E.U.A. O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE UM IMPÉRIO,UMA NOVA FORMA DE COLONIALISMO E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A AMÉRICA LATINA.

 Paulo Cesar de Almeida Barros Lopes

Universidade Federal Do Estado Do Rio De Janeiro

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCHS

Licenciatura em História

/Unirio/Cederj

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RESUMO

 

O objetivo do trabalho é descrever como que os EUA se tornaram uma potência colonizadora, rivalizando com as potências europeias, usando como base o documentário do cineasta e escritor Michael Moore que cobre os eventos relacionados aos ataques do  11 de setembro de  em seu documentário Farenheit 11 de setembro que dá ênfase as intervenções políticas e militares estadunidenses seus  interesses econômicos e das grandes  corporações que financiam campanhas políticas nos EUA. Analisar em que sentido os estadunidenses inauguraram uma nova fase de colonialismo,  “o colonialismo não-presencial", ou seja, controle econômico, político e militar sem necessariamente estar totalmente presente fisicamente, resgatando o passado histórico estadunidense, no qual o mesmo é analisado de forma ambígua dando assim a possibilidade de serem inseridas variadas interpretações dos fatos históricos associados aos EUA e sua política expansionista com foco na América Latina, em especial,  a ilha de Cuba. Deixar claro a aplicação da “Doutrina Monroe” que tem como objetivo conjugar os interesses estadunidenses com as elites  locais que seriam favoráveis a ingerência externa norte americana,  destacando assim  a relação de potência dominante e atuando com seu colonialismo não-presencial sobre as nações latinao-americanas através de um papel caracteristicamente anti- democrático. O trabalho visa também estudar e compreender a abordagem das seguintes questões: Como isso aconteceu na América Latina? Como essa hegemonia foi conquistada em especial na América Latina? Quais foram as "armas" utilizadas pelos nortes americanos objetivando a manutenção deste colonialismo não- presencial? E quais foram os reflexos deste colonialismo não-presencial na América Latina no século XX, especialmente em Cuba, bem como os reflexos de tais questionamentos nos dias atuais? Comparar também as ponderações do cineasta Michael Moore, no seu documentário Farenheit 11 de setembro, com a política externa adotada pelos EUA durante os principais acontecimentos militares nos quais os estadunidenses estiveram envolvidos durante o século XX.

Palavras- chave: potência colonizadora; Farenheit 11 de setembro; Michael Moore; colonialismo não-presencial; E.U.A. Cuba; América Latina.

História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI.

Segundo Karnal, os Estados Unidos tem o poder de provocar tanto ódio, que chega ao ponto de  inúmeras pessoas ao redor do mundo ficarem felizes  com ataques suicidas de fanáticos contra eles. É digno de nota também que a cultura estadunidense influencia várias outras culturas, e também, esta nação foi uma das nações que mais imigrantes acolheu em seu território e também de uma forma destacada incorpora ao seu sistema de ensino cientistas das mais variadas partes do mundo em suas melhores universidades. Outro fator de extrema importância é a influência do cinema norte-americano em todo o mundo, séries de TV e estilos de vida em geral espalhados pelo globo. Os estadunidenses são também defensores ferrenhos dademocracia, que às vezes até exagerando na defesa desta premissa utilizam-se do seu poder militar muitas vezes desnecessariamente.

A virada do século XIX para o XX foi um período de inúmeras mudanças na vida da sociedade estadunidense, ocorrera à modernização da nação, houve o crescimento populacional, os velhos e os novos problemas sociais da nação se encontraram, tais como: o racismo, a pobreza, os direitos das mulheres e muitos direitos sociais. Não obstante, o que de fato se tornou marcante na História dos EUA foi o início de um novo empreendimento, o colonialismo não-presencial que fora construído a partirda vitória na Guerra Hispano-Americana. Em vista disso, todos ao redor, América Latina e o mundo em geral, passaram a testemunhar uma nova forma de dominação imperial de natureza ‘invisível’. Como essa hegemonia foi conquistada em especial na América Latina? Quais foram as "armas" utilizadas pelos nortes americanos objetivando a manutenção deste colonialismo invisível? E quais foram os reflexos deste colonialismo não-presencial na formação dos Estados nacionais da América Latina no fim do século XIX e noséculo XX bem como os reflexos de tais questionamentos nos dias atuais?

Projetando reflexões sobre a apresentação da realidade em Farenheit 11 de setembro.

