LEITURA CRÍTICA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE A PARTIR DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Thainá Reis, UNEB [1]

RESUMO: Este artigo, circunscrito no campo de prática pedagógica de língua Inglesa, objetiva através da realização de uma leitura crítica a partir da Base Nacional Comum Curricular, identificar as aproximações e distanciamentos entre o que propõe o documento oficial e a realidade encontrada nas instituições de natureza pública ou privada, no que diz respeito ao ensino de Língua Estrangeira Moderna (Língua Inglesa).  Neste sentido, pretende-se traçar uma linha de compreensão no que se refere aos métodos/abordagens e suas nuances, além de evidenciar as problemáticas presentes no ensino de Inglês, como língua estrangeira, no Brasil. Com efeito, a relevância deste investigação está pautada no argumento de que é preciso rever alguns pressupostos teóricos que norteiam a prática educacional da Língua Inglesa, como língua estrangeira, ao que concerne ao desenvolvimento da competência oral. Assim, este estudo se apropria de base metodológica bibliográfico-documental, através de leituras contextuais.  

Palavras-chave: Ensino Regular. BNCC. Habilidade Oral.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Lei de Diretrizes e Bases, conjunto de leis que regulamentam o sistema educacional (público ou privado) do Brasil que vai da educação básica ao ensino superior, em sua disposição Título II – Dos princípios e fins da Educação Nacional, estabelece que:

Art.2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, p.7). [grifo nosso]

Dessa forma, os benefícios envolvidos no processo de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, a exemplo de: permitir que o aprendiz compreenda melhor sua língua materna (mediante o contato com a segunda língua), realizar leituras e decodificação de fontes diversificadas para estudos ou aproveitar viagens “ao máximo”, por tão somente ser capaz de se comunicar com falantes nativos, são, na verdade, uma mera consequência da aquisição de um conhecimento pautado no mercado de trabalho que, como sabemos, particulariza-se por seu teor capitalista/liberal concorrencial, ou seja, visa à qualificação profissional.

 Portanto, este estudo, sustenta-se na realização de uma leitura crítica sobre a concepção de ensino de Língua Estrangeira Moderna (Língua Inglesa) presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) “[...] documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”. (BRASIL, 2017, p.7), tem como objetivo, comparar as proposições circunscritas no desenvolvimento da oralidade e a realidade encontrada em ambientes educacionais de natureza pública ou privada.

Contudo, para compreender as concepções de ensino/aprendizagem de língua Inglesa e suas particularidades empregadas pelo documento oficial mencionado, faz-se necessário apresentarmos um breve panorama acerca das perspectivas e objetivos dos métodos/abordagens envoltos em tal processo. Neste sentido, as seguintes linhas estão reservadas para tal. É necessário salientar, que o intuito das interlocuções aqui presentes, não é nos posicionarmos contra ou a favor de determinado método/abordagem. Isto cabe ao profissional, mediante o uso de seu ambiente de trabalho como pesquisa, através da aplicação de conceitos como need analysis[2] e needs assessment[3], recolher dados e ao longo de sua prática, concluir qual método é mais eficaz para desenvolver as atividades desejadas.

 Conforme se percebe na atualidade, o processo de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, neste caso, língua inglesa, sempre esteve condicionado a um objetivo. Se na sociedade contemporânea o intento é obter melhores oportunidades de emprego, outrora, a aprendizagem de línguas estrangeiras baseava-se numa perspectiva diferente. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por exemplo, ela estava baseada em pressupostos de um recente campo autônomo de estudo, definido como “investigação empírica e teórica de problemas do mundo real nos quais a linguagem é uma questão central” (BRUMFIT, 1995, apud SOARES, 2008, p 2). Isto é, a Linguística Aplicada, doravante LA, a qual promovia discussões a fim de encontrar o método mais apropriado para “estabelecer comunicação eficaz entre falantes de diferentes línguas aliados da guerra ou não (RODRIGUES, CERUTTI-RIZZATTI, 2001, p.15)”.

A partir da urgência em compreender o outro, surgiram os métodos/abordagens aliados a teorias formuladas para melhor compreender os processos de aquisição e desempenho da linguagem, fomentadas pela Linguística Tradicional. Dentre eles, pode-se evidenciar o audiolingual (AAL), utilizado ainda na Segunda Guerra Mundial, baseado em princípios que “[...] foram reformuladas com clareza e formaram uma doutrina coesa que por muitos anos dominou o ensino de línguas”. (LEFFA, 1988, p. 11). São elas “[...] a) língua é fala, não escrita; b) língua é um conjunto de hábitos; c) ensine a língua não sobre a língua; [...] e) as língua são diferentes.” (LIMA, 2009).

A posteriori, os estudos tiveram continuidade, e, a partir deles, manifestaram-se dois métodos que buscavam aperfeiçoar o processo de ensino/aprendizagem. Primeiro, o Método Natural, “abordagem que tenta aplicar na sala de aula a teoria de Stephen Krashen[4], conhecida como Modelo do Monitor ou Modelo Input” (LEFFA, 1988, p.18), que prega o desenvolvimento da competência oral naturalmente, ou seja, sem “intervenção máxima” do professor, promovendo a absorção de conteúdos gramaticais de forma inconsciente. Em seguida, o método comunicativo, que traz à tona, uma “[...] nova visão da língua aliada a um grande vazio deixado pelo declínio do audiolingualismo.” (LEFFA, 1988, p.19). Considerado por muitos professores como o método mais eficiente, este propõe a aprendizagem num formato de ESP – English For Specific Purposes[5] - centrada no aluno, em que o professor “abandona” seu papel de protagonista e se torna orientador. Este, por sua vez, motiva seus alunos e frequentemente revê sua práxis de modo a encontrar melhores formas de mediar os conhecimentos, assumindo a postura de um profissional crítico e reflexivo.

Dito isso, na seguinte seção, evidenciaremos não apenas a concepção de ensino de língua inglesa presente na BNCC, bem como sua organização pautada em três implicações, que reunidas formam os chamados cinco eixos organizadores que, de acordo ao documento, orientarão as práticas de ensino da disciplina nas escolas. [...]