Escola Bíblica e Dominical em Moçambique: Desafios e Oportunidades no Uso de Metodologias Activas

Por Wagner Alexandre Sitoe | 11/07/2025 | Bíblia

Escola Bíblica e Dominical em Moçambique: Desafios e Oportunidades no Uso de Metodologias Activas

Marta Zabulane Sitoe[1]

Wagner Alexandre Sitoe[2]

Yukila Wagner Si toe[3]

Resumo

O artigo faz uma análise do impacto das metodologias activas na Escola Bíblica e Dominical, promovendo um ambiente dinâmico e participativo. Entre os objectivos específicos, destaca-se a identificação da literatura existente sobre metodologias activas e sua aplicação no contexto educacional da Escola Bíblica e Dominical em Moçambique. Além disso, busca-se caracterizar as práticas pedagógicas actuais e suas relações com as metodologias activas. Por fim, o artigo propõe a criação de directrizes e sugestões para a implementação dessas metodologias, levando em conta as particularidades do contexto religioso e educacional moçambicano. Assim, a pesquisa não apenas visa a mudança nas estratégias de ensino, mas também uma reavaliação do papel do educador e das expectativas dos alunos, enriquecendo a experiência na Escola Bíblica e Dominical. Outrossim, a Escola Bíblica e Dominical desempenham um papel crucial na formação espiritual de crianças, jovens e adultos nas comunidades religiosas. Tradicionalmente, adoptou uma abordagem instrucionista, onde o professor é o principal transmissor de conhecimento e os alunos, receptores passivos. No entanto, com a valorização das metodologias activas, surge a necessidade de adaptar essas práticas pedagógicas, promovendo a participação activa dos alunos e estimulando o pensamento crítico. Este artigo conclui que a implementação dessas metodologias pode transformar a dinâmica das aulas, contribuindo para uma vivência mais profunda da fé.

Palavras-chave: Escola Bíblica; metodologias Activas; Moçambique.

 

School in Africa: the challenges of using active methodologies in the Mozambican context

Abstract

This article analyzes the impact of active methodologies in Sunday School, promoting a dynamic and participatory environment. Among the specific objectives, we highlight the identification of existing literature on active methodologies and their application in the educational context of Sunday School in Mozambique. In addition, we seek to characterize current pedagogical practices and their relationships with active methodologies. Finally, the article proposes the creation of guidelines and suggestions for the implementation of these methodologies, taking into account the particularities of the Mozambican religious and educational context. Thus, the research not only aims to change teaching strategies, but also to reevaluate the role of the educator and the expectations of students, enriching the Sunday School experience. Furthermore, Sunday School plays a crucial role in the spiritual formation of children, youth and adults in religious communities. Traditionally, it has adopted an instructionist approach, where the teacher is the main transmitter of knowledge and the students, passive receivers. However, with the appreciation of active methodologies, there is a need to adapt these pedagogical practices, promoting active participation of students and stimulating critical thinking. This article concludes that the implementation of these methodologies can transform the dynamics of classes, contributing to a deeper experience of faith.

Keywords: Bible School; Active methodologies; Mozambique.

1. Introdução

As Escola Bíblicas e Dominicais exercem um papel fundamental na formação espiritual e moral de crianças, jovens e adultos nas comunidades religiosas. Tradicionalmente, este espaço de ensino adotou uma abordagem instrucionista, onde o professor é o principal transmissor de conhecimento e os alunos são receptores passivos. Contudo, com a crescente valorização das metodologias activas, a Escola Bíblica e Dominical enfrentam o desafio de adaptar-se a novas práticas pedagógicas que promovem a participação activa dos alunos, estimulando o pensamento crítico e a construção colectiva do conhecimento.

 

Em Moçambique, a situação é ainda mais desafiadora, pois as aulas da Escola Bíblicas e Dominicais frequentemente ocorrem em pátios das igrejas ou ao ar livre, sem as condições adequadas para um processo eficaz de ensino e aprendizagem. Além disso, há uma carência significativa de professores qualificados; muitos dos que lecionam não possuem formação integral em pedagogia, mesmo aqueles que actuam em níveis mais altos da igreja, como a Sede - Pandora. Isso resulta em um aprendizado deficiente, que contribui para a desinformação, perda de almas e um conhecimento distorcido da Palavra de Deus.

