CHICO É KARDEC?
Publicado em 12 de junho de 2016 por Fernando Rosemberg Patrocínio
CHICO É KARDEC?...
Umas das maiores polêmicas espíritas do nosso tempo, ou seja, deste início do Século 21, trata-se, sem dúvida, deste embate de espiritistas divididos, numa ponta, na crença de que:
-Chico Xavier é a reencarnação de Allan Kardec!
E, na outra ponta de tais polemistas, a crença de que:
-Chico não é, absolutamente, não é Allan Kardec!
Nesta contenda, como se sabe, este humílimo autor, que sou eu mesmo, não entro, pois a contenda é acirrada com ofensas de parte a parte, e, portanto: digo que aguardo dos meus superiores, quando do meu desencarne, a resposta certa, pois deles terei a verdade inabalável, e não esta disputa filosófica em que cada grupo pretende ter razão, não discernindo que, amanhã, ou depois, um dos lados terá de ceder, pois a verdade contemplará apenas um dos focos da questão.
Mas é isto daí: somos livres pensadores, e, no caso em questão: livres contestadores deste embate que, nalgum tempo, obviamente, chegará a um termo: trágico, para uns, que terão de mudar de opinião; e glorioso (???), para outros, vitoriosos em sua certeza, sua clara obstinação.
Por outro lado, muitas são as contendas do meb (movimento espiritista brasileiro): Kardec ou Roustaing? Pureza Doutrinária (Século 19) versus Expansão da Pureza Doutrinária (Século 20); ‘Modelo Evolutivo’ ou ‘Modelo Involutivo-Evolutivo’; e assim por diante.
Neste caso último, e, como o Espiritismo é Doutrina Essencialmente Progressiva, fiz opção pelo ‘Modelo Involutivo-Evolutivo’ (Queda Espiritual), pois que tal, mesmo não sendo admitido pelos mais conservadores do meb, ele está inserido, aqui e ali, na Obra Codificada mesma que, novamente, aqui me faço externar em prol de sua verdade e não tão só, e simplesmente, pela sua recusa e, portanto, pela sua simples negação.
Vamos, pois, às passagens encontradiças na Obra Codificada por Kardec sobre a referida questão. Tais se referem a cinco (6) citações dispostas em quatro (4) obras de Kardec bem conhecidas de todos nós, estudiosos espiritistas:
1)-“O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec – 1857 - Ide):
Sobre tal questão, da Queda Espiritual, citado livro é um tanto controverso, o que é compreensível, pois que tal livro não é um Tratado Completo de Espiritismo conforme as próprias palavras do seu codificador; mas citemos a questão 262 em que os Espíritos reveladores se referem àqueles (humanos) que não lhes escuta os bons conselhos e se extraviam:
“É o que podemos chamar a Queda do homem”. (Opus citado - Ide).
Ora, Queda do homem é Queda do Espírito, o seu comandante supremo, afinal; todavia, neste mesmo “Livro” os Espíritos superiores informam que:
“O Mundo Espírita é o Mundo Normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O Mundo Corporal (Universo) não é senão secundário; poderia cessar de existir, ou não ter jamais existido, sem alterar a essência do Mundo Espírita”. (Opus Citado – Ide).
Ora, se o Universo poderia jamais ter existido, pergunta-se: o que ocorrera no Mundo Espiritual para que o Mundo Corporal passasse a existir? Para nós, só a Queda Espiritual pode explicar, racionalmente, tão relevante questão, pois que, não a fosse, o Universo, ou Mundo Corporal, poderia: “não ter jamais existido”.
Mas passemos a outra obra codificada:
2)-“O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Allan Kardec – 1864 - Ide):
Vejam a mensagem do Espírito Vianney, cura d’Ars, contida em seu Capítulo 8, onde se lê:
“Meu Pai, curai-me, mas fazei que minha Alma doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo; que minha carne seja castigada, se preciso for, para que minha Alma se eleve a te vós com a Brancura que tinha quando a criastes”. (Opus cit. - Ide).
Ora, vejamos que não se trata, pelo texto, da criação de Espíritos Simples e Ignorantes (ESI); mas sim, pelo texto, é possível vermos a citação da Alma como Espírito Puro, Consciente (EPC): “com a Brancura que tinha” em sua criação. Logo, o Espírito Simples e Ignorante (ESI) resulta da Queda Espiritual, da “Alma doente”, de que fala o texto supra mencionado.
