Nesse momento escatológico, em que a bund*-da-anita catapulta a cantora brasileira para o number one de um streaming, e é comemorada pelos quadrantes como se fosse a Copa, tudo nos é permitido e possível. Mas, já que tudo é possível, também minha opinião o é.

A pior Campanha publicitária que subliminarmente associou VAGINA com VACINA foi premiada, recentemente, em SP! Rufem os tambores! Pasme-se! Misógina (Misógina!); abjeta; indecorosa; degradante; infamante foi considerada a melhor do mercado-erótico-sensual, na categoria marketing?!

Uma escatologia que bem caberia em um folhetinho, cartazete, mala-direta para usuários da lojinha, foi para em lugar público, por meio de vários outdoors espalhados pela cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, em comemoração ao Dia dos Namorados, em 2021: ano da pandemia que assolou nossas vidas sobreviventes e deu fim a outras inesperadamente. Assim dizia: “Feliz Dia dos Namorados para quem só pensa na V A - I N A”, de forma que o receptor-decodificador daquela ideia completasse (jocosamente, segundo os expositores) a frase. O “oscar” deu-se em São Paulo, agorinha, quase junto com number-one-da-anita. Tudo a ver, em tempos escatológicos. Agora, contentinhos, voltam e comemoram com a “gente” e dizem publicamente:  “Mostramos o poder da V A – I N A!”. De novo, está lá replicada nos outdoors da cidade.

Desde quando associar VACINA com VAGINA é engraçado?! Aonde estão as mulheres-ativistas, as carolas, as dessa ou daquela cor partidária, que passaram, viram os outdoors, a mensagem, e, também acharam engraçado? Identificaram a misoginia? Sabem do que se trata? Não! Não vi reação à repugnante mensagem, nem lá, nem agora, na comemoração. Eu a vi exposta na Avenida Ricardo Brandão pra quem quiser. De novo,  embrulhou-me o estômago, embaralhou meus neurônios e me agrediu.  A escatologia e a misogenia não têm nada de engraçadas. Trocadilho e baixaria deveriam ser inadmissíveis no campo da Estética publicitária; já que o são no campo da Ética. Nem vem com a tal da licença-criativa pra cima de mim!  O outdoor foi uma peça publicitária inapropriada e totalmente outside. Uma mensagem – qualquer que seja – só se completa na interlocução de um receptor. E, nesse caso, propagada ao leu, não se completa como foi idealizada. Sofre as naturais distorções semióticas-culturais, próprias de cada um dos que a recebeu. Pois bem, chegou a mim que “completou” a letrinha e caiu mal; reverberou minha indignação, que se indigna agora com a mensagem de comemoração que grita aos meus ouvido outra vez: (eles) “Provamos o poder da va-ina!”.  Brincadeira. Acinte.

O que tenho aprendido nesses finais dos tempos? Aprendi que o que sempre se fez entre paredes - e, antes, publicamente, causava vergonha - sobe aos palcos, vira clipe, e é comemorado como um troféu da nação. Aprendi que chamar um morador e fazer sexo é doença psiquiátrica. Aprendi que juntar VACINA com VAGINA é muito engraçado.

Aguardemos os próximos Dia das Mães, Dia dos Namorados, Finados e o que a escatologia nos brindará. Os donos da lojinha já nos alertaram que vamos nos surpreender. Pelo jeito iremos morrer de rir ... e, quem sabe, comemorar de novo!

Em tempo, pra quem não deu um Google: 1) misogenia: oriunda da união entre os termos gregos “miseo” e “gyne”, cujos significados são respectivamente ódio e mulheres, a palavra misoginia é usada para definir sentimentos de aversão, repulsa ou desprezo pelas mulheres e valores femininos; 2) escatologia: relativo ao estudo dos excrementos ou à excreção. 

Ficou claro, agora?

 

 

Professora Maria Angela Coelho Mirault é Doutora e Mestre pela PUC de SP, em Comunicação e Semiótica: Signo e Significação das Mídias

Campo Grande, MS, 29.03.2