A Revista Espírita de julho de 1.858 traz um interessante relato divulgado nos jornais da época, sobre esse tema, relato este seguido pelas interpretações de Kardec. O fato ocorrido pode ser sintetizado pela aparição do rosto do sr. Badet, morto há alguns meses, na vidraça da janela de sua casa (vidraça esta imediatamente retirada pelos seus familiares).
Kardec comenta neste artigo da Revista Espírita, que seu primeiro impulso foi o de classificar este relato como vulgar, "como se faz com as notícias apócrifas, a ele não ligando a menor importância".
Ocorre que poucos dias depois, Kardec recebeu uma correspondência do Sr. Jobard, de Bruxelas, com o seguinte conteúdo: "A leitura do fato que se segue ? daquele que acabamos de citar ? passado em meu país, com um de meus parentes, dei de ombros ao ver o jornal que o relata remeter aos sábios a sua explicação, e essa valorosa família retirar a vidraça através da qual Bader olhava os transeuntes. Evocai-o para saber o que ele pensa disso.
Na sessão do dia 15 de junho de 1.858, da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o Sr. Badet foi evocado. Entre as diversas questões realizadas por Kardec ao mesmo, destaco:
2. O fato que vos concerne e que acabamos de relembrar é verdadeiro? Resp . ? Sim, é verdadeiro.
3. Poderíeis dar-nos a sua explicação? Resp. ? Existem agentes físicos, por ora desconhecidos, que mais tarde se tornarão comuns. Trata-se de um fenômeno bastantes simples, semelhante a uma fotografia, combinada com forças que ainda não descobristes.
5. Poderíeis reproduzir, pela segunda vez, o mesmo fenômeno? Resp. ? Não fui eu quem o produziu, foram as condições físicas das quais sou independente.
6. Pela vontade de quem, e com que finalidade se deu esse fato? Resp. ? Produziu-se quando eu era vivo, e independente da minha vontade; um estado particular da atmosfera o revelou depois.
Comenta então Kardec: "Resulta das explicações acima que, em si mesmo, o fato não é sobrenatural, nem miraculoso. Quantos fenômenos estão no mesmo caso, que nos tempos de ignorância deverão ter ferido as imaginações por demais propensas ao maravilhoso! É, pois, um efeito puramente físico, que prenuncia um novo passo na ciência fotográfica.".... continua Kardec"
"Geralmente invisível, em certas circunstâncias o perispírito se condensa e, combinando-se com outros fluídos, torna-se perceptível à visão e, por vezes, até mesmo tangível; ele é visto nas aparições. Sejam quais forem a sutileza e a imponderabilidade do perispírito, nem por isso deixa de ser uma espécie de matéria, cujas propriedades físicas nos são ainda desconhecidas. Desde que é matéria, pode agir sobre a matéria; essa ação é patente nos fenômenos magnéticos; acaba de revelar-se nos corpos inertes, pela impressão que a imagem do Sr. Badet deixou na vidraça. Essa impressão se deu quando estava vivo; conservou-se após sua morte, mas era invisível; foi necessário, ao que parece, a ação fortuita de um agente desconhecido, provavelmente atmosférico, para torna-la aparente. Que haveria nisso de espantoso?
Se esse fenômeno se produziu uma vez, deve poder reproduzir-se. É o que provavelmente ocorrerá quando dele tivermos a chave.
Para finalizar, destaco o trecho do artigo da Revista Espírita onde Kardec comenta: ".....De fato, seria bastante cômodo não ter senão que interrogar os Espíritos para fazermos as mais extraordinárias descobertas; onde então, estaria o mérito dos inventores, se mão oculta lhes viesse facilitar a tarefa e poupar-lhes o trabalho de pesquisa? ...... Querer forçar a ordem estabelecida é colocar-se à mercê dos Espíritos zombeteiros que lisonjeiam a ambição, a cupidez e a vaidade, para depois se rirem das decepções que causam. Muito pouco escrupulosos de sua natureza, dizem tudo o que se quer, dão todas as receitas que se lhes pede e, se necessário, as apoiarão em fórmulas científicas, sem se importarem ao menos se terão o valor das receitas dos charlatães. Iludem-se, pois, todos aqueles que acreditam pudessem os Espíritos abrir-lhes minas de ouro: sua missão é mais séria. "Trabalhai, esforçai-vos; eis o que de fato precisais", disse um célebre moralista, do qual em breve daremos uma notável conversa de além-túmulo. A essa sábia máxima, a Doutrina Espírita acrescenta: É as estes que os Espíritos sérios vêm auxiliar, pelas idéias que lhes sugerem ou por conselhos diretos, e não aos preguiçosos, que desejam gozar sem nada fazer, nem aos ambiciosos, que querem ter mérito sem esforço. Ajuda-te e o céu te ajudará."