Matheus Marques dos Santos

 

1FOTOJORNALISMO: ASPECTOS HISTÓRICOS

O século XIX foi marcado por grandes transformações, sob a égide do sistema capitalista, das revoluções industriais e do avanço acelerado da economia. Em meio disso, a situação da fotografia foi excêntrica.

Nesse contexto, o homem passou a tentar sistematicamente aumentar o grau de veracidade dos fatos e das representações do “real”, e então, surgiu a necessidade de se utilizar a máquina, para alcançar esse objetivo, dando espaço ao nascimento da fotografia:

A utilização da máquina como mediadora dessa tarefa marcou o aparecimento da fotografia e favoreceu a realização de seu propósito, de maneira até então nunca imaginada, uma vez que na sociedade capitalista do século XIX a máquina era sinônimo de imparcialidade e precisão cientifica. Acreditava-se que a fotografia determinava a alienação total do homem do processo de representação. Era como se o aparelho fotográfico possibilitasse à natureza se auto-representar. O aparelho, portanto, adaptou a perspectiva à sociedade moderna. (COSTA, SILVA, p. 17, 2004)

Contudo, observa-se que, a invenção da fotografia foi um alvoroço ideológico. Ao mesmo tempo que representava uma inovação, apresentava-se também como uma mera repetição daquilo que era real, uma arte de “linguagem fria e direta” (COSTA, SILVA, p. 18). Acerca disso, expõe-se que:

Em todas as épocas, a fotografia serviu para assegurar validade e legitimidade ao real, ao mesmo tempo em que alguns fotógrafos ou pensadores a usavam para questionar o efeito da verdade. Muitos fotógrafos e artistas trabalham em uma linha de inventar a realidade que será fotografada, como o espanhol Joan Fonctuberta, que criou vários projetos em diálogo com a ciência ou o jornalismo. (BUITONI, p. 49, 2011).

Assim, a fotografia transmite ao seu espectador o tempo do acontecimento, permitindo-o que analise os fatos e construa suas concepções a respeito disso:

No Brasil a fotografia também enfrentou essas duas realidades, pois ainda predominava o uso de desenhos para as representações das histórias, tornando dificultosa o uso das próprias imagens nos jornais, bem como expõe:

Quando a fotografia começou a aparecer na imprensa, as técnicas de gravura ainda gozavam de muito prestígio juntos aos leitores de jornais [...] Paradoxalmente, as pessoas acreditam mais no real desenhado in loco, do que no registro mecânico da fotografia [...] Apesar da possibilidade técnica de reprodução fotomecânica a meio-tom, sua adoção foi relativamente lenta, pois os leitores preferiam processos de gravura feito a mão. (BUITONI, p. 68, 2011).

Mesmo em meio à essa lentidão, no que diz respeito a sua inserção na sociedade, em 1840, utilizou-se pela primeira vez, por intermédio de Dom Pedro II, fotos como documentos. Isso representou um passo ao modernismo. E então, os primeiros registros foram cenas urbanas da cidade de São Paulo e o início das construções das ferrovias. (OLIVEIRA, VINCENTINI, p. 33)

[...] Cada inovação tecnológica da fotografia também produziu embates e alterações desde a matriz do índice até as sucessivas visualizações dos produtos difundidos pelos meios de comunicação e/ou arquivados ou contemplados em consumo privado. Uma indagação possível é sobre o que transforma uma foto comum em jornalística. Seriam as intenções que direcionaram a captura da imagem? Uma foto de família pode vir a ser uma foto jornalística? Que usos sociais legitimam essa qualificação? (BUITONI, p. 56, 2011)

Podemos constatar, entretanto, que se tratou de um processo lento, e que sofreu diversas alterações, tanto na sua exposição em relação as fotos, como nos materiais e nas técnicas a serem utilizadas pelos fotojornalistas.