Levando em consideração as assertivas acima, somos direcionados para osquestionamentos feitos  por Michael Moore sobre os acontecimentos do 11 de setembro de 2001 no seu documentário Farenheit 11 de setembro. Neste documentário,o cineasta e escritor trata, dentre outras coisas, das intervenções políticas e militares estadunidenses deixando claro, com contundentes provas documentais, que tais intervenções foram e são efetuadas de acordo com os interesses econômicos das grandes  corporações que financiam campanhas políticas nos EUA. O alvo do documentário é a família Bush, mas a sua estrutura de questionamento ultrapassa este período, pois na verdade o ataque no dia11 de setembro de 2001 pode ser considerado como uma das consequências da política estadunidense na manutenção de seu colonialismo não-presencial. Sendo que para corroborar esta afirmativa se faz necessário  recuarmos no tempo e entendermos o processo de formação da potência norte americana e sua forma de agir objetivando o estabelecimento e a manutenção deste colonialismo “invisível”, no entanto muito poderoso.

A inauguração de um novo colonialismo- o não presencial.

Até os anos 1890, a atuação internacional dos EUA não era proporcional à sua importância econômica. A esfera de influência estadunidense ainda era inexistente, diferentemente de países como a França, Inglaterra e Espanha. Ao longo do século XIX, o país já havia se envolvido em vários conflitos internacionais, como a guerra com os britânicos em 1812, ligada ao embate entre a Inglaterra e a França de Napoleão, e a guerra contra o México (1846-1848). Sendo que paralelo a estes conflitos os norte- americanos se direcionaram para Oeste em seu próprio território guerreando com os índios e expulsando-os de suas terras e paralelamente lhes causando o que pode ser chamado de genocidio. É válido lembrar também que os estadunidenses aturam em outras frentes objetivando seu expansionismo, que inicialmente parecia desproposital, mas com o passar do tempo fora evidenciado que o mesmo tenha sido planejado, pois como prova pode-se lembrar do caso Comodoro Perry no Japão em 1853: em nome do governo dos EUA, ele usou a força militar para forçar os “fechados” japoneses a estabelecer um tratado comercial com os americanos. No Havaí, em 1893, ocorrera   de Estado liderado por descendentes de missionários americanos que derrubou a monarquia havaiana e abriu negociações para a posterior anexação do arquipélago ao território dos EUA.  E a culminação desta política expansionista se deu com a intervenção militar em grande escala de caráter extracontinental que foi a guerra hispano- americana.

Em clara evidência, percebe-se nos estadunidenses a vocação de potência, que ao mesmo tempo tinha o interesse de grandes corporações envolvidas em seus conflitos, as quais objetivavam aumentar seu mercado para consumo dos produtos excedentes e ao mesmo tempo para o fornecimento de matéria prima. Logo, para que eles pudessem cumprir seus objetivos imperialistas precisariam de um “pretexto”para seus avanços expansionistas. Na guerra contra a Espanha este “pretexto” surgiu quando em 1898 durante o conflito cubano, o presidente McKinley enviou para a zona de conflito um navio militar de guerra de nome USS Maine, mas este encouraçado acabou explodindo e os norte-americanos acusaram os espanhóis de ter afundado este encouraçado causando a morte de vários civis e militares americanos (fato este que depois de investigado posteriormente ficou provado que fora um “acidente”), sendo que por conta disso os estadunidenses interviram no processo de independência cubano fazendo assim que seus interesses ficassem em primeiro lugar naquela região tendo como resultado o encerramento do ciclo do Império espanhol e iniciando-se assim o imperialismo norte-americano. Então é imperativo afirmar que, a posição norte-americana como império dominante a partir deste momento passa a ser consolidada e mais veementemente fortalecida e a doutrina Monroe passa a ter mais vigor por meio do Corolário Roosevelt (MONIZ BANDEIRA, 2005). Desta forma os estadunidenses passam a deixar para trás a política de anexação territorial para o domínio sem anexação, por este motivo ele é chamado de colonialismo não-presencial. 

