GRATIDÃO OU RELIGIÃO?
Por Henrique Lima (www.henriquelima.com.br)

O Rabino R. S. Arush nos conta uma história bastante interessante. É sobre uma pessoa que, após ter ouvido um de seus CDs sobre “Tudo é para o bem”, comparece a uma de suas palestras sobre o tema. Esse homem era visivelmente “secular”, ou seja, não religioso, e relatou que sua vida se tornou muito abençoada quando passou a agradecer ao Criador por tudo que lhe ocorria, inclusive pelas coisas ruins, e disse que passou a fazê-lo após ler o livro de Jó, especialmente quando a esposa desse tenta persuadi-lo a abandonar a crença no Criador e ele responde: “Você fala como uma tola. Por acaso devemos receber de Deus o que é bom e rejeitar o que é mal?” (Jó 2:10).

O rabino relata, ainda, que junto estava o irmão desse senhor e que, ao contrário, era religioso e queixava-se do fato de que a vida não lhe era muito favorável apesar de procurar ser um observante fiel dos preceitos divinos. Respeitava as regras sobre alimentação, sobre o Shabbat, participava das festividades bíblicas, praticava caridade, evitava a “lashon hará” (maledicência), estudava a Torá, porém ainda assim tinha uma vida sem êxito, apesar de sua religiosidade, ao contrário de seu irmão que transgredia muitos mandamentos.

Então, o Rabino Arush afirma que seu irmão, o “não religioso”, está muito mais perto de cumprir os preceitos divinos do que ele, o “religioso”. Diante disso, começa ler um livro de comentários ao livro de Êxodo que diz: “... e o objetivo de todos os Mandamentos é que creiamos em nosso Deus e que agradeçamos a Ele, que nos criou. E esta é a intenção da criação e não há outra razão. Não tem o Criador outra vontade salvo que o homem saiba isto, e que Lhe agradeça.”.

Sem dúvidas que é muito difícil de viver na prática, mas o desejo do Criador é que aceitemos com alegria tudo que nos ocorre, não apenas o bom, mas também o que nos parece ruim, e que Lhe agradeçamos por tudo. Essa atitude revela confiança absoluta n’Ele.

O irmão religioso ficou assombrado com a exortação e reconheceu que seu irmão “secular” estava muito mais perto de agradar a Deus porque demonstrava uma fé absoluta no Criador e em sua Divina Providência. Então, se dispôs a mudar sua postura e a ser grato por tudo, principalmente por daquilo que não lhe agradava, dizendo doravante “Bendito seja Seu nome!” e, em oração, passando conversar com Ele sobre tudo que ocorre, tanto o bem como o “mal”, e, sinceramente, confiando que o Criador está no controle.

Finalmente, sobre o irmão “secular”, o Rabino explicou que Deus é extremamente paciente em esperar que um dia ele desperte para a necessidade de uma vida de observância aos demais Mandamentos, que o Eterno não exige que ele se torne santo ou um grande “justo” em apenas um dia, mas que em determinado momento ele passe a buscar ao Senhor e a viver a vida que O agrada, quando isso ocorrer poderá desfrutar de ainda maiores bençãos, tanto para esta vida como para a eterna.

Essa história nos mostra que jamais devemos julgar a vida de outras pessoas apenas porque exteriormente não demonstram uma religiosidade segundo nossas convicções, que precisamos lembrar que a fé é uma das características mais agradáveis para Ele (“sem fé é impossível agradar-Lhe” – Hb 11:6) e que as vezes aquela pessoa “secular” está num nível mais elevado de fé do que nós e, por viver em genuína gratidão ao Eterno, desfruta, igualmente, de um alto nível de bençãos materiais e espirituais.