RESUMO

A presente monografia aborda aspectos de possíveis soluções para os problemas de dificuldades de aprendizagem que muitas vezes é estigmatizado abrindo espaço para dúvidas: Sendo um dos objetivos, analisar as ocorrências que acontecem no cotidiano escolar, em que alunos apresentam dificuldades no âmbito da aprendizagem demandando orientação aos mesmos. Os passos metodológicos são de levantamento bibliográfico, observação e argumentação das situações vivenciadas no contexto educacional. O trabalho está dividido em três capítulos, onde o primeiro tem como linha de discussão: “Condições e dificuldades de aprendizagem”, que abordada os aspectos em que ocorrem a aprendizagem e as principais dificuldades encontradas no contexto escolar. O segundo capítulo enfoca a questão “rótulo ou realidade,” chamando à atenção para as questões sócio-ambientais na rotulação de indivíduos. O terceiro capítulo discute uma proposta de trabalho e práticas pedagógicas que engloba a relação professor e aluno com o intuito de diminuir as dificuldades apresentadas no aspecto da aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho investigativo buscou-se entender e trazer possíveis soluções para os problemas de dificuldade de aprendizagem: Rótulo ou Realidade? Um dos desafios encontrados pelos educadores é compreender a causa e a consequência desses problemas. A epidemia das dificuldades de aprendizagem apresenta-se não só nos aspectos pedagógicos, mas, como também nos sociais, refletindo no desenvolvimento e integração do indivíduo na sociedade. Segundo Balestra (2007) “as dificuldades de aprendizagem que respondem pelo insucesso escolar vêm recebendo explicações das mais variadas conotações, tanto no enfoque das explicações teóricas quanto das políticas.”

Por isso se faz necessário o estudo sobre este tema. Este trabalho visa desafios não só para quem escreve, mas também para simpatizantes da educação de qualidade.

A escolha do tema partiu da realidade observada e vivenciada no cotidiano escolar; porque há tantas crianças, adolescentes e adultos com tantas dificuldades no aprender?  Ao referir-se a alunos com dificuldades na aquisição do saber, a preocupação não deve ser apenas relacionada as dificuldades na aprendizagem dos conteúdos propostos e as suas funções cognitivas, mas é fundamental que a criança seja vista como um ser integral e que naturalmente está inserido em outros sistemas(familiar,social) e que tais dificuldades aparentes podem ocasionar conflitos e perturbações que culminariam no fracasso do seu desenvolvimento sócio-afetivo.

            Sabe-se também que a criança como um ser dinâmico esta pronta a se modificar e desenvolver novas habilidades, e que por mais difícil que seja o obstáculo, cada pessoa é única nas suas capacidades de interagir, integrar e progredir em busca de sua formação integral.  Segundo Prieto (2005) apud Vigotsky (1932), na visão sociointeracionista diz que:

Os alunos deveriam ser encorajados a adquirir conceitos científicos através das atividades propostas pela escola e assim modificar sua relação cognitiva, ou seja, aprender. Esses alunos que apresentam ritmos diferentes e comportamentos tidos como problemas no aprendizado escolar fazem parte do grupo da escola e não deveriam ser estigmatizados e muito menos isolados. (PRIETO, 2005, art. Planeta educação)

            Portanto, neste contexto de mudanças, pensar em propostas educacionais que assegure a criança e ao adolescente o acesso igualitário a um ensino de qualidade seja em instituições públicas ou privadas trata se de um grande desafio, sendo necessário desconstruir certos conceitos e quebrar alguns paradigmas, para que dessa forma, as crianças se apropriem e absorvam conhecimento com competência, desenvolvendo uma postura crítica e reflexiva, pois na escola, as diferenças individuais estão sempre presentes  e a atenção a diversidade é o eixo norteador do paradigma da educação igualitária .

          Vale ressaltar que o termo dificuldade de aprendizagem: Rótulo ou Realidade? É bastante amplo e engloba diferentes problemas como causa das mais variáveis possíveis. Um dos exemplos é o ritmo de aprendizagem, se não atendidos nos ditos padrões de “normalidades” a criança torna-se repetente e em alguns casos é exposta a exigências e investigações precoces ou a currículos que não respeitam o ritmo próprio do aprendiz.  Muitas vezes ao corrigir a parte pedagógica, modifica-se positivamente o desempenho do aluno, levando por terra a justificativa de que se trata de um fracasso pessoal do aluno. Conforme Lakomy (2008), “as diferenças entre crianças se devem às diversidades qualitativas de interação social, que ativam processos de desenvolvimento cognitivo diversos com as pessoas do seu meio”.

