Likumbi, consolidar e aprender regras: Uma análise a partir de um grupo Makonde na cidade de Maputo

Resumo

O presente estudo explora discursos sobre o Likumbi como um espaço de consolidação e aprendizagem de regras. Da literatura sobre os ritos de iniciação identifiquei duas perspectivas. Uma que defende que as famílias constituem espaços de aprendizagem que antecedem os ritos de passagem e a outra que defende que os ritos é que constituem espaços de aprendizagem para os indivíduos. Essa literatura perde de vista a contribuição da interacção entre famílias e os ritos na aprendizagem das pessoas. Com base na limitação da literatura analisada, realizei um estudo etnográfico entre um grupo de pais, candidatos a iniciação e iniciados na Capela, na zona Militar na cidade de Maputo.

A partir do material etnográfico analisado compreendi que os participantes consolidam as regras apreendidas na família, com amigos e aprendem novas regras durante o Likumbi. Esse resultado permite-me considerar o Likumbi como um espaço de consolidação e de aprendizagem de regras sociais, o que permite perceber a interacção entre a aprendizagem anterior aos ritos de passagem e aquela aprendida durante os mesmos, diferentemente da literatura que analisa esses elementos como pólos incomunicáveis de aprendizagem.

Palavras-chave: Likumbi, Aprendizagem, Consolidação e Regras

Introdução

O presente estudo explora discursos sobre os ritos de passagem como uma forma de aprendizagem e a consolidação de regras na cidade de Maputo. Iniciei o estudo em Agosto de 2015 com o objectivo de perceber os ritos de iniciação como um espaço de orientação no âmbito do controlo social. Entre tanto, durante as minhas conversas com os participantes da pesquisa, ouvi o Majaja, um mestre das cerimónias na Capela da zona Militar, na cidade de Maputo. em conversa com um seu amigo e com moradores do bairro militar, a dizer “este ano haverá muitos meninos no Likumbi por que há muitos meninos indisciplinadas''.

A partir da referida conversa fiquei interessado em perceber o Likumbi. E de 15 de Dezembro de 2015 a 15 de Janeiro de 2016 assisti a um Likumbi, na zona da capela. Durante o Likumbi percebi que se por um lado havia coisas novas que os iniciados aprendem, por outro lado outras coisas eles já tinham aprendidos antes do ritual. Essa situação levou-me a alterar o objectivo inicial do Projecto e passei a estar interessado em analisar os ritos de passagem como uma forma de aprendizagem e de consolidação de regras ja aprendidas anteriormente.

Analisada a literatura sobre o assunto percebi que os ritos de passagem têm sido analisados a partir de duas perspectivas. A primeira defende que as famílias constituem espaços de aprendizagem que antecedem os ritos de passagem e a outra que defende que os ritos é que constituem espaços de aprendizagem para os indivíduos. No entanto podemos considerar como dois espaços que se cruzam.

Para compreender os processos de aprendizagem e consolidações de regras na zona da Capela, realizei um estudo etnográfico a partir dos ritos de passagem entre um grupo de pais, candidatos a iniciação e iniciados na zona da capela, e na mesma linha de pensamento de Díaz (2011) percebi que através dos ritos de passagem os iniciados consolidam as regras aprendidas no grupo doméstico e com amigos, para além de aprenderem novos ensinamentos para a vida.

Quanto a estrutura, o presente estudo está organizado em seis partes. A primeira parte é composta pela presente introdução na qual apresento a problemática de investigação e a presente estrutura do trabalho. Na segunda parte apresento a revisão de literatura sobre os ritos de iniciação que fundamenta a análise do presente trabalho.

Na terceira parte apresento o enquadramento teórico e conceptual. Nesta parte apresento a teoria e os conceitos usados no trabalho. Na quarta parte apresento os procedimentos metodológicos, desde a recolha até aos constrangimentos enfrentados no processo da elaboração do trabalho.

Na quinta parte analiso a consolidação da aprendizagem e a nova aprendizagem que ocorrem durante o Likumbi em três partes. Na primeira analiso a vida antes do Likumbi, na segunda analiso o processo de consolidação do aprendizado antes do Likumbi e o aprendizado durante o Likumbi e na terceira parte analiso a vida dos iniciados depois do likumbi. Por fim, na sexta parte do presente trabalho apresento as considerações finais.