De acordo com o historiador HOBSON, J. A. (1981), o imperialismo é um processo social parasitário no qual é caracterizado por interesses econômicos que persistem em existir no interior do Estado, cujo mesmo usurpa as rédeas governamentais promovendo a expansão do império e explorando economicamente as mais variadas nações e, além disso, ainda extorque, ou retira por assim dizer, as riquezas destas nações para que os luxos da nação imperialista sejam alimentados e para piorar, utiliza o cristianismo como fachada para que os interesses imperialistas do grande capital possam ser levados adiante, usando até mesmo o nobre trabalho realizado por missionários para que os políticos e empresários possam justificar toda a dedicação a essa exploração imperialista. A cerca desta afirmação podemos perceber o enquadramento dos EUA nesta descrição, pois depois de ter se tornado uma potência no final do século XIX e início do século XX os estadunidenses lucraram em muito com a Primeira Guerra Mundial, pois por não estarem envolvido inicialmente neste conflito, e, mesmo depois de seu envolvimento não estarem localizados na área de conflito, eles acabaram se beneficiando com a carnificina europeia e passaram a despontar também como potência militar. Não obstante, com a grande depressão de 1929, ficou ruim para todas as nações. Depois veio a Segunda Guerra Mundial e daí em diante os estadunidenses despontaram como superpotência inaugurando uns cinco anos após findar a segunda guerra,a “Guerra Fria” , na qual do outro lado encontrava-se a antiga URSS e seus aliados

Dentro deste contexto, é importante observar quea construção da política externa dos EUA para a América Latina era diminuir a influência das potências colonialistas da Europa no século XIX, sendo que esta visão tinha como foco a ilha de Cuba, pois a mesma representara a máxima do expansionismo estadunidense em virtude dos interesses econômicos deles nesta ilha e também de suas pretensões pelo restante da América Latina e pelo mundo. Tal perspectiva é notada tendo em vista que o imperialismo norte-americano passaria a ditar as normas de relações com seus vizinhos do restante da América através de um processo de construção lento, mas totalmente estruturado, pois os estadunidenses sairiam de uma posição isolada no cenário mundial para uma posição de protagonismo de caráter imperialista. E esse processo de construção imperialista anda lado a lado com as necessidades da expansão norte- americana, que está atrelada ao processo de industrialização, sendo que é neste ponto que a Doutrina Monroe é colocada, pois a mesma passa a tratar da formulação de uma agenda de segurança, cujo o objetivo é conjugar os interesses estadunidenses com as elites  locais que seriam favoráveis a ingerência externa norte americana.

Colonialismo não-presencial- construção do imperialismo norte-americano e suas relações com Cuba até a Primeira Guerra Mundial.

Falando sobe esta ingerência, é importante lembrar-se do processo de independência de Cuba, o qual faz parte intrínseca da análise do colonialismo não- presencial norte-americano, pois este processo de independência foi um divisor de águas na História da América Latina contemporânea porque foi um processo que pode ser considerado como modelo na passagem da dominação europeia para a dominação dos Estados Unidos, mas apesar de ter conseguido a independência da Espanha, os cubanos ficaram sob a tutela estadunidense pelos quatro anos seguintes à independência, até que foi incluída a Emenda Platt na Constituição cubana, dando início à nova política estadunidense para com a América Latina a  qual  Theodore Roosevelt como presidente dos Estados Unidos  declarou, em setembro de 1902, que a política a seguir com a região era a de “falar tranquilamente enquanto se segurava um porrete”(  o Big Stick). Depois de aplicada a Emenda Platt e de consagrada a política do Big Stick, Cuba e outros países da América Central e do Caribe sofreram intervenções dos Estados Unidos cada vez que eles entendiam que os seus interesses eram afetados. Sobre esse intervencionismo o livro a História dos Estados Unidos diz:

A administração do presidente Taft manteve possessões e esferas de influência dos Estados Unidos em Cuba, Filipinas e América Central. Efetivamente controlando esses países, por meio da cooptação das elites e forças armadas locais e da influência econômica, os Estados Unidos também fizeram várias intervenções militares para sobrepujar ameaças ao seu controle. Tropas americanas intervieram e/ou mantiveram forças de ocupação militar em Cuba (1906-1909, 1917-1922), Haiti (1915-1934), República Dominicana (1916-1924), Nicarágua (1909-1910, 1912-1925) e México (1914, 1916-1919). Refletindo seus preconceitos raciais, os Estados Unidos ajudaram as elites militares brancas de Cuba a esmagar brutalmente uma revolta de soldados negros em 1912. Os Estados Unidos também orquestraram um golpe de Estado na Colômbia que criou o novo país do Panamá, onde logo foi construído um canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico para atender aos interesses das corporações americanas. Usando a “diplomacia dos dólares”, Taft e Wilson encorajaram bancos americanos a conceder empréstimos a muitos países das Américas, fortalecendo o controle econômico nas mãos dos Estados Unidos. Esses presidentes continuaram a política de Theodore Roosevelt de expandir o capitalismo dos EUA e tentar impor a cultura norte-americana nos países subjugados. ( História dos Estados Unidos das origens ao século XXI; Leandro Karnal, Sean Purdy, Luiz Estevam Fernandes, Marcus Vinícius de Morais-2007, páginas 193 e 194).

