CURRÍCULO: DO DISCURSO AS DIVERSAS REALIDADES

Por Francisco de Sales Pereira Lima | 22/11/2015 | Educação

CURRÍCULO: DO DISCURSO AS DIVERSAS REALIDADES

Francisco de Sales Pereira Lima[1]

 

RESUMO: Este artigo traz uma discursão em torno do currículo escolar partindo do pressuposto de que currículo e avaliação precisam caminhar juntos, tendo em vista que as duas questões estão intimamente ligadas, pois uma completa a outra. O texto trará algumas conceituações sobre currículo a partir da reflexão de alguns autores como Hamilton e Moreira e Candau que discutem sobre o mesmo. Aborda ainda sobre a necessidade de um currículo que contemple as múltiplas culturas e que faça uso delas para tornar mais significativa as aprendizagens, pois debater a partir daquilo que está presente na realidade acalora mais o interesse de quem está inserido no processo, logo tem como resultado a melhoria as aprendizagens. Ainda discute a relação entre currículo e projeto político pedagógico.

PALAVRAS-CHAVE: currículo, realidade e saberes.

ABSTRACT: This article brings a discursão around the school curriculum on the assumption that curriculum and evaluation need to walk together, given that the two issues are closely linked , as one completes the other . The text will bring some conceptualizations of curriculum from the reflection of authors like Hamilton and Moreira and Candau discussing about the same. Covers still on the need for a curriculum that addresses the multiple cultures and making use of them to make more significant the learning , for debate from what is present in reality more acalora whose interest is inserted into the process as soon results in improving the learning . Also discusses the relationship between curriculum and pedagogical political project .

KEYWORDS : curriculum, reality and knowledge.

 

CONCEITUANDO O TERMO CURRÍCULO

Iniciarei o artigo buscando conceituar o que é currículo, visto que, há várias compreensões acerca do mesmo e que não se pode definir com poucas palavras, uma vez que, é uma questão ampla e requer uma grande reflexão.  

Currículo do latim, curriculum, significa caminho, trajeto, percurso, pista ou circuito atlético. Segundo Goodson (1995:7), o termo curriculum é derivado da palavra latina currere, que significa correr, curso ou carro de corrida. Pode também estar se referindo à “ordem como seqüência” e à “ordem como estrutura”. Nesta última acepção, remonta ao conjunto de práticas educativas difundidas no século XVI, em universidades, colégios e escolas, a partir do Modus et Ordo Parisienses. Modus designava a combinação e a subdivisão das escolas em classes, com a retenção da instrução individualizada, isto é, aluno – por – aluno e Ordo (ordem) com dois significados: seqüência (ordem de eventos) e coerência (sociedade ‘ordenada’) (HAMILTON, 1992).

Datam do século XVI, os registros históricos de quando, e em que circunstância, aparece, pela primeira vez, a palavra curriculum aplicada aos meios educacionais. Tais registros evidenciam que currículo esteve ligado à idéia de "ordem como estrutura" e “ordem como seqüência", em função de determinada eficiência social. Assim, na Universidade de Leiden (1582), os registros constam que "tendo completado o curriculum de seus estudos” o certificado era concedido ao aluno. Na Universidade de Glasgow (1633) e na Grammar School de Glasgow (1643), o curriculum referia-se ao curso inteiro de vários anos, seguido pelos estudantes, e não apenas às unidades pedagógicas curtas (HAMILTON, 1992).

 Moreira e Candau (2008 p 17-18) dizem que:

À palavra currículo associam-se distintas concepções, que derivam dos diversos modos de como a educação é concebida historicamente, bem como das influências teóricas que a afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento. Diferentes fatores sócio-econômicos, políticos e culturais contribuem, assim, para que currículo venha a ser entendido como: Doutor em Educação – Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Católica de Petrópolis.

(a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos;

(b) as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos;

(c) os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais;

(d) os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino;

(e) os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização.

Ainda segundo Moreira e Candau (2008 p. 18)

Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer organizado para afetar e educar pessoas, o que explica o uso de expressões como o currículo da mídia, currículo da prisão etc. Nos, contudo, estamos empregando a palavra currículo apenas para nos referirmos as atividades organizadas por instituições escolares. Ou seja, para nos referirmos à escola.