 

Nesse contexto, é essencial analisar como a implementação de metodologias activas pode transformar a dinâmica das aulas, promovendo os participantes de forma mais efetiva e contribuindo para uma vivência mais profunda da fé. Este desafio não se limita à mudança de estratégias de ensino, mas também envolve uma reavaliação do papel do educador e das expectativas dos alunos, promovendo uma experiência mais rica e significativa no ambiente da Escola Bíblica e Dominical.

 

2. Referencial Teórico

2.1. Escola Bíblica e Dominical

A Escola Bíblica e Dominical são espaços educativo nas comunidades religiosas, geralmente vinculado a igrejas, que visa proporcionar ensino bíblico e formação espiritual. Surgiu no século XVIII, com o objectivo de educar crianças e adultos sobre os princípios da fé cristã. Além de ensinar a doutrina religiosa, a Escola Bíblica e Dominical promovem valores morais e sociais, sendo uma ferramenta importante para a formação de líderes e a integração da comunidade (Leal, Miranda e Nova, 2019).

2.2. Método de Ensino

Os métodos de ensino nas Escolas Bíblicas e Dominicais variam conforme a abordagem pedagógica e os objectivos do ensino. Queiroz e Moita (2007) sublinham que tradicionalmente, o ensino ocorre de forma expositiva, mas existem métodos interativos (Construtivista e Montessoriano), como discussões em grupo e uso de recursos multimídia, que buscam engajar os alunos de forma mais activa. Cabe ao professor e à instituição de ensino a que ele está vinculado utilizar um ou mais métodos para auxiliar no processo de aprendizado dos alunos. A escolha do método impacta diretamente na retenção do conhecimento e na formação de uma experiência significativa para os alunos.

2.3. Metodologias Activas

Segundo Montessori (2003) e o discurso Construtivista, as metodologias activas são abordagens pedagógicas que colocam o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Exemplos incluem aprendizagem baseada em projectos, ensino por investigação e sala de aula invertida. Essas metodologias promovem a participação activa, a colaboração e o desenvolvimento de habilidades críticas e criativas. Na Escola Bíblica e Dominical, a adopção de metodologias activas pode enfrentar desafios, como resistência à mudança por parte dos educadores e a necessidade de formação específica para sua implementação eficaz.

3. Metodologia

         Para uma compreensão ampla dos desafios enfrentados na implementação das metodologias activas na Escola Bíblica e Dominical recorreu-se ao método dedutivo visto que este permitiu a partir da análise de questões generalizadas chegar a conclusões particulares.

         O estudo incluiu a pesquisa bibliográfica e observações em sala de aula para entender como as metodologias activas são aplicadas na prática, permitindo uma análise contextual das interações entre educadores e alunos. Essas abordagens permitiram uma colecta de dados rica e diversificada (Libâneo, 1985).

4. Estudo do Tema

4.1.  Contexto da Escola Bíblica e Dominical

A Escolas Bíblicas e Dominicais foram introduzidas em Moçambique no século XX, um período marcado pela chegada de missionários de diversas denominações. Desde então, estas Escolas se estabeleceram como um espaço vital para a educação religiosa, oferecendo ensinamentos bíblicos e formação ética a crianças, jovens e adultos. Geralmente organizadas nas igrejas, as Escolas Bíblicas funcionam entre uma a quatro vezes por semana enquanto as escolas Dominicais funcionam aos domingos, momento em que as comunidades se reúnem para aprender e crescer espiritualmente. As aulas são ministradas por voluntários, frequentemente membros da congregação, que se dedicam a ensinar e guiar os estudantes em sua jornada de fé.

Entretanto, nos dias actuais, a selecção destes professores observa como elemento principal a carreira cristã ou a designação eclesiástica (Diácono, Evangelista, Missionário ou Pastor), que geralmente tenham frequentado o ensino teológico. Esses elementos são, na maioria das vezes, acrescidos por alguns meses de formação psicopedagógica. No entanto, essa formação é frequentemente insuficiente para preparar adequadamente um educador que desempenha um papel tão crucial na formação espiritual e moral dos alunos.