 

Os norte-americanos mantiveram um controle da ilha cubana por um período significativo e quando precisaram, aplicaram a Doutrina Monroe e o Corolário de Rossevelt. Não obstante, durante a Diplomacia do dólar os EUA precisaram intervir diretamente na ilha cubana por conta do que eles chamaram de ruptura política e também baseada em ‘supostas fraudes eleitorais’, bem como a grande incidência de conflitos armados, pois os EUA possuíam um investimento na casa de um bilhão de dólares em Cuba, um investimento bem significativo. Apesar deste poderoso investimento, as eleições de 1916 parecem não terem agradado ao “Tio Sam” que elegera Mario Menocal, mas os liberais oposicionistas não aceitaram o pleito e solicitaram a intervenção estadunidense para as eleições de 1917. Woodrow Wilson apoiou Menocal causando revolta em Gómez. Isso resultou no envio de três embarcações de guerras norte americanas para Cuba, culminando no desembarque de mais de 2.500 soldados que tinham como “missão” protegerem os campos de cana- de –açúcar, desta forma a ordem foi restaurada e Menocal voltou a governar em março daquele ano, período o qual que concedeu anistia para a oposição. Logo, este episódio deixa claro mais uma vez que à medida que os EUA passam a ter seus interesses ameaçados eles agem rapidamente com intuito de preservar esses interesses, custe o que custar para os seus opositores, e mais, como no caso do navio de guerra na questão da independência cubana, eles sempre desenvolvem um artifício para colocar suas ações imperialistas em prática. Por isso não é de admirar que os processos eleitorais seguintes foram extremamente confusos, tanto em 1920, como 1921 e tiveram a intervenção norte americana, que depois destas intervenções deixaram Cuba, mas permaneceram em Guantánamo. Sendo assim, os laços econômicos de Cuba com os EUA são extremamente fortes e os norte-americanos são deveras beneficiados por esta relação. Por isso no chama a atenção o desenrolar das ocupações americanas chamadas aqui neste artigo de “colonialismo não-presencial”, pois deveras, em todas as ocupações norte americanas do período da independência até o final da Primeira Guerra, sob a tutela da Emenda Platt, o exército americano não precisou entrar em combate ou confronto direto, bastando apenas o intermédio e a ameaça, demonstrando assim que o uso da força como forma de persuasão e barganha são bastante eficazes, logo,a Diplomacia do Dólar e a o Big Stick,  baseados na Doutrina Monroe, eram ferramentas eficazes na condução da política externa estadunidense, no entanto, com o governo de Franklin Delano Roosevelt que pautou pela política da boa vizinhança as coisas ficaram menos piores, pois não se pode dizer que melhorou tendo em vista que os estadunidenses apoiaram Fulgêncio Batista, um general cubano que se tornou presidente em dois momentos, no primeiro na década de 1930 e no segundo através de um golpe de Estado em 1952 que fora apoiado pelos Estados Unidos. O relacionamento de Fulgêncio Batista com os EUA se tornou bem estreito fazendo com que a influência norte- americana na ilha de Cuba fosse mais intensificada mostrando assim que o colonialismonão presencial estava a todo vapor. E esse estreitamento é bem perceptível também por conta do aumento da riqueza de Fulgêncio e seus aliados, pois era notório o vínculo deles com a máfia dos EUA, por este motivo o questionamento popular atingiu o seu mais alto nível, e isso resultou em 1959 na Revolução Cubana, que tinha no jovem advogado Fidel Castro, sua principal liderança.

As políticas militares dos EUA para a América Latina (1947-1989).  O fracasso emCuba e a guerra do Vietnã.