O currículo deve ser compreendido para além dos conteúdos que a escola ministra em suas aulas. A palavra currículo precisa ser entendida como o conjunto das ações realizadas na escola com os educandos, para os educandos e, sobretudo, oriundas dos discentes, que são a peça fundamental do currículo. Para Moreira e Candau (2008 p. 19):

O currículo é, em outras palavras, o coração da escola, espaço central em que todos atuamos, o que nos torna, nos diferentes níveis do processo educacional, responsáveis por sua elaboração. O papel do educador no processo é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula. Dai a necessidade de constantes discursões e reflexões, na escola, sobre o currículo, tanto o currículo, tanto o currículo formalmente planejado e desenvolvido quanto o currículo oculto.

Eyng(2007) em suas reflexões sobre o currículo diz que o currículo não é só isso; é tudo isso em interação com os sujeitos sociais e históricos que nele projetem seus anseios e interesses e lhe dão vida e significado.

CURRICULO E REALIDADE

Muito são as discursões acerca do currículo, porém, ainda hoje as questões ligadas ao currículo escolar necessitam de uma grande reflexão, tendo em vista que, muitas escolas precisam repensar as suas práticas curriculares, pois discuti-lo é um tanto possível, mais o nó da questão é desenvolvê-lo. Pensar o currículo da escola vai muito além daquilo que trabalhamos em sala de aula, é preciso que levemos em consideração a pluralidade cultural aí presente, e abraça-la, buscando integrar aos processos educativos os múltiplos saberes dos sujeitos do processo, fazendo com que a escola e os grupos sociais consigam dialogar e dinamizar as práticas educativas a partir do contexto social o qual os sujeitos estão inseridos. O currículo precisa estar sempre em movimento, para tanto, requer constante discursão com o objetivo de avaliar e adequar seu desenvolvimento de tal forma a garantir que este venha contemplar a diversidade e assim tornar mais significativa as práticas pedagógicas.

O currículo deve ser pensado respeitando as especificidades de cada tempo de vida dos educandos, como tempo de formação, de socialização e de aprendizagens.  Arroyo (2008 p. 45) diz que:

[...] podemos encontrar escolas e redes que reorganizam os tempos os espaços e o trabalho a partir dos educandos, reconhecidos como sujeitos de direito à formação plena e se perguntam como repensar os currículos respeitando as especificidades de cada tempo humano de formação e de aprendizagem.  Tentar avançar nessa direção toca no núcleo fundante e estruturante dos currículos. Introduzir uma nova lógica na escolha do que ensinar, aprender, formar em cada tempo de formação. Consequentemente introduzir na lógica na estruturação dos conhecimentos, culturas e valores. Estes passam a ser priorizados e organizados com dimensões formadoras a que todo educando tem direito na especificidade de seu tempo humano. Nessa perspectiva organizar a escola, os tempos e os conhecimentos, o que ensinar e aprender respeitando a especificidade de cada tempo de formação não é uma opção a mais na diversidade de formas de organização escolar e curricular. É uma exigência do direito que os educandos têm a ser respeitados em seus tempos mentais, éticos, humano.

Para discutirmos sobre currículo, precisamos sempre nos perguntar para quem esse currículo, pois cada realidade requer uma discursão voltada a sua diversidade, a realidade em que está inserida e por consequência um currículo que de fato venha atender as suas diversidades, tendo em vista que o sujeito não pode está alheio ao meio em que estiver inserido e para assegurar a condição de interação sujeito/meio precisamos defender um currículo que valorize os saberes já existentes no grupo em questão, saberes empírico, respeitando a diversidade já existente, visto que ninguém nasce desprovido de saberes. O que está precisando é de um olhar instigador aos conhecimentos produzidos em determinado grupo social e a partir das observâncias inserir no currículo aquilo que de fato representa e dá sentido a existência a um grupo social, sua diversidade de saberes produzidos e acumulados ao longo dos tempos.  Para Gomes (2008 p 25) (diversidade e Currículo)

Há diversos conhecimentos produzidos pela humanidade que ainda estão ausentes nos currículos e na formação dos professores, como, por exemplo, o conhecimento produzido pela comunidade negra ao longo da luta pela superação do racismo, o conhecimento produzido pelas mulheres no processo de luta pela igualdade de gênero, o conhecimento produzido pela juventude na vivência da sua condição juvenil, entre outros. É urgente incorporar esses conhecimentos que versam sobre a produção histórica das diferenças e das desigualdades para superar tratos escolares românticos sobre a diversidade.