De acordo com a Nhampossa Reitopra da Universidade Católica de Moçambique – Extensão de Maputo, durante o curso de formação em Psicopedagogia do ensino superior, questionou-se:

“Quem de entre nós pode entregar conscientemente o seu corpo para ser operado por um professor, historiador, filósofo, matemático, etc., que tenha participado num curso de formação de seis meses em Cirurgia Geral?”

A resposta é clara: de maneira nenhuma. Essa analogia ilustra a gravidade da situação, pois a educação, especialmente no contexto da Escola Bíblica e Dominical, exigem uma formação sólida e abrangente que vai além de um mero conhecimento teológico.

Assim, fica evidente que, quem tenha feito qualquer outro curso que não seja um curso integral de psicopedagogia deveria ser afastado desta nobre e sensível missão. Esta missão não pode ser vinculada apenas a dom, gosto e admiração, mas sim a uma formação associativa que complemente esses aspectos. A pedagogia é uma ciência que demanda conhecimento específico sobre o desenvolvimento humano, metodologias de ensino e estratégias de aprendizagem, que são essenciais para garantir que a mensagem bíblica seja transmitida de forma clara, eficaz e relevante.

Infelizmente, a falta de formação adequada desses professores polui o processo de ensino bíblico e descredibiliza este importante espaço de aprendizado. Quando os educadores não possuem as habilidades necessárias, a qualidade do ensino se deteriora, resultando em desinformação e confusão entre os alunos. Isso pode levar à perda de almas e a um entendimento distorcido da Palavra de Deus, comprometendo a missão da Escola Bíblica e da Escola Dominical.

Portanto, é imperativo que as comunidades religiosas reavaliem os critérios de selecção dos educadores que actuam em suas Escolas. A formação pedagógica deve ser considerada um pré-requisito indispensável, promovendo não apenas a transmissão de conhecimento teológico, mas também a capacidade de engajar os alunos de maneira dinâmica e participativa. Somente assim poderemos construir uma base sólida para uma educação cristã que forme indivíduos comprometidos e bem informados, capazes de viver e compartilhar sua fé de maneira autêntica e significativa.

4.2. Importância do Ensino Prático das Escolas Bíblicas e Dominicais

A Bíblia enfatiza a importância do ensino prático em várias passagens, destacando a necessidade de não apenas ouvir, mas também agir de acordo com os ensinamentos recebidos. Um exemplo claro é encontrado em Tiago 1:22, que afirma: "E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos." Esta passagem ressalta a importância de colocar em prática o que se aprende, reforçando que o conhecimento sem acção é insuficiente e, em muitos casos, pode levar ao engano. A prática é uma forma de vivenciar a fé e de demonstrar a verdadeira compreensão da Palavra de Deus. Outrossim, em Mateus 28:19-20, encontramos a Grande Comissão, onde Jesus manda: "Portanto, ide, ensinai todas as nações..." Este chamado não apenas destaca a necessidade de ensinar, mas também de praticar os ensinamentos de Jesus em todas as áreas da vida. A passagem enfatiza que o ensino deve ser acompanhado pela ação, ou seja, ao disseminar a mensagem do Evangelho, devemos também viver essa mensagem em nossas interacções diárias e em nossa comunidade.

Outro aspecto crucial é abordado em 2 Timóteo 3:16-17, que afirma que a Bíblia é "inspirada por Deus e útil para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça." Este versículo sublinha que a Escritura é o único instrumento verdadeiramente eficaz para orientar nossa educação e formação espiritual. A Bíblia não é apenas um texto para ser lido, mas um manual de vida que nos instrui em como viver de maneira justa e íntegra.

Nesse contexto, as Escolas Bíblicas e Dominicais desempenham um papel fundamental na vida espiritual e comunitária em Moçambique. Este espaço de ensino e aprendizagem não é somente um local de instrução religiosa, mas também um ambiente que oferece várias contribuições significativas para os indivíduos e para a sociedade como um todo. Segundo Queiroz e Moita (2007), a Escola Bíblica e Dominical são espaços onde os princípios bíblicos são aplicados de forma prática, ajudando os alunos a desenvolverem uma fé activa e comprometida.