Destarte, esta ingerência estadunidense se reflete na a relação de potência dominante que os EUA estavam exercendo através do seu colonialismo não-presencial sobre as nações latinas americanas. As motivações americanas para as intervenções tanto em Cuba e também nos demais países vizinhos, podem ser caracterizadas pela proteção dos seus investimentos na região, e ao mesmo tempo o desenvolvimento de um reformismo político, o qual baseado na doutrina do “Destino Manifesto” expandiria a civilização norte americana na disputa de novos mercados levando os EUA a construir as bases do seu imperialismo como forma de escoar a suas produções, epor fim, manteria a “pureza” da raça branca, pois os estadunidenses jamais desejavam incorporar estados considerados inferiores aos seus domínios. Em síntese, é imperativo afirmar que, este papel era exercido caracteristicamente de forma antidemocrática, pois os EUA tentaram impor sua política de dominação independente do que essa política significaria para as outras nações, pois os interesses estadunidenses sempre deveriam estar em primeiro lugar, segundo o entendimento deles.

A Segunda Guerra Mundial inaugurou um padrão de colaboração militar entre os EUA e a maioria de seus vizinhos latino americanos. Desta forma, a partir de 1938, os EUA se esforçaram de todas as formas a evitar a influência dos países do Eixo na América Latina. As bases de da aliança militar entre os latinos e estadunidenses ocorrera através da conferência do Rio de Janeiro, que em 1942, estabeleceu bases de cooperação que posteriormente foram ratificadas (três anos depois), em Chapultepec (HOVEY, 1966:49-50). De tal modo, no imediato pós-guerra, era amplo o apoio latino-americano à manutenção dos laços militares, bem como à formação de um sistema de defesa continental fundada na padronização militar continental segundo o modelo norte-americano (MECHAN, 1961; CHILD, 1980). A efetivação esta política aconteceu através da padronização de equipamentos, procedimentos operacionais, estruturas de organização e métodos de treinamento militares. Outro fator a ser considerado era o incentivo de intercâmbio de estudantes e o recurso a missões militares, ou seja, os estadunidenses treinavam, forneciam equipamentos, contudo nunca deram o acesso final às tecnologias que eles detinham porque senão a doutrina do Destino Manifesto perderia o total sentindo, isso colocaria, por assim dizer, “por terra” toda a capacidade de ingerência americana nos assuntos dos outros povos, mostrando assim certa hipocrisia, no qual eles estavam dizendo,” somos irmãos até aonde vão os meus interesses”. É mister destacar que esta cooperação veio seguida também de inúmeras divergências por conta da política externa norte americana que colocava os latinos em segundo plano, pois o foco estadunidense era a  reconstrução da Europa porque seu adversário soviético os preocupava, em especial, nos primeiros meses da Guerra Fria, tanto que os  EUA,por meio do próprio secretário de Estado, George Marshall, apostaram suas fichas num “sólido e estreito tratado de segurança coletiva que garantisse a ‘segurança’ do Hemisfério, permitindo aos EUA se concentrarem nas áreas de maior prioridade da Europa e Ásia” (CHILD,1978:95-96).

Neste período os EUA tentaram fornecer ajuda militar por meio de transferência de material de guerra ou fornecer ajuda financeira no combate ao comunismo, mas é importante frisar que esta tentativa de dominação esbarrou na resistência cubana, que de certo modo “freou” o imperialismo norte-americano tanto através de sua revolução liderada por Castro e também pela instalação de mísseis nucleares soviéticos em solo cubano. Através da operação Mangusto, os americanos tinham o interesse de desestabilizar o governo cubano e na sequência colocar em ação a tentativa de invadir a ilha cubana, mas a operação americana foi um fracasso. Ao contrário da estratégia soviética chamada de Anadyr, que conseguiu transferir cerca de 40.000 homens, equipamentos e mísseis nucleares de médio alcance sem que os EUA, bem como grande parte do mundo ocidental percebesse. De qualquer forma, ocorrera uma reação norte- americana a essa ação soviética, na qual os EUA através de resoluções tanto na OEA, bem como na OTAN, efetivassem o Bloqueio Continental a Cuba objetivando a retirada dos mísseis teleguiados de solo cubano. Assim, na sequência dos acontecimentos os ânimos foram se acalmando, as superpotências entraram em um acordo, no qual politicamente o governo estadunidense saíra enfraquecido e o regime cubano saiu fortalecido porque conseguira sobreviver mais de cinquenta anos às hostilidades dos EUA que mesmo que aparentemente tenha encarado toda esta situação de forma positiva, vira sua hegemonia de superpotência ser questionada, então se pode dizer que a partir deste acontecimento, o colonialismo não-presencial tomara uma forma diferente porque os anos 70 passaram a ser turbulentos para os estadunidenses, pois “entre 1945 até o fim dos anos 1960 os EUA exerceram sua hegemonia numa estrutura similar ao império britânico em meados do século XIX, mas com instituições e doutrinas adaptadas a um mundo econômico mais complexo”.