            Observa-se que na prática o processo de aprendizagem é bem mais complexo do que a teoria apresenta, e que não está ligado apenas às funções cognitivas e de processamento de informações ligadas á estrutura cerebral, mas também ao processo de construção e desenvolvimento do conhecimento histórico-cultural típico da sociedade a qual o sujeito está inserido. Assim forma-se a seguinte pergunta: até que ponto as dificuldades ou problemas de aprendizagem são reais?

A metodologia usada neste trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, baseada nos autores, BARBOSA (2006) MALUF (2003), CORRÊA (2001) entre outros. Sendo que o desafio dos educadores consiste em encontrar e  definir a causa e as consequências desses problemas.

Para melhor esclarecimento, organização e compreensão, o presente trabalho foi elaborado e dividido em capítulos, sendo que o Capítulo I trata das condições e dificuldades de aprendizagem. O Capítulo II aborda a questão “rótulo ou realidade” argumentando e questionando a situação vivenciada no contexto educacional relacionada aos processos sócio-ambientais na rotulação de indivíduos com dificuldades de aprendizagem. A ideia de uma proposta pedagógica visando o aluno com dificuldade caracterizada por métodos alternativos associados á uma relação de confiança e afetividade, adequando a metodologia ao sujeito e instigando-o a trilhar diferentes caminhos que possibilitaram o desenvolvimento integral da criança, é apresentado no capítulo lll.

       É importante esclarecer que o referido trabalho não pretende, ainda que fosse impossível discorrer sobre todas as dificuldades relacionadas as questões  do processo de ensino-aprendizagem, visto que se trata de uma questão muito abrangente  e ainda em fase de estudos e pesquisas .

Contudo espera-se que este trabalho venha somar e agregar valores éticos, morais e humanos no que tange a prática dos educadores que buscam a descoberta e ampliação do conhecimento, afinal ninguém é proficiente em todas as habilidades. 

1-CONDIÇÕES DE APRENDIZAGENS

  1. - Aspectos da aprendizagem em linguagem

            No decorrer do tempo os cientistas vêm investigando as relações entre as funções cerebrais e os meios pelos quais os indivíduos aprendem.  A maioria deles afirmam que as crianças só aprendem normalmente quando possuem certas características básicas necessárias, e que as mesmas se apresentem de maneiras adequadas para aprendizagem. Essas características podem ser organizadas em três tipos ou grupos.

A primeira a ser considerada seria relativa a fatores psicodinâmicos, pois, para que a aprendizagem seja eficaz, é preciso supor que haja integridade de processos psicoemocionais. Outro requisito para a aprendizagem normal é que as funções do sistema nervoso periférico sejam intactas, uma vez que a criança aprende ao receber informações através dos seus sentidos. E, o terceiro requisito para aprender normalmente consiste na integridade das funções do sistema nervoso central, por ser uma rede complexa de componentes sensoriais que permite se comunicarem com o ambiente que vive; segundo Johnson & Myklebust (1987);

 

O cérebro funciona de forma semi-autonoma, ou seja, um sistema pode funcionar sozinho; pode funcionar com dois ou mais sistemas; ou pode funcionar de forma integrada, isto é todos os sistemas funcionando ao mesmo tempo (JOHNSON & MYKLEBUST,1987, p 12).

 

Os sistemas mais conhecidos relacionados aos distúrbios neurogênicos são: auditivo, visual e tático. Esse conceito é de fundamental importância para a teoria psiconeurológica da aprendizagem, pois isso significa que o sistema auditivo pode funcionar semi-automaticamente do sistema visual ou do sistema tátil, e que cada um desses, por sua vez, pode funcionar semi-independente dos outros dois.

