O escravagismo africano

                                                                              Francisco Hermes Batista Alencar

                                                                                        Maria Cilene Gomes Vieira[1]


O antropólogo senegalês Tidiane N'Diaye, em sua obra Genocídio Velado, estima que do século VIII até o século XX, 17 milhões de africanos deixaram a África Subsaariana por via terrestre; pelas caravanas através do Saara, pela costa, ou pelo mar do oceano Índico, em direção aos reinos islâmicos. Outros estudiosos concordam com o número (entre 10 e 18 milhões [2]).O tráfico transatlântico, segundo ele, moveu 13 milhões [1].

Importante salientar que, segundo o mesmo antropólogo, no continente americano (incluindo o Brasil), vivem hoje 70 milhões de descendentes das vítimas do tráfico transatlântico; já nos países árabes, não se tem essa mesma presença negra, pois era comum a castração dos homens capturados [1]. Paul Bairoch, economista, diz: "dificilmente há vestígios de escravos negros na terra do Islã, por causa da generalização da castração, maus-tratos e mortalidade muito alta,"[2].

Tidiane N'Diaye afirma que este capítulo doloroso da deportação de africanos na terra do Islã é comparável a um genocídio. Essa deportação não se limitou à privação de liberdade e trabalho forçado, foi também e em grande parte, um verdadeiro empreendimento programado do que poderia ser chamado de "extinção étnica por castração" [2].

É bom salientar que oficialmente a escravidão perdurou no mundo islâmico por mil e trezentos anos, e foi abolida por último no Marrocos (1956), Arábia Saudita (1962) e finalmente Mauritânia (1981) [10], mas a imprensa denuncia que ainda esteja ocorrendo escravidão e até mercados de escravos no norte da África e em países árabes. Há relatos de ocorrências da venda de crianças no Senegal [11], mulheres na Arábia Saudita [12], e até mesmo um mercado de escravos online no Kuwait [13]. Países do Oriente médio e África Oriental só estão atrás da Coreia do Norte em número de escravos hoje, segundo estimativas da ONU  [14].

Uma evidência desse costume enraizado é o relato de Gloria Maria, conhecida apresentadora brasileira que, ao passar em viagem pelo Marrocos, recebeu uma "proposta de compra", no valor de 200 camelos; certamente se a oferta houvera sido na Europa por um cristão, não seria recebida com mesmo bom humor com que lidaram com o marroquino [15].

Para maior aprofundamento do assunto indico o documentário "Os Escravos Desconhecidos", baseado na obra do antropólogo Tidiane N'Diaye, "Genocídio Velado", ( https://youtu.be/VDUN4fZPeNc ): Fontes nos comentários.




 

[1] Alencar e Vieira são psicopedagogos e mestres em ciências da educação e FACSU – Faculdade Sucesso de São Bento PB: [email protected]