 

Fim da hegemonia dos Estados Unidos.

 

No que diz respeito ao campo da Economia Política Internacional, a noção de hegemonia foi discutida por diversos autores tendo quase sempre como ponto de partida os turbulentos anos 1970 no qual configurava o declínio dos EUA como potência mundial. De fato, o cenário internacional parecia pouco promissor: fim dos acordos de Bretton Woods, crise do petróleo, derrota norte-americana na guerra do Vietnã e inúmeros riscos prementes, Em suma, a hegemonia estadunidense fora perdida a partir de 1970, sendo assim o colonialismo não-presencial perdera sua força, pois os estadunidenses perderam o poder do convencimento. Deve ser lembrado também, outro fator importante para o declínio do Império Americano, a crise do mercado imobiliário subprime nos EUA em 2007 e suas consequências, pois em virtude de tais acontecimentos o mundo testemunhou acrise global de 2008, que na época o presidente Lula chamou de “marola”.

Nos anos 1970, como agora, esse debate é atraído em grande partepor questões econômicas: o déficit externo norte-americano, a suposta decadência do dólar como moeda de reserva internacional, desemprego e baixo crescimento. O conceito de “hegemonia” tem pelo menos dois sentidos: pode significar domínio ou liderança com uma noção tácita de consentimento (SASSOON, 1988). Pode significar também como uma expressa a dominação de um Estado sobre outros Estados e a capacidade do Estado dominante em impor as condições em que são realizadas as relaçõesinterestatais, controlando os resultados dessas relações. E a Teoria da Estabilidade Hegemônica (TEH) destacou além do fim da hegemonia estadunidense, a ascensão de novas potências econômicas emergentes, em destaque o Japão e a Alemanha.

É interessante notar que, o Estado hegemônico procura convencer que seus interesses são universais, desta forma, passa a estabelecer regras de comportamento para outros Estados e para as forças da sociedade civil que operam através das fronteiras nacionais. Por este motivo e outros elencados, pode-se por assim dizer que a hegemonia mundial não é somente econômica, política ou social: é ao mesmo tempo estrutura política, econômica e social (COX, 1993, p. 61). O conceito de internacionalização do Estado desenvolvido por Cox (1986) tenta explicar os mecanismos usados para o estabelecimento da hegemonia no pós-segunda guerra. Assim, a construção da hegemonia dos EUA construída no pós-guerra não foi fruto somente do seu poder material, mas também dos seus valores que as sociedades de outros países imitaram porque julgaram sedutores.  O modo de vida americano como fora destacado no início deste artigo, através do cinema, arte, e de outros meios, influenciou e ainda influencia o modo de vida de pessoas de muitas nações.