Precisamos avançar ainda muito no que diz respeito à diversidade, visto que, ainda temos um olhar muito negativo sobre o “outro” uma vez que, é visto como o estranho e não como o diverso. Valorizar a diversidade é dinamizar o currículo e criar possibilidades de construir um currículo para além dos conteúdos escolares. A respeito de uma visão sobre o outro, Gomes (2008 p 25-26) diz que:

Todos nós precisaremos passar por um processo de reeducação do olhar. O reconhecimento e a realização dessa mudança do olhar sobre o “outro” e sobre nós mesmos a partir das diferenças deve superar o apelo romântico ao diverso e ao diferente e construir políticas e práticas pedagógicas e curriculares nas quais a diversidade é uma dimensão constitutiva do currículo, do planejamento das ações, das relações estabelecidas na escola.

O CURRÍCULO E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

A escola precisa elaborar o seu Projeto Político Pedagógico de moda que este venha atender as necessidades dos sujeitos que estiverem inseridos no mesmo, para tanto é preciso que seja elaborado com a participação de toda comunidade escolar, assegurando o direito a mesma a expor seus anseios e garantir que estes estejam bem evidenciados, e sobretudo que eles sejam contemplados  no Projeto Pedagógico. Na Lei de diretrizes e Base da Educação Nacional em seus artigos 12 e 13 diz que cada escola deve elaborar de forma coletiva sua proposta pedagógica. Essa determinação da LDB deixa evidente a necessidade da construção participativa do Projeto político Pedagógico. Logo ao elaborar coletivamente o Projeto Político, teremos também um currículo bem elaborado, uma vez que o currículo e o Projeto Político Pedagógico tem uma estreita relação, e este primeiro deve ficar bem evidenciado no Projeto da escola. O resultado da construção coletiva do Projeto Pedagógico é entre outros, um currículo significativo para quem contribuiu em sua construção. Para Eyng(2007 p. 68):

[...] o projeto da escola precisa estabelecer os princípios e as estratégias básicas do processo formativo ora necessários. Essa tarefa há de ser necessariamente fruto de reflexão coletiva mediante a gestão democrática do projeto pedagógico.

CURRÍCULO E AVALIAÇÃO

 Para tratarmos sobre currículo é necessário também discutir sobre avaliação, uma vez que, estes dois termos estão intimamente ligados, pois não é possível discutir o currículo de uma escola sem levar em consideração o entendimento do termo avaliação para a instituição, tendo em vista que a avaliação é uma das etapas do processo pedagógico. O próprio currículo da escola, por exemplo, requer uma constante avaliação, para tomar conhecimento se este está ou não de acordo com os interesses dos sujeitos os quais vivenciarão tal currículo, e se o mesmo atende a pluralidade de quem ele está destinado, ou se meramente está imposto sem nenhuma importância para aqueles que irão esmiuçar aquilo que lhes foi posto, indiferente do seu “eu”, das diversas culturas presentes entre os sujeitos, a pluralidade cultural. Moreira e Candau em seu livro Currículo Conhecimento e Cultura refletem sobre a seguinte questão:

Ainda, é inegável a pluralidade cultural do mundo em que vivemos e que se manifesta, de forma impetuosa, em todos os espaços sociais, inclusive nas escolas e nas salas de aula. Essa pluralidade frequentemente acarreta confrontos e conflitos, tornando cada vez mais agudo os desafios a serem enfrentados pelos profissionais da educação. No entanto, essa mesma pluralidade pode propiciar o enriquecimento e a renovação das possibilidades de atuação pedagógica.