O ensino prático nas Escolas Bíblicas e Dominicais permitem que os indivíduos não apenas assimilam informações, mas também as apliquem em suas vidas diárias. Isso resulta em uma transformação pessoal que se reflete em acções concretas dentro da comunidade. Ao incentivar a prática dos ensinamentos bíblicos, as Escolas Bíblicas e Dominicais contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e ética.

Além disso, o ambiente destas Escolas proporcionam uma oportunidade única para o desenvolvimento de habilidades interpessoais e de liderança. Os alunos são encorajados a participar activamente, em vez de serem meros receptores de informação. Isso não só fortalece sua confiança, mas também os prepara para assumir papéis de liderança dentro da comunidade, disseminando valores cristãos e influenciando positivamente aqueles ao seu redor.

Portanto, a importância do ensino prático nas Escolas Bíblicas e Dominicais vão muito além da aprendizagem académica. É uma questão de vivência, acção e transformação. Ao integrar teoria e prática, essas instituições educacionais se tornam fundamentais para a formação de cidadãos que não apenas conhecem a Palavra de Deus, mas também a vivem de maneira autêntica, impactando suas comunidades de forma significativa e duradoura. Assim, a Escola Bíblica e Dominical emerge como um pilar essencial na educação cristã, promovendo não apenas a espiritualidade individual, mas também a coesão e o desenvolvimento social.

4.2.1. Formação Espiritual

Uma das contribuições mais importantes das Escolas Bíblicas e Dominicais é a sólida formação espiritual que proporciona aos participantes. Através do estudo da Bíblia e da doutrina cristã, os alunos são incentivados a aprofundar sua relação com Deus. Este processo não só fortalece a fé individual, mas também promove uma compreensão mais profunda dos valores cristãos que orientam a vida quotidiana (Kapp, 2012).

Além da formação espiritual Kapp (2012), vincula a Escola Bíblica e Dominical como instituições que se comprometem a ensinar valores éticos e morais essenciais para a convivência em sociedade. Lições sobre honestidade, respeito, solidariedade e amor ao próximo são enfatizadas, ajudando a moldar cidadãos mais conscientes e responsáveis. Esse desenvolvimento de valores é crucial em um mundo onde as interacções sociais são cada vez mais complexas.

 

Outrossim, a Escola Bíblica e Dominical actuam como um ponto de encontro para famílias e indivíduos, fortalecendo os laços comunitários. Para Gomes et al. (2010), as actividades em grupo, como cultos, estudos bíblicos e eventos sociais, promovem a união e o apoio mútuo, criando um ambiente de acolhimento e fraternidade. Esse fortalecimento da comunidade é vital para a construção de relações saudáveis e solidárias entre os membros.

 

4.2.2. Educação e Capacitação

Além do ensino religioso, muitas Escolas Bíblicas e Dominicais em Moçambique oferecem capacitação em diversas áreas, como liderança, habilidades práticas e desenvolvimento pessoal. Isso é especialmente importante em um contexto onde o acesso à educação formal pode ser limitado (Acich e Moran, 2018). Estas Escolas se tornam, assim, num espaço de aprendizagem abrangente, contribuindo para o crescimento integral dos participantes.

Para Queiroz e Moita (2007), em muitas comunidades, a Escola Bíblica e Dominical também se transformam em um espaço de apoio social. As necessidades dos membros são identificadas e atendidas através de programas de assistência, como doações de alimentos e apoio emocional. Essa atuação reflete o compromisso cristão com o bem-estar do próximo e a solidariedade necessária para enfrentar os desafios da vida.

Os autores concluem que a Escola Bíblica e Dominical em Moçambique são, portanto, muito mais do que um simples espaço de ensino religioso. Ela desempenha um papel crucial na formação espiritual, no desenvolvimento de valores éticos, no fortalecimento da comunidade, na educação e na assistência social. Ao investir nesse ministério, as igrejas contribuem significativamente para a transformação de vidas e para o fortalecimento da sociedade como um todo.