6.1 A FOTOGRAFIA E O JORNALISMO: DESCRIÇÃO E TÉCNICAS

Quando a fotografia surgiu no século XIX, trouxe consigo um cenário invulgar, marcado por opiniões diversas acerca do que ela representava, e se realmente poderia ser considerada como uma arte. Essa incerteza assinalou-se pelo fato da fotografia assegurar a validade e a legitimidade do real (BUITONI, p. 49, 2011)

E assim, a força e a vulnerabilidade da imagem fotográfica são marcadas por essa proximidade com a realidade (BUITONI apud ROUILLÉ, p. 47). Nos jornais, por exemplo, preferiam-se os desenhos descritivos do que a própria fotografia, por isso que muitas vezes esta servia apenas como suporte para o desenho. Acerca disso, se expõe:

A fotografia não substitui tão fácil e rapidamente o desenho na imprensa. Há relatos que durante um bom tempo nos jornais europeus, a fotografia servia de modelo para o gravurista e de que o público atribuía mais credibilidade ao desenho do que à foto. Mesmo no século de grande aceitação da ciência – e a invenção da fotografia está relacionada ao desenvolvimento científico- esta é uma situação em que a nova tecnologia não suplantou de imediato a anterior. [...] No Brasil, o clima não foi diferente. Apesar da grande difusão da fotografia, muitas publicações preferiam os desenhos descritivos.  (BUITONI, p. 50, 2011)

Dessa forma, observa-se que, a fotografia passou por um longo processo de inserção, até se tornar o “procedimento técnico-expressivo mais determinante do conteúdo visual da imprensa” (BUITONI, p. 53, 2011). Dessa maneira, o uso da imagem fotográfica ajudou na interpretação e no esclarecimento dos fatos para os leitores. Nesse período não se discutia muito sobre a qualidade da foto, pois a simples representação do real supria as expectativas daqueles destinatários. (BUITONI, p. 52, 2011).

Contudo, quanto a representação da realidade, a fotografia traz à tona um objeto muito importante para a sua formação: o tempo. A respeito disso, expõe-se:

A fotografia transmite a seu espectador o tempo do acontecimento luminoso do que é registrado. O dispositivo cuida de assegurar essa sensação. Muitas reflexões de fotógrafos sobre fotografia recaem sobre essa inclusão do tempo na foto. A famosa fórmula de Cartier-Bresson, que define a (boa) fotografia como o encontro do instante e da geometria, pode ser ampliada a toda fotografia documental. (BUITONI, p. 48, 2011)

Dulcilia Buitoni também disserta que o tempo é fundamental para a gênese fotográfica, pois é capaz de congelar e embalsamar o passado. E assim, “essa vinculação temporal – em especial o instantâneo, espécie de congelamento de um plano-sequência imaginário- pode ser apontada como um elemento definidor de propriedades jornalísticas. ” (BUITONI, p. 54, 2011).  E assim:

A fotografia transmite a seu espectador o tempo do acontecimento luminoso do que é registrado. O dispositivo cuida de assegurar essa sensação. [...] O congelamento de um gesto de um jogador de futebol, por exemplo, percebemos que foi uma fração de segundo, pois os olhos não poderiam capturar o chute no ar dessa maneira. (BUITONI, p. 48, 2011)

Dessa forma, observa-se que, é precisa o uso da fotografia, pois existe captações de momentos, e como dito acima, de instantes, que não se podem ver naturalmente, somente através da foto. Além da proximidade com o real, também são abordadas pelo fotojornalismo a objetividade, a transparência e a verdade. Por meio dessas qualidades, desencadeou também, nos espectadores, um senso crítico a respeito das informações veiculadas pelos jornais.

6.3 O FUTEBOL E A IMPRENSA: ANÁLISE PERSPECTIVA DO OURO OLÍMPICO

O futebol faz parte da cultura brasileira e detém um grande espaço dentro da sociedade. É um grande fenômeno de audiência e ocupa espaços significativos durante a realização de grandes eventos esportivos (CARLOS, MARQUES, p. 2, 2015). Um exemplo disso, foram as olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Dessa forma, a conquista do ouro olímpico, pode revelar conflitos próprios da nossa sociedade.