É preciso discutir e repensar o currículo que queremos para as escolas e sempre nos perguntarmos que tipo de sociedade queremos formar, diante disso não há mais espaço para um currículo que não reconhece os educandos como sujeitos integrante do meio. Arroyo (2008 p.22) diz que:

[...] os currículos não devem privilegiar apenas que conhecimentos ensinar- aprender, mas como ordená-los, organizá-los, em que lógicas, hierarquias e precedências, em que tempos, espaços. Pensar em que organização do trabalho são enquadrados os educandos, se é a forma mais propícia para aprender e se formar. Se reconhecemos o papel constituinte dos educandos sobre o currículo e deste sobre os educandos, somos obrigados a repensar os currículos e as lógicas em que os estruturamos. Estas lógicas são muito mais conformadoras das identidades dos alunos do que as lições que transmitimos. Estes pontos tem merecido estudos nas escolas.

Compreendemos que a escola é o lugar de construção de autonomia dos educandos e que a educação precisa passar por constante processo de avaliação, não só a avaliação dos educandos como também avaliar o currículo, isto é, avaliar     a instituição em sua totalidade e ainda a rede de ensino Fernandes e Freitas ( 2008) considera que a avaliação é parte de uma ação coletiva e que deve ocorrer em várias esferas e com vários objetivos.

Há a avaliação da aprendizagem dos estudantes, em que o professor tem um protagonismo central, mas há também a necessária avaliação da instituição como um todo, na qual o protagonismo é do coletivo dos profissionais que trabalham e conduzem um processo complexo de formação na escola, guiados por um projeto político‐pedagógico coletivo. E, finalmente, há ainda a avaliação do sistema escolar, ou do conjunto das escolas de uma rede escolar, na qual a responsabilidade principal é do poder público. Esses três níveis de avaliação não são isolados e necessitam estar em regime de permanentes trocas, respeitados os protagonistas, de forma que se obtenha legitimidade técnica e política. (FERNADES; FREITAS, 2008, p. 18).

Na mesma linha Melchior diz que:

A avaliação é um processo que abrange a organização escolar como um todo: as relações internas á escola, o trabalho docente, a organização do ensino, o processo de aprendizagem do aluno e a relação com a sociedade. O processo avaliativo é um dos fatores da ação pedagógica que está diretamente ligado ao fracasso ou ao sucesso do aluno, na escola e fora dela. Quando existe em clima de confiança recíproca entre professor e aluno, o acompanhamento e a avaliação são fatores determinantes do sucesso. Como também quando o sucesso de um representa o sucesso do outro, ou quando estes são utilizados com a finalidade de identificar as dificuldades, auxiliar o aprendiz a identifica-las e a partir daí propor novos desafios (Melchior, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Debater sobre currículo é estar aberto a compreender as diversas questões, as quais envolvem este termo, pois o mesmo deve ser compreendido em diversos contextos e, sobretudo levando em consideração as diversas realidades que envolvem as questões ligadas o currículo, tendo em vista que a palavra currículo na pode ser compreendida se não buscarmos o seu real significado com o objetivo de compreendê-la em sua essência, observando minuciosamente tudo aquilo que venha trazer contribuições no sentido de fortalecer o debate sobre mesmo. O currículo não pode está distante dos sujeitos que estejam envolvidos no mesmo, pois é preciso discuti-lo a partir do meio o qual ele será desenvolvido, buscando integrar o meio ao currículo.

Para pensarmos o currículo de uma escola é preciso levar em consideração o meio em que ela está inserida e a partir dai organizá-lo com a participação de todos, levando em consideração aquilo que prevê a Lei de Diretrizes e Base da Educação em seus artigos 27 e 28 quando se refere ao currículo.

REFERÊNCIAS

 

ARROYO, Miguel Gonzáles. Indagações Sobre Currículo: Educandos e Educadores: Seus Direitos e o Currículo. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília : 1996

EYNG, Ana Maria. Currículo Escolar. Curitiba: Ibpex, 2007.

FERNANDES, Cláudia de Oliveira; FREITAS, Luiz Carlos de. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

GOMES, Nilma Lino. Indagações Sobre Currículo: Diversidade e Currículo. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

MELCHIOR, Maria Celina – O sucesso escolar através da avaliação e da recuperação –

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

Porto Alegre: Premier, 2001.



[1] Mestrando em ciência em educação e multidisciplinaridade da Faculdade do Norte do Paraná-FACNORTE

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