O Que Instigava o Infante Dom Henrique? Que Tipo de Barreiras Existiam Para o Descobrimento do Cabo Bojador? Por Que D. Henrique é Considerado o Iniciador das Descobertas Sistemáticas no Atlântico?

 Ao contrário de Cristóvão Colombo que queria rumar diretamente para as Índias, o Infante D. Henrique tinha um destino mais amplo e moderno. Não existe nenhuma prova de que o Infante tivesse em mente o propósito específico de abrir um caminho marítimo para as Índias contornando a África, pois o que o instigava era o desconhecido. Isto é, o que ficava a ocidente e a sudoeste e conduzia ao mar Tenebroso e para sul, ao longo da costa não cartografada da África.

 

As ilhas atlânticas (da Madeira, Canárias e Açores) tinham sido descobertas por marinheiros genoveses em meados do século XIV. Os esforços de D. Henrique foram menos um empreendimento de descoberta do que de colonização e desenvolvimento.

 

Mas, quando seus homens desembarcaram na Ilha da Madeira em 1420 e desbravaram suas densas florestas, acabaram ateando fogo que ardeu de forma violenta durante sete anos. Embora não tivessem planejado as coisas, o certo é que a potassa deixada pela madeira queimada se revelaria um fertilizante perfeito para as vinhas de uvas daquela região. O famoso vinho Madeira foi um achado precioso, embora D. Henrique fosse – por natureza – um descobridor e não um colonizador.

 

Quando se olha para um mapa moderno da África encontra-se o Cabo Bojador (expressão portuguesa que significa “boja”), na costa das Ilhas Canárias. Trata-se de uma minúscula bossa no contorno tão pequeno que é quase imperceptível nos mapas. Mas, embora o Cabo Bojador não fosse tão pior que uma dezena de outras barreiras que os hábeis marinheiros portugueses já haviam passado, ele era temido por eles.

 

Em Sagres, o Infante D. Henrique sabia que não conseguiria conquistar a barreira física, se não conquistasse primeiro a “barreira do medo”. Jamais penetraria tão longe se não conseguisse convencer seus marinheiros a dobrar o Cabo Bojador e, entre 1424 e 1434, ele enviou 15 expedições para dobrarem o ameaçador cabo. E, todas elas regressaram com alguma justificativa de não terem ido aonde nunca ninguém fora antes. Não havia nenhum sinal de vida ao longo da costa deserta e, diante disso, os marinheiros pensavam: _ Não seria aquilo a própria imagem do fim do Mundo?

 

 Seriam os pilotos portugueses de D. Henrique tão temerosos quanto os marinheiros mediterrâneos que só navegavam por rotas familiares? Certamente Gil Eanes – fiel escudeiro do Infante – achava que não, tanto que foi enviado com a promessa de uma grande recompensa. Gil manobrou para o Ocidente e depois virou para o Sul, descobrindo que o temível cabo já se encontrava para trás. Desembarcou na costa africana e achou-a desolada, embora de modo algum “as portas do Inferno”.

 

Derrubada a barreira do medo, D. Henrique estava lançado e, ano após ano, ele enviou expedições a fim de penetrar cada vez mais longe ao desconhecido. Em 1435 Gil Eanes e Afonso Baldaia avançaram mais 50 léguas pela costa abaixo, onde viram pegadas humanas e rastros de camelo, embora continuassem sem ver pessoas. Em 1436 chegaram ao que parecia ser a foz de um imenso rio, que eles desejavam que fosse o Senegal do comércio “mudo” de ouro.

 

A incansável exploração da costa ocidental da África prosseguiu ano após ano, apesar do valor das recompensas ter diminuído. Em 1444 Eanes trouxe dessa região a primeira carga humana: _ 200 africanos para serem vendidos como escravos em Lagos. A chegada dessa mercadoria humana causou enorme mudança da atitude em relação a D. Henrique, pois aqueles que o haviam criticado de desperdiçar recursos em “brincadeiras de exploração”, agora iam se calando e muito até o elogiando.

 

Quando Dias Diniz dobrou o cabo Verde – a ponta ocidental da África – em 1445 a costa mais árida ficou para trás e o próspero comércio português com a África não tardou a ocupar 25 caravelas todos os anos. Quando D. Henrique morreu (1460) a descoberta da costa ocidental africana mal começara, mas começara bem.

 

A barreira do medo foi transposta e deu origem à 1ª aventura continuada do domínio do desconhecido. Portanto, o Infante D. Henrique é considerado o iniciador da descoberta sistemática e, para ele, cada novo passo ao desconhecido era um convite para ir mais além.

 

A morte de D. Henrique causou apenas um breve hiato na aventura da exploração, pois em 1469 o rei Afonso V (sobrinho de D. Henrique) que enfrentava dificuldades financeiras, encontrou uma ótima maneira de transformar os descobrimentos em um negócio lucrativo. Um rico cidadão de Lisboa (Fernão Gomes) comprometeu-se a descobrir pelo menos mais 100 léguas (500 km) de costa africana todos os anos, nos próximos cinco anos e, em troca, ele ficava com o monopólio do comércio da Guiné, do qual o soberano recebia uma parte.

 

Do contrato com Fernão Gomes resultou uma impressionante série anual de descobrimentos na África, pois os marinheiros do Infante precisaram de 30 anos para percorrer uma extensão que Fernão Gomes percorreu em 5 anos. Quando o contrato expirou, o rei concedeu os direitos de comércio ao seu próprio filho (D. João), que em 1481 se tronaria o rei D. João II e iniciaria a seguinte grande era das viagens marítimas portuguesas.

 

  1. João II dispunha de algumas vantagens que faltaram ao Infante, pois o erário real enriquecera com os carregamentos de pimenta, marfim, ouro e escravos. A tal ponto que deram seus nomes à algumas partes do continente africano como Costa do Marfim, Costa do Ouro e Costa dos Escravos.

 

Como já vimos, quando os navegadores desceram abaixo do equador deixaram de ver a Estrela do Norte e, por isso mesmo, tiveram de descobrir outro modo de determinar sua latitude. A fim de resolver esse problema, o rei D. João reuniu especialistas de todos os lados e organizou uma comissão chefiada por dois astrólogos eruditos (o matemático Judeu Abraham Zacuto e o seu discípulo José Vizinho).

 

A obra mais avançada para determinar a posição no mar pela declinação do Sol, que seria necessária para navegar abaixo do equador, era o “Almanaque” que Zacuto havia escrito em hebraico, 20 anos antes. Depois de José Vizinho traduzir essas tabelas para o latim, elas guiaram os descobridores portugueses durante meio século. Prosseguindo com a obra de D. Henrique, D. João II continuava a mandar viagens de descobrimento cada vez mais para baixo, ao longo da costa ocidental africana.

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