, o acesso e presença do descendente africano nos ambientes/espaços universitários e sua universalidade, tem acontecido de forma gradativa e acentuada, demonstrando a predominância e repetição dos paradigmas norte americanos e europeus dentro do sistema brasileiro de ensino. Desta forma, Nascimento (1978, p.95), relata que: "as populações afro-brasileiras são tangidas para longe do chão universitário como gado leproso. "Falar em identidade negra numa universidade do país é o mesmo que provocar todas as iras do inferno, e constitui um difícil desafio aos raros universitários afro-brasileiros”.

Concordando com isso é que o autor Nascimento na (1978, p. 96), continua dizendo que: “O fato concreto que nenhuma retórica acadêmica pode apagar: o negro no Brasil está sendo rapidamente liquidado nas malhas difusas dissimuladas sutis e paternalistas do genocídio mais cruel dos nossos tempos". Em consonância a isso, se torna lamentável que o Centro de Estudos que deveria ser a favor da cultura afro descendentes, faz é menosprezar o fato de que a população negra e branca, há  mais de quatrocentos anos estejam “vivendo lado a lado”, e que ignora a realidade de que a cultura africana vem sendo vista como um estranho dentro da sociedade brasileira atual, onde seu único objetivo é fazer com que o população negra sumam do hemisfério brasileiro sem deixar pistas da sua passagem pelo país.  

Na verdade e sendo mais claros, não devemos destacar a ineficácia de tal entidade organizacional, mas sua real essência implorativa e  nefasta, relacionadas as suas reais ideologias  referentes aos conceitos de grupo social pluricultural e multirracial que o país brasileiro almeja estabelecer. Entretanto, não é ignorando a existência das adversidades que se que solucionara as hostilidades raciais vigentes na atualidade.   

Seguindo essa linha de raciocino, Nascimento (1978, p. 97), ressalta que, a sociedade atual, prefere ignorar sua origem africana e manter no anonimato o maior número possível de negros e mulatos. (...)“Ate mesmo aqui onde a cultura africana deitou raízes seculares, um descendente africano, para ter acesso em qualquer degrau da escada social, é porque já não é mais um negro: trata-se de um assimilado que deu as costas às suas origens, ou seja, um "negro de alma branca”.

É oportuno aqui citar que, de acordo com Nascimento (1978, p. 98), todos estes fatos tão inevitáveis e reais na sociedade vigente, é que “a criação de uma cultura híbrida, sincronizada com um ritmo propriamente seu, o ritmo brasileiro, e dentro de uma porção de espaço que é caracterizado pelo desenvolvimento de uma sociedade nova, multirracial”. Ainda sobre o assunto, o autor afirma nas paginas (99-100),que:

 

 “Para conceptualizar esse fenômeno, (...) as autoridades brancas, usando a técnica antiga, de divisão-e-conquista, decidiram sacrificar a pureza da cultura  lusa a necessidade maior de dominar eficientemente as massas africanas e criaram "batuques··, "nações", "fraternidades", e outras entidades capazes de fornecer controle social ao preço da "contaminação" da cultura dominante”.

 

Considerando os dados acima citados, é que  a base literária em questão, nos leva a uma reflexão a respeito desse "embranquecimento racial", termo este, que ao longo dos anos vem sendo utilizado para enaltecer e classificar a mistura de sangue ou mistura de raças, tudo isso, objetivando apenas o desaparecimento da população negra da superfície do solo brasileiro.

Em suma, o texto em pauta, situa-se a necessidade em nos aceitarmos como uma sociedade multicultural e multietnica, e não utilizarmos de apelidos abastados (miscigenação) para obstruir a existência do preconceito e do racismo no País, tentando assim, dissimular e apaziguar as tensões e conflitos raciais inerentes. Onde, os valores, costumes, crenças, religião de  uma determinada cultura, sempre e inferiorizada.

 

 

Referências:

ÁFRICA EM QUESTÃO: Mini-biografia de Abdias do Nascimento. Disponível em: https://africaemquestao.wordpress.com/2012/08/02/mini-biografia-de-abdias-do-nascimento. Acesso em: 18 de agosto de 2019.

 

NASCIMENTO, Abdias do. O embranquecimento cultural: outra estratégia de genocídio. In:____. Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. Cap. IX, p. 93-100.

 

 

 

[1] Graduada em: Pedagogia pela Universidade Uniserra de Tangara da Serra e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[2] Graduada em Pedagogia pela Universidade Unopar e Especialista em: AEE-Especialista em atendimento Educação Especial, pelo Instituto Cuiabano de Educação e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[3] Graduada em: Pedagogia pela Universidade Anhanguera e Especialista em: Ludicidade e Psicopedagogia Clínica e Institucional, pela Faculdade Futura e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[4] Graduada em: Pedagogia pela Universidade Unopar e Especialista em: Educação Infantil, pela Faculdade Unopar e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[5] Graduada em: Pedagogia pela Universidade Unopar e Especialista em: Educação Infantil e Letramento, pela Faculdade Integrada de Cuiába (FIC) e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[6] Graduada em: Pedagogia pela Universidade Anhanguera e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[7] Graduada em Pedagogia pela Universidade Unopar e Especialista em: Educação Especial/AEE, pela Faculdade das Águas Emendadas-Brasília/DF e Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

 

[8] Graduada em Pedagogia pela Universidade Unemat- Universidade do Estado de Mato Grosso. Professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.