5. Desafios daa Escolas Bíblicas e Dominicais

Apesar de seu papel vital na formação espiritual e comunitária, as Escolas Bíblicas e Dominicais enfrentam vários desafios que dificultam sua plena realização. Esses desafios incluem: Recursos, capacitação, organização, resistência Cultural e a implementação das metodologias activas.

 

5.1. Recursos, organização e Capacitação

A escassez de recursos financeiros, materiais e humanos qualificados representa um dos principais obstáculos que as igrejas enfrentam ao tentar implementar programas de ensino eficazes. Muitas comunidades religiosas têm dificuldade em manter programas de ensino consistentes, adquirir materiais didácticos adequados e oferecer uma infra-estrutura que atenda às necessidades de seus membros. Essa limitação não apenas compromete a qualidade do ensino, mas também afecta directamente a experiência dos participantes, que podem se sentir desmotivados e desinteressados em um ambiente que não oferece os recursos necessários para um aprendizado significativo (Gomes et al., 2010).

Um desafio igualmente significativo é a falta de professores qualificados. A formação e capacitação de educadores é uma necessidade urgente nas Escolas Bíblicas e Dominicais, pois muitos líderes e instrutores não possuem a formação necessária para ensinar de maneira eficaz. A ausência de treinamentos regulares e workshops limita a capacitação contínua e a actualização dos professores, resultando em uma educação que pode ser inadequada e, muitas vezes, desactualizada (Kapp, 2012). Para que os educadores possam desempenhar um papel efectivo na formação espiritual e moral de seus alunos, é crucial que sejam reavaliados com frequência. Essa reavaliação deve considerar não apenas a eficácia de sua actuação nas igrejas, mas também seu crescimento científico e conhecimento psicopedagógico.

É fundamental olhar para a inclinação e formação dos educadores, garantindo que suas deficiências nas matérias a lecçionar não sejam perceptíveis. A capacidade e a entrega desses professores devem estar associadas à pesquisa e ao contributo académico, de modo que possam trazer uma abordagem mais enriquecedora para o ensino. Para isso, é necessário um sistema de avaliação que promova a melhoria contínua e a formação de professores.

Além disso, as Escolas Bíblicas devem se estruturar adequadamente para atender às variadas necessidades de formação. É essencial que o sector pedagógico possua, no mínimo, dois departamentos distintos: um dedicado às disciplinas teológicas, onde os assuntos e disciplinas estão directamente ligados a Deus e ao crescimento da fé cristã. Isso incluiria áreas como cristologia, teologia sistemática e hermenêutica, que são fundamentais para a formação espiritual dos alunos.

O segundo departamento deve abranger disciplinas gerais, onde as cadeiras são mais associadas a áreas seculares, como economia, sociologia, desenvolvimento urbano e outras disciplinas que ajudam a preparar os alunos para entender o mundo ao seu redor de maneira crítica e informada. Essa abordagem multidisciplinar não apenas enriquecerá o aprendizado, mas também permitirá que os alunos integrem seu conhecimento teológico com questões práticas e sociais contemporâneas.

Portanto, a falta de recursos, organização e a capacitação inadequada dos educadores são desafios que demandam atenção urgente. A superação desses obstáculos é crucial para o fortalecimento das Escolas Bíblicas e da Escola Dominical, assegurando que os futuros líderes e a comunidade como um todo sejam devidamente preparados para enfrentar os desafios do mundo moderno, sem abrir mão dos princípios e valores cristãos. A implementação de uma estrutura sólida e um compromisso com a formação contínua dos educadores pode transformar a experiência de ensino e aprendizagem, promovendo uma educação que não apenas informa, mas também transforma vidas.

 

6.3. Resistência Cultural

Em algumas comunidades, a resistência a novas abordagens de ensino e ao papel da Escola Bíblica e Dominical pode ser um desafio. Para (Gomes al., 2010 e Kapp, 2012), as tradições culturais e crenças locais frequentemente interferem na aceitação das mensagens e práticas cristãs, dificultando a eficácia do ministério e a absorção dos ensinamentos.

As rápidas mudanças sociais e económicas em Moçambique, incluindo a urbanização e a migração, geram novos desafios para estas Escolas. As igrejas precisam se adaptar para atender às necessidades de uma população em constante mudança, o que muitas vezes requer uma reavaliação das estratégias de ensino.