Contudo, o fotojornalismo esportivo se constitui em relevante recurso de informação dos fatos que envolvem esse esporte, apresentando discursos construído através do jornalismo impresso e da fotografia (CARLOS, MARQUES, p. 2, 2015).  Assim, busca-se identificar quais os enunciados apresentados pelos jornais logo após a partida de futebol: Brasil 1 x 1 Alemanha, jogo válido pela final do futebol masculino na olimpíadas e realizada no dia 20 de Agosto de 2016, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). Com esse resultado, a Seleção Brasileira conquistou pela primeira vez em toda sua história, a medalha de ouro olímpica.

A respeito disso, foram analisadas 3 capas de jornais, em edições do dia 21 de Agosto de 2016, que retrataram a vitória da seleção brasileira sobre a Alemanha na Olímpiadas do Rio 2016. Das recorrências discursivas encontradas, destaca-se aqui a emoção como fator recorrente dessas páginas. Assim expõe:

A fotografia de futebol, no Brasil, presente pelo menos uma vez por semana pelo menos na parte mais pobre do jornal, se intercala entre a fotografia social e a fotografia cultural e de lazer. Ela tem por si só uma função psicológica desse nível. É no esporte que explodem as tensões de raiva e de ódio, de alegria e de tristeza, de vitória e de derrota, que são transmitidas da realidade das pessoas canalizadas para o esporte. É no futebol do fim de semana e no carnaval do princípio da quaresma que essa tensão mais claramente se desenvolve. (LA RUE, 2016)

Dessa forma, entende-se que é um fator relevante de mobilização, a emoção capturada e apresentada pelos fotojornalistas, pois desfrutam de um fator que (naturalmente) provoca êxito nos brasileiros.

De acordo com isso, pode-se observar nas fotos utilizadas pelos 3 jornais citados, o uso desse fator emotivo para apresentação das fotos relacionadas à vitória do Brasil. Por exemplo, a foto estampada no site do jornal Folha de São Paulo, mostra o elo entre os jogadores e a torcida brasileira durante a comemoração. O registro do jornal Imirante, destaca o jogador que era a estrela da companhia, Neymar Júnior. O jogador extravasa após conquistar a medalha de ouro olímpica, depois de ser duramente criticado pela própria imprensa. Por fim, sob a ótica das imagens do jornal O Globo, é transmitido o misto dos sentimentos aflorados na final olímpica, uma partida que era decisiva para o Brasil, e como podemos ver no registro fotográfico do jornal não faltou nervosismo e muita emoção.

7 CONCLUSÃO 

No primeiro capítulo, pode-se apresentar a evolução do fotojornalismo, o que se observou, através de um processo lento, no qual, foi necessário diversas transformações, tanto no seu modo de apresentação nos jornais e revistas, como nas técnicas utilizadas para o alcance de imagens satisfatórias. Observou-se também que a inserção da fotografia no meio social, ocasionou diversas críticas e indagações. Dentre elas, se esta podia mesmo ser considerada uma arte, pelo modo como se apresentava, de maneira “fria e direta”, como expôs a autora Dulcilia Schroeder Buitoni. Dessa forma, por muito tempo, a fotografia dividiu um espaço significativo com os desenhos descritivos, pois para o público, era uma forma mais autêntica de representação de fatos.

No segundo capítulo, aborda-se de forma mais detalhada, como se iniciou a inserção do fotojornalismo na sociedade, dissertando sobre o modo como os espectadores se posicionavam acerca desta inovação, além de expor sobre técnicas utilizadas pelos fotógrafos para captura de instantes, que ao nosso ver natural, são impossíveis de captar.

Por fim, o presente trabalho propõe uma “análise do discurso construído através do jornalismo impresso e da fotografia como principal recurso discursivo” (CARLOS, MARQUES, p. 2, 2015). Buscamos identificar no terceiro capítulo quais os enunciados do discurso jornalístico no dia seguinte à partida Brasil 1 x 1 Alemanha, jogo válido pela final do futebol masculino na olimpíadas e realizada no dia 20 de Agosto de 2016, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ), além de explorar as técnicas utilizadas pelos fotojornalistas na exposição das imagens, tendo como principal procedimento a emoção, tanto aquela exposta nos rostos dos torcedores, como também a que se deseja transmitir.