Morcego Chupador
Publicado em 12 de fevereiro de 2010 por Aldemir Bentes
MORCEGO CHUPADOR
(Contada por Zeca Perigo, hoje Zeca Mafra ou ZM).
O lugar onde aconteceu o presente episódio, é conhecido como Lago da Barreira, no caminho entre Maués e Boa Vista do Ramos no Estado do Amazonas, a poucas horas de barco de Maués. Naquele lugar, morava o nosso personagem e sua família. O lugar era lindo, com pastagem para o gado, rios e lagos, onde a pesca era farta. A agricultura era somente para o sustento da família, sobrando pouco para a comercialização com os regatões e comerciantes
A vida no campo era tranqüila. De dia cuidava-se do gado e cultivava-se a lavoura. A noite era para a pescaria, a chamada porongação1. A rotina era a mesma ao longo dos anos. Com os filhos já crescidos, Dchanga sentiu que era hora de mudar-se para a cidade, onde matricularia todos para estudarem no grupão2 Santina Filizola, pois não queria que se criassem analfabetos.
Entretanto, um acontecimento antecipou sua mudança. Uma peste de morcegos se abateu sobre a fazenda, os chupadores sugavam gados, cavalos, matavam galinhas, patos e perus. O pacato Dchanga entrou
Diante do fato agravante, Dchanga procurou o “curador” Sátiro que morava no Rio Apocuitua-Mirim. O “sacaca” fez despachos, no entanto nenhuma de suas “simpatias” surtiram efeito, a vida outrora de descanso, a cada dia piorava, um verdadeiro inferno.
Sua esposa vivia sobressaltada e passava noites sem dormir, matando carapanã com o fogo da lamparina e ao mesmo tempo, vigiava seus filhos e o marido, que ao final de uma noite porongando, caía em sono profundo.
Em uma dessas noites, ao voltar da pescaria de madrugada, assim que se deitou na rede, o sono tomou-lhe conta, roncava igual a um porco. A rede em que dormia, bastante “surrada”, já apresentava alguns remendos. Ao enrolar-se na rede, e dormindo somente de cueca “samba-canção”, o passarinho3 de Dedé varou pelo buraco da cueca e em seguida pelo rasgo da rede, ficando com toda a pelanca à mostra. Sua esposa com pouca visão, ao queimar um carapanã no marido, observou aquele vulto, que, em contraste com o fogo da lamparina, parecia vermelho, idêntico a um morcego. Pensando ser um enorme chupador, sua esposa não perdeu tempo. Armou-se com um par de tamancos (o calçado da época) bem pesado e com as duas mãos, esmagou o estranho vulto.
O grito que se ouviu em seguida foi horrível. Gemidos, sussurros e pedidos de piedade... O pobre Dchanga nem imaginava o que estava acontecendo, pensava ter sido mastigado por uma cobra grande ou ter levado uma mordida de cobra surucucu. O nosso personagem hoje já não convive em nosso meio. Se o fato ocorreu ou não, fica por conta da imaginação de cada leitor (a).
Glossário:
1. É a pesca efetuada à noite na qual se utilizava uma lamparina para iluminar 2. Como era chamada a Escola Estadual Santina Filizola. 3. O pênis.