Cinthia da Silva Furtado

Marta Lima Alves

RESUMO

A preocupação básica deste estudo foi aprofundar sobre a problemática que norteia os alunos dos ensinos fundamental, médio e EJA, com relação ao analfabetismo cartográfico nas aulas de História. Essa situação é alarmante, haja vista que esses discentes mal conseguem fazer uma interpretação de um mapa. Tentaremos abordar a familiaridade que há entre as disciplinas de História e Geografia, por intermédio da chegada dos portugueses ao Brasil. Além disso, mostraremos a importância de mecanismos que auxilie o discente no ambiente escolar em relação as suas dificuldades de aprendizado.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

              O presente artigo possui como tema geral História por meio de mapas. Pelo fato desse tema ser bastante vasto, fizemos um recorte agregando a ele A chegada dos portugueses ao Brasil, contando como aconteceu todo esse processo de invasão do continente americano nos anos de 1500.  O presente tema teve motivação frente ao intuito de mostrar aos alunos, por meio de mapas e de texto escrito, como os europeus chegaram aqui e como implantaram o seu projeto de colonização, bem como abordar ainda a forte intimidade existente entre as duas áreas do conhecimento, ou seja, História e Geografia além de mencionar ainda como um mapa podem contribuir para a realização das atividades cotidianas em sala de aula.

Para a compreensão de um mapa faz-se necessário um amplo ou pelo menos o básico conhecimento da ciência cartográfica. Assim, ao visualizarmos um mapa interpretaremos com maior facilidade as informações que estão ali expostas ou implícitas.

Para desenvolver a pesquisa, foi utilizada como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica, por intermédio da análise de materiais impressos, bem como textos obtidos em pesquisas pela internet.

O texto final foi fundamentado nos entendimentos de autores como: Boris Fausto, que faz toda uma contextualização com relação ao início da história portuguesa em terra brasileira. André Figueiredo Rodrigues que faz jus a constituição de espaços geográficos e históricos de uma determinada sociedade. Ivison de Souza Silva que trata a necessidade da cartografia no ensino de história. Fábio Luiz da Silva e Claudinei Ferreira do Nascimento que também discutem a importância do uso de mapas nas disciplinas de Geografia e História em salas de aula.

  • A Chegada Dos Portugueses Ao Brasil em 1500

A chegada dos portugueses ao Brasil aconteceu com as grandes viagens marítimas entre os séculos XV e XVI. Os países que estavam em vigor eram Portugal e Espanha que se lançaram ao Atlântico em busca de novas terras para explorar. Tudo começou no dia 22 de Abril do ano de 1500, quando Pedro Alvarez Cabral [3]saia de Lisboa acompanhado por uma frota de 13 navios, a mais imensa desde então. A embarcação que passou pelo continente africano, seguiu sua trajetória rumo ao oeste até avistar as terras brasileiras.

No mapa da figura 1 é mostrada a jornada que Cabral realizara antes de “colocar os pés” no continente americano.  Primeiramente ele sai de Lisboa, passando pelo continente africano, dobrando o Cabo da Boa Esperança e adentrando a terra que mais tarde seria caracterizada como Brasil. Na chegada, houve uma descida rápida e somente em outro dia levantaram âncoras na Bahia, em Porto Seguro.

Segundo Boris Fausto, será que a “descoberta” do Brasil teria sido obra do acaso? Já havia, durante as navegações marítimas, um conhecimento do chamado Novo Mundo e esse sujeito histórico com o nome de Cabral estava com a tarefa de realizar missões rumo ao Ocidente. O fato é que o destino dele não era o Brasil, mas sim as Índias.

Contudo, podemos analisar também que os portugueses poderiam ter estado aqui na costa do Brasil antes de 1500. Porém, são meras especulações que servem apenas como curiosidades sobre esse período da história e que acompanham aqueles que se interessam pelo assunto.

Muitos acrescentam ao ano de 1500 uma espécie de “descoberta” e “nascimento” do Brasil. Ledo engano. São expressões enganosas, uma vez que passam a ideia de que nesse ambiente não residia nenhuma espécie humana e que somente passara a ter com a chegada dos portugueses.

Na verdade o Brasil era cercado por várias populações indígenas. As terras já tinham donos. Quando os portugueses adentraram a costa brasileira encontraram com os ameríndios, em especial os Tupis-guaranis e os Tapuias, caracterizados como uma população homogênea em termos culturais e linguísticos.

Analisando o mapa da figura 2 nos deparamos com a estimativa de que antes da chegada dos portugueses havia uma diversidade enorme de populações indígenas que habitavam o Brasil e estavam distribuídas em várias partes, cercando as áreas. Assim, conforme ressalta Fausto, como podemos dizer que a terra foi “descoberta”?

Infelizmente esse conceito é europeizado e estereotipado. Aprendemos desde cedo que a terra foi “descoberta”, porém, se nos colocarmos no lugar dos indígenas perante a situação percebemos que ela foi invadida e tirada gradualmente de seus verdadeiros donos.

Ainda segundo o autor e análise do mapa, além da presença tupi- guarani[4] havia outros grupos indígenas que estavam presentes, como por exemplo, goitacases, aimorés, tremembés, denominadas de tapuias pelos tupis-guaranis para caracterizar os povos que falavam outras línguas. Esses grupos localizavam-se em lugares como foz do Rio Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Ceará, Maranhão, além de tantos outros lugares.

