Descoberta a causa dos desabamentos no Rio de Janeiro
Publicado em 01 de fevereiro de 2012 por maria angela mirault
Todas as tragédias no Brasil têm uma mesma origem. Elas resultam das mesmas fontes: corrupção, impunidade, indiferença, desrespeito, desmobilização, ignorância, prepotência, arrogância, desinteresse, descompromisso, individualismo, ambição, dentre outras tantas coirmãs.
Não é preciso comissão nenhuma para que se encontre a causa do desabamento dos prédios na fatídica noite de verão do Rio de Janeiro, tanto quanto o soterramento no morro do Bumba (lixão), em Niterói, ano passado, as mortes resultantes das enchentes em Belo Horizonte, Nova Friburgo e Teresópolis, dentre outras absurdamente cruéis, ceifando vidas irrecuperáveis e tão valiosas que dinheiro nenhum do mundo pode pagar. Muito menos as enchentes que assolam Campo Grande decorrentes do alagamento na área assoreada do Sóter e a única morte de um dos seus filhos, tragado por um sorvedouro que a mídia resolveu apresentar como bueiro.
Nosso país não tem registro de cataclismos naturais; somos abençoados. Nossas tragédias nos chegam pela negligência, pela lassidão e afrouxamento moral com que enfrentamos o dia-a-dia e contaminamos nossos costumes. Chega de movimentos, de passeada, de bandeiras, de mobilização e de escárnios pelas redes da internet. O século é o XXI, o ano é 2012, a hora é agora. Hora de acordar e compartilhar nossa presença no mundo.
Todo problema social advém da cultura de um povo e se constrói no âmbito da individualidade. Somos nós que decidimos, em nosso campo de ação, agir ou não; confrontar ou não um problema; dar, ou não, a devida atenção a uma infração, uma impunidade, um malfeito bem no nosso nariz. Somos nós quem não quer ouvir, ver e dimensionar a extensão de um problema testemunhado. O individualismo tomou conta de nós e nos transformou em meros consumidores. É isso, não passamos de consumidores de um mercado ávido da nossa atenção, ávido de nossa omissão e falta de cidadania, ávido de nós próprios.
Nosso país tem recursos inesgotáveis; nosso país tem leis suficientes, tem uma Constituição considerada com uma das mais avançadas; temos representações civis ainda respeitáveis. O que nos falta é o sentido de dever e do agir cidadão. O agir cidadão é o agir consciente, responsável, custe o que custar, doa a quem doer. Se eu tenho que negociar, por exemplo, para que esse texto seja publicado, já estaria deixando de cumprir o meu dever. Se para ganharmos um negócio temos que prevaricar, deixamos de ser um cidadão do bem e passamos, sem intervalo, ou mediação, para o outro lado; o lado dos espertos, dos corruptos, dos impunes e prevaricadores. Não, sinto muito, não tem meio termo; ou se está com Mamon - e com ele, optando pela ganância e do lado do Mal -, ou se está ao lado do Bem e do Belo, e, portanto, com as coisas de Deus. Lá, bem pra onde todos estamos rumando, é o lugar da verdade, lá não há como negociar falta de atitude, indiferença, desrespeito, omissão. Lá, pra onde estamos caminhando a cada segundo, só tem duas filas, dos que sobem e dos que descem. Lá, nosso confronto será conosco mesmos e seremos nossos próprios juízes.
Ah, como é difícil viver assim, alguém murmurará. É difícil, é crucial, é doloroso; quantos “amigos” se perdem, quanta incompreensão se colhe, e, até, solidão. Mas, agora, mais do que nunca, é absolutamente necessário. Se cada um de nós – pelo menos aqueles que receberam mais da vida – cumprirmos, nada mais do que, com o nosso dever, nossa responsabilidade, nossa dívida com a sociedade, o mundo será bem melhor. Sem precisar fazer nem participar de reuniõezinhas para discutir problemas, comissõezinhas para avaliar calamidades e responsabilidades, passeatas inúteis, replicação de gracinhas pela internet. Chega. Se cada um for responsável pelo pedaço de mundo em que circula e é responsável na formação da sua cultura e o rastro dos seus costumes, não transigir e tiver absoluta noção da importância da sua presença no mundo, coisas indesculpáveis como os desabamentos e tantas outras calamidades, rarefar-se-ão. Leis e normas serão cumpridas.
Somos nós, os espertinhos, os do jeitinho brasileiro, os responsáveis pelos desabamentos. Ainda estamos ilesos, impunes, mas, nossas mãos e corpos estão empoeirados, encharcados...
MARIA ANGELA MIRAULT