Em termos psiconeurológicos, há três principais tipos de aprendizagem. A primeira denominada aprendizagem intraneuro-sensorial requer somente um sistema neuro-sensorial como o auditivo: o segundo chamado de aprendizagem interneuro-sensorial requer dois ou mais sistemas, por exemplo, o auditivo e a visão, porem não todos os sistemas; e o terceiro, denominado aprendizagem integrativa requer o funcionamento do conjunto de todos os sistemas.

            Vale ressaltar que não há aprendizagem que seja puramente inter-neuro-sensorial ou intra-neurosensorial, porém é possível considerar esses processos como sendo relativamente independentes de outros processos psiconeuro-sensoriais. Um exemplo é uma palavra falada, tanto aquela que é recebida quanto a que é expressa são de natureza auditiva. Embora o sistema motor da fala esteja envolvido, para fins de aprendizagem, a informação é auditiva.

De acordo com o conceito de sistemas semi-autônomos, ocorre certa aprendizagem quando dois ou mais sistemas funcionam de forma integrada. A maior parte da aprendizagem tende a ocorrer dessa forma. O exemplo que mostra como um tipo de informação neuro-sensorial se converte em outro dentro do cérebro é o ato de pronunciar uma palavra.  Dolle (1993) salienta queo “sujeito psicológico, constitui-se da interação de outros quatro sujeitos: sujeito afetivo; sujeito cognitivo; sujeito social e sujeito biofisiológico”.  Possuindo assim várias dimensões que são interdependentes umas das outras e ao interagir com o meio que é dinâmico se desenvolve e aprende.

O movimento executado pelo sujeito para aprender,necessita da articulação devárias dimensões interligadas entre si, e a escolha da dimensão que prevalecerá na interação com uma situação específica de aprendizagem.

Ao delimitar o objetivo da psicopedagogia, Silvia (1998); Diz que:

 

“o ser humano enquanto ser em processo de construção do conhecimento como ser cognoscente. O ser cognoscente não é constituído por vários sujeitos, mas por três dimensões, que são: “dimensão relacional, dimensão afetivo-desiderativa e dimensão relacional/interpessoal, caracterizando-o assim como um ser pluridimensional” (SILVIA, 1998, p.10).

 

Portanto, a aprendizagem na visão da Psicopedagogia efetiva-se na interação direta do sujeito com o objeto da aprendizagem, ou através da mediação de outra pessoa e também das relações interpessoais, através de questionamentos, argumentos e no debate das idéias sobre o elemento estudado. Caracterizando assim, uma ação dialética, mudando a concepção do processo de ensino/aprendizagem e assim o sujeito passa a construire desenvolver habilidades culminantes na aquisição de conhecimento.Barbosa (2006) em análise ressalta que:

A dimensão racial estudada por SILVIA (1998) permite que o aprendiz perceba, discrimine, organize, conceba, conceitue e enuncie o mundo em distintos níveis do seu desenvolvimento. Já a dimensão afetiva é responsável pelo contato do aprendiz com uma aproximação também afetiva, do desejo do aprendiz para desvendá-lo e a dimensão relacional / contextual / interpessoal está ligada ao fato de que a construção do conhecimento se dá a partir das inter-relações entre os sujeitos, que questionam o objeto de conhecimento, argumentam, confrontam ideias, conclusões e conhecimentos (BARBOSA, 2006, p. 14).

 

A criança está pronta para aprender quando apresenta um conjunto de condições, capacidades, habilidades e aptidões consideradas como pré-requisitos para o início de qualquer aprendizagem.  Dentre esses pré-requisitos a ciência cita como fatores fundamentais parao desenvolvimento da aprendizagem os seguintes fatores; Saúde física e mental, maturação que é formada pela interação entre genética e ambiente. Para Rey (1993) apud Oliveira (2010), “Saúde, não é sinônimo de ausência de doenças ou sintomas, mas sua definição leva a um conjunto de características relacionadas às condições biológica, subjetiva e sócio-histórica do homem”. Outro fatorque pode ser considerado altamente relevante, para a aquisição e aprimoramento do saber é a motivação: pode ser própria ou incentivada por meios externos. Lakomy (2008) enfatiza que:

Todas as crianças possuem “desejo de aprender”, elas possuem uma motivação interna que as predispõe à aprendizagem, podendo ser motivadas por fatores extrínsecos, porém os efeitos desses fatores são transitórios, enquanto os fatores intrínsecos são compensadores por si mesmos. (LAKOMY, 2008, p54)

Baseando-se na premissa de que o aprender não está relacionado apenas a fatores cognitivos, constata-seque aprendizagem e desenvolvimento são fatores resultantes também da interação social, nesse sentido além de saúde física e mental, fatores tais como; escola, família e ambiente entram no contexto sociocultural como elementos de grande relevância para a aquisição e desenvolvimento da aprendizagem. Ainda nessa perspectiva, Vygotsky (1932), defende que a sociabilidade da criança é o ponto de partida para suas interações com o meio.

