Legal
Publicado em 10 de junho de 2010 por Raul Santos
LEGAL
Raul Santos
José Bensabath Legal era, na década de sessenta, sargento controlador de vôo, na torre de Salvador. Bom operador, mas as pingas não o deixavam ser assíduo e muitos colegas dobraram serviço por causa dele. O Sérgio me contou que na terça-feira do carnaval de sessenta e oito, o sargento que saía às dezoito horas estava fantasiado para brincar no Pinaúna, clube dos sargentos da Aeronáutica, em Piatã. O Legal estava escalado para o serviço da noite e os ônibus para o aeroporto eram tão escassos que não se sabia os horários, mas um chegava por volta das dezoito horas.
Muito bom!... Da torre, era possível ver a estrada até o bambuzal, no portão de entrada para o aeroporto e para a Base Aérea. Os ponteiros corriam e a angústia aumentava: ? O Legal virá, ou não?...
O ônibus apareceu e levou algum tempo para percorrer os quase mil metros até o prédio, aumentando o suspense: ? Estará o Legal, no ônibus?... Estava!... Saltou, trocando as pernas, apontou o veículo, e disse:
? Ta vendo este ônibus?... Pois vou voltar nele, pra brincar carnaval!...
Foi a gota d?água, que entornou o copo!... Os sargentos se reuniram e combinaram a terrível vingança. Na primeira semana que ele entrou de serviço numa sexta-feira ao meio-dia, o pessoal foi embora às dezesseis e trinta e às dezoito horas não apareceu ninguém. No sábado de manhã, não apareceu ninguém. No sábado meio-dia, não apareceu ninguém. No sábado à tarde, não apareceu ninguém. No domingo de manhã, não apareceu ninguém. No domingo ao meio-dia, não apareceu ninguém. No domingo à tarde, não apareceu ninguém. Na segunda-feira de manhã, o pessoal foi chegando com as sacolinhas às costa, como se nada tivesse acontecido, e encontraram um sargento Legal com olheiras profundas de um fim de semana inteiro na torre de controlo, quase desmaiando, ainda atendendo as aeronaves, e cumprimentavam:
? Bom dia, Legal, tudo bem?...
Ainda não estava tudo bem, mas ficou!...
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