Resumo

O presente artigo é parte de um estudo mais amplo, que teve um dos seus principais objetivos o estudo da imagem e da negação do corpo em Marx. Para fazê-lo foi necessário o estudo sobre a produção de Jean-Marie Bronh, a temática em questão na qual o autor reconhece que a morte está quase oculta no materialismo histórico. Neste sentido a produção foi escrita de modo análogo, as rápidas considerações têm por objetivo apenas trazer o debate para o campo problemático e de tensões que permeiam a morte como dissolução total do corpo individual e o significado do trabalho no processo de constituição do individuo social. Palavras chaves: Corpo, Trabalho, Indivíduo Social. 

INTRODUÇÃO:

O tema é especialmente oportuno quando se proclama que no marxismo há apenas observações esparsas sobre o corpo e a morte no materialismo histórico ao se privilegiar o tema “Depois de mim o dilúvio”, urge explicitar a óptica de análise do corpo e da morte no marxismo. O artigo alude o trabalho no processo de constituição do indivíduo social e na produção da vida material nos marcos da sociedade capitalista.

Assim, este trabalho abre sendas ao debater implicações e tendências entre trabalho e individuo social na sociedade mercantil, em outros termos apreender a forma de individualidade e/ou sociabilidade humana, assim parafraseando (MARX, 1962 citado por BRONH, p.341). “A história que é a “verdadeira história natural do homem”, nada mais é que o engendramento do homem pelo trabalho humano”.Portanto, o homem dotado de força natural transforma a natureza e ao mesmo tempo transforma a si mesmo.

Desta maneira, tem-se uma forma especifica de sociabilidade e como já afirma Brohn, 2007 nada do corpo é natural, mas, resultado da civilização, assim os homens se distinguem dos animais no momento que começam a produzir seus meios de existência. Vale ressaltar ao trabalho só pertence a sua força de trabalho por que o produto dele é propriedade do capital.

Por tanto, A crítica sobre o corpo e a morte no capitalismo conduz a critica de uma sociedade baseada na a cumulação do capital, que suga do individuo a maior parte de seu tempo a partir da extensa jornada de trabalho expressa pelo estigma da opressão social.

CORPO, TRABALHO E INDIVÍDUO SOCIAL.

O corpo se afirmar como materialidade do trabalho e ao mesmo tempo está materialidade torna o homem alienado e explorado dentro desse processo, assim entende-se que o trabalho é o grande educador da humanidade, pensando dialeticamente sobre isso podemos citar aqui o seguinte exemplo trazido por Engels apud Bronh, p.341. A história “natural e depois cultural do corpo é, portanto, a história do trabalho no corpo e do corpo para o trabalho. Desta feita, o trabalho foi essencial no processo evolutivo do homem, inclusive enquanto natureza socializada, pois, nada do corpo é natural, mas, resultado de uma civilização.

A este respeito o corpo está longe de ser uma essência ou contingência a alma, ele é condição necessária para as forças produtivas capitalista, servindo de aparelhagem tecnológicas assim, o corpo como potência natural de transformar a natureza em bens materiais reduz-se a uma máquina de produção pela busca da mais-valia. O quadro exposto traz à tona o capitalismo com fator determinante do processo da morte. Vejamos as palavras de (MARX, 1975, p. 229, citado por BRÖHM, 2007, p. 349, grifo do autor) “O capital é trabalho morto, que, semelhante ao vampiro, não anima senão sugando o sangue vivo e sua vida é tanto mais alegre quanto mais ele suga”. Em outras palavras o capital não está preocupado com a condição social, psicológica ou biológica do indivíduo, o que lhes interessa é sua força viva geradora de lucro e como consequência produz a degenerescência de toda a vida do trabalhador. É sobre o duro labor do trabalho que o homem está a serviço da morte, a opressão social pelo qual o trabalhador é exposto todos os dias a exemplo do prolongamento da jornada de trabalho privando de toda vida social   degenera seu corpo a tal ponto que se pode ler sobre ele.