      As capacidades verbais são de extrema importância para o comportamento e relacionamento humano, sendo então apontados três sistemas verbais: o falado, o lido e o escrito. O primeiro sistema verbal adquirido foi o auditivo.  Desde a infância e por toda a vida esse sistema permanece como fundamental. O sistema auditivo é primordial para a aquisição da linguagem, porque funciona simultaneamente em todas as direções e é contínuo: não pode ser desligado, é permissivo e pode ser utilizado enquanto a visão está sendo dirigida para outro lugar. Ainda deve-se registrar que a palavra falada é adquirida em primeiro lugar, pois exige menos maturidade psiconeurológica do que a palavra lida ou escrita.Maluf (2003) afirma que:

Do ponto de vista psicológico, a leitura deve ser vista como sustentada por um sistema cognitivo que atua sobre a informação grafada, de modo a colocá-la em contato com os conteúdos da memória e desse modo tornar possível o seu uso por parte de nossos processos de pensamento (MALUF, 2003, p.18).

 

Para a aprendizagem da leitura é necessário à aquisição de habilidades emdecodificação,que é a identificação e interpretação das unidades linguísticas, transformando os símbolos (letras) em informações significativas.

Um aspecto interessante do desenvolvimento da linguagem, é que o significado da palavra precisa ser adquirido, antes que, as palavras possam ser usadas como tais. Vygotsky (1962) enfatizou esse traço da linguagem quando afirmou que uma palavra sem significado não era uma palavra; esse aspecto é o que chamamos de linguagem interna. Na mesma linha de raciocínio Maluf (2010) ressalta que;

Ao contrário da fala que é utilizada de forma natural e espontânea nas situações comunicativas, a escrita é objeto de análise e reflexão deliberada, consciente. É preciso “manipular diretamente as unidades linguísticas que são as palavras e as partes que as compõem” (MALUF, 2010, p.18).

 

No que tange a linguagem, Fonseca (1995) diz que: “implica a capacidade de abstração nascida da experiência e é integrada no cérebro do homem por meio da linguagem interior, primeira e verdadeira dimensão da linguagem entre os seres humanos”. Para que uma palavra tenha significado, ela precisa estar inserida em um determinado contexto. Os processos de linguagem interna são aqueles que permitem a transformação da experiência em símbolos (verbais ou não verbais). Seria como afirmar que a linguagem interna é a linguagem com a qual se pensa.

Alguns especialistas franceses defendem a ideia que a escola deverá preocupar-se primeiramente com a aprendizagem da leitura e posteriormente iniciar o processo da escrita. Porém, Morais (1992) diz que:

 

O ideal é que os dois processos sejam desenvolvidos de forma simultânea de modo que um processo reforce o aprendizado do outro. As crianças que são orientadas de modo inverso realizam apenas cópias de palavras, ou seja, fazem uma mera reprodução, e não entendem o que estão escrevendo como também, dificilmente, conseguirão realizar um ditado ou uma redação (MORAIS, 1992, p. 16).

 

Pode-se dizer que os componentes da linguagem são vistos como um todo. A fala, a leitura e a escrita não podem ser vistas como elementos isolados, pois, a hierarquia da linguagem, inclui fatores genéticos que sequencialmente seguem um padrão de desenvolvimento, dependentes de maturação orgânica, e que podemos chamar de dialética que é a relação hereditariedade/ meio.

Com freqüência, as instituições de ensino deparam-se com crianças que são habilidosas tanto em relação à recepção quanto à expressão da linguagem falada e até lêem fluentemente, mas não conseguem entender o significado do texto. As deficiências no funcionamento integrativo estão incluídas na definição de distúrbios de aprendizagem e o desafio decorrente dessa possível deficiência deve ser enfrentado.

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