Mamim A. B. Baldé

Resumo: A África em argola dos pensamentos e debates efervescentes, registra o represamento dos passos que resplandecentemente (re) ativa as memórias de um passado marcado pelo colonialismo e escravidão que por séculos profanou seu corpo. Este breve ensaio reflexivo objetiva trazer aos olhos curiosos dos leitores que interessam em conhecer outra fase da história sobre o continente africano.  A imagem vendida pelos colonizadores de maneira precoce, porém, atrelado a seus próprios interesses, projetou pelo mundo todo um discurso estereotipado e preconceituoso. E os esboços históricos que fixam o início da história do continente a partir da era das descobertas – dos primeiros contatos que os povos africanos tiveram com europeus – tem o forte intuito de ocultar a anterioridade africana, era pré-colonial que guarda a elevação do continente em diferentes esferas.

Introdução

Considerado o terceiro maior continente do mundo, a África ocupa com as ilhas adjacentes, uma superfície de cerca de 30 milhões de km², mais de 20% do total da massa terrestre formando um espaço compacto (Visentini et al. 2014). 

Com cerca de um bilhão de pessoas vivendo no continente, possui uma densidade de 30, 6 habitantes por km². Para a grande riqueza da sua diversidade cultural, carrega mais de oitocentos grupos étnicos, cada qual, com a sua própria expressão cultural.

Em termos das línguas faladas, existe um universo em torno de mil línguas diferentes. Dessas considerações, pode se enfatizar que, negar a história desse continente e do seu povo sinaliza um ato de destruição de uma parte apreciavelmente indispensável para a compreensão da configuração de história da humanidade.

História das Áfricas

O saber ocidental em processo do monopólio epistemológico construiu uma nova consciência planetária que é revestida por visões do mundo, autoimagens e estereótipos que geram um olhar imperial sobre o universo (HERNÁNDEZ, 2008). Concomitantemente, a isso, gerou se por intermédio das escrituras sobre a África, significativamente, entre as décadas de século XIX a meados do século XX, olhares equivocados, pré-noções, estereótipos e preconceitos contra este continente e o seu povo.

Desta feita, tornou possível erguer as pontes que serviram de passagem para exploração, roubo e desumanização contra os povos africanos (fundamentalmente subsaarianos) pela força revestida por capitalismo e o processo escravocrata – instrumentos de dominação epistemicídio e genocídios iniciadas em Ceuta. Supostamente, tem sido acompanhado com a negação da história que tornou viável o apagamento das dinâmicas culturais, políticas e econômicas já existentes na África muito antes do contato com os colonizadores europeus.

O principal elemento em uso na construção da ideia de África passou a ser o argumento da inferioridade cultural e civilizacional perante os europeus. Portanto, menosprezar, desqualificar e, em alguns casos, apagar as possíveis contribuições africanas presentes na sociedade de todo o mundo, seriam ações que acabariam por espelhar as categorias de representações geradas sobre os africanos: primitivos, preguiçosos e atrasados (OLIVAS, 2009).

Sem embargo, e de toda essa afronta veio a perceptível responsabilidade e afinco que os negros precisavam apresentar frente a contenda pairante diante do povo negro, na perseguição do ideal da fraternidade humana, adquirida por meio do ideal unificador da raça iniciada pelo pan-africanismo. Veio a tomada da consciência da sua história que repercutiu em lutas libertárias, resistências e rupturas, conservação de tradições e mudanças tudo em uma busca pelo protagonismo da produção do seu mundo, sua sociedade e história. E isto se fez, por via da sapiência.

O ato de represamento dos passos assistiu assim, uma forma legítima de adição a um percurso de criação de novas paradigmas fundados na  rescrição da história com vista a explicitude histórica, emancipação dos discursos subalternizantes e estereotipados com intuito de recuperar dignidade negra. Tensão e desafios numa caminhada acadêmica de produção intelectual do saber africano comprometido com o carácter digno na projeção do conhecimento erudita da África retomando assim, o lugar de camarote no combate a fórmula hegemonizado e excludente instituída pelo pensamento do homem branco.

Precisamos reintegrar as obras dos intelectuais africanos e afro-diaspóricos pré- e pós-coloniais para agregação das suas ideologias positivas e realização das críticas aperfeiçoadas as suas limitações com finalidade de ter a noção “di nundé ku nô sai i nundé ku nó misti tchiga”  estabelecendo com isso o respeito de um percurso repleto de veemência intelectual, isto, com vista, a possibilitar à África operar numa investida ajuizada do conhecimento disponível, bem como das discussões e interrogações desenvolvidas noutras paragens como assevera Carlos Lopes.