Kruger e Ensslin (2013) acrescentam que a competição por atenção e tempo é um desafio significativo, com o aumento das actividades extracurriculares e do entretenimento, especialmente entre os jovens, a participação na Escola Bíblica e Dominical pode ser afectada. Criar um ambiente atraente e relevante é essencial para manter o interesse dos participantes.

No entanto, apesar desses desafios, as Escolas Bíblicas e Dominicais em Moçambique continuam a ser uma ferramenta poderosa para a transformação espiritual e social. Superar esses obstáculos demanda esforços conjuntos das igrejas, comunidades e organizações, garantindo que estas Escolas cumpram seu papel vital na vida dos indivíduos e da sociedade.

6.4. A Implementação das Metodologias Activas

A integração das metodologias activas na Escola Bíblica e Dominical apresenta desafios, como a adaptação do currículo, a formação contínua dos educadores e a resistência cultural (pelo facto de algumas metodologias activas como o método construtivista, baseiar-se no diálogo entre o educador e o educando, no qual o educador não é apenas o que educa, ao mesmo tempo em que educa o aluno, ele também é educado).

Alguns educadores estão acostumados a métodos tradicionais e podem se sentir inseguros ao adoptar abordagens mais inovadoras.  Por outro lado, está a dificuldade de o professor conduzir a turma, pois cada aluno possui um ritmo de aprendizagem próprio. Além disso, é essencial considerar a diversidade do público atendido, que pode exigir adaptações nas actividades propostas. Apesar dos desafios, a aplicação dessas metodologias pode revitalizar o ensino, tornando-o mais dinâmico e relevante, promovendo um ambiente de aprendizagem colectivo e motivador (Freire, 2000).

7. Metodologias Activas na Escola Bíblica e Dominical em Moçambique

A adoção de metodologias activas nas Escolas Bíblicas e Dominicais podem tornar a aprendizagem mais envolvente e significativa. Essas abordagens incentivam a participação activa dos alunos e promovem um ambiente de ensino flexível. Kapp, (2012), destaca algumas metodologias que podem ser aplicadas nestas instituições de ensino:

a)      Aprendizagem Baseada em Projectos

A aprendizagem baseada em projetos permite que os alunos trabalhem em grupos para desenvolver projetos que reflitam temas bíblicos ou questões sociais. Essa metodologia não apenas estimula a colaboração e a criatividade, mas também proporciona uma aplicação prática dos ensinamentos religiosos na vida quotidiana.

a)      Discussões em Grupo

Fomentar discussões em grupo sobre passagens bíblicas ou tópicos relevantes ajuda os alunos a expressarem suas opiniões e a aprenderem uns com os outros. Essa abordagem promove o pensamento crítico e a reflexão pessoal, facilitando uma compreensão mais profunda dos ensinamentos.

b)     Dramatizações e Representações

A utilização de dramatizações e encenações de histórias bíblicas torna a aprendizagem mais quotidiana e impactante. Os alunos podem assumir papéis de personagens bíblicos, o que não só torna a experiência mais divertida, mas também ajuda na internalização das lições.

c)      Aprendizagem por Experiência

A aprendizagem por experiência envolve actividades práticas que permitem aos alunos vivenciarem os princípios cristãos em acção. Isso pode incluir atividades de serviço comunitário, onde os alunos aplicam ensinamentos sobre amor e solidariedade, promovendo um sentido de responsabilidade social.

d)     Jogos Educativos

Integrar jogos educativos nas aulas pode tornar a aprendizagem mais divertida e interativa. Jogos que envolvem perguntas bíblicas, quizzes e actividades em equipa incentivam a competição saudável e a colaboração, tornando a experiência de aprendizagem mais envolvente.

e)      Uso de Recursos Multimídia

A incorporação de recursos multimídia, como vídeos, músicas e apresentações visuais, pode enriquecer as aulas. Esses recursos ajudam a captar a atenção dos alunos e a ilustrar conceitos de maneira mais clara e memorável.