 De outro modo, o corpo obedece às leis de acumulação do capital e sua capacidade corporal é reduzida a uma máquina de produzir sobre trabalho, vale ressaltar que não são todos os corpos de uma sociedade que serão destinados a exploração do trabalho, mas, o corpo do proletário que a partir de sua contingência se prolonga em geração em geração. “A contingência de meu corpo é o que determina minha origem de classe e a filiação corporal de classe define o pertencimento de classe”. (BRÖHM, 2007, p. 350). Aqui entende-se que o corpo não é apenas uma adição da alma, mas, um determinante para o destino da classe pertencente, isso acontece a partir do nascimento, o nascimento determina a posição social do homem, dessa forma, ao ser lançado numa dada sociedade a uns o corpo lhe impõe a condição de proletário dispondo apenas da sua força de trabalho para sobrevier, a outros o orgulho da linhagem, da riqueza e puro sangue e assim constitui-se a dimensão do ser social, o corpo soberano e/ou dominante desfruta dos bens produzido por outros já o corpo escravo é oprimido e alienado, o trabalho não é uma realização de sua vida, mas, um sofrimento.

            O processo capitalista de produção transforma o trabalho em um sacrifício, a preocupação incide sobre a atividade social que os indivíduos são capazes de produzir e reproduzir nas relações de produção. Assim,

O operário é assim reduzido a uma besta do trabalho, a uma máquina para produzir sobretrabalho. O trabalho não é, portanto, para ele, nada mais que uma atividade obrigatória, exterior, estranha, que não pertence à sua essência. (MARX, 1962, p. 352, citado por BRÖHM, 2007, p. 352)

Esta condição histórica reduz o trabalhador a um instrumento técnico que vende, conserta, melhora e cuida. A venda da sua força de trabalho atende exclusivamente as necessidades do capital, pois, para o possuidor de sua força de trabalho não há outra utilidade que a de satisfazer uma determinada necessidade social. Neste sistema o corpo do trabalhador torna-se completamente produtivo. Como o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um salário tudo irá ser quantificado, desde custo da seguridade social, seguro-de-vida a probidade dos acidentes de trabalho, expectativa de vida dentre outras. 

Deste ponto de vista, 

Cada homem morre todos os dias de 24 horas; mas é impossível saber pelo simples aspecto de um homem de quantos dias ele já está morto. Isto não impede as companhias de seguro de tirarem conclusões muito seguras sobre a média de vida do homem, e o que mais lhes importa, muito lucrativas. Sabe-se ainda, por experiência, quanto tempo dura em média um instrumento de trabalho”. (MARX, 1975, p. 203, citado por BRÖHM, 2007, p. 355) 

Está tensão remete a um modo de produção capitalista de destruição das perdas humanas, as precarizações do trabalho manifestam os acidentes de trabalho frequentemente mortais o estresse diversos, a fadiga e deterioração do corpo precocemente com o desgaste de sua saúde perdidas nos numerosos anos de trabalho entregue ao capital. Ao trabalhador então só lhe resta o pedido de aposentadoria como preço da morte.

Outra consequência do processo capitalista é a extrema especialização do trabalho. A divisão do trabalho não é somente técnica é sobretudo social, divide-se o trabalho manual entre o trabalho intelectual surgindo dessa forma, as desigualdades de competências e de poderes, então concentra o poder e competência nas mãos dos que concebem a divisão do trabalho e a dependência, labor e servidão para os outros, de outro modo pode-se perceber que o capitalismo coloca as classes trabalhadoras umas contra as outras quando cria a hierarquia entre os próprios operários.

Brohm, 2007 alerta que esse processo dicotômico é fundamental para reprodução da dominação e a submissão as ordens do capital e, portanto, necessárias a expansão das forças produtivas do trabalho social. Crescem junto com a divisão do trabalho uma sociedade mortífera que se expressa nas péssimas condições de saúde, habitação, educação, trabalho noturno entre tantos. Essa destruição em larga escala de vidas humanas é concebida a partir da troca da venda da força de trabalho em meios de vida, não resta ao trabalhador outra alternativa senão a de retornar ao mercado novamente e vender sua força de trabalho como condição de sua sobrevivência. Assim (LEVINAS, 1993, P.120 citado por BRÖHM, 2007, p. 359) convida a “pensar a morte a partir do tempo e não mais o tempo a partir da morte. Isto nada retira do caráter inelutável da morte, mas não lhe deixa o privilégio de ser a fonte de todo significado.”, assim, a morte torna-se a única certeza do homem de igual modo que o capitalismo torna-se responsável por uma produção de mortos e feridos.

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