O Brincar na Educação Infantil: Caminho para o Desenvolvimento Integral
Por alessandra aparecida avelino dos santos custodio | 24/09/2025 | Educação1
O Brincar na Educação Infantil: Caminho para o Desenvolvimento Integral
Ariany Maria Furlan
Introdução
A infância representa uma fase única e fundamental no processo de desenvolvimento humano. É nesse período que a criança estabelece suas primeiras relações com o mundo, construindo significados e experiências que servirão de base para sua formação integral. Dentro desse contexto, o brincar se apresenta como elemento central, visto que constitui a principal forma de expressão, comunicação e aprendizagem da criança.
Conforme Vygotsky (1991), o brincar vai além do simples entretenimento, sendo um meio pelo qual a criança amplia suas capacidades cognitivas, sociais e afetivas. Nesse sentido, a Educação Infantil deve reconhecer e valorizar as práticas lúdicas como parte essencial do processo pedagógico, considerando que é por meio delas que se promove o desenvolvimento integral.
O presente artigo tem como objetivo discutir a relevância do brincar no contexto da Educação Infantil, destacando seu papel no desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social da criança, fundamentado em aportes teóricos que reconhecem a ludicidade como ferramenta indispensável no processo educativo.
Desenvolvimento
O brincar como prática social e cultural
O brincar é uma prática universal, mas assume diferentes formas de acordo com os contextos sociais e culturais em que se insere. Kishimoto (2011) enfatiza que o jogo e a brincadeira não apenas promovem aprendizagens específicas, mas também carregam valores e tradições de determinada cultura,
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constituindo-se como meio de socialização.
Ao brincar, a criança elabora situações do cotidiano, reconstrói experiências e cria novas possibilidades de interação com o meio. Segundo Vygotsky (1991), é na brincadeira que se constrói a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), permitindo que a criança realize ações que, sozinha, ainda não conseguiria executar. Isso demonstra que o brincar é um espaço privilegiado para o desenvolvimento de novas aprendizagens mediadas pelo outro.
Além do aspecto cultural e social, o brincar está intimamente ligado ao desenvolvimento global da criança. Para Piaget (1971), o jogo é indispensável na construção do conhecimento, pois promove a assimilação e acomodação de novas informações. Nesse processo, a criança exercita funções cognitivas, como a memória, a atenção e a criatividade, ao mesmo tempo em que desenvolve habilidades motoras e socioemocionais.
Em ambientes educativos, a inserção de práticas lúdicas favorece a construção da autonomia, o respeito às regras e a cooperação entre pares. Como afirma Kishimoto (2011, p. 32):
O jogo educativo cumpre uma função dupla: de um lado, entretém e motiva a criança; de outro, possibilita a apropriação de conteúdos escolares e sociais, de maneira significativa e prazerosa. (Kishimoto, 2011, p.32).
Isso demonstra que o brincar deve ser compreendido não apenas como recurso didático, mas como direito da criança, previsto inclusive em documentos legais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), que aponta a ludicidade como eixo estruturante da Educação Infantil.
Cabe ao professor, enquanto mediador, planejar e organizar situações de brincadeira que favoreçam o desenvolvimento integral das crianças. De acordo com Brougère (1998), o brincar não é uma atividade aleatória; exige intencionalidade pedagógica para que possa potencializar aprendizagens. Assim, a mediação docente deve buscar equilibrar a espontaneidade da brincadeira com objetivos educativos claros.
Além disso, o professor precisa compreender que a ludicidade contribui para o fortalecimento das relações sociais, auxiliando na inclusão e na valorização da diversidade dentro da sala de aula. Dessa forma, o brincar
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torna-se um instrumento que possibilita não apenas aprendizagens individuais, mas também coletivas, construídas no convívio e na troca de experiências.
Considerações Finais
O brincar, longe de ser uma atividade secundária, constitui o cerne da infância e deve ser valorizado como prática educativa de grande relevância. É por meio das brincadeiras e jogos que as crianças ampliam suas formas de expressão, desenvolvem habilidades cognitivas, motoras, sociais e emocionais, além de internalizarem valores e normas que irão fundamentar sua vida em sociedade.
A Educação Infantil, ao reconhecer a importância do brincar, precisa assegurar espaços, tempos e materiais que favoreçam a ludicidade, garantindo, assim, o direito da criança ao desenvolvimento pleno. Para tanto, é fundamental que os professores atuem como mediadores conscientes da relevância do lúdico no processo educativo, planejando atividades que aliem prazer, aprendizagem e desenvolvimento.
Portanto, a defesa do brincar como eixo estruturante da Educação Infantil é também a defesa de uma educação que respeita a infância em sua especificidade, contribuindo para a formação de sujeitos criativos, autônomos, críticos e socialmente participativos.
Referências
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
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VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.