Contudo, a implementação de metodologias activas nas Escolas Bíblicas e Dominicais em Moçambique podem transformar a experiência de aprendizagem, tornando-a mais envolvente e relevante. Ao adoptar essas abordagens, as igrejas podem promover um ambiente de ensino que estimula a participação, a reflexão e a aplicação prática dos ensinamentos cristãos, contribuindo para a formação de indivíduos mais comprometidos e conscientes.

8. Benefícios Psicológicos do Ensino Técnico para Alunos e Professores

O ensino técnico, especialmente no contexto das Escolas Bíblicas e Dominicais, oferece uma diversidade de benefícios psicológicos tanto para alunos quanto para professores. Esses benefícios são essenciais para o desenvolvimento integral dos indivíduos envolvidos e podem ter um impacto duradouro na comunidade (Gardner, 1998).

8.1. Aumento da Autoconfiança e Pensamento Crítico

Para os alunos, a participação em programas de ensino técnico contribui significativamente para o aumento da autoconfiança. Meyer (2007) acrescenta que ao adquirir novas habilidades e conhecimentos práticos, os alunos se sentem mais capacitados e seguros em suas capacidades. Essa autoconfiança não apenas melhora seu desempenho académico, mas também se reflecte em suas interações sociais e na maneira como enfrentam desafios na vida quotidiana.

Para Moran (2011) o ensino técnico promove igualmente a aplicação prática do conhecimento, incentivando os alunos a desenvolverem habilidades de pensamento crítico. Ao resolver problemas reais e aplicar conceitos teológicos em situações cotidianas, os alunos aprendem a analisar informações de forma mais profunda e a tomar decisões informadas. Esse desenvolvimento cognitivo é benéfico não apenas para o aprendizado académico, mas também para a formação de uma identidade crítica e reflexiva. Desta forma, os alunos podem ver os resultados de seus esforços de maneira tangível. Essa satisfação e realização pessoal são fundamentais para o bem-estar psicológico, pois os alunos sentem que estão contribuindo para algo maior, como a sua comunidade e a sua fé. Essa conexão entre aprendizado e propósito pode ser um poderoso motivador.

8.2. Redução do Estresse e da Ansiedade

Freire (1996) relata que para os professores, o ensino técnico também apresenta benefícios psicológicos significativos. Segundo o autor, ao adoptar abordagens pedagógicas mais interactivas e colaborativas, os educadores podem experimentar uma redução do estresse e da ansiedade associados ao ensino tradicional. Kapp (2012) sublinha que o envolvimento em metodologias activas permite que os professores se sintam mais conectados com seus alunos e mais realizados em suas funções, o que, por sua vez, melhora seu estado emocional.

O ambiente de aprendizagem colaborativa proporcionada pelas metodologias activas, onde alunos e professores interagem mais frequentemente. Esse ambiente promove o desenvolvimento de habilidades interpessoais, como empatia, comunicação e trabalho em equipa. Essas habilidades são vitais tanto para o sucesso académico quanto para a vida cristã e profissional futura, contribuindo para um ambiente mais harmonioso e produtivo dentro das escolas (Gardner, 1998).

Finalmente, o ensino técnico nas Escolas Bíblicas e Dominicais não apenas beneficia indivíduos, mas também fortalece a comunidade como um todo. Alunos e professores que se sentem valorizados e capacitados tendem a se envolver mais activamente em suas comunidades, promovendo um ciclo de apoio e crescimento mútuo. Essa coesão social se traduz em um ambiente mais positivo e produtivo, onde todos se beneficiam do aprendizado e do crescimento coletivo.

Os benefícios psicológicos do ensino técnico são vastos e impactantes, tanto para alunos quanto para professores. Ao promover a autoconfiança, o pensamento crítico, a satisfação pessoal e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, o ensino técnico não apenas enriquece a experiência educacional, mas também contribui para o bem-estar psicológico e emocional de todos os envolvidos. Investir na capacitação técnica e na implementação de metodologias ativas é, portanto, uma estratégia essencial para a transformação das Escolas Bíblicas e Dominicais em Moçambique.