A chegada dos portugueses foi captada pelos indígenas como uma grande catástrofe. Acreditavam piamente que, principalmente os padres, relacionavam-se com os seus grandes xamãs[5] que trariam a terra de abundância que era denominada de Terra Sem Males, conforme caracteriza Ronaldo Vainfas (1995) [6], em “A heresia dos índios” [5] que trariam a terra de abundância que era denominada de Terra Sem Males, conforme caracteriza Ronaldo Vainfas (1995) [6], em “A heresia dos índios” [7].

Logo após sua estadia na terra, os portugueses tentaram manter uma “boa relação” com os indígenas, fornecendo a eles vários objetos simples[8]em troca de seus serviços. Totalmente espertos, eles tratavam logo em construir “amizades” com o líder da aldeia, ou seja, o cacique, pois, conquistando-o a relação com os demais seria uma questão de tempo.

Sabemos, no entanto, que a situação no Brasil colonial não era a das melhores.  Os índios se tornaram, juntamente com os negros, a mão-de-obra escrava da Coroa e de extrema relevância para a consolidação do processo de colonização.  Eles tinham um amplo conhecimento da floresta, do mar, da direção, pois viviam ali. Segundo nos mostra o mapa da figura 3, os ameríndios eram encarregados de buscar o pau-brasil e carregar para os transportes marítimos que iriam encarregar-se de levá-los para Portugal, além de tantos outros serviços pesados.

Segundo André Figueiredo Rodrigues[9], no círculo acadêmico é praticamente de praxe utilizar a ciência cartográfica, tanto nas áreas de História quanto nas áreas de Geografia. Muitos docentes das duas áreas do conhecimento se juntam para discutir assuntos que envolvem a colaboração tanto de um quanto de outro. Concomitantemente, em outro lado do saber, denominado de ambiente escolar, os olhares são outros, totalmente diferente do que é comum na universidade.

É muito raro haver fontes cartográficas e materiais em sala de aula. Nos livros didáticos, quando aparecem, seguem acompanhadas de textos escritos, gravuras, mapas e ilustrações. Apesar da disciplina de História mostrar o quanto é relevante a utilização de mapas na “cultura histórica escolar”, a problematização e reflexão acerca dessa importância no ambiente escolar é escassa.

Praticamente não vemos o interesse por parte de alguns docentes e da própria escola em buscar mecanismos que ressalte essa relevância aos discentes. Raras vezes o professor chama a atenção para esse fator. Sendo assim, os alunos são obrigados a utilizá-los de sua maneira, sem nenhum preparo.

Como os discentes irão compreender, por exemplo, a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, através de mapas, se mal conseguem interpretá-los? Essa é uma situação preocupante. Por isso Figueiredo afirma que se os mapas, nos livros didáticos, não viessem seguidos de textos escritos a compreensão por parte dos mesmos seria nula.

Para que eles consigam fazer todo o levantamento desse processo ocorrido no Brasil é necessário que desde o início de sua escolaridade seja desenvolvido o aprofundamento da linguagem cartográfica e sua composição. Pois, segundo Ivison de Souza Silva[10], a interpretação de mapas vincula-se com a Geografia que, por sua vez, possui uma profunda relação com a História. Portanto, não se aprende História sem pelo menos a noção básica de Cartografia.

Assim sendo, fazemos de nossas palavras as dos autores Fábio Luiz da Silva e Claudinei Ferreira do Nascimento (2015), onde se percebe a necessidade de uma alfabetização cartográfica para que os alunos possam, desde o início, compreender e manusear um mapa, quem sabe ainda adquirirem um conhecimento ainda mais amplo, podendo desenvolver suas capacidades quanto às representações do espaço.

Sendo assim, é de suma relevância mencionar sobre a parceria entre História e Geografia. Segundo Leandro Karnal[11], essas disciplinas andam juntas desde o século XIX e cresceu com a obra de Fernand Braudel sobre o espaço no Mediterrâneo. A História sempre foi caracterizada pela leitura de textos escritos. Contudo, logo no início da História do Brasil com o Colégio Dom Pedro II, a Geografia já desenvolvia o seu papel no auxílio à compreensão dos conteúdos históricos.

A Geografia estava presente praticamente em todos os momentos, tanto que os acontecimentos históricos eram explicados a partir de aspectos geográficos, sendo descritos até os lugares onde os acontecimentos ocorriam.

Não há, portanto, uma familiaridade dos alunos do ensino fundamental e médio com os mapas, havendo uma profunda dificuldade de realização quando o assunto relaciona-se a interpretação de mapas, ou até mesmo quando o docente refere-se a um deles na lousa ou na imagem projetada. Se colocássemos uma atividade avaliativa tendo como recurso o mapa da chegada de Pedro Alvarez Cabral e sua trajetória até chegar ao Brasil, como seriam suas interpretações? Ou se pedíssemos para realizarem uma apresentação acerca da Cartografia, como seriam suas apreciações sobre essa ciência ? Sem dúvida nenhuma, o resultado não seria tão positivo.

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