Nesta obra ainda (“O Evangelho”), veremos parte do seu Capítulo 3, cuja instrução, atribuída a Santo Agostinho, assim discorre:
“A Terra fornece, pois, um dos tipos de Mundos expiatórios, cujas variedades são infinitas”:
“mas que têm por caráter comum servir de lugar de exílio aos Espíritos rebeldes à Lei de Deus”.
“Aí esses Espíritos têm que lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e contra a inclemência da Natureza, duplo e penoso trabalho que desenvolve, a uma só vez, as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz reverter o próprio castigo em proveito do progresso do Espírito”. (Opus Cit.).
Do que se deduz que todos os Espíritos humanos em evolução psíquica, mental e espiritual, são Seres insurgentes à Lei, carregando todos eles, pois, ao íntimo de Si mesmos, uma espécie de reflexo psicológico ontogenético, ou seja, daquele mesmo ato de rebeldia verificado na Gênese do Ser em tempos primordiais, e que ainda não fora totalmente corrigido em sua interioridade psíquica ou espiritual. (Vide nosso e.Book: “Evolução: Jornadas do Espírito”).
E, por isto, Santo Agostinho, em sua mensagem, adverte com todas as letras que a Terra:
“Têm por caráter comum servir de lugar de exílio aos Espíritos rebeldes à Lei de Deus”.
Ora: caráter comum é algo extensivo a todos, é caráter global, e, portanto, universal; e, portanto, a ideia da Queda Espiritual dos Espíritos rebeldes à Lei é algo comum, estando, de fato, por toda parte, bastando que se tenham olhos de ver ou raciocínios o bastante para compreender.
Vejamos agora passagens da “Revista Espírita” do codificador:
3)-“RE” (Allan Kardec – 1858 – Edicel):
Em tal “Revista”, do Mês de Outubro, um Ente comunicante que sempre mostrara ‘superioridade como Espírito’ - segundo Kardec - fala sobre o destino de um elemento que praticara um crime horrendo, preconizando que o mesmo poderia, até mesmo, destinar-se: “para um lugar onde o homem se encontra no nível dos animais”; sento tal assertiva, portanto, um adicional ou exemplificação do que se encontra em “OLE” sobre a “queda do homem”, citada mais acima.
E, mais ainda, se a referida “RE” menciona a ‘Queda Parcial’, ou seja, durante o Processo Evolutivo, ela também faz menção à ‘Queda Geral’, ou seja, àquela que, dos Espíritos Puros e Conscientes (EPC) que, por Involução, gerara os Espíritos Simples e Ignorantes (ESI); senão vejamos:
“Sua punição é justamente retrogradar; é o próprio inferno. Eis a punição de lúcifer, do homem espiritual, descido à matéria, isto é, o véu que daí por diante lhe oculta os dons de Deus e sua divina proteção. Esforçai-vos, pois, na reconquista desses bens perdidos: tereis reconquistado o paraíso que o Cristo veio abrir para vós. É a presunção, é o orgulho do homem, que queria conquistar aquilo que só Deus podia ter”. (Opus cit.).
E, por fim, vejamos mais uma menção da obra do codificador Allan Kardec:
4)-“RE” (A.K. – Junho/1862 – Edicel):
Menção que, aliás, já a fiz constar em meus diversos textos e e.Books, e, portanto, já é do nosso saber de há muito tempo:
“Voltai sempre os olhos para este pensamento filosófico, isto é, cheio de sabedoria: Somos uma Essência criada Pura, mas decaída; pertencemos a uma Pátria onde Tudo é Pureza; culpados, fomos exilados por algum; mas só por algum tempo; empreguemos, pois, todas as forças, todas as nossas energias em diminuir o tempo do exílio”. (Opus cit.).
Logo, Pietro Ubaldi (Sua-Voz) e Francisco Cândido Xavier (Emmanuel, André Luiz e etc.), os maiores sensitivos (médiuns) do Século 20, apenas completa fartamente, e, com ênfase marcante, o já escrito e exposto, sucintamente, no Século 19, de Allan Kardec.
Assim, pois, com relação aos espiritistas que, por sua vez, não admitem o ‘Modelo Involutivo-Evolutivo’, e que, de sua parte ainda, permanecem no mais restrito e tão-só: ‘Modelo Evolutivo’ em que se crê que os Espíritos são criados na forma de Seres Simples e Ignorantes (ESI) para evoluir e crescer a partir de tal ponto, creio que referido entendimento da questão – que também era o de Allan Kardec: codificador – há que ser devidamente ampliado para aquele ‘Modelo’ do Século 20, modelo mais amplo e mais consonante à Bondade e Misericórdia do Justo Criador.
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