 Conclusão

As Escolas Bíblicas e Dominicais em Moçambique desempenham um papel vital na formação espiritual, moral e social de crianças, jovens e adultos nas comunidades religiosas. Este estudo destacou a necessidade de evoluir a abordagem tradicional de ensino, que muitas vezes se baseia em métodos técnicos instrucionistas, para um modelo mais dinâmico e participativo. A implementação de metodologias activas surge como uma solução promissora, capaz de transformar a experiência de ensino e aprendizagem, promovendo a participação activa dos alunos, o pensamento crítico e a construção colectiva do conhecimento.

Os desafios enfrentados, como a falta de recursos, a escassez de professores capacitados e a resistência cultural, não podem ser subestimados. Contudo, superá-los é fundamental para garantir que as Escolas Bíblicas e Dominicais continuem a cumprir seu papel transformador na vida das comunidades. A colaboração entre educadores, igrejas e a comunidade em geral é essencial para a implementação bem-sucedida de novas práticas pedagógicas.

Por fim, este estudo ressalta que as Escolas Bíblicas e Dominicais tem o potencial de se tornar verdadeiros agentes de mudança social, caso abracem as metodologias activas e se comprometam com a inovação e a capacitação contínua. Assim, as igrejas não somente fortalecerão a fé de seus membros, mas também contribuirão significativamente para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e ética em Moçambique. A transformação das Escolas Bíblicas e Dominicais, portanto, representam uma oportunidade valiosa para impactar positivamente a vida de muitos, criando um legado de aprendizagem e fé que perdurará por gerações.

 

Exemplo de um Plano de aula

Igreja Evangélica Assembleia de Deus Alfa e Ômega – Pandora SEDE

Grupo Homogêneo de Crianças

Plano de Lição

Classe/ idade: 5 a 11 anos                                              Data: __/ __/ ____

Professores (as): ________________  ______________________ Aula n° __ 

Tema: O Deus Criador

Assunto: A Criação

Objectivos específicos: Compreender os dias da criação conforme descrito em

        Génesis;

Identificar os elementos da natureza e sua importância;

Refletir sobre a responsabilidade humana em cuidar da criação

Método de ensino: Metodologias interactivas e lúdicas

Recursos didácticos: Bíblia (preferencialmente infantil), imagens ilustrativas dos

dias da criação e materiais para actividades manuais (papel, cores, lápis).

Coros e hinos: Não há Deus tão grande como Tu.

Texto Bíblico: Genesis 1:1-5

Versículo básico: Genesis 1:2

Desenvolvimento: Oração inicial seguida de coros/ louvores, boas-vindas e chamada. Depois procede-se com a leitura Bíblica e memorização do versículo (Génesis 1:2). Por conseguinte, o Professor (a) segue apresentando o tema da lição e conta/ lê a história bíblica (Génesis 1:1-5).

Ensinamento prático para a vida: Fomos criados por Deus e Ele tem o poder de transformar o caos em algo organizado.

Questionário: Exercícios, brincadeiras ou jogos sobre o poder de Deus e a criação.

Exercício: Desenhe nos quadros abaixo o que Deus criou em cada dia.

1° Dia

2° Dia

3° Dia

 

 

 

 

 

 

4° Dia

5° Dia

6° Dia

   

 

 

 

 

 

 

Jogo: Encontre a Luz!

Esconde-esconde da luz. Esconder um objecto luminoso (lanterninha) enquanto as crianças procuram no ambiente escuro guiadas apenas pelo brilho intermitente.

Após a realização do questionário e dos jogos propostos, serve-se o lanche aos alunos e por fim faz-se a oração final.

Bibliografia

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[1] Missionária, Cofundadora da Célula de Mahulane e da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Mapulango. Mestre em Sociologia do Desenvolvimento pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane. Licenciada em Ensino de História com Habilitações em Geografia pela Universidade Pedagógica de Moçambique.

Correio Electrónico: martazabulane05@gmail.com

[2] Missionário, Cofundador da Célula de Mahulane e da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Mapulango. Doutorando em Ciências Políticas e Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Católica de Moçambique – Extensão de Maputo.

Correio Electrónico: wagneralexandresitoe@gmail.com

ORCID ID: 0009-0003-9806-1388

[3] Técnica de Medicina Geral pelo Instituto de Formação Administração Ciência e Tecnologia (IFACET).

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