Além do colonialismo não-presencial estar ligado diretamente ao poderio militar orientado sob as normas de condução política, é interessante destacar que este imperialismo pode ser configurado também através do poder econômica, tanto que a hegemonia estadunidense durante os anos de 1945 a 1971 deixou isso evidente para todos. Por isso é importante ressaltar que durante este período mencionado, funcionou o sistema monetário de Bretton Woods, no qual os EUA atuaram como potência hegemônica, ditando as regras de conduta do sistema diretamente ou através das instituições criadas que na verdade não eram pautadas no livre comércio, mas sim através de políticas corporativistas, por este motivo, o imperialismo não presencial estadunidense tinha como braço orientador e motivador, as grandes corporações, cujo mesmo ditavam o ritmo da política externa norte americana, na verdade ainda ditam. Sendo assim, ficou notório não só a evolução do comércio mundial, com certa noção de liberdade, mas ao mesmo tempo, esse mesmo comércio possui uma grande tolerância às políticas protecionistas, situação que é perceptível nos dias de hoje, com os EUA do presidente Donald Trump e da Inglaterra com a saída da União Europeia. Estes países praticam uma política de proteção de seus produtos sem levar em consideração se tal política afetará positiva ou negativamente seus parceiros comerciais. É importante destacar que os estadunidenses enfrentaram diversos reveses, fim dos acordos de Bretton Woods. Todavia com o fim da “Guerra Fria” aparentemente poderiam ocorrer mudanças favoráveis no que diz respeito à recuperação desta hegemonia que de fato ocorreu. De qualquer forma, segundo Cox (1993, p. 60), entre 1945 até o fim dos anos 1960 os EUA exerceram sua hegemonia numa estrutura similar ao império britânico em meados do século XIX, mas com instituições e doutrinas adaptadas a um mundo econômico mais complexo. A liderança econômica, política e militar norte-americana eram incontestáveis. As políticas de liberalização econômica aplicadas pioneiramente no começo dos anos 1980 pelos EUA e Inglaterra, e depois seguidas pelos países centrais, foram apresentadas como decorrência natural da evolução do sistema mundial, tornando-se quase que consensuais na década de 1990. Ao mesmo tempo, a expansão financeira fortaleceu o padrão monetário hegemonizado pelo dólar. Portanto, não houve um desmoronamento da ordem econômica internacional liberal como esperavam os proponentes da TEH (GILL, 2008, p. 82). Em suma a perda da hegemonia estadunidense ocorrera por conta da perda do convencimento que esta nação possuía em persuadir, em especial, as nações que viviam sob a égide do colonialismo não-presencial, pois mesmo depois da “recuperação” com o fim da Guerra Fria, a hegemonia dos EUA não seria mais a mesma, por este motivo é importante dizer que depois dos anos 1990, a hegemonia estadunidense durara por pouco tempo. Após um período sem precedentes de expansão da economia norte-americana, o “11 de setembro de 2001” e o receio acerca dos desdobramentos da “guerra contra o terror” levado a cabo pelo então presidente Bush fizeram com que os mercados globais entrassem num período de forte incerteza, exacerbando a situação precária da economia mundial até desembocar na crise financeira internacional em 2008.

 

O 11 de setembro de 2001, o começo de uma nova era.

O ataque de 11 de setembro de 2001, e como fora destacado por Moore, quando ele falou sobre a reação doentão presidente Bush em ralação aos atentados quando Bush estava em uma creche. Moore colocou o ex-presidente sob suspeita de que aparentemente ele sabia dos atentados, pois Moore enfatizou em entrevista a relação da família Bush com a família Bin Laden, e também a proteção fornecida pelo governo Bush a família de Bin Laden, gerando inúmeras suspeitas ao ex-presidente Bush. Aparentemente as acusações parecem ser vazias, mas analisando o contexto e o histórico dos presidentes americanos e suas relações com as grandes corporações, em especial, na condução de suas políticas externas, é importante levar em consideração os questionamentos. Não foi, não é, e nunca será uma novidade governantes estadunidense adotarem atitudes esdrúxulas com o intuito de dar prosseguimento a doutrina do “Destino Manifesto”, que por incrível que pareça, ainda se faz presente na cultura norte americana. É só lembrarmos o caso do encouraçado Maine que fora colocado em uma zona de conflito a qual os EUA não eram participantes, qual foi o objetivo? E o suposto ataque espanhol que futuramente fora provado que a explosão deste encouraçado fora um acidente. E os filhos dos missionários no Havaí? Foram eles é quem instigaram os locais a se rebelarem contra a monarquia vigente, depois estes insurgentes facilitaram a anexação do Havaí pelos norte americanos. E o caso da Colômbia? Com a guerra fomentada, os estadunidenses conseguiram dividir o país e futuramente assumindo o controle do canal do Panamá. Não podemos esquecer-nos da implantação das ditaduras em toda a América Latina para tentar afastar o “demônio comunista” desta região, mas na verdade criou nestes países uma dependência econômica dos norte americanos.

Por este motivo quando se fala do 11 de setembro de 2001 e das  incertezas e dos desdobramentos da guerra contra o terror, desencadeada pelo governo Bush, a qual fez  com que os mercados em todo o mundo entrassem em turbulência, assim, gerando inúmeras incertezas, cujas mesmas foram em direção a precariedade econômica e desta forma produziram a crise financeira de 2008. É importante lembrar e deixar bem evidente que, a hegemonia norte-americana com seu colonialismo não-presencial fora colocada em “xeque” novamente, mas o problema é que as demais nações não foram capazes de se impor adicionando novas regras à estrutura econômica mundial cambaleante, a qual se formara no rastro de poder estadunidense, por este motivo o colonialismo não-presencial estadunidense ironicamente ainda se faz presente.

 

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