MEMÓRIAS MUSEOLÓGICAS COMO FORMA DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL.

Por Tubias Capaina | 04/02/2022 | Sociedade

Resumo

O presente artigo analisa discursos sobre as memorias museológicas como forma de conservação do património cultural. As Literaturas Africanas de Língua Portuguesa já ocupam um vasto território de leitura, tanto no Brasil quanto em Portugal e na própria África Lusófona. Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau são países onde vivem intelectuais preocupados com uma escrita literária que mantêm um fecundo diálogo com questões temáticas que se voltam para o colonialismo, pós-colonialismo, identidade cultural, exílio, e principalmente, a inscrição dos modos literários africanos. Um vez que, as representações seriam o mesmo que ou equivale a aquisição dos meios para analisar a estucia da razão e da imaginação nos termos da qual o individuo só fosse a sua sorte identificando-se com o destino exterior, para analisar o funcionamento dos aparelhos ideológicos que permitem que a estrutura hierárquica das sociedades de linhagem funcione e se reproduza, DURAND (1964).A literatura disponível sobre o património cultural, afirmam que o museu é um lugar onde a memória permanece sem alterações, o que leva-a a ser considerada estática, a segunda entende que a memória é reconstruída a cada dia o que torna-a dinâmica e a terceira entende o museu como um lugar de questionamentos. Assim, permitindo compreender que o património cultural é um lugar que predomina uma história única, estática, um lugar dinâmico em que a memória é reconstruída a cada dia e um espaço de questionamento.

Palavras-chave: Narrativas, Museu e Património Cultural.

Introdução 

A escrita literária africana de expressão portuguesa nos faz refletir sobre assuntos que se voltam para uma questão místico-cultural que migra do plano da realidade para o plano da ficcional por conta de uma pecepção ideológica pagã de se ver o mundo africano. As sociedades revelam-nos suas imaginações do mundo através das suas representações, (AUGÉ, 1974). Uma prática de escrita que revela uma reescritura do que foi aprendido por meio da oralidade. Por isso, para Halbwachs (1992) a memória coletiva é um passado vivido, constituído pela sucessão de acontecimentos ou momentos marcantes na vida do grupo, nação, país, e que possibilita a construção de uma narrativa sobre o passado. Assim, o facto de a História ser algo relativo que depende de quem escreve a tal história, leva-o a considerar a memória social como algo dinâmico, mutável e seletivo.

Museu Nora (1989) que defende o museu como um lugar onde a memória cristaliza. Para o autor os discursos que os indivíduos produzem nas comemorações que tem organizado e realizado nos museus, são um sinal de desaparecimento da memória viva. De acordo com Nora (1989) nessas comemorações os indivíduos revivem a história do passado com o seu sentido tradicional de uma memória imutável. A explicação de Nora (1989) permite compreender que os museus foram concebidos como uma forma de proporcionar repouso a memória sobre uma história única, estática e objetiva que é revivida através das comemorações realizadas nesses lugares que respeitam o seu significado original. Entretanto, essa explicação perde de vista outros significados que os indivíduos produzem ao interagirem uns com os outros e com os objetos e histórias que o lugar conta. Para a primeira perspectiva ao considerar os museus como lugar de cristalização da memória, sendo que essa memória é imutável perde de vista os discursos frutos da interacção e interpretação dos indivíduos nos museus com relação as histórias que estes lugares contam e a conceptualização dos museus em cada contexto. 3 Com um enfoque diferente da primeira perspectiva, a segunda entende a memória Como um processo dinâmico. Esta perspectiva defende que a memória como um processo dinâmico cria uma fonte de concursos sociais, razão pela qual estão sujeitos ao controle social especialmente por elites políticas, religiosas e outras que tentam estabelecer continuidades entre o presente e o passado, considerando ainda que no período moderno as elites nacionais têm inventando rituais que reivindicam a continuidade com um passado histórico adequado a organização de cerimónias, desfiles e festas (Connerton, 1989). A explicação de Connerton (1989) permite compreender que os museus têm realizado eventos que proporcionam a continuidades das práticas culturais entre o presente e o passado que conferem a dinâmica do lugar, e que esse mesmo lugar é regido por uma autoridade. Entretanto, fica por compreender o impacto desses eventos de forma a gerarem mudanças nos museus. Com uma posição similar à de Connerton (1989), Inguane (2007) defende que a construção da memória social é corrente em Moçambique, especialmente na forma de memória nacional promovida pelo Estado. A construção contínua no período pós-colonial é feita por meio da produção e celebração dos heróis nacionais. Inguane (2007) defende ainda que, o Estado constrói memória nacional através da produção de uma narrativa nacional em que os espaços estão abertos para a produção de outras narrativas relacionadas e conflitantes, e que o envolvimento de não-elites moçambicanos abre caminhos para a dinâmica transacional da memória social que transcendem os limites do Estado moçambicano da temporalidade histórica comum e entendimento tradicional de pertences. Com base na explicação de Inguane (2007) percebo que existe um órgão que produz uma narrativa, havendo espaço para produção de outras narrativas por parte de outros indivíduos nãoelites e este aspecto abre caminho para a dinâmica da memória. Mas nesta explicação fica por compreender os mecanismos pelo qual os indivíduos usam para produzir e enunciar as outras narrativas. Na mesma linha de discussão, Peralta (2007) defende que existe uma relação entre a memória oficial e a memória popular, por isso a memória social não pode ser vista apenas como resultado de estratégias do poder dominante. As memórias estão vinculadas em discursos que estão em constante revisão, incorporando práticas discursivas alternativas, as quais podem, elas próprias, transformar, à medida que a sua popularidade aumenta, nestes mesmos discursos dominantes. [...] 

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